ANÁLISE DE RELAÇÕES ENTRE DECLIVIDADE E USO DO SOLO COM AUXÍLIO DO GEOPROCESSAMENTO, MUNICÍPIO DE SOMBRIO, SC

Documentos relacionados
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 42 Imagem de satélite mostrando a presença de floresta junto as drenagens. Fonte Google Earth de 2006

Diretrizes para mapeamento de inundações no Estado do Rio de Janeiro PATRICIA R.M.NAPOLEÃO CARLOS EDUARDO G. FERRIERA

Hidrologia Bacias hidrográficas

Potencial de Uso Agrícola das Terras

Caracterização da adequação do uso agrícola das terras no Distrito Federal 1.

Caracterização de uma bacia hidrográfica quanto a suscetibilidade a erosão, utilizando técnicas de geoprocessamento

Topodata (I): contexto, fundamentos e aplicações

DETERMINAÇÃO DA FRAGILIDADE POTENCIAL A EROSÃO LAMINAR NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO AREIAS

CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO PEDRA BRANCA

Ademar Barros da Silva Antônio Raimundo de Sousa Luciano José de Oliveira Accioly

Geração de mapa de declividade da bacia hidrográfica do Rio Iguaçu a partir de geoprocessamento

Cartografia Temática

DETERMINAÇÃO DO PREÇO DA TERRA EM GOIÁS A PARTIR DO USO DE GEOESTATÍSTICA

SISEMA. Sistema Estadual de Meio Ambiente. POLÍCIA MILITAR D E M I N A S G E R A I S Nossa profissão, sua vida.

Programa Analítico de Disciplina SOL380 Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo Departamento de Solos - Centro de Ciências Agrárias

NOTA DE AULA CURVAS DE NÍVEL e REPRESENTAÇÃO DO RELEVO

LEVANTAMENTO DE ÁREAS AGRÍCOLAS DEGRADADAS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

DIAGNÓSTICO DO MEIO FÍSICO DO ASSENTAMENTO RURAL FLORESTA, ALEGRE, ES: UMA CONTRIBUIÇÃO AO PLANEJAMENTO DO USO DA TERRA

CAPÍTULO 3 CARACTERIZAÇÃO DA GEOMORFOLOGIA DA VITICULTURA NA REGIÃO DA DENOMINAÇÃO DE ORIGEM VALE DOS VINHEDOS

MUDANÇAS DE COBERTURA VEGETAL E USO AGRÍCOLA DO SOLO NA BACIA DO CÓRREGO SUJO, TERESÓPOLIS (RJ).

FICHA DE DISCIPLINA CH TOTAL TEÓRICA: 30 OBJETIVOS

Análise da Susceptibilidade a Processos Erosivos, de Inundação e Assoreamento em Itajobi-SP a Partir do Mapeamento Geológico- Geotécnico

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E IMPACTOS AMBIENTAIS NA MICROBACIA DO CÓRREGO MATRIZ-GO, BRASIL

Características dos Solos Goianos

ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO MÉDIO-BAIXO CURSO DO RIO ARAGUARI

Potencial de Uso Agrícola das Terras

Utilização de Técnicas de SIG e de Campo para Identificação de Áreas Sensíveis com Intuito de Regularização Fundiária

O USO DO GEOPROCESSAMENTO NO ESTUDO AMBIENTAL DE BACIA HIDROGRÁFICA

Lauro Charlet Pereira Francisco Lombardi Neto IAC W. J. Pallone Filho FEAGRI/UNICAMP H. K. Ito - IBGE Jaguariúna, 2006.

CAPÍTULO III CARACTERIZAÇÃO DA VITICULTURA POR MEIO DA GEOMORFOLOGIA NA REGIÃO DE REFERÊNCIA DA IG MONTE BELO

DIAGNÓSTICO RURAL DO MUNICÍPIO DE CAMANDUCAIA 1

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

Identificação de Áreas Prioritárias para Recuperação Município de Carlinda MT

Planejamento de Uso Integrado da Terra Disciplina de Classificação de Solos

DETERMINAÇÃO DO RISCO DE INCÊNDIOS NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA-MG, UTILIZANDO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA E ÍNDICE CLIMÁTICO.

