GUILDAS ALIMENTARES DE AVES EM UMA FLORESTA DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO

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Transcrição:

GUILDAS ALIMENTARES DE AVES EM UMA FLORESTA DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO TONINI, Marcelo ¹, CUCHI, GIL, 1 Pesquisador Orientador, encarregado do Desenvolvimento Ambiental Sguario Florestal. 2 Estagiárias Sguario florestal 3 Curso de Engenharia Florestal, Faculdade de Ciências Sociais de Itapeva São Paulo. FAIT RESUMO: Uma área de transição de cerrado e floresta ombrófila mista, foram comparadas quanto à composição de guildas alimentares para testar a influência da complexidade ambiental sobre a riqueza de espécies de aves. O número de espécies dos dois ambientes foi pequeno comparado com outros estudos realizados em áreas maiores. Não houve diferença significativa na composição das guildas alimentares nos dois ambientes. Foi observado um predomínio de espécies insetívoras em detrimento das frugívoras, indicando degradação ambiental nos dois ambientes. Palavras-chave: avifauna, cerrado, floresta ombrófila, guilda alimentar. SUMMARY: A transition area of savannah and rainforest mixed, were compared regarding the composition of feeding guilds to test the influence of environmental complexity on species richness of birds. The number of species of the two environments was small compared to other studies in larger areas. No significant differences in the composition of feeding guilds in both environments. A prevalence of insectivorous species at the expense of frugivorous, indicating environmental degradation in both environments. Keywords: birds, savanna, rain forest, feeding guild.

1. INTRODUÇÃO A crescente redução da cobertura florestal, acrescida da fragmentação dos habitats, da intensa manipulação do meio tem contribuído para o desenvolvimento de um ecossistema com características próprias (Gilbert 1989, Marzluff & Ewing 2001). Essas alterações não permitem o retorno da cobertura vegetal original e mudam drasticamente a composição das comu d d s m s v g t s (D A g o N to t 1998 z uff & Ew g 2001) O fragmento está cercados por estruturas diferentes, que altera as características microclimáticas e bióticas ao longo de suas bordas e funciona como uma barreira à dispersão de certos organismos. Espécies que toleram ou utilizam a matriz são capazes de persistirem em fragmentos muito pequenos, provavelmente por serem hábeis em se mover entre os mesmos e por explorarem uma gama maior de hábitats (Gascon et al. 1999, Lens et al. 2002, Sekercioglu et al. 2002, Swihart et al. 2003). Para as comunidades de aves brasileiras já se dispõe de um bom conjunto de dados que permite concluir que há uma relação positiva entre o número de espécies de um fragmento e sua área quando se comparam fragmentos de áreas diferentes numa mesma região geográfica, que a comunidade original é simplificada com a perda de várias espécies genuinamente florestais e que espécies de dieta mais especializada, ex. frugívoras e insetívoras de grande porte, declinam ou desaparecem, enquanto espécies mais generalistas (p. ex., onívoras) aumentam em riqueza e abundância (Willis 1979, Aleixo 2001, Anjos 2001a e b e 2004, Marsden et al. 2001, Laurance et al. 2002, Ribon et al. 2003). A avifauna tem sido usada com bastante freqüência nos estudos e análises da qualidade dos ambientes, bem como na evolução de comunidades bióticas (Morrison, 1986; Willis, 1979; Almeida, 1988; Aleixo e Vielliard, 1995; Machado, 1997; Alegrini, 1997; Almeida, 1997). As aves silvestres são reconhecidas como as melhores bio-indicadoras dos ecossistemas terrestres, principalmente os florestais. As espécies da avifauna ocupam muitos nichos ecológicos e tróficos das florestas, distribuindo-se desde o piso até as copas das árvores.

A grande maioria das espécies da avifauna tem hábitos diurnos, apresentam plumagem colorida, tamanhos e formas variadas, podendo ser facilmente observadas com binóculo, além de suas vocalizações específicas que auxiliam muito nas identificações. Parâmetros tais como guildas, espécies de borda, bandos mistos, migrantes, espécies raras ou ameaçadas e espécies de interior da mata com pequena capacidade de dispersão, são informações valiosas ao monitoramento e manejo da fauna e de seus habitats. Guilda é definida como um grupo de espécies que explora o mesmo tipo de recurso natural. As espécies são agrupadas quando há significativa sobreposição de nichos, sem levar em conta a posição taxonômica das mesmas (Root, 1967). As melhores guildas utilizadas nos monitoramentos, mesmo quando quem obtém os dados de campo não dispõe de muitos conhecimentos ornitológicos, são aquelas cujas espécies podem ser facilmente identificadas, pelo menos em nível de gênero. Destacam-se as espécies de aves de grande porte, as notáveis pelas vocalizações, e ao mesmo tempo exigentes em recursos alimentares ou locais de reprodução. 2. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado em um fragmento florestal localizado em área de transição de Mata Atlântica Ombrófila Mista com cerrado em uma área de cânions localizado no município de Nova Campina, no Estado do São Paulo, Brasil, entre as coordenadas geográficas 24 10 31 28 e latitude sul e 48 29 56 de longitude oeste. Segundo a classificação climática de Köeppen, podem-se identificar na região onde está inserida como Cfa - Caracterizado por verão quente, sem estação seca de inverno, a temperatura média do mês mais frio está entre 18 C e -3 C mesotérmico. A vegetação original da região de estudo era formada pela Floresta Ombrófila Mista. Porém, estas áreas de vegetação natural foram substituídas, nas últimas décadas, principalmente por algumas pastagens e lavouras ou cultivo de Pinus e Eucaliptos. Os desmatamentos sistemáticos reduziram drasticamente as grandes áreas florestais, representadas hoje por fragmentos florestais em diferentes estágios de sucessão secundária (Simon et al., 2007). O estudo contemplou uma análise de fragmento florestal em estágio inicial, médio e avançado de sucessão secundária, onde foi priorizada a identificação da avifauna existente

