TÍTULO: COORDENAÇÃO MOTORA DE CRIANÇAS DE SEGUNDA INFÂNCIA: POSSÍVEIS RELAÇÕES COM O USO DE APARELHOS ELETRÔNICOS

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Transcrição:

TÍTULO: COORDENAÇÃO MOTORA DE CRIANÇAS DE SEGUNDA INFÂNCIA: POSSÍVEIS RELAÇÕES COM O USO DE APARELHOS ELETRÔNICOS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: EDUCAÇÃO FÍSICA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO AUTOR(ES): EVANDRO FELÍCIO DE CARVALHO ORIENTADOR(ES): ROBERTO GIMENEZ COLABORADOR(ES): MARCELO LUIS MARQUEZI, MARIA TERESA DA SILVA MARQUES, VICTOR VEDOVELLI OJEDA

Resumo Parte da literatura tem evidenciado a influência de mudanças oriundas da vida moderna no comportamento de crianças, como o uso de aparelhos eletrônicos na sua aptidão física. Contudo, não estão devidamente esclarecidas as possíveis influências desses hábitos da vida moderna na aquisição de habilidades motoras por parte das crianças. O presente estudo teve por objetivo investigar as possíveis relações entre o uso sistemático de equipamentos eletrônicos o nível de desenvolvimento motor crianças de segunda infância. Para tanto, dados obtidos por meio da aplicação do Teste of Global Motor Development (TGMD) de dez crianças foram correlacionados com o tempo semanal destinado pelas mesmas ao uso de equipamentos eletrônicos. De modo geral, os dados sugerem a existência de uma correlação negativa entre o uso de equipamentos eletrônicos e os níveis de desenvolvimento motor das crianças em tarefas de locomoção. Esses resultados foram discutidos a partir do contexto sociocultural das crianças e jovens. Introdução A coordenação motora é entendida como uma capacidade motora geral que permite à criança interagir com o seu meio ambiente. Mais especificamente, ela pode ser definida como uma interação harmoniosa, possivelmente econômica, do sistema perceptivo e neuromuscular com o fim de produzir ações cinéticas precisas e equilibradas, e respostas rápidas adequadas a uma situação (KIPHARD, 1976). Outro fator importante é que o seu desenvolvimento é fundamental para aquisição das habilidades básicas (saltar, andar, correr, receber, entre outras) e específicas (esportivas) da infância. Dessa maneira o desenvolvimento da coordenação motora pode interferir na maneira que essa criança irá interagir com o meio ambiente. A maior parte das pesquisas estudaram indivíduos de 4 até 14 anos de idade e os resultados apontam que os níveis de coordenação motora tendem a aumentar com

a idade, com os meninos apresentando melhor desempenho que as meninas (LOPES et al., 2003; MAIA; LOPES, 2003; RAUDSSEP; PALL, 2006, VALDIVIA et al., 2008). Entretanto, quando se discute coordenação motora, parece haver uma relação entre as oportunidades proporcionadas pelo meio ambiente e o nível de coordenação motora apresentada na infância (Lopes et al.,2003). Diante disso, outro aspecto que se destaca é tempo gasto na realização de atividades físicas, ou seja, o nível de atividade física. Segundo Lopes (2006) as crianças devem ser fisicamente ativas cotidianamente, combinando tipos e intensidade diferentes realizando atividades de lazer e brincadeiras preferidas. William e col. (2008) tiveram como objetivo verificar a relação entre atividade física e habilidades motoras grossas de crianças com três e quatro anos de idade. O teste utilizado para avaliar a coordenação motora correspondeu à bateria de CHAMPS. Essa bateria é caracterizada por um protocolo de habilidades motoras grossas com tarefas similares ao TGMD-2 (testes locomotores e controle de objeto). Para verificar o nível de atividade física as medidas utilizadas foram obtidas por meio do acelerômetro. Este trabalho concluiu que as crianças que obtiveram um melhor desempenho nas tarefas locomotoras gastaram menos tempo em atividades sedentárias e mais tempo em atividades moderadas ou vigorosas. De maneira geral, o estudo indicou que as crianças que apresentaram um melhor desempenho em todas as tarefas motoras eram mais ativas quando comparadas aquelas que apresentaram baixo desempenho. Dessa maneira, há indícios que exista uma relação entre o tempo gasto na realização de atividade física com o desempenho motor (coordenação motora) apresentado pelas crianças de três a quatro anos de idade (WILLIAM et al., 2008), porém não há evidencias significativas dessa relação.

