USO DO PRESENT PERFECT POR ALUNOS DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO DE UM CURSO LIVRE DE INGLÊS: FLUÊNCIA EM ATIVIDADES ESCRITAS



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Transcrição:

1 SÔNIA MARA GONÇALVES REDEL USO DO PRESENT PERFECT POR ALUNOS DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO DE UM CURSO LIVRE DE INGLÊS: FLUÊNCIA EM ATIVIDADES ESCRITAS CANOAS, 2012

2 SÔNIA MARA GONÇALVES REDEL USO DO PRESENT PERFECT POR ALUNOS DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO DE UM CURSO LIVRE DE INGLÊS: FLUÊNCIA EM ATIVIDADES ESCRITAS Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Letras do Centro Universitário La Salle Unilasalle, com exigência parcial para a obtenção de grau de Licenciada em Letras. Orientação: Prof.ª Me. Maria Alejandra Saraiva Pasca CANOAS, 2012

3 SÔNIA MARA GONÇALVES REDEL USO DO PRESENT PERFECT POR ALUNOS DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO DE CURSO LIVRE DE INGLÊS: FLUÊNCIA EM ATIVIDADES ESCRITAS Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Letras Inglês e Literaturas inglesas pelo Centro Universitário La Salle Unilasalle, Aprovado pela avaliadora em 11 de julho de 2012 Prof.ª Me. Maria Alejandra Saraiva Pasca CANOAS, 2012

4 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar gostaria de tornar pública minha imensa gratidão pela força, misericórdia e pela inspiração provinda do Senhor Jesus Cristo, pois, sem sua graça e sabedoria eu certamente não teria chegado aonde cheguei. Em segundo lugar, agradeço ao meu amado companheiro de vida, cuja paciência, amor e companheirismo são virtudes imensuráveis. Obrigada, Tércio pelas palavras de conforto, pelos abraços, pela companhia, pelas xícaras de chá e pela contribuição nas tarefas domésticas. Agradeço especialmente aos meus sogros, Reverendo Vili Redel e a professora Walda Redel, pelas orações, pelo suporte incondicional, pelo carinho, pela paciência, sei que não sou exatamente a pessoa mais fácil do mundo de lidar, mas, reconheço que a presença de vocês em minha vida tem me ensinado muitas coisas e contribuíram no meu crescimento e amadurecimento pessoal. Obrigada de todo meu coração. Agradeço a minha mãe e meu pai pelo dom da vida. Obrigada mãe pelo esforço dedicado a minha educação, dentro da sua realidade tu tentaste da melhor maneira, prover o sustento necessário para o meu desenvolvimento e dos meus irmãos. Agradeço do fundo do meu coração, a minha querida orientadora, colaboradora e amiga, Maria Alejandra Saraiva Pasca. Obrigada Ale, por ter acreditado em mim e ter me incentivado desde o começo da faculdade a ser persistente e não desistir. Obrigada por ser a excelente professora que és e por ter contribuído e me direcionado da melhor maneira na elaboração desse trabalho.

Eu quero dedicar este trabalho a todas as pessoas que me incentivaram durante minha trajetória na faculdade. À minha dinda Márcinha por ter me mostrado que a faculdade não é uma coisa só pra gente rica, à minha amada irmã Sandrinha, que tanto orou por mim e a todos os queridos alunos, que participaram da coleta de dados. Um sonho sem luta e sem trabalho árduo é apenas um sonho, mas com força de vontade e garra, ele se torna um objetivo que pode ser alcançado! 5

6 RESUMO Esta pesquisa foi baseada em estudos de Schmidt (1990), Ellis (1997) e Brown (2000) sobre o aprendizado de inglês como L2 e em estudos de Fortes (2002), Marcello (2006) e Feiden (2009) sobre a aquisição do Present Perfect (PP) por aprendizes de inglês como L1 e L2. O objetivo da pesquisa foi identificar o conhecimento do PP por alunos adultos de nível intermediário de um curso livre de inglês de curta duração. Para tanto, doze alunos de um curso livre de inglês da cidade de Canoas-RS responderam um instrumento de coleta de dados contendo exercícios de identificação e de produção sobre os tempos verbais Presente Simples (PS), Pretérito Perfeito Simples (PA) e Pretérito Perfeito Composto (PP). Os resultados coletados mostram que, ao término de dois anos de curso, esses estudantes têm dificuldade em reconhecer e aplicar os diferentes usos do PP, o que aponta para a necessidade de se utilizar um ensino explícito e focado na forma desse tempo verbal, especialmente quando o aprendiz é adulto e opta por um curso livre de inglês de curta duração. Palavras-chave: Língua inglesa. Presente Perfeito Composto. Ensino explícito. Foco na forma.

7 ABSTRACT This research was based on studies by Schmidt (1990), Ellis (1997) and Brown (2000) about learning English as a second language, as well as on studies by Fortes (2002), Marcello (2006) and Feiden (2009) about the acquisition of the Present Perfect (PP) by speakers of English as a first or second language. The goal of this study was to identify how much adult intermediate learners know about the use of the PP. Thus, twelve students enrolled in a shortterm English course in the city of Canoas-RS answered a data collection instrument, which consisted of identification and production exercises about the following verb tenses: Simple Present (PS), Simple Past (PA) and Present Perfect (PP). This data collection has shown that even after 2 years of study, these students still face some difficulties to recognize and apply the different uses of the PP. Therefore, these difficulties have pointed out the need to use explicit instruction focused on form, mainly when the learner is an adult and decides to study in a short-term English course. Keywords: English Language. Present Perfect. Explicit Instruction. Focus on Form.

