Dr. Sérgio Parreiras Pereira Pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)

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Transcrição:

O autor atuou em diferentes organizações, projetos e consultorias durante sua vida profissional. Possui sólida formação em Ciências Agrárias e carreira orientada à gestão de projetos, desenvolvimento rural sustentável e apoio à organização de grupos de produtores, sobretudo na cultura do café. O Brasil, nos últimos anos, busca aperfeiçoar a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), e a presente obra vem trazer, à luz da sociedade, uma metodologia idealizada pelo autor em 2011 e que vem, ao longo dos anos, sendo aplicada e validada em diferentes regiões cafeeiras. Trata-se do Modelo de Assistência Técnica Coletiva para Agricultores (MATC) que vem sendo empregado pela Hanns R. Neumann Stiftung Brasil (Fundação Neumann Brasil), entidade sem fins lucrativos que tem por objetivo capacitar cafeicultores familiares e reforçar sua capacidade de atingir melhores condições de vida. O ponto que diferencia o MATC de outras metodologias de ATER, adotadas atualmente no país, está em oferecer aos cafeicultores, assistência técnica coletiva, desenvolvendo a capacidade de analisar e identificar problemas em seus sistemas de produção e de apresentar soluções, também em coletivo. O Modelo propõe várias etapas na concepção de princípios de desenvolvimento e de estruturação através de processos participativos, visando o protagonismo dos produtores que, consequentemente, objetiva o empoderamento coletivo. O MATC tem se mostrado uma boa forma de ampliar quanti e qualitativamente a ATER para grupos de produtores, orientando a organização das comunidades com o fortalecimento das capacidades dos técnicos e produtores, dentro de um processo participativo. O resultado tem sido o atendimento em maior escala de produtores, quando comparado com o modelo de assistência técnica individual. Os resultados apresentados até o momento demonstram que pode ser a base de um novo modelo de ATER, baseado em boas práticas agrícolas, participação e melhoria de vida no campo. Dr. Sérgio Parreiras Pereira Pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) 1

1

Entidade executora: Doador para sistematização da experiência: the sustainable trade initiative Modelo de Assistência Técnica Coletiva implementado nos projetos apoiados financeiramente por:

Sumário 1 Apresentação... 07 2 Introdução... 09 3 ATER no Brasil... 11 Hanns R. Neumann Stiftung Brasil www.hrnstiftung.org Avenida Padre Dehon, 117 Bairro Nossa Senhora Aparecida - Lavras-MG - Brasil CEP 37.200-000 Tel: +55 35 3821-7869 Autor: Elio Cruz de Brito HRNS Brasil Este livro pode ser utilizado, copiado, distribuído, exibido ou reproduzido em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, incluindo fotocópia, desde que não tenha objetivo comercial e sejam citados os autores e a fonte. Revisão técnica e contribuição na elaboração do documento: Michael Opitz - HRNS Hamburgo Máximo Gerardo Ochoa Jácome - HRNS Brasil Pedro P. de F. Ronca e Sylvio de M. Padilha Neto - P&A Marketing Internacional / Programa Café Sustentável do IDH ISBN:978-85-69504-01-6 Projeto Gráfico e Editoração www.dodesign-s.com.br Impressão: Artes Gráficas Formato Ltda 4 Modelo de Assistência Técnica Coletiva - MATC... 15 4.1 MATC: conceito, princípios e desenvolvimento... 17 4.2 Técnicas que podem ser utilizadas na implementação do MATC... 29 4.3 Adicionalidades do MATC... 32 4.4 Resultados do MATC... 38 4.5 Impactos do MATC na organização dos produtores... 44 5 Conclusões... 47 6 Bibliografia consultada... 49 7 Listagem de figuras... 50 8 Listagem de gráficos... 51 9 Listagem de tabelas... 51 Crédito das Imagens Introdução pág. 8; ATER no Brasil pág.10 e Conclusões pág.46: Anna Paula Diniz (DoDesign-s) Bibliografia pág. 49: Luiza Guasti (DoDesign-s) Esta publicação foi sistematizada através do Projeto RFF BRA B2066 Validação e Replicação do Modelo de Assistência Técnica Coletiva (MATC) da HRNS Brasil financiado pelo Programa Café Sustentável do IDH - Sustainable Trade Initiative, a partir dos resultados do Projeto Regional BR-M1113 financiado pelo FUMIN/BID - Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e investidores privados como International Coffee Partners, Fondazione Giuseppe e Pericle Lavazza onlus e Tim Hortons. 2016

Listagem de abreviaturas 1. Apresentação AIA ASBRAER AT ATER American International Association Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural Assistência Técnica Assistência Técnica e Extensão Rural ATI Assistência Técnica Individual ECA Escola de Campo de Agricultores Emater MG Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais ER Extensão Rural FUMIN/BID Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento GC Grupo de Comunidades HRNS Brasil Hanns R. Neumann Stiftung Brasil IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Iniciativa de Comércio Sustentável MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário MATC Modelo de Assistência Técnica Coletiva MEXPAR Metodologia Participativa de Extensão Rural para o Desenvolvimento Sustentável MG Minas Gerais Número PAA Programa de Aquisição de Alimentos p.e. Por exemplo Assistência técnica é um dos serviços mais importantes e necessários para consolidar novos conhecimentos, novas tecnologias, assim como conhecimentos e tecnologias já consagradas pela pesquisa. Apesar dessa importância, literaturas sobre metodologias de assistência técnica são raras, para não dizer inexistentes. Levando-nos a conhecer apenas o modelo de assistência técnica individual. A Hanns R. Neumann Stitung Brasil (Fundação Neumann Brasil) sentiu isso em 2011, quando buscou ampliar seu trabalho de apoio aos cafeicultores familiares para novas regiões do estado de Minas Gerais e ampliar os serviços oferecidos aos produtores apoiados. Pressionada pela limitação de recursos financeiros para ampliar o corpo técnico ao tamanho necessário para poder continuar oferecendo serviços de assistência técnica de qualidade a todos os produtores apoiados, a Fundação Neumann Brasil se abriu para a possibilidade de mudar o modelo de assistência técnica individual, adotada até 2010. Todavia, se deparou com a inexistência de modelos alternativos de assistência técnica. Essa situação estimulou a Fundação a inovar ao criar e implementar em campo, em 2011, o Modelo de Assistência Técnica Coletiva para Agricultores (MATC) apresentado neste documento. Este material, desta forma, é uma pequena contribuição colocada à disposição das instituições de apoio aos produtores que passam pelos mesmos desafios já enfrentados por nossa organização. O MATC utilizado pela Fundação Neumann Brasil tem permitido às famílias apoiadas aumentar a produtividade, diminuir o custo de produção das lavouras e aumentar a renda das famílias. Como adicionalidade, o modelo contribui para aumentar o nível de organização dos produtores, empoderar seus conhecimentos adquiridos durante anos de vivência na agricultura e valorizar os saberes locais. Desejamos que esta iniciativa possa nos instigar a inovar nossos conceitos e meios de como alcançar a sustentabilidade. PNAE CdC PRONAF RA Programa Nacional de Alimentação Escolar Caderno de Campo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Recomendações Agronômicas Elio Cruz de Brito Diretor Geral Hanns R. Neumann Stiftung Brasil Idealizador e criador do Modelo de Assistência Técnica Coletiva R$ Reais VBP Valor Bruto da Produção 6

