A voz do público nas redes sociais: como se dá a interação e participação através da página do Repórter Brasil no Facebook



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Transcrição:

A voz do público nas redes sociais: como se dá a interação e participação através da página do Repórter Brasil no Facebook Roberta BRAGA 1 Allana MEIRELLES 2 Iluska COUTINHO 3 Resumo: Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa Avaliação do Telejornalismo da TV Brasil monitoramento do cumprimento dos direitos à comunicação e à informação, realizado desde 2010. Seu objetivo é analisar a participação do público na página do Repórter Brasil no Facebook, buscando entender como se dão as interações entre noticiário e sociedade via rede social. Esse artigo também pretende avaliar a visibilidade e alcance que o Facebook dá ao telejornal em questão e se, e de que forma essas redes contribuem para a democratização da informação, dando ou não mais voz ao cidadão por meio da interatividade pretendida na web com um programa e emissora públicos. Palavras-chave: telejornalismo; identidade; representação; redes sociais; facebook. O presente trabalho faz parte do projeto de pesquisa Avaliação do Telejornalismo da TV Brasil monitoramento do cumprimento dos direitos à comunicação e à informação, em andamento desde 2010. A proposta do projeto é verificar se e de que for- 1 Bolsista do projeto de pesquisa Avaliação do Telejornalismo da TV Brasil monitoramento do cumprimento dos diretos à comunicação e à informação. Estudante de Graduação do 7º período do Curso de Comunicação da UFJF, email: robertabraga.ufjf@gmail.com 2 Bolsista do projeto de pesquisa Avaliação do Telejornalismo da TV Brasil monitoramento do cumprimento dos diretos à comunicação e à informação Estudante de Graduação do 7º período do Curso de Comunicação da UFJF, email: allanameirelles@hotmail.com 3 Coordenadora do projeto de Avaliação do Telejornalismo da TV Brasil monitoramento do cumprimento dos diretos à comunicação e à informação. doutora em Comunicação, professora do Curso de Jornalismo da Facom-UFJF e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF, email: iluskac@uol.com.- br

ma a TV Brasil, a televisão pública brasileira, cumpre seu papel público na oferta de telejornalismo, avaliando aspectos técnicos, as escolhas temáticas do noticiário e mesmo sugerindo mudanças. A televisão é o meio de comunicação que atinge o maior número de brasileiros. Portanto, estudá-la é importante na busca por um sistema de comunicação que seja mais plural, ético, crítico e justo. Promover a análise da televisão pública brasileira se torna, então, uma tarefa ainda mais justificável, pelo fato de que ela seria a alternativa aos sistemas comerciais e governamentais, capaz de oferecer aos cidadãos uma comunicação de interesse público. Além disso, a TV Brasil é recente no país e, assim, carece de pesquisas que contribuam para sua construção baseada de fato em sua função. Este estudo pode contribuir tanto para a academia, ao fornecer discussões e pontos de vista acerca de um tema que merece destaque, como para os profissionais envolvidos no processo de produção da TV Brasil em particular e do jornalismo em geral, assim como para o público. A pesquisa como um todo fornece aos profissionais um olhar distanciado e crítico sobre o produto de forma que o produtor possa se tornar consciente de seu trabalho e possa buscar modificações. Desta forma, o público também é beneficiado ao ter acesso a uma comunicação de qualidade e ao construir um olhar mais questionador diante do que lhe é oferecido. A proposta deste artigo, em particular, é apresentar uma análise acerca da utilização dos espaços virtuais, mais especificamente da rede social Facebook, pelo Repórter Brasil, telejornal veiculado pela TV Brasil em duas edições diárias, RB Manhã e RB Noite. Busca-se nessa reflexão compreender como um telejornal público tem se utilizado da internet e das ferramentas nela presentes para potencializar o diálogo com a sociedade. Um outro ponto abordado no artigo é a interação em termos mais restritos, ou direcionados, do público (telespectador/internauta) com o Repórter Brasil percebida por meio das redes sociais. Nelas, o telespectador tem a oportunidade de dar mais visibilidade à sua apreciação da oferta jornalística, curtindo, compartilhando e comentando o que os veículos de comunicação e/ou programas postam em termos de conteúdo na rede. Para além de todas as questões que perpassam tal discussão, hoje a internet vem

