Proposta de ampliação e ou reclassificação da ARIE da Serra da Abelha/ Rio da Prata.

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Transcrição:

MINISTÉRIO DO MEIO AMIENTE INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS DIRETORIA DE ECOSSISTEMAS Proposta de ampliação e ou reclassificação da ARIE da Serra da Abelha/ Rio da Prata. Brasília junho de 2006

Introdução No dia 02 de novembro de 2005, na Sala de Audiências da Vara Federal e Juizado Especial Federal da Subseção de Rio do Sul/ SC, foi realizada a audiência para a proposta de conciliação a respeito da Ação Civil Publica nº 2005.72.13.000073-9 movida pelo Ministério Publico Federal contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, a UNIÃO e outros; alegando basicamente a falha destes órgãos em relação à região da Serra da Abelha (Anexo 1). Com relação ao IBAMA foi relatado na Ação Civil Publica a sua omissão em relação à gestão da Área de Relevante Interesse Ecológico ARIE da Serra da Abelha e ao não atendimento às denúncias de crimes ambientais que estariam ocorrendo no interior desta unidade de conservação. Nesta audiência, ficou acordado, no item 1, que o IBAMA proceder-se-ia a realização de estudos para eventual reclassificação/ ampliação da área a ser concluído até a data de 30 de junho de 2006, sob pena de multa diária de R$ 10.000,00 (Dez mil reais). Portanto, este documento a tem como finalidade a apresentação de uma análise técnica sobre a viabilidade de ampliação e ou reclassificação da ARIE da Serra da Abelha. O que é uma ARIE? ARIE corresponde à sigla de Área de Relevante Interesse Ecológico uma das categorias de Unidades de Conservação descritas na Lei 9.985 de 18 de junho de 2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC. O SNUC dividiu as Unidades de Conservação em dois grupos: Uso Sustentável e Proteção Integral. Cada grupo é composto por diferentes categorias descritas de acordo com o nível de manejo dos recursos naturais e a respectiva interferência antrópica. De acordo com o SNUC, mas categorias do grupo de uso sustentável permitem a exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos naturais 2

renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável. Por outro lado, o grupo de proteção integral tem como premissa a manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitindo apenas o uso indireto dos atributos naturais. Uso Indireto consiste naquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais. A ARIE é uma categoria do grupo de uso sustentável e corresponde, segundo o art.16 da Lei 9.985, a uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. Tal definição havia sido descrita muito antes da publicação do SNUC. Em 1984, algumas áreas foram declaradas como de relevante interesse ecológico em conformidade com o artigo 2º do Decreto nº 89.336, de 31 de janeiro de 1984 (Anexo 2). Neste Decreto as Áreas de Relevante Interesse Ecológico - ARIE - eram preferencialmente declaradas quando, possuíssem características naturais extraordinárias ou exemplares raros da biota regional, tivessem extensão inferior a 5.000 ha (cinco mil hectares) e houvesse ali pequena ou nenhuma ocupação humana por ocasião do ato declaratório. Além disto, para diferenciar de outras categorias existentes, foi acrescentado neste Decreto que as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, quando estiverem localizadas no perímetro de Áreas de Proteção Ambiental, integrarão a Zona de Vida Silvestre, destinada à melhor salvaguarda da biota nativa. Histórico das ARIES As primeiras áreas declaradas como de relevante interesse ecológico foram indicadas pela Resolução do CONAMA nº 5 de 5 de junho de 1984. Nesta resolução foram indicadas a criação das seguintes ARIE: Cocorobó, Pontal dos Latinos, Ilha do Pinheiro dentre outras. Naquele momento prevalecia o disposto no art.7º do Decreto nº 89.336 onde a declaração de uma área como de Relevante Interesse Ecológico, é proposta através de Resolução do CONAMA, ou de órgão colegiado equivalente, na esfera estadual ou 3