2. Introdução No Brasil, o modelo de assistência técnica aos produtores rurais baseia-se na realização de visita técnica individual a cada produtor, família ou propriedade. Este modelo foi introduzido em 1948, por iniciativa da American International Association (AIA) 1. A partir desta iniciativa é que se estruturou todo o modelo atual de assistência técnica e extensão rural (ATER) brasileiro. Para Fonseca (1985) e Freire (2001), a extensão rural deve ser entendida como um processo educativo de comunicação de conhecimentos, onde este processo de transferência deve estimular mudanças nos produtores em relação ao manejo que adotam em seu empreendimento, na administração do seu negócio, etc. Peixoto (2009), uma das poucas literaturas encontradas sobre definição de assistência técnica, em seu trabalho, além de corroborar com os pensamentos de Fonseca (1985) e Freire (2001), vai além e caracteriza a assistência técnica como sendo um processo de resolução de problemas específicos, pontuais, não voltado à capacitação do produtor rural. Não sendo assim, segundo Peixoto, um processo educativo. Sob um olhar convencional do modelo de assistência técnica que se caracteriza por visitas individuais aos produtores, a afirmativa de Peixoto pode apresentar fundamento. Todavia, ressalta-se que é importante conceber que, sob uma nova abordagem de modelo de assistência técnica onde os processos de desenvolvimento possam ser mais participativos, um novo modelo de assistência técnica pode ser também, mesmo que parcialmente, um processo educativo de comunicação de conhecimentos. Novas abordagens conceituais no processo de extensão rural já vêm sendo construídas há anos, em especial, sob os princípios teóricos da epistemologia genética de Jean Piaget, as referências teóricas e filosóficas de Paulo Freire, a concepção de didática de aprender a aprender de Pedro Demo e, com certeza, os conhecimentos gerados na extensão rural são importantes para a concepção de novos modelos de assistência técnica. Certamente, um modelo de assistência técnica para atender com um mesmo técnico um número maior de produtores deverá conceber novos princípios no seu desenvolvimento e se estruturar através de processos participativos com o maior protagonismo dos produtores. Obviamente, esses modelos, além de disponibilizar assistência técnica aos produtores que precisem, gerarão adicionalidades assim como os métodos participativos de extensão rural e, portanto, serão mais eficientes para promover a implementação em campo dos objetivos do milênio em nível das comunidades rurais produtoras. 1. Instituição filantrópica presidida por Nelson Rockefeller que, na época, era coordenador dos Assuntos Interamericanos e assistente do Secretário de Estado dos Estados Unidos. 8 9

3. ATER no Brasil Abrangência, importância e desafios A importância do modelo de ATER brasileiro reside, fundamentalmente, na promoção e transferência dos conhecimentos oriundos das novas tecnologias, assim como das já consagradas tecnologias geradas pela pesquisa e de conhecimentos diversos, essenciais ao desenvolvimento rural sustentável. O sistema de ATER, em especial a pública, é o principal responsável por promover e apoiar o acesso a políticas públicas governamentais pela população, principalmente pelos pequenos produtores. Dados da ASBRAER - Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural, em 2010, indicam que a ATER pública foi responsável pelo acesso dos produtores em 87% dos acessos feitos ao Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE, em 80% dos acessos ao Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, e em 62% dos acessos ao Programa de Aquisição de Alimentos PAA, conforme tabela abaixo. Tabela 1: Meios pelos quais os produtores acessaram políticas públicas no Brasil, em 2010. Política pública Meio pelo qual, produtores que acessaram alguma política pública no Brasil, em 2010, tiveram acesso a mesma. Acesso através da ATER pública Outras Sem ATER PRONAF 1 1.618 215 1.833 PAA 2 4.196 488 4.684 PNAE 3 140.158 37.365 177.523 1 - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar; 2 - Programa de Aquisição de Alimentos e 3 - Programa Nacional de Alimentação Escolar. Fonte: ASBRAER, dados 2010 apud ASBRAER (2014). Segundo o Censo Agropecuário realizado em 2006 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o sistema de ATER pública no Brasil está localizado nos 27 Estados da Federação e atinge 91% dos 5.565 municípios existentes. O Censo ainda indica que existem mais de 5,1 milhões de estabelecimentos agropecuários no meio rural, sendo que 84,4% dos estabelecimentos (mais de 4,3 milhões) são de produtores familiares. O censo revela, ainda, que apenas 53% dos estabelecimentos agropecuários tiveram acesso aos serviços de ATER. Sendo tais serviços mais acessados por médios e grandes produtores, conforme indicado na tabela 2. 10 11