se apresentando como um local potencialmente democrático, onde esse público poderia ser melhor representado. Nesse novo espaço de pertencimento, aqueles que antes eram apenas entendidos como resposta ou audiência podem tornar-se agentes do processo de comunicação/ informação. os cidadãos veem assim reforçada a possibilidade de uma participação mais ativa em processos de deliberação, num quadro de interação que é agora muito diferente daquele proporcionado pelas tecnologias da comunicação mais convencionais (rádio e televisão, ou mesmo a imprensa), cujas características evidenciam fortes condicionalismos de unidirecionalidade (Esteves, 2007, p. 220) Para esse artigo, existe outro ponto a ser observado, que é a mudança/evolução da página do Repórter Brasil no Facebook. Em um trabalho anterior, apresentado no XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, a então atual página do Facebook também foi analisada e hoje, pode-se observar uma enorme diferença, que merece ser estudada. Essa proposta também motiva-se pelo compromisso da TV Brasil, expresso em sua carta de princípios, de buscar a participação da própria sociedade para a construção de pautas a da agenda jornalística, por meio da colaboração do cidadão comum, de entidades representativas e de movimentos sociais. Desse forma, o uso das redes sociais funcionaria com um facilitador dessa participação e interação. Todo esse contato com a produção jornalística poderia fazer com que o público se sentisse melhor valorizado, com mais espaço e voz. Nesse sentido, recupera-se a defesa de que, além de informar o jornalismo também tem o papel de contribuir para a formação de cidadãos. Coutinho evidencia a existência de laços de pertencimento que são criados quando o cidadão é representado, se reconhece, na tela da TV: Além de, em tese, produzir um jornalismo mais participativo, com maior exercício da cidadania, a construção de laços de pertencimento de uma emissora de TV com seu público, nos moldes da indústria cultural, é um processo que pode ser comparado, sem esforço, à fabricação de um produto. Construir uma imagem nacional e popular implica em investir no reconhecimento, por parte do telespectador, de alguma origem comum, de algo que traga para dentro de casa (via TV), o país onde se vive: O povo, nesse contexto, é retratado por meio de pequenas inserções de áudio+vídeo. Nas chamadas sonoras, e se converte em audiência. (COUTINHO, 2009, p.7) Para esse trabalho, tomamos por base a página do Repórter Brasil no Facebook,

estabelecendo como objeto empírico um recorte específico, seu acompanhamento ao longo de um dia inteiro, 02 de agosto de 2012, uma quinta-feira. A intenção é principalmente verificar se o uso dessa rede está contribuindo efetivamente para uma maior participação e inserção do público no telejornal Repórter Brasil. A TV Brasil e o Repórter Brasil A TV Brasil foi criada em 2007 com a proposta de suprir uma lacuna no sistema de radiodifusão brasileiro, dominado pelas emissoras de caráter comercial e estatal. Assim, ela seria uma alternativa aos sistemas dominantes, apresentando conteúdos plurais, de interesse público e que dialogassem com a sociedade de forma efetiva. Sua proposta, apresentada em sua carta de apresentação, é de complementar e ampliar a oferta de conteúdos, oferecendo uma programação de natureza informativa, cultural, artística, científica e formadora da cidadania. (http://tvbrasil.org.br/sobreatv/). A TV Brasil é gerida pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a qual é composta por quatro canais federais. A EBC é responsável por aprovar a programação e os conteúdos, que são sujeitos à supervisão por um Conselho Curador cuja proposta é representar a sociedade brasileira na fiscalização do cumprimento dos objetivos da empresa. O conselho é composto por 22 membros, 15 indicados pela sociedade, quatro pelo Governo, um pela Câmara, outro pelo Senado além de um representante dos funcionários da emissora. O Repórter Brasil é o principal informativo da TV Brasil. Por ser veiculado em uma empresa pública, ele tem o propósito de ser um telejornal independente em termos comerciais e políticos. O didatismo é uma característica dos programas da TV Brasil de uma maneira geral. No jornalismo, essa forma didática facilita a compreensão do público acerca das temáticas tratadas diariamente, embora em alguns momentos represente a perda de ritmo relevante. Percebe-se também, que a produção jornalística da TV Pública brasileira não apresenta grande inovações em termos de formatos do telejornalismo, podendo ser