através do método de observações por transectos (Willis & Oniki,1981), em várias campanhas realizadas nos anos de 2007 e 2011, totalizando 190 horas de levantamento, distribuídos nos meses de outubro e novembro de 2007 (fim da estação seca), novembro, dezembro e janeiro de 2010 (estação chuvosa), ao longo de trilhas, no interior e na borda do fragmento. Foram realizadas amostras totalizando mais de 80h efetivas de observação em cada fase, concentradas nas primeiras e últimas horas do dia, ou seja, nos períodos de maior atividade da avifauna (Blake, 1992). A identificação das aves foi através do método visual e auditivo. O método visual apoiou-se na utilização de binóculos 10x30x25 Nikula e máquina fotográfica Canon Rebel xt, enquanto que o método auditivo baseou-se na experiência do autor com vocalizações das espécies do Estado de São Paulo e por comparação de cantos previamente coletados. As vocalizações não prontamente identificadas foram registradas com gravador digital Sony, com sua posterior confirmação em laboratório. Para a nomenclatura científica e ordem taxonômica foi utilizada a Lista das Aves do Brasil (CBRO, 2009), que adota o Conceito Filético Geral de Espécies (Aleixo, 2007). As espécies foram caracterizadas pelas guildas tróficas e distribuição nos ambientes, sendo os hábitos alimentares confirmados em bibliografia específica (Willis, 1979; Sick, 1997). Foram consideradas as seguintes guildas tróficas: carnívoro, detritívoro, frugívoro, granívoro, insetívoro, nectarívoro, onívoro, piscívoro e os seguintes ambientes: aquático (lagoas, brejos e córregos), borda de mata, copa de árvore/subdossel e sub-bosque. Pontos amostrais

Localização Geográfica de áreas, evidenciando a Fazenda Bananas Figura 1 - Á área denominada Fazenda Bananas localizada na área de transição 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No total de mais 190 horas de estudos na fazenda Bananas em duas fases, em 2007 e em 2011. Registrados até o momento um total de dezoito (18) ordens e quarenta e oito (48) famílias de aves, Totalizando 156 espécies de aves nas duas campanhas e em outros momentos fora do período de levantamento de campo na região da Fazenda. Do total de 156 espécies, em comparativo com a riqueza do estado de São Paulo (região sudeste), correspondem a 18,64% de aves registradas para a região sudeste. Conforme a figura 2. Tabela 1- Número de espécies e contatos registrados de aves.

2.007 2.012 Análise de diversidade de aves estudados em dois períodos (2007 e 2012). Estudo da Fauna - Avifauna 2.500 2.000 1.500 1.000 500 0 863 4,204 1.910 4,001 104 135 4,25 4,20 4,15 4,10 4,05 4,00 3,95 3,90 3,85 Bananas Indivíduos Espécies Diversidade Figura 2 Diversidade de Shannon Wiener, número de indivíduos, e números de espécies em cada ano. Alimentação primeira fase segunda fase total detritívoros 2 2 3 piscívororos 0 2 3 nectarívoros 2 4 11 frugívoros 5 4 14 granívoros 8 14 24 carnívoros 14 13 39 onívoros 39 44 95 insetívoros 41 51 97 Tabela 2 número de espécies por grupo alimentar em cada fase e no total A guilda mais abundante foi os insetívoros com 97 espécies, em seguida por onívoros com 95 espécies, carnívoros com 39 espécies, granívoros com 24 espécies, frugívoros com 14, necatarívoros com 11 espécies, piscívoros com 3, e detritívoros com 3. Em comparação com os trabalhos realizados em áreas semelhantes os tiranídeos foram os mais representativos e todos os encontrados são insetívoros e, junto com outras espécies que se alimentam de insetos, tornaram a guilda de insetívoros a mais representativa. Os insetívoros que se alimentam de pequenos insetos aparentemente aumentam em abundância em locais fragmentados. Os insetívoros generalistas geralmente habitam borda de mata, áreas abertas e estrato superior arbóreo, possuindo grande adaptabilidade a ambientes degradados (Willis 1979, Ribon et al., 2003).