municipal. Portanto, todas as ARIE foram, inicialmente, propostas por uma resolução do CONAMA e algumas foram, posteriormente, decretadas por ato do Presidente da Republica como ARIE ou como outra categoria de unidade de conservação. Como é o caso da ARIE de Murici localizada no município de Murici AL. Indicada como área de interesse ecológico pela resolução do CONAMA nº 5 de 1984 foi transformada em Estação Ecológica em 28 de maio de 2001. Atualmente existem 18 Áreas de Relevante Interesse Ecológico por todo o Brasil protegendo praticamente uma parcela de todos os biomas brasileiros. A ARIE da Serra da Abelha Histórico da criação: Em 20 de agosto de 1990 foi aberto o processo junto ao IBAMA, referente à proposta de resolução do CONAMA para a criação da Área de Interesse Ecológico ARIE da Serra da Abelha/ Rio da Prata, com aproximadamente 4.200 hectares, pertencentes ao município de Vitor Meireles - SC. No dia 06 de dezembro de 1990 foi publicada no Diário Oficial da União a Resolução do CONAMA nº5 de 17 de outubro de 1990 que resolve enviar a Presidência da República a proposta de decreto que cria a ARIE da Serra da Abelha/Rio da Prata (Anexo 3). No dia 28 de maio de 1996 o Vice-Presidente da República no exercício do cargo de Presidente, decreta a criação da Área de Relevante Interesse Ecológico ARIE Serra da Abelha, com aproximadamente 4.600 hectares, situada na Serra da Abelha II e rio da Prata, no município de Vitor Meireles, estado de Santa Catarina (Anexo 4. Figura 1). 4

Figura 1. Mapa de localização da ARIE Serra da Abelha nos Municípios. Situação atual da ARIE A ARIE da Serra da Abelha apresenta, desde a sua criação, duas realidades ambientais distintas, conforme mencionado no histórico da criação da ARIE. A Resolução do CONAMA indicou a criação de uma ARIE de 4.200 hectares divididos em dois blocos o primeiro com 2.976 hectares (Área A) e o segundo com 1.257 hectares (Área B). Estes dois blocos se remetem a duas glebas do INCRA (Glebas Rio da Prata e Concessão Simões, respectivamente); onde estão presentes dois assentamentos com padrões de utilização dos recursos naturais totalmente diferentes. Contudo, o Decreto de criação da ARIE remete a uma área de 4.600 hectares abrangendo uma terceira área (Área C, Figura 2). 5

Figura 2. Limite da ARIE - Serra da Abelha/ Rio da Prata (Linha verde) com a diferenciação das duas Glebas do INCRA (A e B) 6

O padrão de ocupação das áreas B e C é totalmente diferente daquele desenvolvido na Área A. Neste sentido o grau de preservação da mata atlântica entre estas áreas pode ser facilmente percebido na imagem de satélite (Figura 3). Figura 3. Imagem de Satélite tipo Spot. (resolução de 10 metros) retirada no dia 25/07/2005. A Área A, onde se encontra a comunidade de Santa Cruz dos Pinhais, é a mais preservada e a mais importante em termos ambientais. Nela, ainda pode ser encontrada uma Floresta com Pinheiros e onde ocorrem com maior freqüência outras espécies nobres, bem como taquaras. Nas áreas alteradas pode ser observado o predomínio de bracatingas e vassorão, espécies mais pioneiras (Figura 4). 7

Figura 4. Vista parcial da Serra da Abelha com destaque para as copas das araucárias Relevâncias ambientais A ARIE da Serra da Abelha foi criada de acordo com o art 2º do Decreto sem numero de 28 de maio de 1996, com o objetivo principal de conservação do fenômeno fitossociológico verificado na Floresta da Serra da Abelha, que consiste na transição da Mata Atlântica para a Floresta de Pinheiros. De acordo com termos mais técnicos este fenômeno corresponde a um ecótono, transição da Floresta Ombrófila Densa para a Floresta Ombrófila Mista. Estes dois tipos de floresta fazem parte de um único bioma: a Mata Atlântica (Figura 5) 8

Legenda: Floresta Ombrófila Mista Floresta Ombrófila Densa Floresta Estacional Estepe G. Lenhosa Savana Estépica Áreas de Tensão Ecológica Figura 5. Distribuição da vegetação Natural (Fonte: IBGE 1993) O Bioma Mata Atlântica estendia-se originalmente por aproximadamente 1.300.000 km2 do território brasileiro. Hoje os remanescentes estão reduzidos a cerca de 7,84% de sua cobertura florestal original. Apesar da devastação, ainda abriga uma das mais altas taxas de biodiversidade de todo o planeta: cerca de 20.000 espécies de plantas (6,7% de todas as espécies do mundo), sendo 8.000 endêmicas, e grande riqueza de vertebrados, (264 espécies de mamíferos, 849 espécies de aves, 197 espécies de répteis e 340 espécies de anfíbios). A Mata Atlântica é considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal e de acordo com o Decreto 750/93, compreende um conjunto de fitofisionomias florestais e ecossistemas associados, além dos brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste, abrangendo total ou parcialmente 17 estados: RS, SC, PR, SP, GO, MS, RJ, MG, ES, BA, AL, SE, PB, PE, RN, CE e PI. Além de ser um dos biomas mais ricos do mundo em biodiversidade, tem importância vital para os 120 milhões de brasileiros que vivem em seu domínio, prestando importantíssimos serviços ambientais, principalmente relacionados a produção e conservação de recursos hídricos e equilíbrio climático. 9