8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 10 2 A FLUÊNCIA EM LE E O MERCADO DE TRABALHO... 12 2.1 Breve abordagem do mercado de trabalho referente a profissionais com fluência em L2... 2.2 Abordagens de marketing de cursos livres de idiomas vinculadas à web... 14 16 3 O TEMPO VERBAL PRESENT PERFECT E SEU CONCEITO... 17 3.1 Estrutura gramatical do PP... 18 3.2 Os usos do tempo verbal PP... 20 3.2.1 Estabelecendo uma conexão entre o presente e o passado... 20 3.2.2 Anunciando um evento, notícia ou novidade recente... 21 3.2.3 Relatando experiências de vida... 22 3.2.4 Mencionando uma ação que teve inicio no passado e que perdura até o 23 presente momento... 3.2.5 Mencionar situações que ocorreram em um determinado período inacabado... 24 3.3 Tempo e aspecto do PP... 26 3.4 A Relação estabelecida entre o PP e suas possíveis equivalências em Português... 4 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO PP, O PERÍODO CRÍTICO E O FOCO NA FORMA... 28 31 4.1 O processo de aquisição do PP na L1 e na L2... 31 4.2 Considerações sobre o período crítico... 33 4.3 O conhecimento implícito e explícito e a percepção do insumo... 36 4.4 Considerações sobre o foco na forma... 38

9 5 A COLETA DE DADOS... 40 5.1 Hipóteses... 40 5. 2 Informantes da pesquisa... 41 5.3 Metodologia do curso de inglês pesquisado... 42 5.4 Instrumento para coleta de dados da pesquisa... 43 5.5 Análise das amostras... 44 6 CONCLUSÃO... 54 REFERÊNCIA... 56 APÊNDICE A Exercício de coleta de dados... 59 APÊNDICE B Questionário sobre os dados dos informantes... 64 ANEXO A Termo de consentimento livre e esclarecido... 66

10 1 INTRODUÇÃO Como estudante de língua inglesa como língua estrangeira, uma situação que muito me intriga dentro do campo da aprendizagem em cursos de idiomas é a questão da fluência oferecida por tais. Ao acessar alguns sites de cursos de idiomas na internet, percebo que a fluência na língua inglesa é prometida em curto prazo, mas a questão é esta: essa fluência é de fato atingida por tais aprendizes que optam por esses cursos livres de inglês? Ao término desse curto período de tempo divulgado por esses cursos, o aluno de fato está apto a lidar com estruturas de complexidade? Essas questões me fazem refletir sobre as inúmeras dificuldades enfrentadas por mim em meu período docente, especialmente com referência ao uso correto da estrutura gramatical Present Perfect (PP) e me instigam a investigar mais profundamente tal estrutura complexa sob o ponto de vista do aprendizado, a fim de colaborar com futuros professores, alunos e estudantes de inglês. Autores como Ellis (1997), Fortes (2002), Marcello (2006), Feiden (2009) realizaram pesquisas sobre a aquisição de diferentes pontos gramaticais em língua inglesa entre eles o PP - e os fatores que causam maior dificuldade na compreensão e aquisição desses pontos por parte de aprendizes de inglês como segunda língua (L2). Pelo menos três motivos fazem com que o PP seja considerado um tempo verbal complexo para estudantes de inglês como L2, a saber: a) seus verbos auxiliares (HAVE/HAS) e as diferentes formas dos verbos irregulares no particípio passado, b) os diferentes advérbios utilizados em combinação com essa estrutura gramatical e principalmente c) as diferentes situações de uso do PP (passado recente, resultado, experiências de vida e situação persistente) (FORTES, 2002, p. 33-4). Considerando que, o tempo verbal Present Perfect é uma estrutura gramatical de aquisição tardia Nussbaum e Naremore (apud FORTES, 2002), Johnson (apud FORTES, 2002), Fortes (2002), e que diversos cursos livres de idiomas oferecem em suas propagandas a fluência em língua inglesa num curto prazo de tempo, os objetivos desta pesquisa são a) verificar se efetivamente ocorre a aquisição do tempo verbal PP em alunos de inglês de nível intermediário de um curso livre no tempo estimado por tal e b) identificar as dificuldades desses estudantes de língua inglesa (LI) no que diz respeito ao reconhecimento e à aplicação dos usos do PP.

11 Para tanto, a ferramenta de coleta de dados utilizada para verificar o uso do PP por alunos de nível intermediário de um curso livre de inglês consistirá em exercícios de produção e identificação desse tempo verbal por parte desses estudantes. Isso porque uma produção escrita e/ou oral que possua coerência, criatividade e que abranja as diversas situações da comunicação são as características apontadas pelos estudiosos para definir um aprendiz fluente. De acordo com os estudiosos, a habilidade na escrita implica também a fluência do aprendiz Brumfit (apud HEDGE, 1993), Richards, Platt (1992), Hedge (1993). Assim sendo, esta pesquisa, de cunho bibliográfico e também exploratório, inclui pesquisa de campo com coleta de dados e análise qualitativa dos mesmos. Os capítulos estão organizados da seguinte forma: o capítulo 1 apresenta a parte introdutória; o capítulo 2 aborda a definição da fluência e sua relevância para o aprendiz na sua vida profissional; o capítulo 3 apresenta a estrutura do tempo verbal Present Perfect; o capítulo 4 contempla o processo de aquisição do PP, o período crítico e o foco na forma; o capítulo 5 as questões vinculadas à coleta de dados; e o capítulo 6, as considerações finais desta pesquisa.

12 2 A FLUÊNCIA EM LE E O MERCADO DE TRABALHO Neste capítulo serão apresentadas algumas definições de fluência em LE, informações vinculadas na internet sobre a importância de fluência em língua estrangeira para a colocação dos profissionais no mercado de trabalho e propagandas de cursos livres de inglês que prometem a aquisição da fluência em curto espaço de tempo. Existem dois sentidos para o termo fluência na visão de Lennon (1990). Um é amplo e outro é restrito. No sentido amplo, a fluência pode ser considerada como sinônimo da proficiência oral. Ou seja, ser fluente representaria o ápice a respeito da avaliação na produção oral de falante em LE. No sentido restrito, fluência em LE faz parte da proficiência oral. Dessa maneira, um aprendiz pode ser fluente, porém, não possuir um domínio pleno das estruturas gramaticais ou possuir fluência, mas não ter um vasto e diversificado nível de vocabulário. O oposto também pode ocorrer, ou seja, um indivíduo pode falar corretamente sem possuir fluência. Para Lennon, fluência é uma consequência do desempenho do estudante e representa a habilidade que o falante possui em captar a atenção do ouvinte para a mensagem que ele deseja transmitir. Segundo Hedge (1993), o dicionário Chamber Concise Dictionary define fluência como a capacidade de falar e escrever um determinado idioma com facilidade e competência. O que geralmente pode ser percebido é que a palavra fluência, mencionada pelos professores de idiomas, faz referência direta à produção oral construída pelo aprendiz. Portanto, muitos professores vinculam a fluência de um estudante à habilidade de conectar as fragmentações da produção oral com coesão e coerência, a fim de ser compreendido e se fazer compreender através da transmissão da mensagem. Richards e Platt (1992) definem o termo fluência como as características que dão ao discurso as qualidades necessárias para ser natural na sua produção oral tal qual a de um falante nativo. Tais características são o uso da pausa, a entonação adequada, o ritmo, as sílabas tônicas, a velocidade da fala, o uso das interjeições e interrupções produzidas por um aprendiz de L2. Ainda, segundo os autores, no ensino da L2, a fluência destaca o nível de proficiência na comunicação que é composto pelas seguintes habilidades: a) a habilidade de produzir a linguagem oral e/ ou escrita com facilidade; b) a habilidade de falar com uma boa entonação, assim como um bom desempenho no uso de vocabulários e da gramática (tais estruturas não precisam necessariamente ser perfeitas); c) a habilidade de se comunicar com eficácia e d) a habilidade de produzir um diálogo compreensível e sem interrupções constantes. Essa definição de fluência, às vezes, contrasta com accuracy (precisão). A

