Mortalidade por acidentes de motocicleta no Brasil: análise de tendência temporal,

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Transcrição:

Rev Saúde Pública ;7():9- Artigos Originais DOI:.9/S-89.77 Evandro Tostes Martins I Antonio Fernando Boing I Marco Aurélio Peres I,II Mortalidade por acidentes de motocicleta no Brasil: análise de tendência temporal, 99-9 Motorcycle accident mortality time trends in Brazil, 99-9 RESUMO OBJETIVO: Analisar a tendência da mortalidade por acidentes de motocicleta no Brasil. MÉTODOS: Estudo descritivo de séries temporais sobre a taxa de mortalidade de acidentes de motocicleta no Brasil, segundo unidades federativas e faixas etárias entre 99 e 9. Os dados de óbitos foram obtidos no Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde e da população no Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Taxas de mortalidade padronizadas foram calculadas no período para o Brasil como um todo e Unidades Federativas. Variações anuais das taxas de mortalidade foram estimadas pelo método de Prais-Winsten de regressão linear. RESULTADOS: A taxa de mortalidade por acidentes de motocicleta aumentou de, para,/. habitantes de 99 a 9 (aumento de 8% no período e 9% ao ano). Estados com maiores taxas em 9 foram: Piauí, Tocantins, Sergipe e Mato Grosso. As maiores taxas de crescimento foram observadas nos Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. CONCLUSÕES: Houve grande aumento das taxas de mortalidade por acidente de motocicleta em todo o Brasil no período, principalmente nos Estados do Nordeste. I Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Centro de Ciências da Saúde. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, Brasil DESCRITORES: Motocicletas. Acidentes de Trânsito, mortalidade. Registros de Mortalidade. Estudos de Séries Temporais. II Australian Research Centre for Population Oral Heath. The University of Adelaide. Adelaide, Australia Correspondência Correspondence: Marco Aurélio Peres Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário Trindade Departamento de Saúde Pública 88-97 Florianópolis, SC, Brasil E-mail: marco.peres@ufsc.br Recebido: // Aprovado: // Artigo disponível em português e inglês em: www.scielo.br/rsp

9 Mortalidade por acidentes de motocicleta Martins ET et al ABSTRACT OBJECTIVE: To analyze motorcycle accidents mortality trends in Brazil. METHODS: A descriptive time series study of mortality from motorcycle accidents in Brazil between 99 and 9 according to state and age group. The data on mortality were obtained from the National Mortality Information System of Ministry of Health and the population data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics. Standardized mortality rates were calculated for the entire period for the country as a whole and for each state. Annual variability in mortality rates was estimated using Prais-Winsten generalized linear correlation. RESULTS: Between 99 and 9 the mortality rate increased from. to. per. habitants (an increase of 8% in mortality rates during the period studied and an average annual increase of 9%). High mortality rates in 9 were observed in the states of Piauí, Sergipe and Mato Grosso. The largest increases were observed in states in the North, Northeast and Midwest of Brazil. CONCLUSIONS: There was a significant increase in motorcycle accident mortality rates for the country as a whole during the studied period, mainly in states in the Northeast. DESCRIPTORS: Motorcycles. Accidents, Traffic, mortality. Mortality Registries. Time Series Studies. INTRODUÇÃO Acidentes de trânsito são um dos maiores problemas de saúde pública em escala mundial. Acometem as faixas etárias mais jovens e produtivas da população, com enormes repercussões econômicas, sociais e emocionais.,a Segundo a Organização Mundial da Saúde, os acidentes de trânsito foram responsáveis por mais de, milhão de mortes e causaram lesões em a milhões de pessoas em. Os acidentes de trânsito são a a causa de morte e a 9 a causa de sequelas na população em geral e chegam a ser a maior causa de óbitos entre a população de cinco a anos. A tendência é preocupante, estimando-se que se tornem a a maior causa de mortalidade em. Os grupos mais vulneráveis são os pedestres, ciclistas e motociclistas, e mais de 9% das mortes por acidentes de trânsito ocorrem em países de baixo ou médio índice de desenvolvimento, que totalizam 8% da frota de veículos e ⅔ da população mundial. 9 O Brasil é um dos países com maiores índices de acidentes de trânsito.,a Nesta primeira década do século XXI, o País vivenciou um período de desenvolvimento econômico com a estabilização da economia, maior oferta de crédito e aumento da renda per capita, o que propiciou grande crescimento da frota de veículos, b,c em especial a de motocicletas. d A crescente dificuldade de mobilidade urbana e rural, aliada à baixa cobertura e qualidade do transporte de massas no País, torna a motocicleta um ágil meio de transporte. Além disso, possui menor custo para aquisição e manutenção em comparação aos carros e crescente utilização nas atividades laborais.,,,7,- A frota brasileira de motocicletas passou de aproximadamente.8. em 998 para.. em, aumento de 9% que a fez saltar de,% da frota total de veículos para,%. A frota geral de veículos aumentou % no mesmo período, passando de aproximadamente.. para... d Apesar da relevância epidemiológica do problema e da disponibilidade de dados em fontes oficiais de informação, não há estudos que analisaram a evolução das mortes por acidente de motocicletas no Brasil. a Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Departamento Nacional de Trânsito. Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras: relatório executivo. Brasília (DF): IPEA; DENATRAN;. b Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação em Saúde. Mortalidade por acidentes de transporte terrestre no Brasil. Brasília (DF); 7. (Série G. Estatística e Informação em Saúde). c Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Mobilidade urbana e posse de veículos: análise da PNAD 9. Brasília (DF);. (Comunicados do IPEA, 7). d Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares. Dados do setor de motocicletas no ano de. São Paulo; [citado out ]. Disponível em: http://abraciclo.com.br