Tabela 2: Área média em hectares dos produtores que acessaram assistência técnica no Censo Agropecuário de 2006. Área média dos produtores que: Área média em hectares (ha) Receberam assistência técnica 228 Não receberam assistência técnica 42 Receberam assistência técnica particular 435 Receberam assistência técnica de empresas privadas de planejamentos 506 Obs: Em 43% dos estabelecimentos que receberam assistência técnica governamental, a área média era de 64 hectares. Fonte: Censo Agropecuário/2006 Corroborando com os dados da tabela 2, o Censo indica ainda, em relação ao nível de instrução, que mais de 50% dos produtores que acessaram assistência técnica tinham nível superior de ensino e 31,7%, ensino fundamental completo. Já dados da ASBRAER (2014) sobre o sistema de ATER pública no Brasil indicam que existem, aproximadamente, 16 mil extensionistas trabalhando no meio rural. No mesmo estudo, a ASBRAER estima, ao considerar apenas a demanda dos 4,3 milhões de estabelecimentos da agricultura familiar, que a relação número de profissionais extensionistas por estabelecimento é de 01 técnico por 275 estabelecimentos agropecuários (1/275). Se considerado o total de estabelecimentos existentes no Brasil, a relação passa para 1/327. Corroborando com a tabela 3, dados da Unidade de Planejamento e Estratégia Corporativa da Emater MG citada pela ASBRAER (2014) indicam que, para ampliar esta percentagem e atender pelo menos a demanda da agricultura familiar, seria necessário contratar mais 33.700 extensionistas, além dos 15.599 profissionais já existentes. Isso significa um crescimento necessário de 116% para garantir assistência técnica somente aos estabelecimentos agropecuários da agricultura familiar. A importância e necessidade de oferecer assistência técnica aos produtores, em especial aos produtores da agricultura familiar, fica evidenciada quando se constata no estudo de Del Grossi, citado pela ASBRAER (2014), que produtores que receberam ATER tiveram produtividade quase quatro vezes maior do que aqueles que não receberam. Por outro lado, o cenário brasileiro de restrição orçamentária das instituições de apoio aos produtores aliado ao alto custo da assistência técnica individual corroboram para que haja uma baixíssima probabilidade de que essas instituições aumentem o seu número de técnicos a curto e médio prazo. Desta forma, deve ser prioridade das instituições encontrar ou criar um modelo de assistência técnica que permita que um mesmo técnico possa atender a um número maior de produtores. Um modelo com esta capacidade, além de poder oferecer assistência técnica aos produtores que precisam, certamente aumentará a eficiência e eficácia das instituições e reduzirá seus custos operacionais. Confrontando estes dados com a relação recomendada de 01 técnico para 90 estabelecimentos agropecuários, feita pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), conclui-se, ao considerar o modelo de assistência técnica individual, que o número de técnicos existente está muito abaixo do ideal necessário para atender ao total de produtores. Tabela 3: Número de técnicos necessários em função da relação técnico/estabelecimento agropecuário. de estabelecimentos Relação técnico/estabelecimento de técnicos 1:90 47.778 4.300.000 1:150 28.667 1:250 17.200 1:90 56.667 5.100.000 1:150 34.000 Elaborado pelo autor com os dados do Censo Agropecuário/2006 1:250 20.400 12 13

4. Modelo de Assistência Técnica Coletiva - MATC Modelo de Assistência Técnica Coletiva adotado pela Fundação Neumann Brasil A Fundação Neumann 2 iniciou seus trabalhos no Brasil em 2007, no município de Santo Antônio do Amparo em Minas Gerais, apoiando, através do projeto intitulado Força Café, cerca de 350 pequenos cafeicultores. No período de 2007 a 2010, adotou o modelo clássico de assistência técnica aos produtores, onde eram feitas visitas individuais de apoio técnico à propriedade de cada produtor apoiado pelo projeto. Para oferecer esse serviço regularmente aos produtores cadastrados, eram necessários 03 técnicos de campo (relação técnico/ propriedade de 1/116). Em 2010, a Fundação Neumann Brasil tinha como plano estratégico (I) ampliar a diversidade de serviços operacionais oferecidos aos produtores para aumentar a eficiência do desenvolvimento do seu trabalho, e (II) aumentar sua abrangência geográfica de trabalho e escala de produtores apoiados para poder testar, em diferentes regiões e em maior escala, o formato e conceito de trabalho da Fundação. A Fundação, como toda instituição de apoio ao produtor - em especial, as que disponibilizam apoio técnico, teve dificuldades para ampliar seus serviços aos produtores e para ampliar sua área de abrangência devido ao elevado custo financeiro para tal processo. Na realidade da Fundação, esse desafio decorria do modelo de assistência técnica adotado. Para conseguir dar apoio técnico e orientações aos produtores e ampliar seus serviços, o modelo exigia uma quantidade maior de profissionais e, por conseguinte, um custo operacional (recurso humano, veículos, combustível, etc) maior. Talvez, este também seja o desafio vivenciado pelo setor privado, setor público e setor das organizações não governamentais. No período de 2010 a 2012, a Fundação Neumann aumentou sua abrangência em 600% passando a atuar em sete municípios de Minas Gerais e ampliou seu público alvo em 450%, ao passar a apoiar 1.650 produtores, conforme figura 01. 2. Filial da Hanns R. Neumann Stiftung (Fundação Neumann) no Brasil. A Fundação Neumann é uma organização sem fins lucrativos, estabelecida em 2005, na Alemanha, pelo Sr. Michael R. Neumann e família como uma plataforma do setor cafeeiro que busca integrar diferentes elos da cadeia produtiva do café (produtores, indústria, entidades de apoio, etc) no desenvolvimento de um conceito comum de sustentabilidade que engloba aspectos econômicos, sociais e ambientais, e que tem os produtores e suas famílias como protagonistas principais. No Brasil, a Fundação iniciou seus trabalhos em 2007, em Santo Antônio do Amparo, Minas Gerais. 14 15

Figura 01: Evolução da abrangência geográfica, número de produtores atendidos e número de técnicos no trabalho de campo da Fundação Neumann Brasil, nos períodos de 2007/09, 2010/12 e 2013/16. 4.1. MATC: Conceito, princípios e desenvolvimento Latitude -22-20 -18-16 -14-50 -48-46 -44-42 -40 Longitude Fase I: 2007 / 2009 Municípios: 01 técnicos para apoio à propriedade: 03 produtores: 350 Conceito O Modelo de Assistência Técnica Coletiva - MATC é uma metodologia que oferece aos produtores, assistência técnica mensal e desenvolve nos mesmos a capacidade de analisar e identificar problemas em seus sistemas de produção (às vezes, comuns na comunidade) e de encontrar soluções em coletivo, com apoio de várias fontes de informação (técnicos e outros produtores). Ao mesmo tempo que fortalece a capacidade do produtor de tomar decisões para melhoria da gestão da sua propriedade e da sua comunidade. Princípios do MATC O modelo se embasa no desenvolvimento dos princípios: Da liberdade: é um modelo de livre acesso que oferece assistência técnica programada e periódica. Do protagonismo dos atores locais: o modelo desenvolve a proatividade dos produtores, empoderandoos a serem protagonistas das soluções de seus desafios. Fase II: 2010 / 2012 Municípios: 07 Fase III: 2013 / 2016 Municípios: 20 Do desenvolvimento integral: o modelo desenvolve as capacidades de organização, de análise da realidade, de adaptação e de inovação dos produtores. Do desenvolvimento local: o modelo fortalece o processo de organização das comunidades e dos produtores. técnicos para apoio à propriedade: 04 produtores: 1.650 técnicos para apoio à propriedade: 10 produtores: 5.500 Do desenvolvimento crítico dos produtores: o modelo é baseado na observação crítica dos produtores e análise sistêmica do sistema de produção e tem como objetivo gerar aprendizagem crítica de como resolver problemas e avaliar resultados. Do fortalecimento do saber local: o modelo valoriza e empodera os saberes dos produtores e fortalece suas capacidades técnicas. O MATC é um modelo que pode ser aplicado em grupos de produtores com diferentes níveis de conhecimento e experiência, pode ser acessado com muita facilidade e, em seu desenvolvimento pleno, além de oferecer assistência técnica aos produtores, pode também estimulá-los a se organizarem e serem mais protagonistas e proativos na solução dos seus problemas. Sob tal desafio para crescer e sem conhecimento de modelos alternativos de assistência técnica (AT) existentes, o diretor técnico da Fundação, em 2010, Sr. Elio Cruz de Brito, ousou desenhar um novo modelo de Assistência Técnica para a Fundação, intitulado Modelo de Assistência Técnica Coletiva (MATC). O novo modelo foi defendido no Conselho de Administração da Fundação e aprovado em 2011 e, até hoje, se encontra sendo aplicado em campo nos trabalhos da Fundação no Brasil. Até 2010, a assistência técnica individual oferecida às propriedades era a ação mais importante que a Fundação desenvolvia junto aos produtores. Também era a atividade que dava maior impacto e visibilidade à entidade em nível do público atendido, em decorrência do aumento de produtividade que as lavouras alcançam com o apoio técnico regular. Desta forma, para ganhar aceitação, um modelo de assistência técnica coletiva deve cumprir com todas as funções do modelo de assistência técnica individual e promover o aumento da produtividade das lavouras. Desenvolvimento do MATC Para acessar o MATC, os produtores que necessitam de assistência técnica podem acessar este serviço mensalmente, diretamente de sua comunidade rural, conforme acordo estabelecido em cada comunidade. Ou extraordinariamente, em função da ocorrência de um evento extremo surgido em várias propriedades de determinada comunidade. No segundo caso, os produtores afetados por determinado problema comunicam aos líderes do grupo da comunidade e estes, com as informações em mãos, entram em contato com o técnico e organizam com ele uma agenda com dia e horário da visita técnica coletiva extraordinária para devida orientação técnica. Conceitualmente, o MATC depende fundamentalmente de que o produtor assuma uma posição de agente protagonista no processo e que o técnico assuma uma posição de agente facilitador/moderador do grupo de produtores. 16 17