13 precisão se refere à habilidade de produzir sentenças gramaticalmente corretas, porém, não abrange a habilidade de falar ou escrever fluentemente. Richards e Platt (1992) Para Brumfit (apud HEDGE, 1993), a fluência no ambiente de instrução vem a ser o desenvolvimento de padrões de interação da linguagem na sala de aula em que a língua seja a mais fiel possível à forma utilizada por falantes nativos em seu cotidiano. Entretanto, estudantes brasileiros de inglês como L2 em cursos livres normalmente têm pouco contato com estrangeiros falantes nativos durante o seu processo de aprendizagem. Além disso, o objetivo de muitos desses alunos é ter um bom domínio da língua para fins de colocação no mercado de trabalho, estudos acadêmicos ou satisfação pessoal, o que não exige que eles tenham uma habilidade oral semelhante à de um falante nativo. Sendo assim, acredita-se que a definição de fluência exposta por Hedge (1993), representa melhor o que os cursos livres de inglês no Brasil oferecem a seus clientes, especialmente os cursos de curta duração. 2.1 Breve abordagem do mercado de trabalho referente a profissionais com fluência em L2 Estudantes buscam aprofundar seus conhecimentos em uma L2 em cursos livres, pois sabem que tal domínio traz grandes benefícios quanto à colocação no mercado de trabalho e à realização pessoal. Entretanto, percebe-se que nos centros de idiomas, o aluno, ao atingir o nível intermediário no idioma inglês, tende a sentir grande dificuldade na compreensão de estruturas gramaticais mais complexas, como, por exemplo, o uso do tempo verbal Present Perfect (PP). Conforme Marcello (2006, p.13) uma das razões para a dificuldade de aprendermos o PP é que esse tempo verbal não existe em português. Se procurarmos presente perfeito numa gramática de língua portuguesa não acharemos nada. Estamos vivendo uma era digitalizada, onde não mais existe a necessidade de sair de casa, da cidade ou do país para estar em conexão com um mundo de possibilidades provenientes de outros países. O domínio de um segundo idioma, portanto, potencializa o currículo do profissional, abre portas e garante posição e status dentro da empresa, proporcionando um melhor posicionamento no mercado de trabalho, conforme informação do site Globo.com: fluência em línguas abre oportunidades e pode aumentar o salário. Este tem sido um tempo de uma aldeia global e um vasto mundo virtual, em que a comunicação entre as pessoas tem se expandido além das comunidades locais da fala Ellis (1997). De maneira nunca vista antes, as pessoas tem de aprender um segundo idioma, não

14 apenas como diversão ou passatempo, mas com grande frequência para adquirir conhecimento e garantia de emprego. Profissionais cujo domínio da língua inglesa é fluente têm grande posição de vantagem sobre aqueles que não possuem a fluência em L2. De acordo com algumas fontes da internet, podemos afirmar que o indivíduo fluente em uma L2 alcançará melhores vagas de emprego e, consequentemente, um plano de carreira valorizado e favorável. De acordo com o site Webartigos (2010): Sabemos que o conhecimento de uma língua além do idioma materno, proporciona ao indivíduo um leque imenso no saber, que facilita a interação no mundo globalizado, onde a Internet e outros meios de comunicação têm um papel de destaque na comunicação e na formação do conhecimento científico. (WEBARTIGOS, 2010) O profissional de call center internacional ganha cerca de R$ 1,2 mil, mais benefícios, aproximadamente o dobro de um profissional de telemarketing que só fala português. De acordo com as companhias do setor, o salário pode chegar a R$ 1,5 mil nos casos de atendimento técnico. (ZAPEMPREGOS, 2009) De acordo com o blog Catho Online (2011): falar um idioma fluente não é mais considerado um diferencial, mas sim um requisito para entrar no mercado de trabalho. Uma pesquisa levantada em janeiro de 2012 mostra que a diferença salarial entre os profissionais fluentes no idioma inglês e aqueles que não dominam o idioma é em torno de 28%. Entretanto, apenas 10% dos profissionais que estão no mercado possuem fluência na língua inglesa, conforme pode ser visto no quadro a seguir:

15 Quadro 1 Pesquisa Salarial e de Benefícios da Catho Online Fonte: Catho online, 2012 2.2 Abordagens de marketing de cursos livres de idiomas vinculadas à web Alguns cursos livres de idiomas divulgam ao público em geral que o aluno pode adquirir a fluência em outra língua num período de dois anos ou menos, o que pode ser observado de acordo com os seguintes anúncios vinculados à web: Em 18 meses, você estará apto a entender e interagir com qualquer pessoa e nas mais variadas situações. (MINDS ENGLISH SCHOOL) Fluência em apenas um ano! O diferencial tempo é o "Pool" da marca Michigan! Venha para o Melhor. (ESCOLAS MICHIGAN) Fluência em um ano e oito meses. (LEARNET ENGLISH SCHOOL) Fluência rápida e definitiva. (UPTIME) Após o término do programa o aluno estará apto a vivenciar qualquer situação do seu interesse, utilizando o inglês com fluência em 2 anos. (W ENGLISH SCHOOL) Do iniciante ao avançado, a duração ideal para falar inglês é de 1 ano e meio. (ESCOLAS E FACULDADES QI) Entretanto, os estudantes podem não adquirir tal fluência com tanta facilidade por encontrarem dificuldade na compreensão e emprego de estruturas verbais mais complexas, como o PP. Isso porque, segundo Fortes (2002), essas estruturas mesmo na língua materna com insumo de falantes nativos são consideradas de aquisição tardia.