SÍNTESE. AUTORES: MSc. Clibson Alves dos Santos, Dr. Frederico Garcia Sobreira, Shirlei de Paula Silva.

file://e:\arquivos\poster\451.htm

1 INTRODUÇÃO. PALAVRAS-CHAVE: Erosão, Carta de Suscetibilidade, Geoprocessamento, SIG.

ANÁLISE EM SIG MULTICRITÉRIO. Profa. Dra. Maria Isabel Castreghini de Freitas

ESTUDO DA MORFODINÂMICA DA MICROBACIA DO CÓRREGO DO CHAFARIZ NA ÁREA URBANA DE ALFENAS- MG: PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO

MONITORAMENTO DA EXPANSÃO AGROPECUÁRIA NA REGIÃO OESTE DA BAHIA UTILIZANDO SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO. Mateus Batistella 1

CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ORIZÍCOLA NO RIO GRANDE DO SUL E REGIÃO FRONTEIRA OESTE

Recursos Hídricos e Manejo de Bacias Hidrográficas Profa. Cristiana C. Miranda RECORDANDO NOSSA AULA DE INFILTRAÇÃO..

UNIDADES DO RELEVO E CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO. Módulos 29 e 30 Livro 2 paginas 122 a 124 / 127 a 129

Atividades. As respostas devem estar relacionadas com o material da aula ou da disciplina e apresentar palavras

ÁREAS DE RISCO AO USO/OCUPAÇÃO DO SOLO NA SUB-BACIA DO CÓRREGO DO SEMINÁRIO, MUNICÍPIO DE MARIANA MG. COSTA, R. F. 1 PAULO J. R. 2

Aptidão Agrícola dos Solos e Diferenciação dos Sistemas de Produção na Amazônia - 20 Anos de Monitoramento em Machadinho d'oeste, Rondônia

DELIMITAÇÃO DE MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS COM BASE EM MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO

Marina de Fátima Vilela 1 Zilda Romanovzki 2. Secretaria de Pós-Graduação Viçosa MG, Brasil

ANÁLISE DO RELEVO DA MICROBACIA

Rozely Ferreira dos Santos

CONSERVAÇÃO DO SOLO E ÁGUA

UTILIZAÇÃO DO SIG NO CONTOLE DE EROSÃO EM ÁREAS SUCPTÍVEIS A INSTABILIDADE DE ENCOSTAS: BARRAGEM SERRO AZUL PALMARES (PE)

¹ Estudante de Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estagiária na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP).

RELAÇÃO SOLO-PAISAGEM EM TOPOSSEQUÊNCIA NA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO, MINAS GERAIS (BR).

ZONEAMENTO DE USO E COBERTURA DOS SOLOS DO MUNICÍPIO DE ARARAS, SP. Relatório de Execução

II Semana de Geografia UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006

ANÁLISE DA MICROBACIA DO CÓRREGO DA PEDRA BRANCA (DOS AFLITOS), NA ÁREA URBANA DE ALFENAS (MG), A PARTIR DE CRITÉRIOS GEOMORFOLÓGICOS

Orogênese (formação de montanhas): o choque entre placas tectônicas forma as cordilheiras.

Lauro Charlet Pereira Francisco Lombardi Neto - IAC Marta Regina Lopes Tocchetto - UFSM Jaguariúna, 2006.

UTILIZAÇÃO DO SIG PARA ELABORAÇÃO DE MAPAS DA BACIA DO SERIDÓ E DO PERIMETRO IRRIGADO DE SÃO GONÇALO.

Categoria Trabalho Acadêmico\Resumo Expandido

V SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) V Realizado dias 20 e 21 de agosto de 2016 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP.

Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016)

GEOMORFOLOGIA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL: MAPEAMENTO DO RELEVO E DELIMITAÇÃO DAS CLASSES DE DECLIVIDADE NO MUNICÍPIO DE CAMPOS GERAIS - MG

Modelo potencial de ocupação e uso do solo para implantação de florestas plantadas de Eucaliptus sp. na região do Vale do Paraíba/SP

CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE FÍSICO DE DUAS VOÇOROCAS OCORRENTES NO MUNICÍPIO DE SOROCABA (SP)

OCUPAÇÃO E USO DA TERRA NA MICROBACIA DO RIO MAIOR, EM 1957, 1978 E 1996, NO MUNICÍPIO DE URUSSANGA SC

ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA E DE USO DO SOLO DAS ZONAS DE NASCENTES, MUNICÍPIO DE ALFENAS - MG