O MATC se baseia no desenvolvimento de cinco etapas, ilustradas na figura 2. Figura 02: Etapas de implementação do Modelo de Assistência Técnica Coletiva da Fundação Neumann Brasil. O ciclo de aprendizagem, por sua vez, é que desenvolve e fortalece as capacidades dos produtores, indicadas na figura 4. Figura 04: Capacidades desenvolvidas nos produtores pelo Modelo de Assistência Técnica Coletiva. ETAPA 1 - Organização dos produtores. - Orientação de como acessar o MATC. ETAPA 2 - Produtor capaz de analisar seu sistema de produção e identificar problemas nas lavouras. ETAPA - Produtor procura solução para seu problema. - Técnico é um facilitador/moderador do grupo e: (I) Coordena o grupo para análise e discussão das causas dos problemas identificados. (II) Coordena o grupo para a análise e discussão das soluções dos problemas identificados. 3 ORGANIZAÇÃO Produtores que necessitam de assistência técnica (AT), no MATC são estimulados a associar-se com outros produtores para acessar AT e a participar de outras ações do grupo. Produtores não organizados para receber o MATC Produtores organizados para receber o MATC ETAPA - Técnico: (I) Elabora para cada produtor, recomendações técnicas para solução do problema. (II) Identifica produtor com problema não resolvido, que precisa de visita individual. 4 ANÁLISE Produtores analisam a propriedade, identificam problemas e analisam as causas e efeitos dos problemas encontrados. ETAPA Técnico visita propriedade para analisar agroecossistema, identificar o problema e suas causas e fazer recomendações para solução do problema. 5 ADAPTAÇÃO Produtores reagem as mudanças de contextos/ambientes e procuram solução para os problemas. O desenvolvimento das etapas, por sua vez, alimenta um ciclo de aprendizagem (figura 3) contínuo que desenvolve e fortalece as capacidades e habilidades dos produtores. Figura 03: Ciclo de aprendizagem desenvolvido pelo Modelo de Assistência Técnica Coletiva. APLICAÇÃO - TOMADA DE DECISÃO 4 EXPERIÊNCIA OBSERVAÇÃO INFORMAÇÃO ADICIONAL TROCA EXPERIÊNCIA 1 3 ANÁLISE E REFLEXÃO O desenvolvimento do ciclo de aprendizagem é contínuo. Logo, quando o produtor fecha um ciclo de aprendizagem sobre determinado problema, poderá ser capaz de identificar problemas mais complexos e, assim, avançar também o seu nível de conhecimento. 2 INOVAÇÃO Produtores adotam/implementam tecnologias/soluções indicadas durante assistência técnica coletiva. 4.1.1. Desenvolvimento da Etapa 1 do MATC Organização dos grupos de produtores O Modelo de Assistência Técnica Coletiva, pela própria definição, estabelece que o primeiro passo para seu desenvolvimento é a organização dos produtores em grupos para que possam acessar os serviços de assistência técnica. Para organizar o grupo, estabelecer e orientar sobre as regras básicas de funcionamento do modelo, primeiramente é necessário fazer uma reunião com os produtores interessados para explicar como o modelo se desenvolve. Na reunião, é necessário: (I) eleger líderes, do grupo (1 a 2 produtores), (II) definir com os produtores onde será o local que o técnico atenderá o grupo de produtores, (III) definir os horários de atendimento do técnico, e (IV) criar e validar o regimento de funcionamento do grupo para que todos saibam como funcionará o acesso ao MATC (figuras 5 e 6). 18 19

Figura 05: Desenvolvimento da etapa 1 do Modelo de Assistência Técnica Coletiva. O local da reunião da assistência técnica coletiva (ATC) é indicado pelo grupo de produtores e pode ser alterado sempre que houver demanda do grupo. Para troca do local da reunião, o grupo deve aprovar a mudança. O novo local estabelecido deve ser comunicado a todos os participantes, inclusive aos que não necessitaram de ATC no dia da mudança. Para funcionamento do MATC, é importante que os acordos sejam sempre definidos por consenso do grupo, garantindo as melhores condições de participação e acesso a todos que possam precisar do serviço de assistência técnica. 4.1.2. Desenvolvimento da Etapa 2 do MATC Produtor capaz de analisar seu sistema de produção e identificar problemas nas lavouras Nessa etapa o modelo é dependente da proatividade/iniciativa do produtor. Nessa fase, o produtor precisa, no dia a dia da sua propriedade, analisar em seu sistema de produção se existe ou não algum tipo de problema que impede a eficiência do seu negócio. Sem a organização dos produtores não há como desenvolver o Modelo de Assistência Técnica Coletiva! O produtor, ao identificar um problema que possa lhe causar perdas, deve procurar por uma assistência técnica qualificada (figuras 7 e 8). Figura 06: Reunião para organização do grupo de produtores para acessar o MATC. Figura 07: Produtor analisando lavoura de café. O tempo de duração do atendimento em cada grupo dependerá do grau de necessidade dos produtores. Por exemplo, grupos com menos domínio dos conhecimentos básicos do manejo do cafeeiro irão demandar mais assistência técnica e, por conseguinte, mais tempo do técnico. Figura 08: Desenvolvimento da etapa 2 do Modelo de Assistência Técnica Coletiva. O horário (se de manhã ou à tarde), por sua vez, depende das características do grupo. Por exemplo, grupo de produtores que produzem leite com ordenha durante a manhã o ideal é a reunião ser à tarde. A demanda da entidade implementadora para execução de outros serviços pelo técnico também pode influenciar. O local da reunião do MATC deve ser uma lavoura que facilite o deslocamento de todos os participantes do grupo de produtores. Isso facilita o acesso dos produtores ao serviço de assistência técnica, quando necessário. No caso da Fundação Neumann Brasil, as reuniões são realizadas nas propriedades de referência/piloto que melhor facilitem o acesso de todos. As propriedades-piloto, ou seja, aquelas que aplicam um conjunto de tecnologias recomendadas para a produção sustentável de café, são propriedades das lideranças eleitas em cada grupo de comunidades (GC). Nos grupos de produtores apoiados pela Fundação são eleitos, em média, dois líderes. 20 21