A Floresta com Araucárias, chamada cientificamente de Floresta Ombrófila Mista, originalmente ocupava aproximadamente 200.000 Km2, abrangendo cerca de 37% do Estado do Paraná, 31% de Santa Catarina, e 25% do Rio Grande do Sul. Ocorria também em maciços descontínuos, nas partes mais elevadas das Serras do Mar, Paranapiacaba, Bocaina e Mantiqueira, no sudeste e nordeste de São Paulo, noroeste do Rio de Janeiro e Sul de Minas Gerais e no leste da Província de Misiones (Argentina). A Floresta com Araucárias é caracterizada pela presença predominante do Pinheiro Brasileiro (Araucaria angustifolia) (Figura 6). Árvore de tronco cilíndrico e reto, cujas copas dão um destaque especial à paisagem, a araucária chega a viver até 700 anos, alcançando diâmetro de dois metros e altura de até 50 metros. No sub- bosque da floresta ocorre uma complexa e grande variedade de espécies, como a canela sassafrás, a imbuia, a erva-mate e o xaxim, algumas das quais endêmicas e ameaçadas de extinção. Figura 6 Detalhe de uma Araucária 10

Qual é a situação Legal de proteção da Mata Atlântica? De acordo com o Art. lº do Decreto nº 750 de 1993 são proibidos o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica. Ficando condicionada excepcionalmente, a supressão da vegetação primária ou em estágio avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica mediante decisão motivada do órgão estadual competente, com anuência prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, informando-se ao Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, quando necessária a execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social, mediante aprovação de estudo e relatório de impacto ambiental. O Art. 7º do referido decreto proíbe a exploração de vegetação que tenha a função de proteger espécies da flora e fauna silvestres ameaçadas de extinção, formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou em estágio avançado e médio de regeneração, ou ainda de proteger o entorno de unidades de conservação, bem como a utilização das áreas de preservação permanente, de que tratam os arts. 2º e 3º da Lei nº 4.77l de l5 de setembro de l965. Em 30.12.2000 a Justiça Federal (TRF4) por Decisão Liminar proíbe Ibama e Órgãos Estaduais de conceder licença para corte ou manejo de espécies ameaçadas de extinção. No dia 28.05.2001 o CONAMA aprova a Resolução 278, proibindo Ibama e Órgãos estaduais de autorizarem manejo ou corte de espécies ameaçadas de extinção, ficando permitida a utilização de 15 m3 a cada 5 anos para os pequenos produtores em seu uso na propriedade. Possibilidade de ampliação e recategorização Para avaliação da possibilidade de recategorização e ampliação da ARIE foi necessário verificar o grau atual de preservação da referida unidade de conservação. Neste sentido, foram adquiridas imagens de satélite tipo SPOT com boa resolução, aproximadamente 10 metros por pixel, retirada no dia 25/07/2005. Além disto, foram utilizadas as cartas topográficas que abrangiam a ARIE e seu entorno na escala de 1:50.000 denominadas Rio Itajaí do Norte (MI 2880/1) e Witmarsun (MI 2880/3). 11

Todas publicadas pela Diretoria de Geodésia e Cartografia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. As imagens funcionam como uma excelente ferramenta de visualização da paisagem e dos remanescentes florestais presentes, bem como das áreas com significativa ação antrópica. As cartas topográficas auxiliam na visualização do relevo e suas respectivas curvas de nível, os rios e suas bacias hidrográficas. Com estas ferramentas foram realizadas duas vistorias na área. A primeira realizada no dia 29/04/2006 e a segunda no dia 20/06/2006. A primeira vistoria foi concentrada na ARIE da Serra da Abelha e a segunda no seu entorno. Todas estas vistorias foram precedidas de reuniões com as comunidades residentes na ARIE conforme consta na lista de presença (Figura 7. Anexo 5). Figura 7. Reunião realizada em Vitor Meireles com as lideranças locais. Durante as análises prévias das imagens de satélite e, posteriormente, constatado na vistoria, as áreas B e C não apresentaram atributos ambientais que possibilitaria a mudança para outra categoria mais restritiva. Na primeira vistoria, foram registrados, por meio de GPS e máquina fotográfica, todos os moradores presentes no interior da Área A da ARIE. Tal procedimento se 12

