MANEJO DE CORDA-DE-VIOLA EM CANA-DE-AÇÚCAR AZANIA, C.A.M.; AZANIA, A.A.P.M.; ROLIM, J.C.; SCHIAVETTO, A.; R.; PIZZO, I. V. O manejo das plantas daninhas, de uma forma geral, é banalizado em muitas propriedades devido a dois fatores principais: primeiramente porque muitos acreditam que as plantas que possuem porte reduzido, com aparência frágil, não são capazes de causar elevadas perdas de produtividade e também pelo fato de se crer que os herbicidas podem resolver tudo. Estes pensamentos somente proporcionam aumento do banco de sementes das plantas daninhas no solo e aparecimento de resistência destas plantas aos herbicidas, com conseqüente redução de produtividade das culturas. No entanto, já se sabe que o cuidado que se deve ter com o manejo das infestantes deve ser cada vez mais criterioso, adotando-se, sempre que possível, o manejo integrado, empregando-se diferentes modalidades de controle. O levantamento e o conseqüente conhecimento das plantas daninhas presentes na área é o primeiro passo para iniciar um manejo adequado. Na cultura da cana-de-açúcar, as plantas daninhas exercem competição por elementos vitais e essenciais ao desenvolvimento das plantas, os chamados fatores de crescimento (água, nutrientes, luz). Segundo ROLIM % CHRISTOFFOLETI (1982) a interferência sofrida pela atuação das plantas daninhas pode provocar perdas na produtividade da cultura em até 85% quando não controladas adequadamente. Algumas espécies são mais agressivas que outras e as perdas de produção dependem das espécies que compõem a comunidade infestante e de sua densidade na área. Em cana-de-açúcar, segundo AZANIA et al. (2006) os capins colonião, camalote, braquiária, marmelada, colchão, pé-de-galinha, carrapicho e as folhas largas como caruru, corda-de-viola e a tiririca constituem as principais plantas daninhas infestantes de canaviais. Entre essas plantas daninhas vem se destacando recentemente as cordas-deviola ou campainha, que são os nomes populares das diferentes espécies do gênero Ipomoea e Merremia. Nos canaviais, as espécies Ipomoea quamoclit, Ipomoea hederifolia, Ipomoea nil, Ipomoea grandifolia, Ipomoea purpurea, Merremia cissoides e Merremia aegyptia são as predominantes (Figura 1). Essas espécies, segundo
KISSMANN & GROTH (1999), são de hábito trepador e entrelaçam-se em outras plantas ou obstáculos, produzem grandes quantidades de sementes e apresentam flores de considerável beleza ornamental. Maiores ocorrências dessas espécies vem sendo encontradas nas áreas de cana-de-açúcar colhida sem a prévia queima do canavial, no sistema chamado de colheita de cana crua ou na palha. Nestas áreas, a camada de palha depositada sobre o solo pode atingir entre 10 a 20 t ha -1, o que interfere na quantidade e na qualidade de luz incidente, na umidade e na temperatura do solo, criando um ambiente propício à germinação e desenvolvimento de algumas espécies daninhas e de indução à dormência de outras espécies. O que se vem verificando é que espécies de Ipomoea têm respondido positivamente a esses ambientes, chegando a causar prejuízos à cultura e dificultando a operação de colheita mecânica, devido ao seu hábito de crescimento trepador. Sabe-se que sementes de Ipomoea spp e Merremia spp. conseguem germinar em solos cobertos com palha remanescente da colheita mecânica, até densidades de palha próximas a 15 t ha -1 (AZANIA, et al. ). Na medida em que o sistema radicular dessas infestantes se desenvolve aumenta a competição pela água e pelos nutrientes existentes no solo. A competição ganha maior importância no momento em que as infestantes enrolam-se nos colmos e dominam o dossel da cultura, dificultando a absorção de luz pela cana-de-açúcar, com conseqüente prejuízo à fotossíntese. Segundo MILLHOLLON et al. (1988), citado em SIEBERT et al. (2004), o convívio de Ipomoea spp com a cana-de-açúcar pode reduzir o rendimento de açúcar em 24 a 30%. A colheita mecânica pode colaborar com a dispersão dessas espécies, pois as sementes ao passar pelo interior das máquinas são lançadas no solo juntamente com o palhiço. As sementes destas espécies possuem tegumento espesso e rígido, que lhes confere dormência, a qual pode ser quebrada pelos danos causados ao tegumento provocados pelo atrito no interior das colhedoras. A grande produção de sementes destas espécies, associada à sua capacidade de dormência, pode intensificar ainda mais sua dispersão nas áreas de colheita mecânica de cana-crua. A dormência das sementes garante a sobrevivência da espécie para os próximos anos, garantindo fluxos de emergência principalmente logo após a colheita e/ou por ocasião do cultivo do solo.