Em outro trabalho, Souza (2011) teve como objetivo analisar a relação entre o nível de atividade física e a coordenação motora apresentada por crianças dos sete aos dez anos de idade ao longo do tempo. Para tanto, o autor utilizou um método longitudinal de pesquisa. Para análise das medidas de coordenação motora foi utilizada a bateria de testes KTK e para análise da atividade física o questionário adaptado de Godin e Shepard. Os resultados apontaram que o desempenho da coordenação motora melhorou ao longo do tempo e que o nível de atividade física se manteve. Entretanto, não foi observada associação entre o desempenho da coordenação motora com o nível de atividade física. De acordo com o autor a relação entre coordenação motora e atividade física necessita levar em consideração não apenas o nível dessa atividade física, mas também a sua adequação no que se refere ao desenvolvimento motor da criança. Nesse sentido, quando se leva em consideração o desenvolvimento infantil não basta apenas considerar quantidade de tempo que uma criança passa realizando atividade física, mas é importante considerar a qualidade dessa atividade. Isso aconteceria uma vez que a ausência de um bom nível de coordenação motora pode ser consequência de experiências que não contribuam para ampliar repertório motor capaz de desenvolver uma boa competência motora. Dessa maneira pode ser que medidas de aptidão física sejam mais adequadas do que apenas medidas de tempo de atividade física. Um outro aspecto que deve ser considerado na discussão da relação aptidão física e coordenação motora, corresponde ao aumento do impacto da cibercultura na sociedade. Para Glanner (2003) há uma diminuição das ações motoras vivenciadas pelas crianças atualmente devido a esse aumento das relações virtuais, ou seja, os jogos eletrônicos. Isto aconteceria porque, cada vez mais, as informações ambientais estão sendo vivenciadas por meio de plataforma virtuais, utilizando mais a cognição em detrimento das ações motoras. Isso, por sua vez, pode gerar uma desarmonia entre indivíduo, ambiente e tarefa (FELICIO, 2011).

O Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS), em parceria com a Secretária de Saúde e Educação do Estado de São Paulo realizou uma pesquisa com objetivo de comparar o nível de atividade física de alunos do ensino médio com alunos do ensino fundamental. Os pesquisadores concluíram que os alunos do ensino médio estão cerca de 20 % mais ativos que alunos do ensino fundamental. A questão central é que essa relação sempre foi inversa, ou seja, quanto mais idade a pessoa possui menos atividade física ela realiza. Uma das explicações utilizada pelos pesquisadores é que na atualidade tem sido cada vez mais precoce a interação entre crianças e aparelhos eletrônicos como o videogame, a televisão e o computador (FAPESP, 2011). Partindo da premissa que coordenação motora pode ser entendida como uma capacidade motora geral (KIPHARD, 1976) que permite a criança interagir com o meio ambiente, uma das questões que se coloca é: o aumento do tempo gasto pelas crianças com jogos eletrônicos não teria consequência no desempenho da coordenação motora? Dessa maneira levantam-se as seguintes perguntas: será que haveria uma relação entre a aptidão física e nível de coordenação motora? Essa relação poderia ser influenciada em função do uso de aparelhos eletrônicos? Ou seja, o aumento do tempo gasto com aparelhos eletrônicos teria alguma relação com o desempenho da coordenação motora? Objetivo Considerando isso, o presente estudo teve por objetivo investigar o efeito do tempo gasto em jogos eletrônicos na aptidão física e no nível de coordenação motora apresentada por crianças de sete a oito anos de idade. A escolha pela faixa etária se deve ao pressuposto de que exista uma influência maior da cibercultura no grupo em questão.