Rev Saúde Pública ;7():9-9 Tabela. Taxa de mortalidade por acidentes de motocicletas por. habitantes padronizada pela população brasileira do ano. Brasil e unidades federativas, 99 a 9. UF Ano do óbito Rondônia,,8,,8,,,9,8,, 7,, 7, 7, Acre,,,,,,9,,,,,7,7,8 Amazonas,,8,,7,,,8,8,,,8,8 Roraima,,,7 9,,7,,, 9, 8,,,7,8 Pará,,,7,,,,,,,,7,8,8 Amapá,,,,,,,,,,8,,8 Tocantins,,,7,8,,7,7 8, 9, 8,,,8 Maranhão,,,,,9,,8,,,,9,9,, Piauí,,,,9,,,8,8, 7, 8, 9,,, Ceará,,8,,,,,7,,7, 7,7 7,,9, Rio Grande do Norte,9,,,8,9,,9,,,,,,8,9 Paraíba,,,,7,8,,,,9,,,8, Pernambuco,,8,9,7,,9,,,,7,,,, Alagoas,,,8,7,,,,,7,,9,,, Sergipe,,,,,8,,,7,,,9 8, 9,, Bahia,,,,,7,7,,,,,9,,, Minas Gerais,,,,,8,9,,,8,,,,8, Espírito Santo,,,,,,,,,7,8, 8, 9, 7, Rio de Janeiro,,,,,8,,,9,,8,,,, São Paulo,,,,,,,8,,,9,,,, Paraná,,,,7,,,,,9,,8 7, 7,,8 Santa Catarina,,,,,,9,,, 7, 8,9 8,9 8,9 8, Rio Grande do Sul,,,,,,,,7,,,7,9,9, Mato Grosso do Sul,,,,,,,,, 7, 7,8 8, 9, 8, Mato Grosso,,,,,,7,,, 7,9 8,,,7,7 Goiás,7,,,,,,,7,,,7 7, 8,, Distrito Federal,,,,,,,7,,,,,8,, Brasil,,,,,,,,,8,,8,,, O objetivo do presente estudo foi analisar a tendência de mortalidade por acidentes de motocicleta no Brasil. MÉTODOS Estudo descritivo de séries temporais sobre a taxa de mortalidade de acidentes de motocicleta no Brasil segundo unidades federativas e faixas etárias entre 99 e 9. A partir de 99, o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) passou a registrar os óbitos de acordo com a décima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-). Para este estudo optou-se por 99 como período inicial de análise em função dessa citada alteração no registro dos dados. Os dados de mortalidade foram obtidos no SIM. e Consideraram-se óbitos por acidente de motocicleta aqueles que ocorreram com o condutor e/ou passageiro (códigos do CID- de V-V9 da CID-). Dados sobre a população foram disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). f Para permitir adequada análise e comparação entre unidades federativas e anos, as taxas de mortalidade total por acidentes, envolvendo motocicletas por. habitantes, foram padronizadas pelo método direto, considerando padrão a população brasileira do ano. As taxas de mortalidade bruta foram avaliadas em relação às faixas etárias: zero a 9 anos (correspondendo a crianças e adolescentes), a 9 anos (adultos) e anos (idosos). Foi construído um banco de dados no programa Stata 9., no qual foram realizadas as análises. Na análise de tendência relativa à série temporal de 99 a 9, foram utilizados modelos de regressão linear de Prais- Winsten para quantificar as variações anuais das taxas de mortalidade com os respectivos intervalos de confiança de 9%. As taxas foram consideradas estáveis quando e Ministério da Saúde. DATASUS. Informações de Saúde [base de dados na Internet]. Brasília (DF): 9 [citado jun 7]. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/datasus/index.php f Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População estimada por idade: revisão 9. Rio de Janeiro; 9.

