Responsável: Professora Miriam Fontenelle Título: Biodiversidade e Política Ambiental PROJETO DE PESQUISA O título do projeto está relacionado a dois temas atuais do direito: a tutela jurídica dos Direitos Humanos e da Biodiversidade. Temas atuais, mas que vêm sendo estudados desde os primórdios da civilização para que a proteção da dignidade da pessoa humana tenha eficácia através da implementação das normas jurídicas internas e internacionais. A biodiversidade o conjunto de seres que habitam o planeta Terra devem ser utilizados pelo homem de forma racional visando o desenvolvimento sustentado com a finalidade de incluir todas as pessoas no uso dos recursos ambientais para esta e as futuras gerações. O meio ambiente equilibrado garante a qualidade de vida do homem e desta forma é considerado um dentre os vários direitos do homem, dentre eles, a dignidade de vida. O tema será pesquisado tendo como princípios a dignidade da pessoa humana e a solidariedade social, presentes no texto constitucional brasileiro 1 e normas internacionais. II RESUMO DO PROJETO O projeto de pesquisa DIREITOS HUMANOS E BIODIVERSIDADE refere-se à possibilidade do Direito Brasileiro introduzir temas relacionados aos direitos humanos, como a dignidade da pessoa humana e a solidariedade social, ao uso sustentado dos recursos ambientais e a erradicação da pobreza à tutela jurídica dos recursos ambientais. Diversos Estados, como Canadá e outros da Comunidade Européia já internalizaram os direitos humanos, como a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza, o uso equilibrado do meio ambiente, a saúde do trabalhador, o direito à moradia e o respeito à cultura local, dentre outros às práticas de proteção ambiental, não somente através da elaboração de normas pelo Poder Legislativo, mas também pela aplicação das leis pelos Poderes Executivo e Judiciário. A finalidade da pesquisa é verificar se através dos princípios constitucionais de proteção dos direitos humanos e ambientais existentes, como o direito à informação, da participação e o acesso à justiça garantem uma sadia qualidade de vida aos homens, como determinado no artigo 225 da Constituição da República Federativa de 1988. 2 1 Artigos 1º. III e 3º. I da CRFB/88. 2 Artigo 225 da CRFB/88: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 1
O professor Paulo Affonso Leme Machado 3 diz que a constitucionalização do tema ambiental, por si só, não irá operar a conservação e a recuperação do meio ambiente. Fatores psicossociais e econômicos irão ter um peso considerável na implementação das normas constitucionais. Contudo, o fato de se passar a valorizar o tema, não pode ser desprezado, concluindo que: A implementação das normas constitucionais exigirá a existência ou a criação de, pelo menos, dois instrumentos: primeiro, o fácil acesso dos cidadãos ao Poder Judiciário; segundo, um Poder Judiciário bem estruturado, com juízes capacitados, condignamente remunerados e autenticamente independentes para fazer com que os indivíduos e, principalmente, o próprio Estado cumpram suas obrigações ambientais. O direito ao meio ambiente é um dos maiores direitos humanos do século XXI, na medida em que a humanidade se vê ameaçada no mais fundamental de seus direitos o da própria existência, comenta Maguelonne Déjean-Pons. 4 2.1. O sentido dos Direitos Humanos Os seres humanos, apesar das próprias características biológicas e culturais e de sua individualidade, que os diferenciam entre si, têm em comum, a capacidade de pensar e liberdade para criar, que os identificam entre si é o reconhecimento da igualdade que os liga. Nenhum indivíduo pode afirmar ser superior aos demais, como afirma Fábio Konder Comparato. 5 Existem direitos inerentes e inalienáveis comuns a todos os povos da Terra. Sendo assim, foram criadas instituições jurídicas de defesa da dignidade da pessoa humana e instrumentos de combate à pobreza, como aqueles relacionados à proteção do meio ambiente equilibrado, conferindo qualidade de vida ao homem. Os fundamentos intelectuais para a compreensão da pessoa humana e para a afirmação de direitos universais a ela inerentes foram consubstanciados, ainda de acordo com o pensamento de Fábio Konder Comparato. 