Para que os produtores possam desenvolver com mais eficiência a etapa 2 é necessário que suas capacidades técnicas em nível da produção, manejo e condução do seu negócio sejam fortalecidas através de capacitações (figura 9). Para desenvolvimento da etapa 3, o técnico deve considerar algumas orientações importantes. ORIENTAÇÃO 1 O técnico deve identificar os problemas existentes no grupo. Ao identificar problemas diferentes, o técnico deve separar os produtores por grupos de problemas comuns para poder trabalhar cada problema separadamente (figura 11). Figura 11: Técnico identifica problemas e separa produtores por grupo de problemas. Figura 09: Capacitação de produtores. Um produtor mais autônomo tem mais chance de identificar um problema antes que ele se torne grave. Se o produtor não tiver a capacidade de identificar o problema, ele não terá ciência de seus desafios e não será capaz de buscar soluções. 4.1.3. Desenvolvimento da Etapa 3 do MATC Produtor procura solução para seu problema Técnico coordena o grupo para analisar as causas e soluções para os problemas identificados O desenvolvimento da etapa 3 se diferencia pela mudança de comportamento que o MATC propõe aos técnicos e aos produtores. Vale ressaltar que essa é uma mudança importante quanto à concepção, muitas vezes comum, da assistência técnica individual em que o técnico vem e passa as instruções para o produtor que recebe e cumpre as recomendações em um processo passivo. O MATC prevê o estímulo a um processo ativo, no qual o técnico funciona como um facilitador da aprendizagem do produtor que aumenta, gradualmente, a sua autonomia. Quanto mais independente o produtor, mais o técnico pode ampliar seu número de atividades mensais e dedicar tempo a outras atividades mais complexas de apoio aos produtores. ORIENTAÇÃO 2 Após identificar os grupos de problemas, o técnico deve oferecer orientação técnica aos produtores para cada problema identificado. Para isso, o técnico deve estimular os produtores a identificar o problema na lavoura-piloto, onde a reunião da ATC ocorre (figura 12). Figura 10: Desenvolvimento da etapa 3 do Modelo de Assistência Técnica Coletiva. Produtor analisa lavoura e identifica problema Produtor procura por assistência técnica no grupo para resolver o problema encontrado Figura 12: Identificação dos problemas levados pelos produtores na unidade-piloto. 22 23

Ao ser encontrado o problema na lavoura, o técnico deve orientar os produtores na organização dos problemas identificados para serem analisados posteriormente, um a um (figura 13). Se os produtores apresentarem diferentes alternativas de solução para o problema, o técnico deve estimular o grupo a avaliar qual solução é mais sustentável, econômica e eficiente. Depois de conduzidas todas as análises, o técnico pode, ao julgar necessário, adicionar novas informações para ajudar na solução do problema ou, simplesmente, validar a solução encontrada pelos produtores durante o debate. Nota-se, assim, que apesar de ser um processo participativo, o técnico é quem assume a responsabilidade pela solução do problema. 4.1.4. Desenvolvimento da Etapa 4 do MATC Figura 13: Organização dos problemas identificados pelos produtores. Na análise de cada problema, o técnico deve estimular o grupo de produtores a debater e refletir como o problema ocorre. Para isso, o técnico deve orientar perguntas ao grupo e coordenar o grupo para que todos os produtores possam participar do debate. Técnico elabora para cada produtor, recomendações técnicas para solução do problema e identifica produtor com problema não resolvido, que precisa de visita individual Depois de validadas pelo técnico as soluções analisadas pelo grupo para cada problema identificado, o técnico deve preencher, para cada produtor, soluções recomendadas para o seu problema (figura 15). Figura 15: Elaboração pelo técnico das recomendações agronômicas para solução do problema analisado para cada produtor. ORIENTAÇÃO 3 Após entendimento pelos produtores de como o problema pode ocorrer o que levará cada produtor, instintivamente, a analisar sua propriedade e realidade, o técnico passará a analisar quais são as soluções possíveis para o referido problema. Para desenvolvimento desta fase, o técnico deve estimular os produtores a debater e refletir sobre quais soluções conhecem ou já experimentaram para resolver o referido problema. Para isso, o técnico deve orientar perguntas ao grupo e coordenar o grupo para que todos os produtores possam participar do debate (figura 14). Os produtores mais experientes podem já ter experiência de como resolver o problema, e seus saberes e vivências podem orientar o produtor com problema. Recomendações técnicas preenchidas para cada produtor Técnico preenche, para cada produtor, soluções recomendadas para o seu problema Figura 14: Produtores durante reunião da Assistência Técnica Coletiva desenvolvendo a orientação 3. Após emitidas as recomendações para todos os produtores com problemas solucionados, o técnico deve analisar se algum produtor ficou com seu problema sem solução. 24 25