restringiu à Área A devido ao seu melhor grau de conservação constatado através de análise prévia da imagem de satélite. A localização de todos os moradores da Área A foi georreferenciada e posteriormente inserida em um banco de dados de um programa de geoprocessamento (Figura 8) Figura 8. Registro georreferenciado de todos os moradores da Área A Durante esta vistoria, foram verificados os limites das áreas bem preservadas, as áreas com atributos turísticos e o limite de ocorrência da floresta com araucária. Como foi anteriormente mencionado, a ARIE se caracteriza pela transição da mata atlântica do litoral para a mata atlântica serrana também conhecida de Floresta de pinheiros ou Floresta de Araucárias. A ARIE ainda apresenta uma significativa área de Floresta com Araucárias que apresenta uma estrutura fitossociológica bem conservada, onde se destacam as copas dos pinheiros. Estima-se que existam na área mais de 8.000 araucárias (Araucaria angustifolia). No Sub bosque podem ser encontrados vários espécie de canela, o cedro (Cedrela fissilis) e do xaxim-bugio ou samambaiaçú-imperial (Dicksonia sellowiana). 13

Para uma criteriosa avaliação da importância dos atributos ambientais da região foi contatado o Instituto de Pesquisa Ambiental do Departamento de Ciências Naturais da Universidade Regional de Blumenau que fez um levantamento das espécies vegetais presentes na região (Anexo 6). Neste estudo, foram registradas 221 espécies vegetais na região sendo que, destes, 99 foram registrados na ARIE e com destaque para a presença de várias espécies ameaçadas de extinção, dentre estas a araucária e a canela-preta (Ocotea catharinensis). A ARIE apresenta uma série de atributos turísticos dentre eles podemos destacar a Pedra do Chapéu a caverna e algumas cachoeiras. Outro fator que chama a atenção é o rico sistema hídrico atrelado ao relevo acidentado da região. Com uma altitude variando de 400 a 800 metros, formam vales estreitos e profundos onde são encontradas uma grande quantidade de nascentes. Este tipo de formação requer extremo cuidado principalmente devido ao aclive acentuado que favorece a ocorrência de erosões e de trombas d água, bem conhecidas na região e segundo em função da proteção das nascentes. Portanto, a manutenção da cobertura vegetal é de vital importância para a conservação das nascestes como para a sustentação do solo e da chuva evitando erosões e enchentes. A segunda vistoria teve por objetivo a avaliação do entorno. Nela, foi verificada a presença de um grande fragmento de Mata Atlântica ainda em bom estado de conservação (Figura 9). 14

Figura 9. Imagem de satélite com destaque para o fragmento florestal em bom estado de conservação contíguo a ARIE. Foi verificado, também, que o padrão de ocupação da área A da ARIE é diferente do padrão do seu entorno. Na área A as famílias estão restritas ao topo da Serra da Abelha enquanto que a ocupação do entorno está concentrada nas margens dos rios. Devido ao relevo acidentado, a ocupação ficou restrita às margens dos rios mantendo as encostas dos morros preservadas. Foi verificado também que a área está inserida numa região sob intensa pressão de exploração florestal, de expansão de culturas agrícolas, e de ampliação de assentamentos rurais. Conclusão. A ARIE da Serra da Abelha apresenta um excelente grau de conservação com destaque para a significativa parcela da floresta com araucária. Considerando que atualmente restam menos de 3% da área original da Floresta com Araucária, incluindo as florestas exploradas e matas em regeneração; Considerando que menos de 1% da área original guarda as características da floresta primitiva, ou seja, são áreas pouco ou nunca exploradas; 15