9 Mortalidade por acidentes de motocicleta Martins ET et al AC AM RR PA AP TO,,,,, MA PI CE RN PB PE AL SE BA,,,, MS MT GO DF

Rev Saúde Pública ;7():9-9,,,, 99 997 998 999 7 8 9 MG ES RJ SP PR SC RS RO: Rondônia; AC: Acre; AM: Amazonas; RR: Roraima; PA: Pará; AP: Amapá; TO: Tocantins; MA: Maranhão; PI: Piauí; CE: Ceará; RN: Rio Grande do Norte; PB: Paraíba; PE: Pernambuco; AL: Alagoas; SE: Sergipe; BA: Bahia; MG: Minas Gerais; ES: Espírito Santo; RJ: Rio de Janeiro; SP: São Paulo; PR: Paraná; SC: Santa Catarina; RS: Rio Grande do Sul; MS: Mato Grosso do Sul; MT: Mato Grosso; GO: Goiás; DF: Distrito Federal Figura. Série histórica das taxas de mortalidade por acidente de motocicleta (. habitantes) na população até 9 anos de idade, das regiões brasileiras, 99 a 9. o coeficiente de regressão não foi significativamente diferente de zero (p >,), ascendentes quando o coeficiente foi positivo e descendente quando o coeficiente foi negativo. RESULTADOS A taxa de mortalidade por acidente de motocicletas no Brasil aumentou 8%, variando de, para,/. habitantes entre 99 e 9, um incremento médio anual de 9%. Santa Catarina teve altas taxas de mortalidade (8,) na região Sul, apesar de crescimento baixo (,%) em relação ao observado nos Estados do Nordeste. Por outro lado, apresentou uma das maiores taxas de mortalidade (,), entre zero e 9 anos (Tabelas e e Figuras e ). O Estado do Rio Grande do Sul (,) apresentou a taxa mais baixa da região Sul. Amazonas (,8), Amapá (,8), Acre (,8) e Rio de Janeiro (,) apresentaram as menores taxas de mortalidade. Sergipe (9,), Mato Grosso (9,), Piauí

9 Mortalidade por acidentes de motocicleta Martins ET et al RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MS MT GO DF