Metodologia e Desenvolvimento Participaram desse estudo dez crianças do sexo masculino e feminino com idades de sete e oito anos, crianças essas matriculadas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Romão Gomes, localizada na região da zona norte de São Paulo. Todas as crianças foram submetidas à bateria de testes motores TGMD 2 (ULRICH, 2000). Além disso, elas responderam a um questionário proposto por Burke & Peper (2002), que possibilita a mensuração do tempo destinado ao uso de aparelhos eletrônicos por elas semanalmente. Além das crianças, os pais/responsáveis também responderam a esse mesmo questionário, para que fossem analisadas as informações passadas tanto pelas crianças quanto pelos responsáveis. Junto ao questionário, somente os responsáveis assinaram ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando assim, a participação das crianças no estudo. Em seguida, as crianças foram submetidas, individualmente, aos testes motores de locomoção e de manipulação de objetos previstos na bateria do TGMD. Por meio da lista de checagem do TGMD foi estabelecida uma pontuação correspondente ao nível de desempenho alcançado em cada tarefa por parte das crianças. Esses dados foram correlacionados aos valores de tempo médio semanal destinado ao uso de aparelhos eletrônicos. Para a realização da correlação adotou-se o teste de Pearson e considerou-se um nível de significância de p<0,005. Resultados e Discussão A aplicação do teste Estático de correlação de Pearson não identificou a existência de correlação entre o desempenho motor alcançado pelas crianças na bateria de testes TGMD e o tempo gasto com o uso de aparelhos eletrônicos. Contudo, ao se considerar os dados da bateria de testes TGMD separados por categoria de movimentos foram identificadas associações. Em especial, identificou-se a

existência de correlação entre o tempo destinado ao uso de aparelhos eletrônicos e o desempenho nas habilidades motoras de locomoção, Pearson x 2 (n=10) 0.661, p=0.038). Contudo, não foram identificadas correlações com as habilidades de manipulação. O conjunto de resultados encontrados possibilita inferir que houve correlação positiva entre o tempo destinado ao uso de equipamentos eletrônicos e o desempenho motor das crianças, contrariando pressupostos associados aos malefícios desses equipamentos ao processo de desenvolvimento motor das crianças. Desse modo, de forma similar ao identificado em estudos anteriores (p.e. FELICIO, 2012) é possível que exista influência mais efetiva nas variáveis metabólicas ou físicas das crianças, como, por exemplo, na força muscular, e flexibilidade que são muito influenciadas pelo sedentarismo. Contudo, considerando que as capacidades motoras como a coordenação e as habilidades motoras dependem fundamentalmente de estímulos que sejam proporcionados ao sistema nervoso central da criança (SCHMIDT & WRISBERG,

2001) acredita-se que elas possam sofrer menos prejuízos com o uso de equipamentos eletrônicos, ou até mesmo, dependendo da natureza dos jogos, serem beneficiadas pelo tipo de experiência da criança. Grande parte dos jogos eletrônicos praticados pelas crianças lidam com plataformas que estimulam a tomada de decisão, o raciocínio lógico e, até mesmo, a coordenação motora. Além disso, vários desses games partem de simulações de situação real (p.e. Kinect). Ao se considerar que as habilidades motoras presentes no teste do TGMD dependem profundamente de níveis de desenvolvimento do sistema nervoso central é possível especular sobre alguma influência dessas práticas na coordenação motora das crianças. Um confronto realizado entre os dados informados pelas crianças e por seus pais sugere que não existe correlação entre esses dados. Desse modo, é possível pressupor que, em face das dificuldades encontradas pelos pais/responsáveis acompanharem efetivamente as atribuições e tarefas cotidianas de seus filhos, prevalece uma falta de compreensão acerca de suas demandas e condições dos jovens. Este problema pode ser considerado uma consequência da vida moderna, sobretudo nos grandes centros urbanos. Desse modo, entende-se que a variável presença do cuidador na vida da criança deva ser levada em consideração por parte de políticas públicas, bem como, nas diretrizes pedagógicas que acompanham os diferentes estabelecimentos de ensino da Educação Básica. Futuros estudos devem atentar mais especificamente para verificar as possíveis associações entre capacidades físicas, motoras e habilidades motoras e tempo destinado ao uso de equipamentos eletrônicos por parte das crianças. Em especial, deve-se atentar para o desenvolvimento destes estudos por meio de uma amostra mais ampla, bem como, a partir da consideração das possíveis do contexto cultural das crianças como um todo. Deste contexto cultural fariam parte