Após identificados os produtores nesta situação, o técnico deve organizar uma agenda com os mesmos para fazer uma visita técnica à propriedade para analisar o problema in loco (figura 16). Figura 16: Identificação de problema não solucionado na reunião de Assistência Técnica Coletiva. Durante a visita, o técnico analisa a propriedade e busca compreender as causas do problema. Após identificar as causas possíveis, ele analisa as causas do problema com o produtor para ampliar e validar sua análise. Confirmadas as causas, o técnico passa a fazer as devidas orientações técnicas ao produtor para a solução do problema (figura 17). Técnico identifica no grupo, produtor com problema não solucionado Problema não solucionado na reunião da ATC Figura 17: Técnico visitando propriedade do produtor para avaliar causas do problema não solucionado na reunião da Assistência Técnica Coletiva. A figura 18 sistematiza o desenvolvimento das etapas 2 a 5 do MATC. Figura 18: Desenvolvimento do Modelo de Assistência Técnica Coletiva implementado pela Fundação Neumann Brasil. Técnico marca agenda de visita à propriedade com o produtor Na Fundação, a visita técnica é sempre marcada para o dia seguinte na parte da manhã, no horário marcado com o produtor. Se todos os problemas forem solucionados na reunião, o técnico fica livre para realizar outras atividades de interesse da sua instituição. No caso da Fundação Neumann Brasil, o técnico deve fazer, pela manhã, uma visita técnica à lavoura-piloto do líder do grupo para avaliar o andamento da unidade de referência e dar-lhe todo suporte técnico na condução da unidade. No tempo restante livre, o técnico pode desenvolver outras ações, segundo planejamento do departamento técnico. De modo geral, pode ainda desenvolver atividades de apoio à instalação de BPAs nas propriedades, fazer controle das práticas de sustentabilidade implementadas, avaliar o desenvolvimento das propriedades ou de experimentos montados nas comunidades, fazer coleta de dados do Caderno de Campo (2 em 2 meses), elaborar relatórios, organizar eventos nas comunidades, participar de eventos, etc. 4.1.5. Desenvolvimento da Etapa 5 do MATC Técnico realiza assistência técnica individual para analisar problema não solucionado in loco. A etapa 5 compreende a atividade de visitar a propriedade para realizar uma assistência técnica individual, a fim de analisar as causas do problema não identificado. 26 27

4.1.6. Periodicidade do serviço e atividades adicionais Considerando a experiência da Fundação Neumann Brasil, a periodicidade das reuniões é mensal. Todavia, devido às características da época de colheita da cultura do cafeeiro, a Fundação oferece o serviço de assistência técnica coletiva aos produtores no mínimo nove vezes por ano, nos períodos indicados abaixo. 4.1.7. Estrutura para desenvolvimento do MATC Como qualquer outro modelo, o MATC precisa, para seu funcionamento, de um sujeito e um objeto. ÉPOCA DE APLICAÇÃO DO MATC SUJEITO TÉCNICO PRODUTOR Na Fundação, cada técnico atende 15 grupos de produtores/associações por mês. Isso permite ao técnico ser capaz de realizar outras atividades durante o mês, além da assistência técnica coletiva. OBJETO Outras atividades que os técnicos podem desenvolver na Fundação Neumann Brasil: LAVOURA PROBLEMA MANHÃ Assistência técnica individual Visita à unidade-piloto dos líderes do grupo Apoio à instalação e controle de boas práticas agrícolas implementadas nas propriedades A estrutura funcional pode ser composta por uma direção, técnicos, secretária e líderes dos grupos de produtores. As funções de cada uma das partes são resumidas abaixo: DIREÇÃO Analisa a evolução e impactos do método. Desenha novos processos e controles para aumentar sua eficiência. TARDE Avaliação de unidades-piloto de validação Coleta de dados da ferramenta Caderno de Campo Elaboração de relatórios Outras demandas da entidade COORDENAÇÃO TÉCNICO SECRETÁRIA LÍDERES DE GRUPOS DE PRODUTORES Treina a equipe, organiza os grupos, planeja a logística, acompanha a aplicação, avalia e propõe medidas corretivas. Realiza a assistência técnica no campo, facilita/modera as reuniões do MATC, faz orientações técnicas aos produtores e registra informações. Organiza agendas das reuniões, comunica-se com líderes e informa sobre os planejamentos. Organiza os dados físicos e digitais. Referência do técnico e dos produtores para o funcionamento do MATC na comunidade, apoio à comunicação com o grupo, multiplicador de conhecimentos e tecnologias-piloto, etc. Assistência técnica coletiva Reunião para capacitação de produtores (temas de época, etc) e retroalimentação de dados (Caderno de Campo, dados de qualidade do café, etc) Escolas de Campo de Agricultores Reunião para aplicação das ferramentas: matriz produtiva/ambiental e matriz empresarial/social 4.2. Técnicas que podem ser utilizadas na implementação do MATC Durante o desenvolvimento do MATC, algumas técnicas já conhecidas e empregadas na extensão rural podem ser utilizadas para emprego do modelo e aumento de sua eficácia. Todas as técnicas, abaixo referenciadas, são extraídas do MEXPAR Metodologia Participativa de Extensão Rural para o Desenvolvimento Sustentável desenvolvido pela EMATER-MG Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais. As técnicas foram adaptadas ao desenvolvimento do MATC. 28 29