Rev Saúde Pública ;7():9-97 8 MG ES RJ SP 8 PR SC RS RO: Rondônia; AC: Acre; AM: Amazonas; RR: Roraima; PA: Pará; AP: Amapá; TO: Tocantins; MA: Maranhão; PI: Piauí; CE: Ceará; RN: Rio Grande do Norte; PB: Paraíba; PE: Pernambuco; AL: Alagoas; SE: Sergipe; BA: Bahia; MG: Minas Gerais; ES: Espírito Santo; RJ: Rio de Janeiro; SP: São Paulo; PR: Paraná; SC: Santa Catarina; RS: Rio Grande do Sul; MS: Mato Grosso do Sul; MT: Mato Grosso; GO: Goiás; DF: Distrito Federal Figura. Série histórica das taxas de mortalidade por acidente de motocicleta (. habitantes) na população entre e 9 anos de idade, das regiões brasileiras, 99 e 9. (8,8), Tocantins (7,) e Mato Grosso do Sul (,) destacaram-se na mortalidade entre adultos e idosos (Figuras e ). DISCUSSÃO Houve expressivo aumento da mortalidade por acidente de motocicleta no Brasil entre 99 e 9. Esse período caracterizou-se por milhões de pessoas saindo da faixa da pobreza, ascendendo social e economicamente, e adquirindo seu primeiro veículo, muitas vezes uma motocicleta. Esse quadro ocorreu com maior expressão nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. 9,,a,b,c O crescimento da frota de veículos automotores é um fenômeno mundial, assim como o aumento da frota de motocicletas.a As taxas de mortalidade por acidente de motocicleta aumentam mundialmente, em especial nos países de baixa e média renda. 9, Mesmo nos países de alta renda, como os Estados Unidos, as taxas de mortalidade aumentaram,% entre e 8, passando de, para,7/. habitantes.,,g g National Research Council, National Highway Traffic Safety Administration. Countermeasures that work: a highway safety countermeasures guide for state highway safety offices..ed. Washington (DC): NHTSA;.

98 Mortalidade por acidentes de motocicleta Martins ET et al RO AC AM RR PA TO 8 MA PI CE RN PB PE AL SE BA 8 MS MT GO DF

Rev Saúde Pública ;7():9-99,,,, MG ES RJ SP,,, PR SC RS RO: Rondônia; AC: Acre; AM: Amazonas; RR: Roraima; PA: Pará; AP: Amapá; TO: Tocantins; MA: Maranhão; PI: Piauí; CE: Ceará; RN: Rio Grande do Norte; PB: Paraíba; PE: Pernambuco; AL: Alagoas; SE: Sergipe; BA: Bahia; MG: Minas Gerais; ES: Espírito Santo; RJ: Rio de Janeiro; SP: São Paulo; PR: Paraná; SC: Santa Catarina; RS: Rio Grande do Sul; MS: Mato Grosso do Sul; MT: Mato Grosso; GO: Goiás; DF: Distrito Federal Figura. Série histórica das taxas de mortalidade por acidente de motocicleta (. habitantes) na população de anos e mais de idade das regiões brasileiras, 99 a 9. A posse de veículos e motocicletas diverge entre os estados, variando de até 7,% das residências, como em Santa Catarina, a,%, em Alagoas. c Estados que possuem sistemas de transporte público mais amplo como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, nos quais há utilização de transporte de massa com o uso de ônibus, trens e metrô por camada importante da população apresentaram menores taxas de mortalidade. Este estudo mostrou o crescente problema de saúde pública dos acidentes e da mortalidade por acidente de motocicleta. Com a ampliação rápida da frota, há aumento expressivo das taxas de mortalidade em todas as regiões e estados, sobretudo no Norte, Nordeste, e Centro-Oeste do País. Esse aumento acompanha o crescimento da frota de veículos e a proporção da população que saiu da faixa da pobreza, embora o presente estudo não permita inferir sobre relações causais. c O crescimento das taxas de mortalidade na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste pode estar relacionado ao desenvolvimento econômico, proporcionado pelo aparecimento de novas fronteiras agrícolas e de