caracterizada como engessada. Assim como outros telejornais, a maioria das apurações do Repórter Brasil é feita na região sudeste, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo, e em Brasília. No entanto, há a preocupação em pautar fatos e buscar fontes de todas as partes do Brasil, sendo veiculadas com frequência matérias de estados das regiões sul, norte, nordeste e centro-oeste. Em termos comparativos o telejornal da emissora seria mais marcado pelo regionalismo que os noticiários das emissoras comerciais. Outra das propostas de uma TV pública é investir na inclusão, ampliando a diversidade de suas representações e assim, se constituir em um diferencial àqueles que não tem lugar nas grandes redes comerciais. Portanto, espera-se que, diferentemente dos noticiários das demais TV s, o Repórter Brasil dê mais voz à população em geral. A perspectiva da pluralidade de vozes no telejornalismo público abriria espaço para o exercício do direito à comunicação, para além do direito à informação de qualidade. A participação do Repórter Brasil nas redes sociais, tanto no Facebook quanto no Twitter, pode funcionar como uma forma de atingir de forma mais direta e telespectador, além de conseguir, através das novas tecnologias, ser mais moderno e inovador. Repórter Brasil no Facebook As redes sociais hoje não são apenas um espaço particular, para interação entre amigos. Já há um tempo, os veículos de informação viram nelas um canal para potencializar a difusão de suas notícias. Hoje, praticamente todos os grandes veículos, sejam de que mídia for, estão na internet. O Facebook, que é a rede social analisada nesse trabalho, têm ferramentas que possibilitam uma participação muito grande, não só para o usuário, como também para o veículo de informação. O Facebook foi criado pelo americano Mark Zuckerberg em 2004 e funciona através de perfis e comunidades. Muitos consideram-no mais privado que outras redes sociais, pois apenas aqueles que são aceitos como amigos podem ver as atualizações uns dos outros.

Além disso, no Facebook, os perfis são mais personalizados, sobressaltando a individualidade de cada membro. Dessa forma, os veículos de comunicação têm mais acesso ao seu público, pois eles podem conhecê-lo melhor. Na ausência de um certo conhecimento sobre a audiência, os participantes têm pistas a partir do ambiente de media social para imaginar a comunidade (Boyd, 2007: 131). A possibilidade de interação no Facebook é muito grande, pois os usuários podem curtir, compartilhar e comentar as postagens. Além disso, como não há limitação de espaço para escrever, os próprios veículos podem se dedicar mais aos seus conteúdos e até mesmo promover uma maior interação com seu público. Não basta seguir os jornais digitais em suas formas, como evidenciar no design links para redes sociais, como Facebook ou Orkut, se o diálogo com o público não é incentivado. (QUADROS, 2009, p.14). Se compararmos a página do Repórter Brasil no Facebook no dia 4 de maio, tomada como recorte em análise anterior anterior, com a do dia 2 de agosto, percebe-se uma diferença muito significativa. Na verdade, a página anterior do programa não foi modificada, ela ainda existe na rede social. Porém, foi criada uma página nova para o Repórter Brasil, com muito mais informações e também mais interativa. Atualmente ela trás ao longo do dia, chamada de conteúdos que serão abordados nos telejornais do dia e links de algumas matérias veiculadas nos telejornais do dia anterior, além de estimular a participação dos internautas com perguntas e comentários. Os internautas também podem assistir o Repórter Brasil noite ao vivo, por meio de um link também disponível no Facebook. Todos os links remetem ao site http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterbrasil. No dia analisado para realização desse trabalho, foram feitas nove postagens, incluindo links de matérias, notícias mais quentes com fotos, chamadas para assistir ao telejornal ao vivo, além da chamada para participar do Pergunta do dia.

