Financiamento de automóveis: Investimento ou gasto dispendioso? * Com a queda da taxa básica de juros, a economia brasileira observa uma aceleração do crédito como nunca antes vista. Os juros em baixa e o acesso ao crédito facilitado proporcionaram a população consumir mais. E um dos setores que mais se beneficiaram com este crescimento foi o automobilístico. Atualmente no mercado é possível encontrar os mais diversos tipos de financiamentos, formas de pagamento e prazos para aquisição de veículos, sejam estes novos ou usados. É possível realizar financiamentos com ou sem entrada, comprar à vista ou mesmo usar seu antigo automóvel como parte do pagamento, e com prazos que vão de 6 a 72 meses. As operações de crédito mais utilizadas pelas concessionárias (intermediadas por bancos ou financeiras) são o CDC e o leasing. O CDC, Crédito Direto ao Consumidor, é um tipo de financiamento onde o bem adquirido - neste caso um automóvel, fica como garantia da operação, até o pagamento total da dívida. Os recursos financeiros utilizados para as operações de CDC (chamado funding), são captados junto aos CDBs da carteira comercial e aos CDIs do mercado interbancário. Além disso, nestas operações há a incidência de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras - em torno de 1,5%) e prazos que em média variam de 18 e 60 meses. Na simulação de financiamento abaixo, foi utilizado como exemplo um veículo Gol, ano 2.008, no valor de R$ 24.500,00, a venda no site www.icarro.com.br, que pertence ao Banco Itaú. O cálculo de suas prestações foi realizado pelo sistema de simulação do Banco Itaú, onde foi exigida uma entrada mínima de 20% do valor do veículo: 1
No próximo quadro, é possível visualizar que o valor financiado (no caso de um financiamento com prazo de 48 meses) é diferente do valor inicialmente contratado, pois há incidência da cobrança de taxas e tarifas. O mesmo acontece com a taxa de juros da operação (Custo Efetivo Total): Outra operação de crédito comumente usada pelas concessionárias e revendas é o leasing. Também chamado de arrendamento mercantil, o leasing é uma operação de financiamento sob a forma de contrato de aluguel, com a opção de compra do bem ao final do contrato. Os recursos para as operações de leasing são captados junto a debêntures de emissão pública, notas promissórias e CDIs. Ele possui taxas menores que os financiamentos comuns, pois o veículo arrendado é de propriedade da empresa arrendadora até o termino do contrato. Outra diferença em relação ao CDCs, é que no leasing não há incidência de IOF, e em todas as operações, 100% do valor do veículo é financiado. Abaixo seque exemplo de aquisição de um automóvel através de um contrato de leasing, onde foram usados os mesmos dados da simulação de financiamento via Crédito Direto ao Consumidor: 2
Como nas operações de leasing 100% do bem é financiado. A entrada usada nesta simulação é o pagamento do Valor Residual Garantido (VRG), que funciona como pagamento do valor. Em geral esse pagamento ocorre no final dos contratos, quando o arrendatário opta pela compra do bem: Dada a facilidade no crédito e o crescente interesse da população em adquirir automóveis através de financiamentos, muitas concessionárias e revendas não oferecem descontos aos clientes que optam pelo pagamento à vista. Mas este em geral, quando é possível, circula por volta de 3% e 5% do valor do veículo. Analisando as simulações acima, é possível observar que, ao final dos prazos contratados, o valor financiado para compra do veículo aumenta de forma considerável. No caso de um financiamento via CDC, após 48 meses o montante acumulado pelo pagamento das prestações será de R$ 34.516,32. Este valor é aproximadamente 76% maior, do que o valor contratado no empréstimo. Na operação de leasing, o valor acumulado é um pouco menor: R$ 32.835,84. Apesar de menor, em comparação ao montante auferido pelo empréstimo via CDC, seu valor é cerca de 67% maior do que contratado no arrendamento. Por essas simulações, é possível observar que os juros utilizados nas operações são uma compensação exigida pelo investidor/emprestador, ao transferir a outro, o usufruto de seu capital por um determinado tempo. Partindo do princípio que todo capital investido/emprestado é remunerado, fazer uma aplicação e pelo seu resgate (após um determinado período), torna-se uma opção interessante na hora de adquirir um automóvel. Podemos citar dois exemplos de aplicações normalmente oferecidas pelas instituições financeiras: poupança e o CDB (Certificado de Depósito Bancário). Ambas oferecem baixa rentabilidade aos seus investidores, porém este retorno é garantido devido ao seu baixo risco. Segue abaixo um exemplo de aplicação em poupança, tomando por base os valores utilizados e apresentados, na simulação de financiamento via CDC: 3