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

Epagri. Conhecimento para a produção de alimentos

Aptidão Agrícola de Áreas Sob Pastagem no Sul do Estado do Tocantins

CONTRIBUIÇÃO PARA O MANEJO DA BACIA HIDROGRÁFICA RIBEIRÃO DAS ARARAS (SÃO CARLOS SP)

Caracterização da fitofisionomia e de solos na Sub-bacia hidrográfica do Alto Médio Gurguéia por Sistemas de Informações Geográficas SIG

USO DE SIG PARA DETERMINAÇÃO DE ÁREAS POTENCIAIS PARA MECANIZADA DA CULTURA DE CAFÉ ARÁBICA NA REGIÃO DE NOVA PONTE-MG 1

Adequação agrícola do uso e ocupação das terras na Bacia do Rio São Bartolomeu, Distrito Federal

CONTROLE DOS PROCESSOS EROSIVOS DA APA IPANEMA IPATINGA MG.

IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS VULNERAVEIS A EROSÃO LAMINAR NA BACIA DO RIO VERMELHO

ESPACIALIZAÇÃO DE PARÂMETROS DE SOLO EM UMA MICROBACIA DE OCUPAÇÃO URBANA - SOROCABA/SP

VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA NO ESTADO DO CEARÁ

CONCENTRAÇÃO DE ÁREAS IRRIGADAS POR PIVÔS CENTRAIS NO ESTADO DA BAHIA BRASIL

Fotointerpretação. Fotogrametria e Fotointerpretação Prof. Dr. Raoni W. D. Bosquilia

LEVANTAMENTO DE ÁREAS AGRÍCOLAS DEGRADADAS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Apoio:

Debora Cristina Cantador Scalioni Jessica Villela Sampaio

CAPÍTULO 3 CARACTERIZAÇÃO DA GEOMORFOLOGIA DA VITICULTURA NA ÁREA GEOGRÁFICA DELIMITADA DA INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA PINTO BANDEIRA

NOTAS SOBRE OS SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO JOÃO LEITE

Palavras-chave: Geomorfologia deterioração ambiental Eixo Temático: Gestão de Bacias Hidrográfica

ANÁLISE AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO BAIXO RIBEIRÃO SÃO LOURENÇO

Uso da Terra em Função das Classes de Declividade em Microbacia do Semiárido Paraibano

I - METOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO

GEOMORFOLOGIA E ADEQUABILIDADE DO USO AGRÍCOLA DAS TERRAS NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ

Prof. Benedito Silva Neto Disciplina de Extensão Rural Curso de Agronomia Linha de Formação em Agroecologia Universidade Federal da Fronteira Sul

Sumário. Apresentação I Apresentação II Apresentação III Prefácio Capítulo 1 Introdução... 37

Relatório Parcial de Andamento RPA-1

Caracterização dos Sistemas de Cultivo nas Terras de Plantar do Sistema Faxinal Taquari dos Ribeiros Rio Azul, Paraná

Figura 12. Parte assoreada do córrego dos Araújos, Viçosa, MG. Fonte: Monalisa Gomes, abril 2009.

Transcrição:

ANÁLISE DE RELAÇÕES ENTRE DECLIVIDADE E USO DO SOLO COM AUXÍLIO DO GEOPROCESSAMENTO, MUNICÍPIO DE SOMBRIO, SC HADLICH, G. M.¹ ¹ Universidade Federal da Bahia, Instituto de Geociências, Depto. Geoquímica Rua Barão de Geremoabo, s/n., sl. 314A, 40170-290, Salvador BA. Tel (71)3203-8632 E-mail: gisele@ufba.br RESUMO A declividade de encostas, por ser um dos fatores condicionantes dos processos erosivos, é um dos principais parâmetros considerados em metodologias de classificação da aptidão de uso das terras no Brasil. Paralelamente, o homem interage com o meio físico, ocupando o meio de formas diversas segundo as condições existentes no ambiente, podendo ou não essa ocupação gerar conflitos de uso. Estes conflitos podem ser observados através da espacialização de atributos ambientais e da geração de cartas temáticas com auxílio do geoprocessamento. Este estudo tem por objetivo identificar áreas de conflito de uso do solo na microbacia hidrográfica do córrego Garuva (46,1 km²) situada no município de Sombrio, SC, baseado fundamentalmente na declividade e no uso atual do solo. Para tanto, foram cruzadas uma carta de declividade de encostas e uma carta de uso do solo. A carta de declividade foi obtida a partir de interpolação das curvas de nível digitalizadas, e apresentou 4 classes de declividade. A carta de uso do solo foi elaborada a partir de uma composição colorida de imagem Spot (cc 2,1,3) e trabalho em campo,e apresentou 5 tipos de uso do solo (pastagens, cultivo de arroz irrigado, culturas anuais de sequeiro, cultivo de banana e mata + reflorestamento). Os trabalhos foram realizados nos programas Microstation-Bentley (CAD) e Idrisi- ClarkLabs (SIG). O trabalho realizado evidenciou a relação existente entre declividade e uso do solo, mostrando como as ações do homem interagem e dependem do meio físico ocupado. A maior parte da microbacia (28,2 km²) apresenta relevo com menos de 8% de declividade, e é ocupada predominantemente por pastagens, arroz irrigado e culturas anuais de sequeiro. 77% da bacia hidrográfica estudada encontram-se sem conflito de uso do solo quanto à declividade, sendo necessárias, em alguns casos de relevo ondulado, práticas adequadas de conservação e manejo do solo. Em cerca de 750 hectares ocorrem áreas com restrição quanto à declividade, sendo importante a utilização de práticas de conservação e manejo mais intensas. O conflito é muito grave em aproximadamente de 310 hectares, onde são plantadas culturas anuais em áreas impróprias, situadas junto às encostas mais íngremes na zona oeste-sudoeste da microbacia. A identificação de áreas prioritárias para combate ao desenvolvimento de processos de erosão acelerados foi possível graças ao uso do geoprocessamento, que permitiu o rápido cruzamento de informações, com dados atualizados e espacialmente distribuídos. Palavras-chave: declividade; uso do solo; geoprocessamento; bacia hidrográfica; conflito de uso INTRODUÇÃO A declividade de encostas, por ser um dos fatores condicionantes dos processos erosivos, é um dos principais parâmetros considerados em metodologias de classificação da aptidão de uso das terras no Brasil (RAMALHO FILHO et al., 1995; LEPSCH et al., 1991). Na metodologia adotada em Santa Catarina, são diferenciadas cinco classes de aptidão agrícola, que consideram: declividade, profundidade do solo, pedregosidade, suscetibilidade à erosão, fertilidade e drenagem (UBERTI et al., 1991). Observa-se, nessa classificação, a valorização dos aspectos físicos relacionados ao relevo - declividade - e características do solo. Estas características, no entanto, não são independentes quando se considera a paisagem: solos desenvolvidos em áreas de elevada declividade, por exemplo, 1

tendem a ser pouco profundos e apresentar problemas de erosão em função da predominância do escoamento superficial sobre os processos de infiltração de água, favorecendo desta forma o aparecimento de pedregosidade e a boa drenagem. São estas características, intrínsecas ao meio natural, que determinam a aptidão, destacando-se, pois, a declividade. Relacionando-se com este ambiente está a ação do homem. A relação homemambiente, como ele percebe este ambiente e como ele se comporta, se expressa na utilização do uso do solo em determinado espaço. O uso do solo torna-se, assim, o ponto de ligação decisivo entre processos sociais e naturais, por ser o elo que conecta procedimentos nos sistemas sócio-econômico e natural. Entretanto, o uso do solo não está condicionado essencialmente à sua aptidão, gerando muitas vezes conflitos de uso - conceitualmente, uma área encontra-se em conflito quando o uso que dela é feito não corresponde à sua aptidão. Estes conflitos podem ser facilmente observados através da espacialização de atributos ambientais e da geração de uma carta de conflitos, que expressa as incompatibilidades entre aptidão e uso atual do solo. Nesse quadro, o geoprocessamento surge como uma ferramenta fundamental capaz de considerar inúmeras variáveis que, georreferenciadas, permitem sua integração e a visualização de sua distribuição espacial. Este estudo tem por objetivo identificar, com auxílio do geoprocessamento, áreas de conflito de uso do solo em uma microbacia hidrográfica situada no município de Sombrio, SC, baseado fundamentalmente na declividade e no uso atual do solo. A área de estudo corresponde à microbacia do córrego Garuva, com 46,1 km², cujo solo é ocupado, principalmente, pela atividade agrícola (com cultivo de arroz irrigado, banana, fumo, mandioca, milho e feijão) e pecuária (pastagens). METODOLOGIA Com auxílio do geoprocessamento, foi gerada uma carta de aptidão agrícola preliminar baseada na declividade das encostas. A carta de declividade foi obtida a partir das curvas de nível (base: cartas planialtimétricas do IBGE, escala 1:50.000, Folhas Sombrio - SH-22-X-C-III-2 e Praia Grande - SH-22-X-C-III-1) digitalizadas em mesa e tratadas em programas específicos. Foram definidas quatro classes de declividade: inferior a 8%; entre 8 e 20%; entre 20 e 45% e acima de 45%, com base nos valores adotados por UBERTI et al. (1991). 2