4.2.1 Técnica Caminhada É uma técnica que consiste em percorrer um determinado trecho de uma comunidade rural, de uma propriedade, etc, onde se busca, junto com os participantes, identificar e discutir determinado assunto. No caso do MATC, seria algum problema mencionado pelo grupo para, a partir daí, desenvolver as demais etapas de desenvolvimento do modelo. Objetivo: Estimular as pessoas a adotar uma postura investigativa, por meio da reflexão, do diálogo, da criatividade, e a encontrar alternativas de ação para os problemas e as potencialidades que vão sendo identificadas. Aplicação: É utilizada como técnica auxiliar na elaboração de diagnósticos participativos e levantamento de informações para a construção de planos de desenvolvimento rural sustentável e, no caso do MATC, análise de determinado problema. Tempo estimado: É variável conforme o percurso e as condições do local. No caso do MATC, geralmente se restringe a uma área da unidade de referência/piloto. Restringe-se a uma área da unidade de referência/piloto, com duração média de 5 a 10 minutos. Material necessário: mapa da localidade, croqui do trajeto a ser percorrido, quadro ou parede para se montar painel, papel, pincel atômico, fichas de papel, fita crepe, prancheta, caneta ou lápis para anotações. 4.2.2 Reunião problematizadora É uma técnica que permite desenvolver um processo de reflexão a partir de questionamentos, confrontos e associações de ideias. Objetivo: Aproveitar a reflexão sobre a realidade encontrada na perspectiva da compreensão dos fenômenos implicados nessa realidade, visando a sua transformação. Aplicação: Essa técnica é utilizada como instrumento auxiliar no processo de construção do diagnóstico participativo. No caso do MATC, pode ser utilizada apenas para problematizar e refletir sobre determinado problema. Material necessário: Quadro, giz, painel pardo, fichas de cartolina, pincel atômico e outros materiais obtidos na localidade. No MATC, apenas os recursos que permitem analisar o problema. Procedimentos Preparação: Definir com a comunidade, com a devida antecedência, os objetivos, a agenda, os temas, a data, o horário e o local da reunião, levando em conta a disponibilidade dos participantes; Buscar a representatividade dos diversos segmentos da comunidade; Definir materiais e recursos didáticos necessários, de acordo com a infraestrutura e o espaço físico do local. Execução: Realizar a problematização por meio do diálogo, o qual deve ser estabelecido através da associação de ideias, relacionando os problemas entre si. Qualquer ideia pode ser o ponto de partida para o aprofundamento, desde que se trabalhe a sua inter-relação no contexto em que está inserida; Buscar no grupo, por exemplo, o entendimento das inter-relações entre causa e efeito é importante. Por exemplo, no caso da doença Phoma do cafeeiro. Quais são os fatores que estão envolvidos para o surgimento da doença? Investir no questionamento para aprofundar, com os participantes, o entendimento sobre as interrelações causais dos problemas. Durante esse processo de conhecimento da realidade, os participantes começam a descobrir as causas e consequências de cada problema e possíveis alternativas de soluções. Por exemplo, utilizando ainda o exemplo da doença Phoma do cafeeiro, a partir do momento em que os produtores passam a compreender a interação entre o vento e o surgimento da Phoma nas lavouras, eles são estimulados a avaliar mais seus agroecossistemas. Exercitar a análise crítica dos fenômenos e dos acontecimentos, com o propósito de encontrar as saídas para a superação dos problemas e o aproveitamento das potencialidades. No exemplo ainda da Phoma, no MATC, além de resolver momentaneamente o problema da Phoma com a indicação de um produto químico para controlar a doença, que qualquer técnico pode fazer, o produtor é estimulado a analisar criticamente seus problemas. Com isso, o produtor pode tomar a decisão de resolver o problema ou diminuir seus efeitos com a instalação de barreiras quebra-vento na propriedade como uma estratégia para diminuir os efeitos negativos do vento na cultura do cafeeiro. Na cultura do café conilon, outros aspectos (por exemplo: como foi instalada a lavoura) devem ser avaliados devido à sua reprodução ser diferente do café arábica. Buscar a participação de todos, confrontando as ideias de um e de outro. A ideia do confronto é ajudar na reflexão coletiva, mostrando que os problemas se relacionam entre si, nos diversos campos. Recomendações gerais: Envolver o maior número possível de pessoas no debate. Evitar a monopolização do debate por poucas pessoas, investindo sempre na opinião dos mais retraídos. Em caso de opiniões conflitantes, registrar e propor ao grupo uma investigação mais detalhada sobre o tema em questão. Assegurar o registro do debate e dos encaminhamentos propostos. Manter uma postura investigativa entre os participantes. Evitar perguntas indutivas e privilegiar as perguntas abertas. Manter postura não destacada, mas observadora. O moderador deve falar o essencial ou necessário. Escutar mais. Sua fala deve ser a de provocar o questionamento, o confronto e a associação de ideias. Utilizar técnicas e dinâmicas de grupo que facilitem o processo de discussão e sistematização. Ao final, deve-se proceder a uma avaliação/encaminhamento. Etapa 4 do MATC. 4.2.3 Tempestade de ideias É uma técnica utilizada em reuniões com grupos, para se obter informações de forma rápida acerca de um tema em questão. Objetivo: Incentivar a livre manifestação de ideias e a criatividade do grupo, facilitando o processo de reflexão e discussão sobre um tema específico. Aplicação: A técnica pode ser utilizada como ponto de partida de um debate e orientada por uma pergunta-chave. Material necessário: Quadro, giz, folha de papel, caneta e pincel atômico. Na ausência desse material, a técnica poderá ser usada oralmente. 30 31

Procedimentos Preparação: Escolher local adequado que permita a disposição dos participantes em formato de U e favoreça a interação das pessoas no grupo. Providenciar os materiais e equipamentos necessários. Execução: Estabelecer um clima favorável que motive a participação de todos na discussão. Formular uma pergunta-chave sobre o tema de interesse que desperte a curiosidade dos participantes, estabelecendo, assim, um ponto de partida comum para reflexão. Escrever a pergunta-chave numa ficha maior e afixá-la no topo do quadro ou painel, para que seja facilmente visualizada pelo grupo. Incentivar o grupo a refletir sobre a pergunta. Solicitar aos participantes que apresentem suas ideias. 4.3. Adicionalidades do MATC Com a adoção do MATC pela Fundação Neumann Brasil, os técnicos, no dia-a-dia, além de realizar assistência técnica aos produtores, também conseguem realizar outras atividades/serviços (de extensão rural ou assistência técnica) em apoio aos grupos de produtores. De modo geral, além da assistência técnica às propriedades rurais, os técnicos realizam um conjunto diverso de outros serviços/atividades nos grupos de produtores apoiados pela Fundação. Os principais serviços/ atividades adicionais são: Extensão rural Capacitações de produtores: escolas de campo, diasde-campo, viagens técnicas, intercâmbios, palestras, seminários, etc Assistência técnica Apoio técnico aos produtores, incluindo toda parte agronômica e produtiva para aumento de produtividade e qualidade do café. Além da possibilidade dos técnicos poderem desenvolver outros serviços/atividades como os acima mencionados, o MATC permite à Fundação desenvolver também, paralelo ao Projeto Regional Força Café, o Projeto Café & Clima 3, que apesar de ser um tema gerador transversal do trabalho do Projeto Regional Força Café tem conceito e abordagem diferenciada para desenvolvimento em campo, demandando assim muito envolvimento da equipe técnica em nível de campo. Adicionalmente, é comum a Fundação demandar outros serviços dos seus técnicos, como apoio à organização de eventos, aplicação de estudos e diagnósticos, realização de estudos de casos, elaboração de relatórios, etc. De modo a facilitar a compreensão do conceito e tipo de serviços/atividades desenvolvidos pela Fundação, farse-á uma descrição breve de algumas das principais ferramentas e estratégias adotadas no apoio aos grupos de produtores. 4.3.1 Capacitação de produtores A Fundação promove capacitação de produtores em todos os grupos de produtores apoiados. Atualmente, são 144 grupos apoiados em 20 municípios. As capacitações trabalham temas como: plantio (escolha da área, variedade, preparo da área, etc), manejo do cafeeiro (manejo de mato, poda, desbrota, adubação amostragem, coleta de solo, tipos de adubação, formas de aplicação, etc), colheita e pós-colheita (BPAs para produção de café de qualidade), organização de produtores (associativismo, cooperativismo), comercialização do café (fundamentos do mercado, etc), temas de sustentabilidade (padrões de sustentabilidade, manejo do solo e da água, reserva legal, café & clima, etc), administração e gestão de propriedades e organização de produtores, etc. As capacitações são realizadas pelos técnicos da Fundação e/ou em parceria com entidades parceiras, para temas mais estratégicos na formação de líderes e dos técnicos de campo. As capacitações dos produtores são desenvolvidas através das seguintes estratégias: 4.3.1.1 Palestras: São cursos de curta duração (de poucas horas de duração) que têm por finalidade disponibilizar aos produtores, conhecimentos e debates sobre determinados temas que alicerçam o desenvolvimento sustentável da cultura do café e suas comunidades produtoras em nível produtivo, ambiental, social e econômico. Acompanhamento de controle de custo de produção (caderno de campo) Avaliação do desenvolvimento das propriedades e comunidades (aplicação de matrizes produtivas e matriz empresarial) Organização dos produtores para realização de compras coletivas de adubo e insumos da produção. Organização dos produtores para comercialização coletiva do café. Interpretação de análises de solo e folha e orientação aos produtores. Orientação de laudo de qualidade café. Orientação técnica e apoio para organização dos grupos de produtores. Apoio técnico para efetivação da compra coletiva de insumos da produção. Apoio técnico para efetivação da comercialização coletiva de café. Figura 19: Palestras realizadas em nível das comunidades rurais para capacitação dos produtores. 3. É uma iniciativa público-privada criada para apoiar processos de adaptação à mudança climática nas propriedades de pequenos produtores, em países produtores de café. A iniciativa, atualmente, desenvolve projetos no Brasil, Vietnã, América Central e Tanzânia. Maiores informações podem ser conseguidas no site www.coffeeandclimate.org 32 33