Considerando a dramaticidade da Mata Atlântica e especificamente da Floresta com araucárias onde todos os fragmentos representam uma importante parte desta retalhada realidade e que diante disto, a importância de fragmentos representativos aumenta significativamente; Considerando a presença de um maciço florestal contíguo a ARIE muito bem conservado e que a presença deste relevante fragmento de floresta com araucárias já justificaria por si só um maior nível de proteção para a conservação destes recursos para esta e as futuras gerações; Concluímos como possível a recategorização de parte da ARIE para Refúgio de Vida Silvestre com a devida ampliação da unidade de conservação abrangendo o maciço florestal contíguo, totalizando uma unidade de conservação com aproximadamente 19.000ha (Figura 10). O limite da proposta foi feito procurando excluir as áreas ocupadas. Nas áreas não incluídas no Refúgio permanecerá a categoria ARIE. Figura 10. Limite da proposta de Refugio de Vida Silvestre (Linha vermelha) e da ARIE da Serra da Abelha (Linha Amarela) 16

O Refúgio de Vida Silvestre segundo o Art.13 da Lei 9.985 tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. Porque o Refúgio de Vida Silvestre? Primeiro, porque é uma categoria de unidade de conservação de proteção integral, o que possibilita uma maior proteção a este significante fragmento da Mata Atlântica e da Floresta com Araucária. Segundo, porque esta categoria permite a realização de visitação pública, possibilitando o desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo ecológico e rural. Terceiro, porque o Refúgio de Vida Silvestre pode ser constituído por áreas particulares. A presença de propriedades particulares é vinculada ao objetivo de criação da unidade de conservação. Sendo possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários, eles não precisam ser retirados. Neste sentido, como já está proibido por lei o corte da Mata Atlântica ficariam excluídas do Refúgio as áreas utilizadas pelas famílias, que de acordo com a média dos assentamentos do INCRA equivale a uma posse de aproximadamente 15ha por família; as outras áreas estariam incluídas no Refúgio. Cabe ressaltar que havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou, não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da propriedade, a área deverá ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei. Como as famílias residentes na área já estão fixadas na beira da estrada e no topo da serra ficaria fácil a exclusão destas propriedades e da estrada permitindo o livre acesso a cada residência. Contudo, cabe ressaltar que esta definição da área a ser utilizada por cada família faz parte do zoneamento que cabe ao INCRA. Este relatório está se restringindo aos atributos ambientais e na definição das áreas aptas à criação de uma unidade de conservação. Por isso, estamos nos restringindo à área A. Nas áreas B e C, deverá ser feito um trabalho para a manutenção das matas ciliares (entorno dos rios) e de encostas respeitando as Áreas de Proteção Permanente bem como na definição da Reserva Legal de cada propriedade. Inclusive, a Reserva Legal das propriedades da Área A poderá ser feita em condomínio fora dos lotes e dentro do Refúgio de Vida Silvestre. 17

Contudo, cabe ressaltar também que na reunião do dia 20/06/2006 realizada na comunidade de Santa Cruz dos Pinhais foi mencionado que além das áreas utilizadas por cada família, existe também algumas áreas de uso coletivo. Neste sentido, foi solicitado que os moradores informassem onde estão localizadas estas áreas e também a sua forma de uso para avaliar a possibilidade e a necessidade de exclusão destas áreas com relação às restrições legais da categoria Refúgio de Vida Silvestre. Como para a conclusão do processo de criação de uma unidade de conservação ainda é necessária a realização de consulta pública, acreditamos que ainda poderá haver algumas alterações no limite final da proposta. Outro ponto que precisa ser ponderado na proposta de ampliação e ou recategorização da ARIE da Serra da Abelha é a Terra Indígena Ibirama-La Klano. Delimitada em 1924 pelo Decreto nº 15 de 03 de abril de 1924 com aproximadamente 20 mil hectares para usufruto dos indígenas só foi oficialmente demarcada em 1952 com aproximadamente 14.150 ha. Contudo, em 14 de agosto de 2003 é publicada no Diário Oficial da União a Portaria Nº 1.128, de 13 de agosto de 2003, declarando de posse permanente dos grupos indígenas Xokleng, Kaingang e Guarani, a Terra Indígena Ibirama-La Klano com aproximadamente 37.100ha. O limite descrito na referida Portaria sobrepõe aproximadamente 60% da ARIE da Serra da Abelha. Considerando que a área sobreposta é a mais bem conservada e considerando também as divergências jurídicas com relação ao limite descrito na Portaria, sugerimos a ponderação da questão indígena na definição final desta Ação Civil Publica, pois esta definição poderá inviabilizar a proposta aqui apresentada. Este é o Relatório, Bernardo Ferreira Alves de Brito Biólogo, MSc em Ecologia Analista Ambiental Chefe do Programa de Gestão de Ecossistemas Diretoria de Ecossistemas. 18