16 No ambiente educacional dos cursos de idiomas, observa-se que os alunos de inglês que atingem o nível intermediário enfrentam certas dificuldades não apenas em relação ao uso dos verbos auxiliares HAVE/HAS e dos verbos no Particípio Passado - que compõem o tempo verbal Present Perfect (PP)- como também em relação aos contextos nos quais esse tempo deve ser usado. É por isso que, mais importante do que apresentar a forma do PP, o professor e/ou instrutor precisa trabalhar explicitamente o uso correto do PP de forma tal a auxiliar o aprendiz a reconhecer os diferentes usos desse tempo verbal e utilizá-los apropriadamente, (FEIDEN, 2009). O fato de os estudantes de inglês em cursos livres não se sentirem seguros ao utilizar apropriadamente o tempo verbal PP ocorre porque os diferentes usos desse tempo verbal ainda não estão totalmente claros e fundamentados para o aprendiz. O aluno tenta relacionar o uso do tempo verbal PP em inglês com algum tempo verbal em português, o que na maioria das vezes não funciona, pois se utilizam outros tempos verbais em português para expressar o que foi dito em inglês no PP tempos verbais como o presente simples ou o passado simples além do presente perfeito composto.

17 3 O TEMPO VERBAL PRESENT PERFECT E SEU CONCEITO Neste capítulo serão apresentados o tempo verbal PP, seu conceito, sua estrutura gramatical, os contextos que abrangem seu uso, assim como o emprego e significado de seus marcadores adverbiais. O tempo verbal PP é utilizado para descrever ações que ocorreram no passado, mas que de certa forma ainda se refletem no presente, fazendo então uma conexão entre dois tempos verbais. O uso do PP ocorre quando uma ação apresenta uma ligação com o momento em que ela é enunciada, ou seja, a ação cometida no passado se reflete no presente momento do enunciado (MURPHY, 2004, p. 14). De acordo com Swan (2005), quando alguém utiliza a estrutura verbal do PP, narrando um determinado acontecimento, essa pessoa está utilizando de maneira simultânea uma relação entre o passado e o presente. Marcello (2006) afirma que esse tempo verbal não é só presente, nem só passado. O Present Perfect é presente e passado, ao mesmo tempo. Como o próprio nome diz, ele vai relacionar o passado ao presente. Costuma-se dizer que o conceito referente à estrutura verbal PP não tem equivalência no português, pois se pesquisarmos em sites de educação, gramáticas da língua portuguesa ou em qualquer fonte vinculada a línguas e idiomas, não encontraremos tal estrutura verbal em nosso idioma. Em inglês, esse tempo verbal, pode indicar ações que ocorreram no passado e continuam até o presente, ações com um passado indeterminado ou ações concluídas recentemente. O Present Perfect é presente e passado ao mesmo tempo. Como o próprio nome diz, ele vai relacionar o passado ao presente é essa a essência do Present Perfect. Isso acontece porque alguns conceitos de tempo cronológico e tempo verbal podem não ser equivalentes em línguas e culturas diferentes. O falante nativo de inglês, mesmo inconscientemente, faz uso dessa noção de tempo que relaciona o passado ao presente quando se comunica utilizando o Present Perfect. (MARCELLO, 2006, p. 14) 3.1 Estrutura gramatical do PP O PP apresenta a seguinte estrutura em língua inglesa: verbo auxiliar have + verbo principal no Past Participle. Ao conjugarmos have, o verbo pode apresentar duas formas diferentes have ou has sendo has usado para a terceira pessoa do singular e have para as demais pessoas do singular e todas as do plural. Os verbos no particípio passado podem ser regulares ou irregulares. Se forem regulares serão escritos com o sufixo ed, assim como sua forma no passado simples (e.g. work/worked/worked; study/studied/studied etc), enquanto que

18 se forem irregulares apresentam uma forma normalmente diferente daquela do infinitivo. Gramáticas e dicionários apresentam tabelas de verbos irregulares no infinitivo, no passado simples e no particípio passado, conforme pode ser verificado no breve quadro 2, apresentado a seguir. Quadro 2 Verbos irregulares Infinitivo Passado Particípio Passado Tradução To be was/were Been ser/estar To buy bought Bought comprar To bring brought Brought trazer To do did Done fazer To go went Gone ir To have had Had ter To hide hid Hidden esconder To know knew Known saber To catch caught Caught pegar To leave left Left partir To see saw Seen Ver To spend spent Spent Gastar To teach taught Taught ensinar To understand understood Understood entender To write wrote Written escrever Fonte: Autoria própria, 2012 A estrutura do PP (have + past participle e has + participle) pode se apresentar na forma afirmativa, negativa ou interrogativa na sentença, assim como na forma contraída/reduzida ( ve e s), como apresentado nos quadros 3, 4 e 5 a seguir. Quadro 3 Formas afirmativa e negativa do PP Affirmative Form Negative Form I worked I worked You have cried You have not cried We painted We (haven`t) painted They bought They bought He spoken He spoken She has walked She has not walked It fallen It (hasn`t) fallen Fonte: Autoria própria, 2012

19 Quadro 4 Forma interrogativa do PP Interrogative Form I worked? you cried? she spoken? Have we painted? Has he walked? they bought? it fallen Fonte: Autoria própria, 2012 Quadro 5 Formas contraídas do PP Have = `ve I`ve worked You`ve cried We`ve painted They`ve bought Fonte: Autoria própria, 2012 Contracted Form Has =`s She`s spoken He`s walked It`s fallen O aprendiz deve focar sua atenção na forma contraída, em especial na terceira pessoa do singular, para diferenciar o tempo verbal PP do tempo verbal Presente Simples (PS) (e.g. He s my boss) ou do caso possessivo (Pedro s brother lives in Seattle), levando-se em consideração o contexto em que se apresenta. Nas estruturas que fazem referencia ao PS na voz ativa, é necessário saber que não será utilizado um verbo no particípio passado e, nas estruturas do caso genitivo ou possessivo, o aprendiz deve saber diagnosticar que o apóstrofo + s ( s) faz menção a uma relação de posse. 3.2 Os usos do tempo verbal PP Ao estudar um idioma e suas regras de uso, o conhecimento de determinada estrutura verbal permite que o aprendiz de L2 crie sentenças nas formas negativas, interrogativas e afirmativas. Entretanto, para se considerar com fluência e domínio nesse tempo verbal o aprendiz deve saber utilizar sua estrutura dentro de contextos do cotidiano, caso contrário apenas utilizará o tempo verbal mecanicamente em exercícios gramaticais Marcello (2006). A seguir, são apresentadas as diferentes situações de uso do PP. 3.2.1 Estabelecendo uma conexão entre o presente e o passado Ao utilizarmos o PP, o objetivo é evidenciar a relevância de uma situação que ocorreu no passado e que possui influência no presente. Por exemplo, quando desejamos falar sobre a aparência física de alguém, que se reflete no momento do comentário, devemos utilizar o PP e