Imagem 1: pergunta do dia Pergunta do dia é um recurso utilizado pelo Repórter Brasil que estimula de forma direta a interação com o internauta que curte sua página do Facebook. Nele, eles têm não só a oportunidade de dar sua opinião sobre determinado tema, como também podem ter sua resposta exibida no telejornal. No dia 2 de agosto, a pergunta feita foi: Você conhece ou utiliza os serviços do setor público oferecidos pela Internet?. Cinco internautas responderam a essa questão e também houve um compartilhamento da pergunta. Apesar da recomendação para se responder a Pergunta do Dia até às 19h30, as respostas só chegaram depois desse horário, algumas sendo enviadas quase às 22h. Isso pode evidenciar que as pessoas têm mais acesso à internet, e talvez até mesmo mais tempo para isso, na parte da noite. Todas as respostas foram positivas em relação à pergunta e demonstraram interesse dos participantes em contribuir com o telejornal e participar de uma discussão. No dia analisado foram postados três links de matérias veiculadas no dia anterior, sempre acompanhados de um parágrafo com a chamada da temática abordada no conteúdo audiovisual inserido na rede social, após veiculação na TV Brasil. Dois pertenciam à editoria de saúde e um, de educação; os esses links levam aos VTs do telejornal, uma forma de mostrar o conteúdo veiculado ao internauta, sem que ele precise ligar a TV. O primeiro link postado foi sobre uma reunião de especialistas no Brasil para discutir tratamentos para o câncer de pele. Onze pessoas curtiram a publicação, duas compartilharam e não houve nenhum comentário. A segunda postagem, de educação, foi a respeito de um programa do Governo

Federal, o Inglês sem Fronteiras. A repercussão foi menor que a anterior, com seis curtidas e um compartilhamento. Também não houve nenhum comentário. A única postagem de link que teve comentários no dia 2 de agosto foi sobre uma vistoria obrigatória para os veículos de São Paulo que contribuiu para reduzir as internações por doenças respiratórias e cardíacas na cidade. A internauta Gilda Azevedo comentou a publicação discordando das afirmações contidas na matéria e pedindo mais explicações sobre a pesquisa realizada. Em resposta ao comentário, o Repórter Brasil esclareceu as dúvidas e enviou um link com mais informações complementares. Apesar do comentário, a postagem teve apenas três curtidas e nenhum compartilhamento. Imagem 2: link Além desses links, foi postada também uma chamada para o tema do quadro Outro Olhar, que foi exibido no telejornal do dia anterior, que mostrou dicas e técnicas para ajudar mães com dificuldades de amamentar. Esse quadro, exibido semanalmente, veicula vídeos produzidos pelos próprios telespectadores, mostrando a realidade de sua comunidade, com a sua versão dos fatos. Essa postagem teve um compartilhamento, duas curtidas e não houve comentários. Ainda no dia analisado, 2 de agosto, o Repórter Brasil postou uma chamada para

o quadro Caminhos da Reportagem, que seria exibido aquela noite. O tema, sobre a semana da Síndrome de Down, gerou quatro compartilhamentos, 11 curtidas e dois comentários. Porém, os comentários não foram sobre o quadro e sim sobre a Pergunta do dia. Esse quadro é exibido toda quinta-feira, e traz matérias especiais sobre assuntos diversos. No dia analisado também foi inserida na página do Repórter Brasil no facebook uma notícia sobre a greve dos professores, acompanhada de uma imagem. A postagem teve quatro compartilhamentos e um comentário, que não foi respondido pelo Repórter Brasil. Imagem 3: greve dos professores A voz do público Com as postagens na página do Repórter Brasil, pode-se perceber que elas têm por objetivo deixar o internauta por dentro das principais matérias e notícias de suas edições. Ainda assim, sua repercussão ainda é tímida se comparada ao grande potencial de uma rede social.