6 A dignidade da pessoa humana é fundamentada em valores explicados pela religião, filosofia e ciência que geraram documentos jurídicos ao longo da história, como a Magna 3 Leme Machado, Paulo Affonso. Estudos de Direito Ambiental. Malheiros Editora, São Paulo, 1994, pág. 29. 4 Déjeant-Pons, M. Revue Universelle des Droit de L Homme. L insersion du droit de l homme à l environnement dans les systémes régionaux de protection des drois de L homme. Strasbourg-Kehl. Vol. 3, n. 11 pág. 461. 5 Konder Comparato, Fábio. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. Editora Saraiva: São Paulo, 2005, pág. 5. 6 Konder Comparato, Fábio. Idem, op.cit. pág. 11. 2
Carta de 1215, Lei do Habeas Corpus de 1679, Declaração de independência dos Estados Unidos da América de 1787, Declaração dos Direitos da Revolução Francesa de 1789, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, algumas Constituições a partir dos séculos XIX e XX e Convenções Internacionais, como a Européia dos Direitos Humanos de 1950, a da Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural de 1972 e a Convenção da Biodiversidade de 1992. Embora a idéia da igualdade entre os homens tenha surgido no período axial no século VIII A.C. em vários locais, como a Grécia, Israel e Ásia, a partir da disseminação das religiões monoteístas e da filosofia, com a transcendência do saber mitológico da tradição pra a o monoteísmo pelo saber lógico da razão, nas palavras de Comparato 7, somente 25 séculos depois, a primeira organização internacional proclamou na abertura de uma Declaração dos Direitos do Homem, que todos os homens nascem livres e iguais em dignidades e direitos. A convicção que os homens têm direito a serem igualmente respeitados, devido a sua humanidade, nasce vinculada a lei escrita, mas também às leis não escritas porque comuns a todos os indivíduos que vivem em sociedade. Resta a pergunta se existem normas de proteção aos direitos humanos como explicar a injusta distribuição de bens entre os homens com a disseminação da insegurança quanto à preservação da vida no planeta? 2.2. A questão da biodiversidade No momento em que existe vida na Terra, os homens através de sua inteligência usam os recursos naturais com a finalidade de tornar sua vida mais confortável. Entretanto, esta utilização tornou-se excessiva e a natureza tão vilipendiada tem reagido, como demonstram os últimos desastres ambientais 8, apesar da vigência de princípios e normas ambientais nacionais e internacionais. O Direito Ambiental é ramo novo do direito e pode ser definido como um conjunto de princípios e normas que protegem o meio ambiente e controlam a poluição. No Brasil, a legislação ambiental é vasta e abrangente, mas não tem tido eficácia. A Constituição Brasileira de 1988 no artigo 225 elevou o meio ambiente à categoria constitucional, considerando-o como um bem de uso comum do povo, a ser protegido pelo Poder Público e pela coletividade para esta e para as futuras gerações, além de prever diretrizes, princípios e instrumentos de implementação da política ambiental. A legislação ambiental brasileira é existente mesmo antes de seu descobrimento e colonização, eis que as Ordenações Afonsinas de 1446 já previam o crime de 7 Konder Comparato, Fábio. Idem, op. cit. pág. 12. 8 Os incêndios em áreas florestadas e as enchentes, como a Nova Orleans, nos Estados Unidos. 3
desmatamento no seu Livro VI, que tratava de direito penal e processual penal. A questão é a não aplicação das normas ambientais, cujas razões pesquisaremos neste trabalho. O Direito Ambiental só perde o caráter privatista a partir da publicação da Lei no. 6938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, da vigência da Lei no. 7347, de 24 de julho de 1985, que criou a Ação Civil Pública e da elevação do meio ambiente à categoria constitucional em 1988. Temos normas ambientais importantes, como o Código Florestal de 1965, a Lei de Gerenciamento Costeiro de 1988, a Lei do Sistema Nacional de Recursos Hídricos de 1997 e a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação de 2000, mas o nosso meio ambiente continua desequilibrado precisamos de um Congresso Nacional consciente que não aceite a