20 não o Passado Simples. Isso porque, ao utilizamos o PP o intuito é evidenciar que a pessoa, cujo ganho de peso foi mencionada, engordou e seu excesso de peso pode ainda ser percebido pelo interlocutor (exemplo 1). No entanto, devemos utilizar o Passado Simples (PA) para indicar ações terminadas em um tempo definido, de acordo com LARSEN-FREEMAN (2000), ou seja, diferentemente do PP uma ação que não mais se reflete no momento do enunciado Já a estrutura do PA não necessariamente presume que o acontecimento de ter ganhado peso seja perceptível no momento em que ocorre o diálogo: 1. I think you have put on weight. (Eu acho que você engordou.) No exemplo 2, a seguir, também se utiliza o PP, e não o Passado Simples, para mostrar que esquecemos a chave momentos antes da fala e que elas não estão sob nosso poder, o que mais uma vez nos remete a uma conexão do passado com o presente. 2. Oh, no! I have forgotten my keys!! (Oh, não! Esqueci minhas chaves!) O aprendiz brasileiro de inglês como L2 costuma usar de forma automática a oração no Passado Simples, ao invés de usar o PP devido à interferência da língua materna (Ellis, 1997), que não utiliza o PP em contextos como os das orações 1 e 2. Entretanto, segundo Marcello (2006), e conforme a oração 3 a seguir, quando usamos o Simple Past, um falante nativo do inglês interpreta nossa oração como referência a uma ação concluída, acabada, que não tem nenhuma relevância direta no momento da fala. 3. Where`s your umbrella? I don`t know; I lost it. (= Perdi o guarda chuva há algum tempo e não momentos antes da fala.) Sendo assim, o aprendiz de inglês como L2 precisa entender que ações acabadas recentemente e que apresentam uma consequência no momento da fala são normalmente expressas pelo PP, conforme os exemplos 4, 5 e 6 a seguir. 4. He told me his name, but I`ve forgotten it. (= Ele me disse seu nome, mas acabei de esquecer). 5. Is Sally here? No, she`s gone out. (= Sally está? Sally acabou de sair.)

21 6. I can`t find my bag. Have you seen it? (Não encontro minha bolsa. Você viu minha bolsa nestes últimos instantes?) (MURPHY, 2004, p. 14) 3.2.2 Anunciando um evento, notícia ou novidade recente O PP é considerado o tempo verbal mais apropriado para anunciar um evento recente, dar notícias ou falar sobre novidades, pois tais informações relacionam o passado ao presente e, dessa forma, geram uma relação entre os dois tempos verbais. 7. Amy Wine House has passed away! (Amy Wine House faleceu!) 8. My wife has got a baby! (Minha esposa ganhou bebê!) 9. Charlie has bit my finger! It still hurts! (Charlie mordeu meu dedo e ainda está doendo!) 3.2.3 Relatando experiências de vida Ao especular fatos, detalhes das experiências de vida das pessoas, deve-se utilizar o PP, como pode ser visto nas orações 10 e 11. Se quisermos, por exemplo, saber do nosso interlocutor se essa pessoa já leu alguma obra de Edgar Allan Poe, devemos estruturar a pergunta conforme o exemplo 10. 10. Have you ever read Edgar Allan Poe novels?(você alguma vez já leu as obras de Edgar Allan Poe?) 11. Has Patrick ever kissed a girl? (Patrick já beijou alguma garota?) Quando a intencionalidade se referir a experiências vividas, o tempo verbal adequado é o PP e não o Passado Simples (PA). Isso porque o PS é uma estrutura utilizada para fazer menção à especificidade, ou seja, quando a data de determinada ação ou acontecimento é mencionada ou está implícita no ato da fala. Por isso, o PA é usado para contar aspectos

22 pertinentes a uma viagem, um passeio de férias, uma ida ao cinema, ao teatro, etc. Já o PP não remete o ouvinte ou o falante a um exato momento no tempo. A seguir, apresenta-se o exemplo 12, com a estrutura do PP para narrar experiências de vida sem tempo marcado: 12. She has never been to Santa Catarina. (Ela nunca esteve em Santa Catarina.) Tal oração relata a experiência de vida do sujeito da frase que, até aquele dado momento, ainda não visitara o estado de SC. Ou seja, é feita uma referência com o passado (Ela não visitou o estado de SC) e com o presente (Ela continua sem visitar SC). Por esta razão o tempo verbal adequado é o PP. Outro exemplo para falar de ações efetuadas até o momento é apresentado na oração 13, a seguir: 13. That actress has acted in several movies. (Aquela atriz já atuou em inúmeros filmes.) Nessa frase interpretamos que uma determinada atriz atuou em vários filmes até então, e ela ainda poderá atuar em outros filmes. Entretanto, se tivéssemos utilizado a mesma oração com a estrutura do PA, como no exemplo 14, concluiríamos que a atriz atuou em determinado período de sua vida, mas que hoje não pratica mais essa ação, porque pode ter se aposentado ou falecido. 14. That actress acted in several movies. (Aquela atriz atuou em vários filmes.) 3.2.4 Mencionando uma ação que teve inicio no passado e que perdura até o presente momento No exemplo 15, a seguir, o PP remete a uma situação que nos leva a entender que a aluna estuda naquela instituição desde 2008 e continua estudando lá até o presente momento. Caso a oração fosse construída no PA, estaríamos incorrendo em erro, uma vez que o PA faz referência apenas a fatos totalmente acabados, o que não é o caso da oração 15. 15. Alana has studied at Unilasalle since 2008. (Alana estuda no Unilasalle desde 2008.)

23 As orações 16, 17 e 18, a seguir, são outros exemplos em que as situações vinculadas ao passado se refletem no presente. 16. I have been a teacher for 2 years. ( Sou professor há dois anos.) 17. We have been married since 2009. ( Estamos casados desde 2009.) 18. He has been in love with her since they met each other. (Ele está apaixonado por ela desde que se conheceram.) Nas orações 16, 17 e 18 são utilizadas as locuções adverbiais since (desde) e for (por) para evidenciar a continuidade no presente da ação que iniciou no passado. 3.2.5 Mencionar situações que ocorreram em um determinado período inacabado Consideremos uma situação hipotética para entender o uso do PP em situações que ocorrem em períodos inacabados. Estamos na metade do ano e a esposa faz o seguinte comentário a seu marido: Ainda não saímos de férias este ano. 19. We haven`t gone on vacation this year. O tempo verbal adequado para essa oração é o PP, pois, o ano ainda não acabou, e ainda há a possibilidade de o casal sair em férias até o término do ano. Por esse motivo, o contexto da oração 19 não permite o uso do PA. Exemplos semelhantes à oração 19, em que a ação ocorre num período de tempo ainda inacabado, são apresentados a seguir: 20. David has eaten five slices of bread this morning. (David comeu cinco fatias de pão esta manhã.) Podemos afirmar que, no exemplo acima, a frase foi dita ainda no período matinal, pois, caso tivesse sido dita pela tarde ou pela noite o adequado seria utilizar o PA, como na frase 21. 21. David ate five slices of bread for breakfast this morning.