Essa carta de aptidão preliminar foi cruzada com uma carta de uso do solo, buscando verificar áreas de uso incompatível com as declividades do terreno. Para elaboração da carta de uso do solo, foi feita uma classificação de uso do solo a partir de imagem Spot, composição colorida RGB 2-1-3. Previamente foram realizadas correções geométrica e atmosférica da imagem. A classificação colorida, selecionada por apresentar melhor diferenciação visual entre os diferentes tipos de uso do solo, foi impressa em escala 1:20.000 e levada para campo para verificação e correção in loco. Importante destacar a necessidade do trabalho em campo, devido, principalmente, às baixas reflexões apresentadas nos locais com sombras, particularmente nas encostas íngremes voltadas para o sul. Após essa verificação, a carta de uso do solo foi digitalizada e georreferenciada para integração de dados em Sistema de Informações Geográficas. Os trabalhos foram realizados nos programas Microstation-Bentley (CAD) e Idrisi- ClarkLabs (SIG). RESULTADOS E DISCUSSÃO A carta de declividade da microbacia hidrográfica estudada mostra que mais de 50% da área da microbacia hidrográfica (28 km 2 ) possui declividade inferior a 8%. Esta área corresponde basicamente à extensa planície fluvial, incluindo áreas de relevo plano (0 a 3% de declividade) e suave ondulado (3% a 8%). Com declividade entre 8% e 45%, que corresponde às áreas de relevo ondulado e forte ondulado, tem-se 16 km 2 ; estas áreas situam-se nas partes leste e oeste, junto às zonas mais elevadas (acima de 40 m de altitude) de colinas sobre siltitos permianos e morros com vertentes íngremes que chegam a 300 m de altitude, incluindo-se aí o relevo montanhoso ou escarpado (> 45%) que ocupa 4,8% da área da microbacia, situando principalmente na parte oeste. Observa-se, na carta de declividade gerada no programa Idrisi, pequenas áreas de declividade incorreta formada por traços lineares isolados na parte de menor declividade, o que decorre da extrapolação incorreta do próprio programa. Quanto à cobertura do solo, foi possível identificar cinco classes de uso atual: culturas anuais de sequeiro, cultura do arroz irrigado, pastagem, cultura da banana e mata + reflorestamento. Observações de campo, a carta de uso do solo e a bibliografia (HADLICH et al., 1997) evidenciam a estreita relação existente entre o meio físico natural e a ocupação do 3

solo em todo o município. Nos topos e nas encostas basálticas, incluindo áreas que seriam de preservação permanente, com maior declividade, ocorrem vegetação secundária, bananais ou reflorestamentos. Na parte baixa destas vertentes, já com menor declividade, predominam as culturas temporárias, principalmente o fumo e o milho, e, com menor expressão, a mandioca e o feijão, ou mesmo pastagens. Os reflorestamentos de eucalipto aparecem em função da necessidade de lenha para estufa dos fumicultores, sendo encontrados em encostas mais ou menos íngremes. As planícies aluviais, planas, são cultivadas com arroz irrigado, ou permanecem o ano todo com pastagens ou vegetação secundária, incluindo a presença de muitos coqueiros, como testemunhas da mata pretérita. Uma vez obtidas as cartas de declividade e de uso atual, foi possível verificar o conflito de uso através do cruzamento das cartas anteriores, obtendo-se o mapa apresentado na Figura 1. A tabela 1 apresenta os tipos de uso do solo segundo a declividade do terreno. Figura 1: Mapa preliminar de conflito de uso do solo, baseado no cruzamento entre declividade (Dec) e uso do solo (mata + reflorestamento, pastagem, cultivo de banana, cultivo de sequeiro e de arroz irrigado). Tabela 1: Áreas (em hectares) dos diferentes tipos de uso do solo em diferentes classes de declividade (%) declividade pastagem arroz irrigado cultura anual de sequeiro cultura da banana mata + reflorestam. 4

