FRANKENSTEIN Introdução ao tema Em toda a história da literatura, poucos livros conseguiram abordar tantos assuntos polêmicos e universais como a obra-prima de Mary Shelley. A partir da criatura gerada por Victor Frankenstein, a autora discute o preconceito, o anseio por imortalidade, o poder da aparência nas relações humanas e a ética na ciência. Apesar de ter sido escrito entre 1816 e 1817, Frankenstein nunca deixou de ser atual. E continua provocando medo em crianças e adultos de todo o mundo. A adaptadora Laura Bacellar nasceu em São Paulo e trabalha com livros desde 1983. É autora de Escreva seu livro: guia prático de edição e publicação, pela Editora Mercuryo, com dicas para ajudar autores iniciantes. Sempre gostou muito de histórias de aventura e adaptou, também para a série Reencontro infantil, Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, e Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, de Thomas Mallory, e ainda Drácula, de Bram Stoker, para a série Reencontro literatura. A autora Filha de Mary Wollstonecraft e do filósofo William Godwin, Mary Shelley nasceu em 1797, na Inglaterra. Seu pai, sempre contrário às injustiças sociais que via acontecer nas novas fábricas, atraía os jovens que estudavam em Oxford com idéias revolucionárias. A autora cresceu rodeada de poetas como Keats, Byron, Coleridge e Wordsworth. Aos 16 anos, começou a namorar o também poeta Percy Shelley, com quem se
casou em 1816. Escreveu muito ao longo da vida, mas Frankenstein, publicado quando tinha apenas 19 anos, foi sua obra de maior sucesso. Segundo a própria Mary Shelley, a história nasceu durante as férias com o marido na Suíça, em 1818, quando alugaram um chalé vizinho ao do poeta lorde Byron. Nas noites de chuva, os três se reuniam em frente ao fogo para inventar narrativas que dessem medo. Ela contou a saga do monstro criado por Victor Frankenstein, conseguindo causar arrepios no marido, no amigo e em milhares de pessoas desde então. O contexto Ao longo do século XIX, a Inglaterra conquistou avanços substanciais no que diz respeito à ciência e à tecnologia. Nesse momento, ocorria a Revolução Industrial e, apesar dos progressos trazidos por ela, a sociedade da época não foi capaz de resolver os problemas decorrentes da urbanização. As fábricas não absorviam toda a mão-de-obra disponível, e o resultado disso foi uma crise social que gerou desemprego, fome, prostituição e disseminação de epidemias. O controle do corpo humano pela ciência passou, então, a habitar o imaginário da época. E, apesar de todos os benefícios da tecnologia, os limites éticos desses avanços começaram a ser questionados. Na literatura, o Romantismo respondia às angústias decorrentes desse processo. As obras abordavam temas como a morte, exploravam ambientes assustadores e criavam monstros que simbolizavam os medos e os conflitos do momento. O ser criado em laboratório por Victor Frankenstein é o reflexo dessas tensões, e o terror gótico de Mary Shelley fez dele um dos mais significativos personagens da literatura.