24 O mesmo pode ser dito sobre o exemplo 22, abaixo. Há a indicação de que o dia não acabou o que se pode pressupor pela palavra today (hoje). Como o dia não terminou, podemos deduzir que a pessoa poderá beber mais latas de refrigerante até o término do dia, se assim o desejar. 22. I have drunk 3 cans of soda today. (Tomei quatro latas de refrigerante hoje.) Na estrutura do PP, podemos utilizar os advérbios just, yet, already e still para indicar o comportamento do falante. A seguir, são apresentados os diferentes advérbios que são normalmente usados como marcadores com o tempo verbal PP. 23. I have just posted your grades. (Acabei de postar suas notas./ Recém postei suas notas.) 24. She has just done the laundry. (Ela acabou de lavar as roupas./ Ela recém lavou as roupas.) O advérbio just (recém, agora pouco, há pouco tempo) é utilizado para situações recentes, que tiveram seu término há poucos instantes antes de serem evidenciadas pelo falante. O PP remete a uma ligação do presente ao passado, pois, são evidentes os indícios da ação (Marcello, 2006). 25. Haven`t you gone to bed, yet? (Tu ainda não foste para a cama?) O advérbio yet (ainda) é utilizado quando uma determinada situação não foi completada antes do momento da enunciação (LARSEN-FREEMAN, 2000). De acordo com MURPHY (2004), o advérbio yet significa já, ainda (não) e mostra que o falante está esperando que algo aconteça. Yet deve ser aplicado somente em frases negativas e interrogativas. 26. I haven`t gone to bed yet! (Eu ainda não fui para a cama.) Segundo Murphy (2004), o advérbio already (já) é utilizado para dizer que algum evento ocorreu mais rápido do que se esperava. O uso do already em frases interrogativas

25 denota que o locutor espera que uma situação tenha ocorrido antes do momento da enunciação, Larsen-Freeman (2000). 27. They have already done the housework! (Elas já terminaram suas tarefas domésticas!) 28. Anna has already paid the bills! (Anna já pagou as contas!). O advérbio still (ainda): é usado para demonstrar que uma situação, alguém, uma atividade, um hábito, não apresentaram mudanças. Utiliza-se o still antes do verbo principal, após o verbo to be (ser/estar), ou antes, de um verbo auxiliar (LARSEN-FREEMAN, 2000). 29. Peter still hasn t done his homework. (Peter ainda não fez o tema de casa.) 30. Have they still been in hospital? (Eles ainda estão no hospital?) 3.3 Tempo e aspecto do PP Na seção anterior apresentou-se a estrutura do PP, o uso contextualizado do mesmo e os advérbios que normalmente são usados com esse tempo. A seguir, será apresentada a questão do tempo e aspecto do PP e suas equivalências com o português. De acordo com Finger, Mendonça e Feiden (2008) tempo e aspecto são classificações verbais vinculadas à condição temporal dos acontecimentos, porém, distinguem-se em relação a sua essência e foco. Lewis (1994) caracteriza tempo segundo a linguística, como um termo técnico. Isso significa que, morfologicamente, existe uma mudança no verbo em sua forma base. Tecnicamente falando, uma estrutura verbal constituída por auxiliares em seu corpo não é considerada tempo verbal. Algo que se pode considerar interessante dessa distinção é que no idioma inglês não existe um tempo verbal futuro, por exemplo. Claro que isso não implica que não se pode falar do período no futuro em inglês. Entretanto, não existe uma forma verbal específica, ou ao menos fortemente relacionada a esse período. Considerando esse sentido técnico, em inglês há apenas dois tempos verbais: o presente simples e o passado simples. Todas as demais estruturas verbais são constituídas pelos verbos auxiliares - ser (be) e ter (have).

26 A referência de aspecto lexical na visão de Vandler (apud CELCE-MURCIA; LARSEN FREEMAN, 1999) é que verbos em qualquer idioma podem ser classificados segundo o tipo de ação ou estado que eles descrevem. Alguns verbos, por exemplo, são nomeados como pontuais, como chutar ou bater, os quais remetem o falante a uma situação passageira, que não possui continuidade. Outra classificação faz referência aos verbos de duração, como viver ou trabalhar. A utilização desses verbos traz em seu significado uma ação que ocorreu ao longo do tempo. Essa característica norteia os campos temporais e de aspecto do verbo em inglês. Um ponto relevante sobre o aspecto lexical dos verbos é o fato de eles remeterem o interlocutor a seus distintos significados quando combinados com certos morfemas gramaticais. Por exemplo, os verbos pontuais assumem uma significância interativa quando usados na forma progressiva (be +... ing ou ser +...ando/endo/indo). Já os verbos de duração assumem característica provisória e/ou de temporalidade. Como exemplo, podemos citar a) He is shaking up the rug, because it s full of dust! (Ele está sacudindo o tapete, pois está cheio de poeira. repetição; b) They are living with us just until they find a job! (Eles estão morando conosco só até encontrarem um emprego) temporalidade. O caráter do aspecto, segundo Finger, Mendonça e Feiden (2008), está relacionado à visão semântica, a qual deve ser estabelecida pelo locutor, assim como as distintas formas de percepção do tempo interno de uma dada situação. Existem dois tipos de aspecto diferentes: o gramatical e o lexical. O primeiro está vinculado à codificação das diferenças semânticas, pela utilização explícita de sistemas linguísticos, ou seja, os auxiliares e os morfemas. O segundo, como já mencionado no parágrafo anterior está vinculado à classificação dos verbos. Consideremos um trecho da obra: Comrie (1976) subdividiu o aspecto gramatical em aspecto perfectivo e imperfectivo, sendo que a presença desses nem sempre é observada em todas as línguas diferentemente do aspecto lexical que existe em todos os idiomas. O perfectivo caracteriza-se por apresentar uma ação como um todo completo, enfatizando a completude de dado evento. O aspecto imperfectivo, por sua vez, expressa a incompletude de um evento em um determinado ponto. (FINGER; MENDONÇA; FEIDEN, 2008, p. 3). Todavia, o sentido transmitido através do aspecto lexical pode ser mudado pela escolha do verbo que relata a situação, quando os verbos são possuidores dos próprios aspectos lexicais internalizados. Portanto, o aspecto lexical faz referência a características do aspecto, pertinentes aos itens lexicais. Segundo as autoras, existem quatro classes diferentes de aspecto lexical:

27 Vendler (1957) elencou quatro diferentes classes de aspecto lexical: verbos de estado (state verbs), verbos de atividade (activity verbs), verbos de processos culminados (accomplishment verbs) e verbos de culminações (achievement verbs). Os verbos de estado (state verbs) representam ações que possuem uma duração indefinida sem apresentar nem dinamicidade interna nem um ponto final da ação verbal. Já os verbos de atividade (activity verbs) descrevem eventos incompletos nos quais é despendido algum tipo de energia mental ou física e que possuem um ponto final da ação arbitrário. Os verbos de processos culminados (accomplishment verbs) representam ações completas, têm uma duração intrínseca e um ponto de culminação, que representa a completude do processo. Os verbos de culminações (achievement verbs), por sua vez, denotam eventos pontuais e instantâneos (FINGER, MENDONÇA, FEIDEN, 2008, p. 3). Considerando a diferença entre tempo e aspecto e levando em conta que a forma verbal nomeada como tempo verbal (tense) é possuidora de 2 características - presente e passado - e que as outras combinações temporais existentes em inglês são a relação do tempo com os auxiliares - que é nomeado de aspecto por Lewis (1994) apresentamos, a seguir, um quadro onde podem ser visualizadas as 16 combinações de tempo e aspecto, incluindo os auxiliares e morfemas que fazem parte dessas distinções temporais e lexicais (STERN, 2004). Quadro 6 Tempo e aspecto PRESENT PAST FUTURE FUTURE IN THE PAST SIMPLE I go I went I will go I would go CONTINUOUS I am going I was going I will be going I would be going PERFECT I have gone I had gone I will have gone I would have gone I have been I had been going I will have been I would have going going been going PERFECT CONTINUOUS Fonte: Stern, 2004, p. 42 3.4 A Relação estabelecida entre o PP e suas possíveis equivalências em Português A estrutura verbal do PP é conhecida como o tempo verbal sem uma equivalência única no português (FORTES, 2002). Brasileiros, estudantes de inglês como 2, utilizam três estruturas verbais do português com o intuito de se aproximarem do sentido semântico do PP em inglês. A seguir, são apresentados esses três tempos verbais, de acordo com estudiosos da gramática portuguesa:

28 a) pretérito perfeito simples: é utilizado para a descrição de um determinado acontecimento que se manifestou em algum período no passado. Nas palavras de Cunha e Cintra (2001, p. 454) a forma do pretérito perfeito simples é a que se emprega para descrever o passado tal como aparece a um observador situado no presente e que o considera do presente. O pretérito perfeito simples denota um evento findado em dado período anterior ao momento da fala; b) pretérito perfeito composto: suas estruturas são vinculadas a situações que ocorreram em um determinado momento antes do enunciado (BECHARA, 2001). O pretérito perfeito composto é eventualmente utilizado para representar o PP remetendo o interlocutor a uma repetição de um acontecimento e/ou à continuidade de tal até o momento da fala (CUNHA; CINTRA, 2001); c) presente simples: tempo verbal utilizado para descrever fatos que estejam ocorrendo no momento do enunciado e para abordar ações e estados permanentes, os quais sejam tidos como verdades universais. O presente simples ou presente do indicativo também remete a situação a uma ação habitual ou a uma habilidade de cada indivíduo, mesmo que essa não esteja em exercício no momento do diálogo (CUNHA; CINTRA, 2001). No quadro a seguir, apresenta-se a relação do PP com as estruturas utilizadas em português e suas equivalências. Quadro 7 - Equivalências do PP com o português PRESENT PERFECT SIMPLE PRETÉRITO PERFEITO SIMPLES a) Ian has written a novel. Ian escreveu um romance. b) John and Mary have traveled to John e Mary viajaram para Itália. Italy. c) Kathy has bought a car. Kathy comprou um carro. PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO d) Tércio has worked pretty hard Tércio tem trabalhado lately. arduamente nos últimos dias. e) I have studied every day for my final paper. Tenho estudado todos os dias para meu trabalho de conclusão. f) They have argued very often. Eles tem discutido com muita frequência. PRESENTE SIMPLES g) Suélen has studied at Unilasalle since 2008 h) My parents-in-law have been married for 30 years i) Walda hasn t visited us since May. Fonte: autoria própria, 2012. Suélen estuda no Unilasalle desde 2008. Meus sogros estão casados há 30 anos Walda não nos visita desde maio.

29 Em língua inglesa, a forma dos verbos e o uso dos diferentes tempos verbais tendem a ser bem mais simples do que em língua portuguesa. Entretanto, no que se refere ao tempo verbal PP, apenas um dos múltiplos usos dessa estrutura complexa encontra equivalência literal em português: o Passado Perfeito Composto, que apresenta a mesma estrutura gramatical que o PP em língua inglesa. No capítulo a seguir, será apresentado o processo de aquisição do PP na L1 e na L2, as considerações sobre o período crítico, o conhecimento implícito e explícito, a percepção do insumo e a importância do foco na forma na aprendizagem de uma L2.