Atualmente, o Repórter Brasil tem 852 curtidas, número consideravelmente maior que o da página analisada anteriormente. Em maio, eram apenas 210 usuários curtindo a página antiga. Nesse sentido é importante recuperar o alerta de Cláudia Quadros acerca do uso das redes como forma de incentivo à participação popular no jornalismo. O processo produtivo que impulsiona a participação do público também está relacionado ao treinamento constante dado aos profissionais.[...] Experiências, como a do jornalismo ponte na redação, mostram que é possível capacitar o jornalista e, ainda, promover a interação de meios. (QUADROS, 2009, p.14). A partir das análises feitas, é possível perceber que as redes sociais democratizam mais a participação do público do que a própria televisão. Mesmo que a interação na página do Repórter Brasil ainda não seja a ideal, ela se dá de forma muita mais efetiva que na TV. Nas redes sociais, o público não precisa de um espaço limitado para expressar sua opinião ou mesmo para servir de personagem para determinada situação. Enquanto na TV essa participação fica restrita à poucos segundos, mesmo assim controlados pela edição do telejornal, no facebook, por exemplo, existe a possibilidade de participação sem tempo, espaço ou assunto delimitado. E como essas interações ficam registradas, o alcance de sua participação pode ser até maior que na TV. Dentre outras coisas, as pessoas têm a possibilidade de interagir com a notícia em si bem como com os profissionais que as distribuem. Alguns usam a web para apresentar suas próprias visões sobre os acontecimentos, complementadas por fotografias, vídeos ou áudio. Outros contatam os jornalistas que cobriram uma história por meio de formulários de contato ou de e-mail tanto para corrigir alguma informação quanto para oferecer novos fatos. E outros ainda participam em discussões sobre o processo que resultou na notícia, construindo um registro quase imediato de crítica e escrutínio da imprensa (KOVACH & ROSENSTIEL, 2007, p. 20). A maior possibilidade de receber críticas, como citam Kovach e Rosenstiel, pode ser um problema enfrentado pelos veículos de informação nas redes sociais. Nos dias analisados pode-se citar como exemplo a crítica feita por uma internauta ao governo, na matéria sobre a greve dos professores. Por mais que a crítica não tenha sido ao veículo, o comentário soou de forma negativa. Se fosse apenas na TV, provavelmente essa crítica não teria sido feita, e mesmo que a fizessem, ela não ganharia visibilidade nacional.

Saber lidar com essa liberdade de expressão dada pela internet pode ser um grande desafio daqueles veículos que pretendem se consolidar nas redes sociais. Outro ponto a ser destacado da participação do Repórter Brasil no facebook é o maior alcance que isso traz ao telejornal de maneira geral. Hoje, não é raro as pessoas se informarem exclusivamente pela internet, apesar da televisão ainda estar presente em muito mais lares brasileiros. As redes sociais se tornaram hoje um local onde o jornalista tem a possibilidade de fazer acontecer essa democratização. [ ] em um mundo mais interligado, um jornalista deve ser um narrador para orientar os usuários, um intérprete para avaliar o que é realmente importante e um profissional que incentiva a participação e promove a ligação das comunidades com o meio (Pavlik, 2005 in Lopez, 2007:115). Ainda que o Repórter Brasil não tenha tantos internautas curtindo sua página, a visibilidade alcançada é muito maior que apenas os 852 usuários. Por se tratar de uma rede, cada pessoa que interage de alguma forma nessa página, seja compartilhando, curtindo ou comentando, também possibilita que todos os seus amigos tenham acesso àquela ação e assim, visualizem o que foi postado inicialmente pelo Repórter Brasil. Ainda em termos de alcance, ao criar um perfil em uma rede social, o telejornal está ampliando potencialmente o número e características das pessoas que têm acesso aos seus conteúdos. Um exemplo disso seriam os jovens, que hoje estão passando cada vez mais tempo na internet. Considerações Finais Na análise feita anteriormente, em maio, pode-se considerar que a página do facebook do Repórter Brasil estava completamente obsoleta para uma rede social. Ao observá-la, a sensação foi de não haver ninguém responsável por sua atualização cotidiana. Nela, não havia nenhuma postagem, apenas uma apresentação, em um texto retirado da Wikipédia. Isso demonstrou que o Repórter Brasil ainda não fazia uso desse veículo. A página estava lá, porém completamente inutilizada.