A obra Após dar vida a uma criatura feita de pedaços humanos, o estudante de ciências naturais Victor Frankenstein se apavora e foge. Quando volta ao laboratório, percebe que o ser não está mais ali. Alguns meses se passam e, finalmente, criador e criatura se encontram. Sozinho e rejeitado por todos, o monstro pede uma companheira a Frankenstein. Mas o cientista, com medo de criar uma nova raça destruidora e invencível, nega o pedido. A partir daí, a criatura passa a alimentar um sentimento de ódio pelo cientista e inicia uma sanguinária vingança, assassinando seus entes queridos. A criação de Frankenstein lhe custou muito caro. Ao buscar a fórmula da vida, o jovem estudante não pensou nas conseqüências de tal descoberta e passou o resto de seus dias atormentado pela culpa. Por essa razão, Mary Shelley o chamou de O moderno Prometeu, remetendo o leitor a um dos mais importantes mitos da Grécia antiga. Sugestões de atividades As seqüências didáticas sugeridas podem ser reformuladas de acordo com os objetivos pedagógicos visados e as competências que serão desenvolvidas pelos alunos. É fundamental que as atividades realizadas estejam vinculadas às metas do currículo escolar organizado pela instituição de ensino. Cada uma das propostas de trabalho apresentadas possui objetivos didáticos específicos, mas todas pretendem envolver os jovens leitores em novas relações com o universo da literatura. 1. A estrutura da narrativa As narrativas em primeira pessoa freqüentemente envolvem o leitor, tornando-o íntimo do universo psicológico do narrador. Sem dúvida, o angustiante relato do
doutor Frankenstein nos aproxima de seu sofrimento. Analisar com os alunos como as características desse tipo de narrativa os ajudará a desenvolver um olhar crítico em relação à função do narrador. Um olhar para o narrador Objetivo didático: Sensibilizar os alunos em relação às características da narrativa escrita em primeira pessoa. 1ª Etapa: Questionar os alunos sobre o tipo de narrador da história. Propor uma reflexão sobre as características dessa narração e as sensações provocadas pela leitura da história. Discutir com os alunos a escolha dessa estrutura narrativa numa obra de terror e mistério. 2ª Etapa: Propor aos alunos a elaboração de uma redação escrita em primeira pessoa. 2. Os lugares da história Frankenstein se passa em diferentes lugares. O conhecimento da localização dos países e das regiões citadas na história estimulará ainda mais o imaginário dos jovens leitores. Viajando pela Europa Objetivo didático: Identificar os lugares citados na história e colher imagens desses locais.
1ª Etapa: Cada dupla de alunos se responsabilizará por reler dois capítulos do livro com o objetivo de registrar os nomes de lugares ou regiões que aparecem na história. 2ª Etapa: Depois de compartilhar coletivamente os nomes citados em Frankenstein, organizar uma pesquisa sobre tais lugares. Para enriquecer o trabalho, seria interessante procurar imagens das localidades. 3ª Etapa: Organizar cartazes com as imagens dos lugares que aparecem na história. Redigir legendas que identifiquem a localização desses locais e descrevam as eventuais passagens do livro em que o lugar é citado. 3. Enxergando preconceitos Discriminar pessoas por causa da aparência é, infelizmente, um comportamento ainda presente no dia-a-dia de todos nós. Comportamentos preconceituosos interferem nas relações das pessoas causando sofrimento e ódio. Um olhar cuidadoso sobre essa questão pode ajudar os alunos a tomar em consciência da ligação entre preconceito e violência. Quem vê cara não vê coração Objetivo didático: Refletir sobre a ligação entre discriminação e violência. 1ª Etapa: Propor uma discussão com os alunos sobre a razão do comportamento violento do ser criado por Frankenstein. Por que todos rejeitavam a criatura? Qual o sentimento que essas rejeições causaram no personagem? Como ele passou a se comportar diante do péssimo tratamento dos seres humanos?
2ª Etapa: Debater com a classe o peso das aparências no cotidiano dos alunos, recolhendo e analisando suas histórias. De que forma a aparência de uma pessoa influencia no seu vínculo com os outros? Como se sente ou deve se sentir quem é discriminado por causa da aparência? O que podemos fazer para não adotar comportamentos preconceituosos em relação aos outros? 4. A criação da vida O sonho de Victor Frankenstein era descobrir o segredo da vida. Esse sonho, um tanto quanto perigoso, esteve sempre presente na história da humanidade. Então, por que não descobrir o segredo da vida no interior do processo de criação literária? Dando vida a um personagem Objetivo didático: Criação de um personagem inédito. 1ª Etapa: Propor aos alunos a construção de um personagem a partir de recortes de jornais ou revistas. Quem preferir pode fazer um desenho ou construir um boneco. 2ª Etapa: Escrever um texto descrevendo o perfil desse personagem (de onde vem, como se sente, como se comporta, do que gosta etc.). 3ª Etapa: Após a caracterização dos personagens, os alunos podem se reunir em duplas e criar uma história com os seres que inventaram.