30 4 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO PP, O PERÍODO CRÍTICO E O FOCO NA FORMA Neste capítulo serão apresentadas informações sobre o papel da idade na aquisição de uma L2, a aquisição tardia do PP por falantes de inglês como L1 e a importância do foco na forma no ensino de inglês como L2 para adultos. 4.1 O processo de aquisição do PP na L1 e na L2 De acordo com Lightbown e Spada (2006), algo considerado extraordinário no que se refere à aquisição da linguagem em L1 é o fato de que esse processo ocorre de forma semelhante em crianças de todo o mundo. Entre o período de três e quatro anos de idade, a maioria delas já consegue estruturar perguntas, dar ordens, narrar situações e criar histórias de faz de conta, usando estruturas gramáticas corretas. Entretanto, é no período por volta dos quatro anos de idade que as crianças começam a dominar estruturas gramaticais consideradas de nível básico. Com relação à aquisição da estrutura do PP em inglês como L1, esta chama a atenção por sua complexidade e aquisição tardia, conforme Fortes (2002): Os resultados encontrados por NUSSBAUM e NAREMORE (1975), mostram um aumento no uso de HAVE na idade de quatro anos e seis meses, seguido de um padrão inconsistente de respostas corretas nas idades de cinco e seis. O resultado geral com relação à idade indica que até mesmo as crianças com seis anos não se aproximam do adulto quanto ao uso do auxiliar HAVE, apesar de a forma surgir em torno dos quatro e de sua incidência aumentar proporcionalmente à idade. (FORTES, 2002, p. 22) Considerando a complexidade do PP, a partir do momento em que o estudante de inglês como L2 passa a dominá-lo, podemos pressupor, então, que seu nível de fluência no idioma é maior que a de um estudante de nível básico. Isso porque o aprendiz de nível inicial, assim como a criança nos primeiros anos de vida, ainda não possui consciência metalinguística suficiente para lidar com uma estrutura gramatical tão complexa quanto a do PP. As pesquisas relacionadas ao ensino e aquisição do PP e suas estruturas são definidas por Fortes (2002) como uma situação de grande relevância nas aquisições de estruturas sintáticas e semânticas. Tal relevância é justificada pela consequência de seus resultados terem uma participação direta no ensino, principalmente na elaboração de materiais didáticos, esses os quais só surtirão efeito sobre o aprendiz se produzidos segundo os estudos das

31 pesquisas mencionadas anteriormente, as quais focam na raiz do problema, ou seja, onde o aprendiz apresenta maior dificuldade. Marcello (2006, p. 17) afirma que, com relação à aprendizagem de uma L2, conhecer a estrutura de um tempo verbal possibilita que, com base num modelo, construamos orações afirmativas, negativas ou interrogativas. Saber construir orações consolida o aprendizado da estrutura, mas esse tipo de conhecimento é mero exercício gramatical, isto é, não aborda as situações cotidianas em que podemos empregá-lo. Na verdade, quando estudamos uma língua, precisamos aprender como é usá-la de forma contextualizada, ou seja, em quais situações do dia-a-dia é necessário valer-se de determinada estrutura. Por exemplo, para nos comunicarmos utilizando o PP, temos que aprender qual situação de comunicação exige o emprego desse tempo. Por isso, o uso adequado do complexo tempo verbal PP pode ser considerado, metaforicamente falando, uma das pedras que o estudante usará para levantar seu castelo de conhecimento no que diz respeito à aquisição do inglês como L2. Também deve ser levado em conta o fato de que há uma grande diferença entre o aprendizado de uma L2 por aprendizes adultos e adolescentes e por aprendizes crianças. As crianças iniciam o aprendizado do idioma sem se beneficiarem de algumas habilidades e conhecimentos que os adolescentes e adultos já possuem, pois tais aprendizes de L1 não têm a mesma maturidade cognitiva, experiência de mundo ou consciência metalinguística que o aprendiz mais velho da L2 possui. Entretanto, a maioria das crianças não se sente nervosa ou pressionada ao tentar se expressar. Os adolescentes e os adultos, por outro lado, consideram extremamente estressante sua falta de habilidade ao tentarem se comunicar de forma correta e clara. Um aspecto positivo para as crianças é que raramente o ambiente de seu aprendizado irá pressioná-las a falar quando elas não estiverem prontas para tal, diferentemente da condição do aprendiz adulto de L2 na sala de aula. Independentemente da idade, todos os aprendizes de uma L2 já adquiriram pelo menos um idioma anterior, o que pode ser positivo ou não para o aprendiz. Nas palavras de Ligthbown e Spada (2006): Por definição todos os aprendizes de uma segunda língua, independentemente da idade, já adquiriram pelo menos um idioma. Esse conhecimento prévio pode ser vantajoso, entretanto, conhecimentos já pré-estabelecidos de outras estruturas linguísticas, pode direcionar o aprendiz a cometer suposições errôneas no que diz respeito ao funcionamento de um segundo idioma, e isso pode resultar em equívocos que um indivíduo aprendiz de primeira língua não cometeria. (LIGHTBOWN; SPADA, 2006, p. 30, tradução nossa)

32 Na seção a seguir, serão apresentados os fatos que permeiam o período crítico na aquisição da L1 e da L2, segundo estudos realizados por diferentes pesquisadores. 4.2 Considerações sobre o período crítico Na obra de Lightbown e Spada (2006) verificamos que a hipótese do período crítico (HPC) afirma que animais, incluindo a raça humana, são programados geneticamente para adquirir certos tipos de conhecimentos e habilidade em um determinado período de suas vidas. A HPC sugere que as crianças que têm o acesso negado à linguagem na infância por motivo de deficiência física, como a surdez, ou por privação do contato com o idioma, como pela isolação extrema, nunca desenvolverão a aquisição da linguagem se tais privações e limitações se propagarem por um período muito extenso. Nas pesquisas do linguista Lenneberg (1967), o período ideal para adquirir uma língua seria nos dez primeiros anos de vida e seria durante esse período que o cérebro demonstra seu melhor desempenho de plasticidade, ou seja, habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento, a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos (PROFALA, 2012). Logo depois desse período da puberdade, o cérebro perderia tal característica. Ainda segundo Lennerberg (1967): Entre dois e três anos de idade, a linguagem emerge através da interação entre maturação e aprendizado pré-programado. Entre os três anos de idade e a adolescência, a possibilidade de aquisição primária da linguagem continua a ser boa; o indivíduo parece ser mais sensível a estímulos durante este período a preservar uma certa flexibilidade inata para a organização de funções cerebrais para levar a cabo a complexa integração de sub processos necessários à adequada elaboração da fala e da linguagem. Depois da puberdade, a capacidade de auto organização e ajuste às demandas psicológicas do comportamento verbal declinam rapidamente. O cérebro comporta-se como se estivesse se fixado daquela maneira e as habilidades primárias e básicas não adquiridas até então geralmente permanecem definidas até o fim da vida. (LENNEBERG, 1967, p. 158) Na obra de Ellis (1997), pode-se verificar que a HPC defende a existência de um determinado momento em que a aquisição da linguagem é simples e completa e outra em que ela é difícil e incompleta. Tal hipótese é fundamentada nas pesquisas que apontam que pessoas, que por algum motivo perderam suas capacidades linguísticas em algum acidente, seriam aptas a se restabelecerem por completo antes da puberdade, por volta dos 12 anos de idade. Entretanto, não seriam aptas a fazê-lo após esse período. Contudo, existem circunstancias em que aprendizes, os quais iniciaram a aprendizagem na fase adulta não atingem uma competência gramatical ou na pronúncia como