Um elevado percentual de sementes apresenta dormência, principalmente devido ao espesso tegumento em torno do embrião. A dormência, segundo POPINIGIS (1977), ocorre quando as sementes com embrião vivo deixam de germinar, mesmo quando as condições ambientais são favoráveis à espécie. Essa característica proporciona às cordas-de-viola a capacidade de sempre terem sementes estocadas no solo para germinarem durante o ano todo e durante muitos anos. Para minimizar o problema com os fluxos de emergência de novas plantas de corda-de-viola em cultivos futuros, o produtor deve evitar que as infestantes estejam com sementes no momento da colheita da cultura. Assim, o manejo destas plantas deve ser implementado no máximo até o início do seu florescimento. Dentre os métodos de manejo, o controle químico é o mais utilizado, sendo realizado na pré-emergência ou na pós-emergência inicial das plantas infestantes, no começo da estação chuvosa. Em áreas muito infestadas, vem sendo necessária uma reaplicação, geralmente na pós-emergência tardia, a fim de que as plantas de Ipomoea spp. não prejudiquem principalmente a operação de colheita. O uso de mais de uma aplicação nas áreas muito infestadas com Ipomoea spp. (Figura 2) vem se tornando uma realidade, decorrente do fato que sua germinação aparentemente não seja tão influenciada pela luz, mas principalmente pela temperatura ambiente e pela umidade do solo. Em conseqüência destas características, as cordas-de-viola conseguem germinar em qualquer momento do ciclo da cana-de-açúcar. Assim, o controle dessas espécies é garantido enquanto persistir o efeito residual do herbicida no solo. Mais tarde, mesmo com o sombreamento do solo pela cultura e/ou pela camada de palha, ocorre um segundo fluxo de emergência de cordas-de-viola, exigindo uma segunda aplicação de herbicidas, específicos para esta condição. No mercado existem diferentes herbicidas seletivos à cana-de-açúcar e indicados para controle de corda-de-viola, sendo que amicarbazone, sulfentrazone, diuron+hexazinone e metribuzin, dentre outros, possuem eficácia considerada sobre estas espécies. Esses produtos podem ser aplicados em pré ou pós-emergência das plantas de corda-de-viola. As aplicações em pré-emergência das plantas daninhas podem ser realizadas em área total, mesmo sobre a palha (Figura 3). Na época úmida do ano, as chuvas facilitam a ação dos herbicidas que percolam pela camada de palha e
atingem o solo. Na época seca do ano os herbicidas podem ficar retidos sobre a camada de palha e, assim, ficarem mais expostos à degradação por luz, pela temperatura e até mesmo serem retirados do local pela ação de ventos. Na aplicação em pós-emergência os herbicidas devem ser aplicados com adjuvante/espalhante adicionado à calda de pulverização. Especialmente as espécies de Merremia, por possuírem maior pilosidade em suas folhas, podem dificultar a distribuição dos produtos sobre o limbo foliar. As aplicações pósemergentes em área total devem ser realizadas preferencialmente quando as plantas de corda-de-viola atingirem no máximo entre 15 a 20 cm de altura; depois dessa fase a eficácia de controle pode ser comprometida (Figura 4). Nos casos de pós-emergência tardia recomenda-se a aplicação dos herbicidas em jato dirigido ou semi-dirigido de modo que toda a planta seja atingida com a calda do herbicida. Desta forma, considerando as questões de dormência e dos fluxos de emergência das plantas de corda de viola, recomenda-se em época úmida uma aplicação com herbicidas seletivos à cana-de-açúcar em área total, tanto nas áreas com queima prévia do canavial como nas áreas de cana crua, e, antes do total fechamento do canavial fazer uma segunda aplicação de herbicidas. A segunda aplicação possivelmente tenha que ser realizada com pingentes adaptados à barra do pulverizador, de modo a evitar o efeito guarda-chuva das folhas de cana-deaçúcar. Essas práticas poderão proporcionar que o canavial fique por maior período livre de infestações de cordas-de-viola.
Ipomoea hederifolia Ipomoea purpurea Ipomoea quamoclit Ipomoea nil FONTE: LORENZI (2000) Figura 1. Principais espécies de corda-de-viola infestantes nos canaviais.
Figura 2. Infestação de plantas daninhas do gênero Ipomoea em área de cana-de-açúcar colhida sem a prévia queima do canavial.
Ipomoea hederifolia 100 90 b b b b b b 80 70 60 50 Merremia cissoides 100 90 80 70 60 50 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T1- diuron+hexazinone*(3,0 kg pc ha -1 ); T2- diuron+hexazinone*(3,5 kg pc ha -1 ); T3- diuron+hexazinone(2,5 kg pc ha -1 ); T4- diuron+hexazinone(3,0 kg pc ha -1 ); T5- metribuzin(5,0 L pc ha -1 ); T6-amicarbazone(1,8 kg pc ha -1 ); T7-sulfentrazone(1,8 L pc ha -1 ); T8- sulfentrazone(1,2 L pc ha -1 )+diuron+hexazinone(1,5 kg pc ha -1 ); T9- sulfentrazone(1,5 L pc ha -1 )+diuron+hexazinone(2,5 kg pc ha -1 ); letras minúsculas compara-se entre espécies e maiúsculas entre herbicidas. Figura 3. Eficácia de controle (%) de diferentes herbicidas aplicados na pré-emergência da corda-de-viola aos 90 dias após aplicação dos herbicidas em cana colhida sem a prévia queima do canavial. Instituto Agronômico. Ribeirão Preto, SP.
Ipomoea hederifolia 100 90 80 70 60 50 Merremia cissoides 100 90 b b 80 70 60 Bab Bab 50 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T1- diuron+hexazinone*(3,0 kg pc ha -1 ); T2- diuron+hexazinone*(3,5 kg pc ha -1 ); T3- diuron+hexazinone(2,5 kg pc ha -1 ); T4- diuron+hexazinone(3,0 kg pc ha -1 ); T5- metribuzin(5,0 L pc ha -1 ); T6-amicarbazone(1,8 kg pc ha -1 ); T7-sulfentrazone(1,8 L pc ha -1 ); T8- sulfentrazone(1,2 L pc ha -1 )+diuron+hexazinone(1,5 kg pc ha -1 ); T9- sulfentrazone(1,5 L pc ha -1 )+diuron+hexazinone(2,5 kg pc ha -1 ); letras minúsculas compara-se entre espécies e maiúsculas entre herbicidas. Figura 4. Eficácia de controle (%) de diferentes herbicidas aplicados na pós-emergência da corda-de-viola aos 60 dias após aplicação dos herbicidas em cana colhida sem a prévia queima do canavial. Instituto Agronômico. Ribeirão Preto, SP.