A pouca presença de frugívoros demonstra que as áreas não estão preservadas o suficiente para manter populações com estas preferências alimentares. Grandes frugívoros necessitam de espécies frutificando durante todas as estações do ano, o que só ocorre em grandes florestas, por isso se tornam mais aptos a extinção em ambientes fragmentados. Os frugívoros são substituídos até certo ponto por onívoros, como por exemplo, os representantes da família Thraupidae, que ocorreram no local. Os carnívoros também são sensíveis à degradação de habitat (Willis, 1979; Sick, 1997). Ambientes de florestas tropicais que apresentam grande proporção de insetívoros e granívoros, em detrimento das espécies frugívoras e onívoras, podem estar com a sua integridade comprometida. Pequenos fragmentos de vegetação nativa apresentaram predomínio de aves insetívoras e granívoras de borda (Piratelli et al., 2005). Aves insetívoras ocorreram em maior proporção em áreas degradadas do que em áreas preservadas, sendo observado o inverso para as espécies frugívoras (Piratelli & Pereira, 2002). 4. CONCLUSÕES Devido às alterações na paisagem feitas anteriormente pelo homem, a área de estudo está perdendo sua heterogeneidade da vegetação, o que é essencial para garantir que as espécies consigam manter seu ciclo biológico completo no local, pois precisam destas áreas para alimentação, refugio, nidificação. Os estudos na área visam o monitoramento da fauna para a garantia da melhora e manutenção do ambiente. A maioria das espécies que esta ocorrendo no local e generalista, em habitat e alimentação. Em ambientes degradados elas aumentam em número em relação às especialistas, que são mais sensíveis, pois habitam ambientes específicos. As espécies mais sensíveis no local do estudo são as espécies dependentes de florestas, pois os remanescentes florestais que existem estão cada vez mais reduzidos e degradados, podendo não mais suportando populações de viáveis. As espécies de áreas abertas possuem maior mobilidade são favorecidas nestas condições, mas consideramos estas espécies ameaçadas localmente, pois seu ciclo biológico também afetado pelas atividades humanas, que tornam o ambiente cada vez mais homogêneo, principalmente com a agricultura e monocultura de Eucaliptos, Pinus e outras culturas. As

analise das guildas sugere que a disponibilidade de alimento é o principal fator afetando a distribuição das guildas no local. 5. REFERÊNCIAS ALEGRINI, M.F. Avifauna como possível Indicador ecológico para os estádios de regeneração da mata atlântica. São Paulo, 1997. 161p. (Tese - Mestrado Ciência Ambiental/USP). ALEIXO, A; VIELLIARD, J.M.E. Composição e dinâmica da avifauna da mata de Santa Genebra, Campinas, São Paulo, Brasil. Revista brasileira de zoologia, v.12, n.3, p.493-511, 1995. Aleixo, A. (2001) Conservação da avifauna da Floresta Atlântica: efeitos da fragmentação e a importância de florestas secundárias, p. 199-206. Em: J. L. B. Albuquerque, J. F. Cândido Jr., F. C. Straube, A. L. Roos (eds.) Ornitologia e Conservação Da Ciência às estratégias. Tubarão: Unisul. ALMEIDA, A Análise sinecológica da avifauna nas reservas nativas da Eucatex em Itatinga, SP. Rio Claro: UNESP / IB/DZ, 1997. 134 p. ALMEIDA, AF. Avifauna de uma área desflorestada em Anhembi, Estado de São Paulo, Brasil São Paulo, 1981. 272p. (Tese - Doutorado - IB/USP). _. Observações sobre alguns métodos de avaliação de impactos ambientais em ecossistemas terrestres, com especial atenção na avifauna como indicador ecológico. In: SEMINÁRIO IMPACTOS DE BARRAGENS SOBRE ECOSSISTEMAS NATURAIS: PARTE FAUNA TERRESTRE. Anais. Curitiba, SUREHMA, 1988. BIERREGAARD, R.O.; LOVEJOY, T.E. Effects of forest fragmentation on Amazonian understory bird comunities. Acta amazonica, v.19, p.215-241, 1989. BRANDÃO R. A. & JÚNIOR, A.K. P. Levantamento da herpetofauna na área de influência do aproveitamento hidroelétrico Luis Eduardo Magalhães, Palmas - TO. Humanitas (2001)003:35-50. DALMOLIN, P. C. 2000. Ecologia da comunidade de serpentes da região da Reserva de Jataí e região. UFSCar São Carlos-SP.2000. Franchin, A.G. & O. Marçal-Júnior. 2004. A riqueza da avifauna no Parque Municipal do Sabiá, zona urbana de Uberlândia (MG), Biotemas, Florianópolis, 17(1):179-202. Gavareski, C. A. 1976. Relation of park size and vegetation to urban bird populations in Seattle, Washington. The Condor, Los Angeles, 78:375-382. HADDAD, C.F.B. & SAZIMA, I. 1992. Anfibios anuros da serra do Japi. In História Natural da Serra do Japi. Ecologia e Preservação de uma área florestal no sudeste do Brasil.(P. Morelato, org.) Editora Unicamp, Campinas, p. 188-211.

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