Paralisia do Plexo Braquial

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Transcrição:

Paralisia do Plexo Braquial Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira O que é o plexo braquial? O plexo braquial é um conjunto de nervos localizado na região do pescoço. Os nervos devem ser vistos como cabos elétricos que conectam o cérebro, diga-se o pensamento com os músculos, produzindo os movimentos. O impulso elétrico ou pensamento trafega do cérebro para a medula espinhal, da medula espinhal passa para o plexo braquial e, a seguir, chega ao membro superior. Não se deve confundir medula espinhal com medula óssea. Não se faz transplante de medula espinhal e sim de medula óssea. O plexo braquial é responsável pelos movimentos e pela sensibilidade do membro superior. Sensibilidade nada tem a ver com o movimento. Sensibilidade implica o fato de sentir alguém tocar em você, ou sentir dor ou calor. Como pode ser lesionado? O plexo braquial pode ser lesionado por trauma direto, por exemplo, arma de fogo. Contudo, mais comumente ele é lesionado por estiramento. Este estiramento pode ocorrer na hora do parto ou freqüentemente após um acidente de motocicleta. As lesões na hora do parto são conhecidas como paralisia obstétrica e serão abordadas numa sessão à parte.

Típico acidente com motocicleta Note as escoriações no ombro onde o ombro se choca com o deste paciente com lesão do plexo solo, e a cabeça gira para o lado braquial 48h após o acidente. O oposto, lesionando o plexo hematoma na região do pescoço braquial. indica uma lesão do plexo braquial Toda lesão é igual? Não. Lesão de plexo é como batida de carro. Umas amassam mais, outras menos. O plexo pode sofrer um estiramento leve sem rompimento. Isto levará a uma paralisia que poderá ser completa, mas que deverá recuperar num prazo de três meses. Caso isto não ocorra, a lesão deverá ser encarada com maior preocupação. Existem pessoas em que somente os movimentos do ombro e cotovelo são prejudicados, mas os da mão são normais. Outras apresentam perda de todos os movimentos. Algumas lesões do plexo ocorrem na região do pescoço, outras dentro da coluna vertebral na junção do plexo com a medula espinhal. Neste último caso, dizemos que houve um arrancamento ou avulsão do plexo braquial. São as lesões de maior gravidade. Nesta figura representamos os nervos do Junção dos nervos do plexo braquial com a plexo braquial após a sua saída da coluna medula espinhal. Quando a lesão ocorre vertebral. Os nervos poderão estar neste nível dizemos que houve um

lesionados nesta região. arrrancamento do plexo braquial. Além da perda do movimento, que outras conseqüências uma lesão no plexo braquial pode trazer? Além da perda do movimento, existe, também, uma perda da sensibilidade. Muitos pacientes com trauma grave desenvolvem um quadro de dor fortíssima, geralmente na mão. Ou seja, o paciente não sente tocar a mão, mas apresenta a sensação de dor espontânea, geralmente em queimação. Este quadro é parecido com a dor do membro fantasma. Por exemplo, a dor numa perna que foi amputada. Como é feito o tratamento da paralisia do plexo braquial? O melhor remédio é primeiro uma grande dose de paciência. As lesões do plexo sempre demoram a recuperar. Se você apresenta uma paralisia completa com alterações nos olhos, o olho ficou mais fechado e há uma diferença de tamanho na menina dos olhos, comparado ao olho do outro lado, seu caso é grave e deve ser operado precocemente. Isto é, você deverá ser operado entre o 2º e 6º mês após o acidente. Alterações do olho, não na visão, mas no tamanho, apresentado uma pupila menor (menina dos olhos), quando comparado ao outro olho, indica que na lesão ocorreu um arrancamento do plexo, e o prognóstico é menos favorável Note a diferença de tamanho da menina dos olhos (pupila) entre um olho e outro. Enquanto se aguarda o tratamento o que deve ser feito? O primeiro passo é retirar a tipóia. Sempre existe algum médico ou fisioterapeuta ou parente que indica uma tipóia. O braço tem que ficar livre para balançar quando você caminhar. Isto permite que a articulação do ombro mantenha-se lubrificada. Embora pareça que seu braço vai cair, isto não ocorrerá. Ele parece estar fora do lugar devido aos músculos paralisados. Na fase inicial, a fisioterapia está indicada somente para