0-8 907,5 792,4 728,5 57,0 334,0 8-20 157,6-274,8 103,1 146,8 20-45 134,6-210,0 263,8 277,9 > 45% 22,3-24,7 86,0 86,0 Exceto para a cultura da banana, que ocupa principalmente as encostas com declividade superior a 20%, os outros usos agrícolas predominam em declividade inferior a 20%, mesmo porque 28,2 km 2 da microbacia encontram-se em relevo com menos de 8% de declividade. As áreas naturalmente planas são sistematizadas para o cultivo do arroz irrigado, que ocupa 17,2% da área total. As pastagens, em declividade inferior a 8%, ocupam 20% da microbacia. No entanto, 210,0 hectares de culturas anuais de sequeiro (destacando-se o fumo) situam-se em áreas com declividade entre 20% e 45%, ou seja, relevo forte ondulado. Nesta declividade, segundo UBERTI et al. (1991), as terras apresentam alto risco de degradação e limitações fortes para culturas anuais, aptidão regular para fruticultura e boa aptidão para pastagens e reflorestamento, evidenciando assim conflito de uso. O conflito se torna ainda mais grave em uma área de 24,7 hectares com declividade superior a 45%. Nas declividades superiores a 45%, que ocupam somente 4,8% da área total estudada, predominam as matas e reflorestamentos e o cultivo de banana. Este último apresenta risco para o desenvolvimento de processos erosivos acelerados, com o plantio morro abaixo, o que é evidenciado em campo por sulcos profundos entre as plantas. CONCLUSÃO O trabalho realizado evidenciou a relação existente entre declividade e uso do solo, mostrando como as ações do homem interagem e dependem do meio físico ocupado. Grande parte da bacia hidrográfica estudada (77% da área total) encontra-se sem conflito de uso do solo quanto à declividade, sendo necessárias, em alguns casos de relevo ondulado, práticas adequadas de conservação e manejo do solo. Em cerca de 750 hectares ocorrem áreas com restrição quanto à declividade, sendo importante a utilização de práticas de conservação e manejo mais intensas. Cabe salientar que no trabalho em campo, poucas destas práticas foram observadas; a de maior importância é a adubação verde, mas ainda não adotada por todos os agricultores. O conflito é muito grave em aproximadamente de 310 hectares, onde são plantadas culturas anuais em áreas impróprias. Estas áreas situam-se junto às encostas mais íngremes 5

na zona oeste-sudoeste da microbacia, necessitando, portanto, de especial atenção no que se refere à assistência técnica e ao planejamento da propriedade. A identificação de áreas prioritárias para combate ao desenvolvimento de processos de erosão acelerados foi possível graças ao uso do geoprocessamento, que permitiu o rápido cruzamento de informações, com dados atualizados e espacialmente distribuídos. REFERÊNCIAS HADLICH, G. M.; MONTEIRO, M. A.; MULLER, M. M. & MAYKOT, R. Caracterização do meio rural de Sombrio. In: SCHEIBE, L. F. & PELLERIN, J. (coord.) Qualidade ambiental de municípios de Santa Catarina: o município de Sombrio. Florianópolis: FEPEMA, 1997. 154 p. p. 61-93. LEPSCH, I. F.; BELLINAZZI JÚNIOR, R.; BERTOLINI, D. & ESPÍNDOLA, C. R. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação das terras no sistema de capacidade de uso. 4. aprox. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1991. 175 p. RAMALHO FILHO, A.; PEREIRA, E. G. & BEEK, K. J. Sistemas de avaliação da aptidão agrícola das terras. Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1995. 65 p. UBERTI, A. A. A.; BACIC, I. L. Z.; PANICHI, J. de A. V.; LAUS NETO, J. A.; MOSER, J. M.; PUNDEK, M. & CARRIÃO, S. L. Metodologia para classificação da aptidão de uso das terras do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: EMPASC/ACARESC, 1991. 19 p. (EMPASC. Documentos, 119). 6