Suponha que, ao invés de realizar um financiamento, você tenha decido utilizar seu valor de entrada (R$ 4.900,00) e parcelas (R$ 719,09) em uma aplicação de caderneta de poupança, que tem rendimento aproximado de 0,55% ao mês. Aporte inicial R$ 4.900,00 Aporte mensal R$ 719,09 Rentabilidade mensal 0,55% Mês Juros Acumula do 1 0,00 4.900,00 2 26,95 5.646,04 3 31,05 6.396,18 4 35,18 7.150,45 5 39,33 7.908,87 6 43,50 8.671,46 7 47,69 9.438,24 8 51,91 10.209,24 9 56,15 10.984,48 10 60,41 11.763,99 11 64,70 12.547,78 12 69,01 13.335,88 13 73,35 14.128,32 14 77,71 14.925,12 15 82,09 15.726,29 16 86,49 16.531,88 17 90,93 17.341,89 18 95,38 18.156,36 19 99,86 18.975,31 20 104,36 19.798,77 21 108,89 20.626,75 22 113,45 21.459,29 23 118,03 22.296,40 24 122,63 23.138,12 25 127,26 23.984,47 26 131,91 24.835,48 Pelo exemplo acima, em 26 meses de aplicação, o montante será de R$ 24.835,48. Com este valor, será possível comprar o à vista (desconsiderando a possibilidade de desconto) e ainda sobrará R$ 335,48. Caso permaneça com o capital aplicado e continuar com os depósitos mensais, em 48 meses (prazo usado na simulação de empréstimo), seu montante será de R$ 45.754,05. Optando por uma aplicação em CDB, levar-se-ia também 26 meses para se conseguir o valor total para a compra do carro. Atualmente, o rendimento médio do CDB está equivalente ao rendimento da poupança: 4
Aporte inicial R$ 4.900,00 Aporte mensal R$ 719,09 Rentabilidade mensal 0,50% Mês Juros Acumula do 1 0,00 4.900,00 2 24,50 5.643,59 3 28,22 6.390,90 4 31,95 7.141,94 5 35,71 7.896,74 6 39,48 8.655,32 7 43,28 9.417,68 8 47,09 10.183,86 9 50,92 10.953,87 10 54,77 11.727,73 11 58,64 12.505,46 12 62,53 13.287,08 13 66,44 14.072,60 14 70,36 14.862,05 15 74,31 15.655,45 16 78,28 16.452,82 17 82,26 17.254,18 18 86,27 18.059,54 19 90,30 18.868,92 20 94,34 19.682,36 21 98,41 20.499,86 22 102,50 21.321,45 23 106,61 22.147,15 24 110,74 22.976,97 25 114,88 23.810,95 26 119,05 24.649,09 Há um grupo da população que por falta de cultura financeira ou falta de conhecimento, opta por adquirir um veículo em longas prestações, sem se preocupar ou se questionar sobre a diferença do que seria pago a vista e a prazo. Levando apenas em consideração o valor de sua parcela, e se esta cabe dentro de seu orçamento. Para estas pessoas, ter o veículo agora e não daqui a 48 ou 72 meses, é mais importante do que refletir acerca dos problemas vindouros de um financiamento com os juros tão altos e por tanto tempo. Para outro grupo de pessoas, que se comprometem com uma aplicação e são capazes de aguardar por 26 meses, não comprar agora significa economizar depois. 5
Porém, a possibilidade dos dois grupos poderem adquirir o veículo, já é - de certa forma - uma conquista da atual situação financeira em que vivemos. O ideal é que pudéssemos guardar o dinheiro para economizar, mas, nem todos conseguem ter uma visão mais racional do que por impulsão ter o tão sonhado carro na concessionária mais próxima de casa. Dessa forma, não havendo outra opção além do financiamento, o ideal é eliminar ao máximo seus pontos negativos, seja através de uma boa entrada ou mesmo (quando possível) antecipação de parcelas. Referências bibliográficas NAVARRO, Conrado. Carro: sonho ou pesadelo? Você decide! Site Dinheirama, 31 de maio de 2007. Disponível em:<http://dinheirama.com/blog/2007/05/31/carro-sonho-ou-pesadelovoce-decide/>. Acesso em 5 de dezembro 2009. SALLES, Ygor. Confira os principais tipos de investimento e saiba como aplicar. Folha OnLine, Seção Dinheiro, 18 de janeiro de 2008. Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u364895.shtml>. Acesso em 5 de dezembro 2009. Tabela de Rentabilidade de CDB. Banco do Brasil, site institucional. Disponível em: <http://www.bb.com.br/portalbb/page100,116,2654,1,1,1,1.bb? codigonoticia=5242&codigomenu=1092&codigoret=5491&bread=7_3>. Acesso em 07 de dezembro de 2009. Simule um Financiamento. Banco Itaú, site institucional. Disponível em <http://www.itau.com.br/credito/>. Acesso em 06 de dezembro de 2009. FORDELONE, Yolanda. CDB perde espaço para poupança. AE Investimentos, Seção Especiais, 20 de julho de 2009. Disponível em:<http://aeinvestimentos.limao.com.br/especiais/esp31550.shtm>. Acesso em 7 de dezembro 2009. FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro - Produtos e Serviços. 17ª ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008. *Atividade desenvolvida em curso de pós-graduação em Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. 6