manter o que chamamos de amplitudes articulares. Todas as articulações do membro afetado devem ser mobilizadas pelo menos 3 a 4 vezes ao dia. O que poderá ser feito pelo próprio paciente ou familiar. Choques elétricos no braço paralisado não servem para nada. Da mesma forma, medicamentos como vitaminas não apresentam efeito algum, a não ser que você seja alcoólatra. Não existe nada que acelere o processo de recuperação. Se passados três meses o cotovelo não dobra sozinho, mas somente com ajuda do outro braço, você é um sério candidato à cirurgia. Muito importante: se você fuma, deverá parar de fumar o mais breve possível. Existe um prejuízo na recuperação na ordem de 40% nos fumantes. Em que consiste a cirurgia? A cirurgia é feita na região do pescoço. O primeiro passo é descobrir as lesões, tratando de buscar os cotos dos nervos lesionados. Quando encontrados, eles são ligados uns aos outros através de cabo de nervos retirados da perna. Estes nervos são conhecidos como surais e o procedimento médico chama-se enxerto de nervo. Os nervos têm que ser retirados do próprio paciente. Os transplantes de nervo de um paciente para o outro não funcionam. O uso dos nervos surais não acarreta nenhum prejuízo, com exceção de uma ligeira dormência no lado de fora do pé, que desaparecerá quase totalmente com o passar dos meses. Os nervos surais parecem com filetes de spagueti. Muitas vezes usamos vários filetes para reconstruir um único nervo. Região posterior da perna, Vários cabos de nervo sural foram indicando a localização do nervo agrupados para reconstruir um sural. Na outra foto o nervo já foi nervo de maior calibre. retirado para ser enxertado no plexo braquial.

Como um nervo é conectado ao outro? O termo técnico para designar uma emenda nervosa é coptação. Há quem também se refira ao procedimento como anastomose nervosa. Ela é feita com o auxílio de um microscópio e com fios mais finos que um fio de cabelo. Também pode ser executada com cola biológica. Que exames são importantes antes da cirurgia? Os exames pré-operatórios de rotina serão sempre solicitados como, por exemplo, o exame de sangue. Não nos referimos a este tipo de exame, mas ao exame do plexo. Só existe um exame importante: chama-se tomomielografia. Neste exame, um liquído é injetado na espinha do paciente, na região lombar, como se fosse tomar uma anestesia tipo raqui. Em seguida, procede-se a um exame radiológico da região do pescoço, para ver se o liquido injetado (contraste) extravasa em direção ao braço, o que indica que o plexo foi arrancado da medula espinhal. Em 90% dos casos, existe, pelo menos, um nervo que não foi arrancado e pode ser recuperado. Em tempo, os exames de eletromiografia e ressonância magnética não apresentam a resolutividade da tomomielografia e são considerados, por nós, menos precisos. Tomomielografia de um trauma do plexo braquial com arrancamento. Note o contraste injetado na coluna lombar sendo extravasado na região do plexo braquial

Compare o tamanho do fio com o palito de fósforo. que se faz nos casos onde o plexo foi arrancado da medula espinhal? Nesta situação utilizamos um procedimento chamado transferência nervosa. Nervos não lesionados no acidente são transferidos para suprir alguma função no braço acidentado. Podem ser utilizados nervos do outro braço, nervos da respiração, dos movimentos da língua etc. Há alguns anos em alguns pacientes temos reconectado o plexo arrancado com a medula espinhal. Algum grau de recuperação foi observado e acreditamos num futuro promissor para esta técnica. Qual é o prognóstico de recuperação das lesões do plexo braquial? Se a lesão for completa, o prognóstico é mais reservado, sobretudo na recuperação da função da mão. Se a lesão é parcial, ou seja, a sua mão funciona, mas o ombro e cotovelo não, o prognóstico é muito bom: há 98% de chance de recuperação, mesmo que parcialmente, das funções perdidas. Estamos hoje desenvolvendo um trabalho através de transplantes musculares para dar algum movimento na mão lesada e até o momento os resultados são encorajadores. Quanto tempo leva a recuperação?

A regeneração nervosa é algo extremamente lento. Dependendo do tipo de cirurgia alguns sinais de recuperação são observados no primeiro ano. Contudo, o resultado final só será alcançado quatro anos após a cirurgia. Sendo que o maior progresso ocorre por volta do segundo ano. O que se deve esperar com relação às dores? As dores tendem a desaparecer num período de dois anos. Existem medicamentos que podem ajudar. Se as dores são insuportáveis e não desaparecerem neste período, uma cirurgia na junção do plexo braquial com a medula espinhal, conhecida com drezotomia, estará indicada. Esta cirurgia elimina a dor em 70% dos casos.