9 Mortalidade por acidentes de motocicleta Martins ET et al Tabela. Tendência de mortalidade por acidentes de motocicletas. Brasil e unidades da federação, 99 a 9. Variação UF média IC9% Conclusão anual (%) Rondônia,8,;8,97 Aumento Acre -,9 -,;, Estável Amazonas,9,;, Aumento Roraima -, -,8;, Diminuição Pará,9,8;, Aumento Amapá,,;, Aumento Tocantins,97 9,9;,9 Aumento Maranhão, 9,88;, Aumento Piauí,,;8, Aumento Ceará,87,;8, Aumento Rio Grande do,9 9,;8,9 Aumento Norte Paraíba,9,;9,77 Aumento Pernambuco 8,7,;,89 Aumento Alagoas,,7;, Aumento Sergipe 8,,88;8, Aumento Bahia 7,8,;, Aumento Minas Gerais,7 7,;, Aumento Espírito Santo 9,77 9,9;, Aumento Rio de Janeiro,77,7;,9 Aumento São Paulo,,;8, Aumento Paraná,,8;, Aumento Santa Catarina,8 7,8;, Aumento Rio Grande do,,;7,8 Aumento Sul Mato Grosso 9, 9,8;,9 Aumento do Sul Mato Grosso,9,;, Aumento Goiás,8,;,7 Aumento Distrito Federal 9, 9,;9,9 Aumento Total 9,,8;, Aumento agronegócio no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Além disso, pode decorrer do desenvolvimento das atividades econômicas ligadas ao petróleo e à mineração no Espírito Santo e Sergipe. Na última década, houve um ciclo importante de desenvolvimento econômico e melhora na distribuição de renda no Brasil, que proporcionou o acesso a bens duráveis a uma parcela considerável da população, inclusive à aquisição de motocicletas, motonetas e automotores. O número de vítimas por acidente de motocicleta suplantou as vítimas por acidente automobilístico em 7 e ultrapassou o de pedestres em 9, o que deve se manter nos próximos anos. A motocicleta é um dos meios de transporte mais perigosos. É necessária a intensificação das medidas de prevenção no qual o poder público tem papel principal.,,g A deficiência de infraestrutura viária, a dificuldade de fiscalização quanto à habilitação, ao uso de equipamentos de proteção como capacetes, o consumo de bebidas alcoólicas por motociclistas e a deficiência de atendimento médico-hospitalar nessas regiões podem contribuir para essas altas taxas de mortalidade e precisam ser enfrentadas pelo setor público. Houve queda nas taxas no Sudeste após 8, hipoteticamente decorrente da fiscalização mais rigorosa da Lei Seca em relação às outras regiões.,h A variação na qualidade de registro do SIM pode ter influenciado os resultados observados. Os dados são mais bem registrados nas regiões Sul e Sudeste do País e houve redução substancial na quantidade de óbitos classificados como causas mal definidas e de intenção indeterminada no conjunto das causas externas durante o período. 8 Espera-se, com essa melhoria na qualidade da informação ao longo dos anos, acréscimo de óbitos classificados nos diferentes capítulos da CID-, inclusive quanto aos acidentes de motocicleta, o que pode implicar aumento artificial das taxas de mortalidade. No entanto, o acréscimo foi de tamanha magnitude que não pode ser explicada apenas por esse motivo. Este trabalho ressalta a importância do uso do SIM no monitoramento das taxas de mortalidade por causas externas nas diversas regiões e estados do Brasil, com confiabilidade crescente para fins científicos e de políticas de saúde. Seu uso contínuo e intenso levará a uma qualificação ainda maior de seus registros. O presente estudo mostrou o grande aumento das taxas de mortalidade por acidente de motocicleta no Brasil, principalmente nos estados do Nordeste. Os resultados sugerem que o poder público não tem assumido satisfatoriamente a responsabilidade que lhe cabe no controle e redução dos acidentes e da mortalidade por acidentes de trânsito, sobretudo daqueles envolvendo motocicletas. A necessidade de prevenir lesões e mortes por acidente de motocicleta é crescente e importante problema de saúde pública no Brasil. h Brasil. Lei n o.7. de 9 de junho de 8. Altera a Lei n o 9., de de setembro de 997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro, e a Lei n o 9.9, de de julho de 99, que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do º do art. da Constituição Federal, para inibir o consumo de bebida alcoólica por condutor de veículo automotor, e dá outras providências. Brasília (DF); 8 [citado out ]. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_/_ato7-/8/lei/l7.htm

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