4.3.1.2 Seminários: São cursos de média duração (podendo durar uma manhã, um dia ou até mais de um dia). Geralmente, são adotados quando é necessário disponibilizar uma quantidade maior de conhecimentos sobre vários temas/assuntos e/ou fazer um debate mais contextualizado de um determinado tema, com exposições de vários agentes. 4.3.1.3 Viagens técnicas: São viagens de intercâmbio que grupos de produtores realizam para acessar e conhecer novas tecnologias e/ou conhecer experiências de sucesso e trocar de experiência em temas produtivos, ambientais, organizativos e empresariais. 4.3.1.4 Escola de Campo de Agricultores (ECA): É uma metodologia participativa onde o conceito principal se desenvolve através do aprender fazendo. Para isso, um grupo de produtores passa a reunir-se periodicamente (mensalmente), para abordar temas relacionados ao ciclo da cultura do café e acompanhar experimentos implementados na comunidade. A ECA segue uma agenda que inclui: observação em campo, análise do agroecossistema, plenária para debates e reflexão do grupo, abordagem a temas especiais conduzidos sob ferramentas participativas e dinâmicas de trabalho em grupo. Figura 21: Dia-de-campo realizado para capacitação dos produtores. 4.3.2 Aplicação das matrizes As matrizes são ferramentas adotadas pela Fundação que têm a finalidade de avaliar e validar a evolução das propriedades (matriz produtiva/ambiental) 4 e comunidades (matriz empresarial/social) 5 apoiadas a partir de check list pré-estabelecido. Figura 20: Escola de Campo de Agricultores realizada para capacitação dos produtores. 4.3.1.5 Reuniões técnicas: Estratégia adicional de formação de produtores desenvolvida pela Fundação para trabalhar ferramentas importantes: (a) como a aplicação e retroalimentação das matrizes e elaborar o plano de trabalho com base nas matrizes; (b) fazer as retroalimentações do caderno de campo e planificar ações de intervenção; (c) trabalhar ações relevantes de importância para a promoção do conceito de cafeicultura sustentável, como os temas de Café & Clima, organizativos, empresariais e os espaços de fortalecimento do capital social local, como o fórum de lideranças. 4.3.1.6 Dia-de-campo: São eventos práticos realizados em campo que podem ocorrer nas unidades-piloto ou em outras propriedades de referência ou nas Escolas de Campo de Agricultores. Nos dias-de-campo, objetivase fazer a formação dos produtores através de demonstrações práticas dos diferentes manejos da cultura do cafeeiro (p.e. forma correta de amostragem de solo para análise, avaliação do nível de infestação de pragas e doenças, entre outras), e dos processos de colheita e pós-colheita para a produção de cafés de qualidade. Devido 100% dos produtores apoiados pela Fundação estarem, atualmente, localizados no Estado de Minas Gerais, a Fundação utiliza como check list critérios extraídos do Programa Certifica Minas Café 6, de modo a contribuir no seu trabalho com o desenvolvimento deste programa. Todavia, é importante mencionar que a ferramenta Matriz permite à entidade que a emprega criar a sua base de check list que quer monitorar na evolução da implementação do trabalho ou utilizar qualquer outra base referencial de sustentabilidade, a exemplo do Código Comum para a Comunidade Cafeeira (4C), UTZ Certified, Rainforest Alliance Certified, PIC (produção integrada do café), Currículo Mínimo de Sustentabilidade, etc. O check list da matriz produtiva/ambiental, por exemplo, é composto por itens que permitem analisar: a lavoura (material de propagação, área de cultivo, controle de pragas e doenças, colheita e pós-colheita, etc), rastreabilidade, responsabilidade ambiental e social, conservação da água, capacitação do produtor e gestão da propriedade. Na Fundação, as matrizes são aplicadas duas vezes por ano em todas as comunidades apoiadas, no intervalo de 6 em 6 meses. Todavia, dependendo da demanda da entidade, as aplicações das matrizes podem ser dimensionadas, por exemplo, para aplicações de 3 em 3 meses. Na aplicação das matrizes, os grupos de produtores podem ser classificados como Grupo D: 0 a 40%; Grupo C: 41% a 64%; Grupo B: 65% a 85% e Grupo A: 86% a 100%. Desta forma, as matrizes permitem à Fundação (ou a qualquer outra entidade que a utilize) planejar e focar os trabalhos futuros da entidade nas comunidades menos desenvolvidas e nas áreas prioritárias para o desenvolvimento do grupo de produtores (figura 22). 4. Matriz aplicada no grupo de produtores para avaliar o nível de empregabilidade de práticas sustentáveis, recomendadas para uma cafeicultura sustentável nas propriedades dos produtores do grupo. Avalia também a rastreabilidade das práticas realizadas e produtos aplicados nas lavouras, a responsabilidade social e ambiental e a gestão desenvolvida nas propriedades avaliadas. 5. Matriz aplicada no grupo de produtores para avaliar o nível de desenvolvimento organizacional da comunidade. Avalia também a rastreabilidade dos processos desenvolvidos, a responsabilidade social e ambiental e a gestão desenvolvida no grupo. 6. Programa de Certificação do Estado de Minas Gerais, criado em 2006, que tem como pontos fundamentais no seu desenvolvimento os temas da segurança alimentar, rastreabilidade e boas práticas agrícolas de manejo das lavouras e gestão das propriedades. 34 35