Hoje, com a diferença observada e descrita, evidencia-se uma nova visão do RB sobre o papel que as redes sociais podem ter, tanto para o jornalismo quanto para os cidadãos. No entanto, é preciso também perceber que essa realidade ainda é nova para a equipe do telejornal, haja vista o pouco tempo de mudança. Como a inserção dos telejornais nas redes ainda é relativamente recente, não só o Repórter Brasil, mas a maioria dos noticiários televisivos presentes nesse espaço virtual estão em fase de experimentação. Talvez ainda seja cedo para dizer se estão sendo ou não bem sucedidos. Mas em termos de evolução, a incerteza não vale como desculpa para que os jornalistas fiquem abrigados na zona de conforto; é preciso buscar novos meios de melhorar a cada dia o diálogo com o público, respeitado como cidadão e, também, o papel deste como produtor de mensagens com direito à voz. Depois da análise da atual página do noticiário da TV Brasil no Facebook, e comparando-a com a utilização da página anterior, conclui-se que o Repórter Brasil tem agora a preocupação de promover essa maior interação. Ainda assim, é preciso muito mais. Um telejornal de alcance nacional, mesmo com uma baixa audiência, não pode ter apenas 852 pessoas curtindo sua página. Ainda mais se consideramos que desse total, somente a minoria realmente interage com os conteúdos postados. As interações do público com as informações e os veículos que as disponibilizam podem ser vantajosa para ambos os lados. Enquanto os cidadãos podem se sentir mais ativos, participantes e valorizados, a empresa ganha mais reconhecimento, credibilidade e pode mesmo ampliar seu alcance. O crescimento e efetivo funcionamento do Facebook como fonte de notícias pode, inclusive, ser uma das soluções para uma das maiores críticas que o Repórter Brasil, e mesmo a TV Brasil como um todo têm recebido na mídia massiva: a baixa audiência 4. Quanto mais interessante e interativa for sua página nessa rede social, mais pessoas vão se interessar pelo seu conteúdo, mesmo que elas não assistam os telejornais pela TV. Afinal, como descreve a página do Repórter Brasil na rede social tomada como ambiente de análise: Sair do Facebook para assistir o jornal é coisa do passado. 4 Em trabalho anterior discutiu-se o perfil da emissora na cobertura da mídia comercial, em que o parâmetro audiência aparece como principal aspecto. Por se tratar de uma emissora pública, contudo, os compromissos da TV Brasil iriam além desses índices.

Referências BOYD, D., & Ellison, N. B. (2007). Social network sites: Definition, history, and scholarship. COUTINHO, Iluska. Telejornalismo como serviço público no Brasil: reflexões sobre o exercício do direito à comunicação no Jornal Nacional/ TV Globo Artigo apresentado no XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Intercom 2009. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/r4-0777-1.pdf. Acesso em 25 de abril de2012 EBC. Disponível em: http://www.ebc.com.br. Acesso em: 02 de agosto de 2012. ESTEVES, J. P. (2007) Os novos media na perspectiva da democracia deliberativa: sobre redes e tecnologias de informação e comunicação. In PIRES, E. B., org. Espaços públicos, poder e comunicação. Porto: Edições Afrontamento. p. 209-224. KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. The Elements of Journalism. New York: Three Rivers Press, 2007. QUADROS, C.; QUADROS, I.; MASSIP, P. Webjornalismo: da forma ao sentido. Compós, 2009. TV Brasil. Disponível em: http://www.tvbrasil.org.br/. Acesso em: 02 de agosto de 2012.