as variáveis culturais da família (crenças, religião, tipo de lazer), tipo de game jogado pela criança e tipo de programa de televisão frequentemente assistido por ela. Considerações finais Há associação entre o uso de aparelhos eletrônicos e a coordenação motora das crianças. Ao contrário do que pressupõem dados da literatura, crianças que se dedicam mais tempo ao uso de equipamentos eletrônicos parecem apresentar níveis de desenvolvimento motor mais avançados que aquelas que utilizam esses equipamentos por um tempo semanal menor. Fontes consultadas BURKE, A.; PEPER E. Cumulative trauma disorder risk for children using computer products: Results of a pilot investigation with a student convenience sample. Public Health Reports, v. 117, p.350-358, 2002. FAPESP. Agência de Notícias da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo: crianças pouco ativas. São Paulo: FAPESP; 2011. Available from: http://agencia.fapesp.br/14148. FELICIO, P. F. V. Movimento ecológico. Science in Health, v. 2, p.20-22, 2011. GLANNER, M. F. Importância da aptidão física relacionada à saúde. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v.5, p. 75-85, 2003.] KIPHARD, B. J. Insuficiencias de movimento y de coordinación em la edad de la escuela primaria. Buenos Aires: Editorial Kapelusz, 1976.

LOPES, L. C. O. Atividade física, recreio escolar e desenvolvimento motor: estudos exploratórios em crianças do 1 ciclo do ensino básico. 2006. (Mestrado). Instituto de Estudos da Criança, Universidade de Minho, Braga. LOPES, V. P.; MAIA, J. A. R. SILVA, R.G.;MORAIS, F. P. Estudo do nível de desenvolvimento da coordenação motora da população escolar (6 a 10 anos de idade) da Região Autónoma dos Açores. Revista Portuguesa de Ciência do Desporto, v.3, p.147-60, 2003. MAIA, J. A. R.; LOPES, V. P. Um olhar sobre crianças e jovens da Região Autónoma dos Açores. Implicações para Educação Física, desporto e saúde. Porto: Universidade do Porto, 2003. RAUDSEPP, L.; PALL, P. The relationship between fundamental motor skills and outside-school physical activity of elementary school children. Pediatric Exercise Science, v.18, p.426-435, 2006 SANTOS, R. H.; FELICIO, P. F. V.; SILVA, B. V. F. Relação entre aptidão física e o tempo de uso de aparelhos eletrônicos. Science in Health, v.3, p. 152-160, 2012. SCHMIDT, R. A. & WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem baseada no problema. Porto Alegre: Artmed, 2001. SOUZA, C. J. F. A relação entre coordenação motora e atividade física em crianças dos sete aos 10 anos de idade: um estudo longitudinal. 2011. (Doutorado). Escola de Educação Física e Esporte, Universidade São Paulo, São Paulo. ULRICH, 2000, D. A. Test of motor development. Austin: Pro-Ed. 2ed., 2000.

VALDIVIA, A.B.; LARA, R.F.; ESPINOZA, C. B.; POMAHUACRE, S. Q.; RAMOS, G. R.; SEABRA, A.; GARGANTA, R.; MAIA, J. A. R. Prontitud coordinativa: perfiles multivariados em función de La edad, sexo y estatus sócio-económico. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v.8. p. 34-46, 2008 WILLIAM, H.G.; PFEIFFER, K. A.; O NEILL, J. R.; DOWDA, M.; MCIVER, K. L.; BROWN, W.H.; PATE, R.R. Motor skill performance and physical activity in preschool children. Obesity, v.16, n.6, p.1421-1426, 2008.