edição de constantes medidas provisórias que atinjam os direitos fundamentais das pessoas e de um Poder Judiciário atuante para que aplique as leis existentes, de um Poder Executivo com vontade política para tornar a nossa vida mais confortável, mas principalmente, de uma sociedade solidária que lute por seus direitos humanos ambientais. Temos documentos nacionais e internacionais que possibilitam esta luta, conferindo, inclusive, ao Município a obrigação de manter o meio ambiente equilibrado, com a aplicação de instrumentos de comando e controle, mas também de incentivos. A Agenda 21, resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, celebrada no Rio de Janeiro é a mais extensa e detalhada cartilha consensual que a Comunidade Internacional conseguiu acordar para fazer face ao dilema entre a espécie humana e a natureza, assim como para desmontar-se o paradoxo moral da coexistência do futurismo progresso técnico com a mais retrógrada miséria. A espinha dorsal deste documento é o próprio conceito de desenvolvimento sustentável, o qual surge da noção do progresso econômico e social integrado com a proteção dos recursos naturais. Pretende combater a miséria humana sem repudiar a natureza ou desconsiderar as especificidades locais, segundo o prólogo do texto da Agenda 21. 9 O texto do documento prevê que para fazer frente aos desafios do meio ambiente e do desenvolvimento, os Estados devem estabelecer uma nova parceria mundial, com diálogo permanente e construtivo entre todas as pessoas governamentais e particulares para o fortalecimento de políticas nacionais e internacionais para a promoção de um clima de cooperação e solidariedade visando a obtenção ou manutenção de um meio ambiente equilibrado, que possibilite melhor qualidade de vida para todos nós. Este é o planejamento que deverá consubstanciar-se em ações locais, ou seja, implementados pelos Municípios, que devem preparar-se para aplicação da Agenda 21, a ser compatibilizada com o Plano Diretor. Este projeto de pesquisa tem por objeto o estudo de documentos internacionais que integrem a tutela dos direitos humanos com a proteção dos recursos ambientais, visando 9 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Senado Federal: Brasília, 1995. 4
uma melhor qualidade de vida no planeta, com o foco na implantação dos instrumentos de gestão ambiental pelos Municípios, com a intenção de internalizar a cultura que o agir é local e o pensar é global. Também serão levantadas e analisadas as decisões da Corte Européia e do Poder Judiciário Brasileiro com a intenção de verificar a atuação dos tribunais quanto ao acesso à justiça ambiental. O tema será desenvolvido por alunos do Mestrado da Faculdade de Direito de Campos, com minha coordenação, na linha de pesquisa Direitos Humanos e Direito Internacional, com a finalidade de verificar se os direitos humanos ambientais estão sendo respeitados no Brasil o que ocorrerá após uma mudança profunda nas relações ambientais internacionais, chegando-se a um período em que países em desenvolvimento e países desenvolvidos após esgotadas todas as possibilidades de negociação, possam interpor ações judiciais perante os nossos Tribunais e chegando até os Tribunais Internacionais competentes, para que os países desenvolvidos sejam obrigados a cooperar nos encargos de conservação e recuperação do meio ambiente. III OBJETIVOS O projeto de pesquisa tem por objetivo melhorar a qualidade de vida dos habitantes do planeta Terra, através da implementação do levantamento e análise da legislação ambiental brasileira e da pesquisa da jurisprudência nacional e internacional com a intenção de verificar se o artigo 11 do Protocolo Adicional à Convenção Americana dos Direitos Humanos assinada em 17 de novembro de 1988, tratando dos direitos econômicos, sociais e culturais está sendo aplicada: toda pessoa tem direito de viver em meio ambiente sadio e de beneficiar-se dos equipamentos coletivos essenciais. Esta pesquisa possibilitará uma implantação mais adequada do princípio do desenvolvimento sustentável previsto na Agenda 21 pelo Município de Campos, 10 que terá ganhos ambientais, sociais, culturais e econômicos o meio ambiente estará ecologicamente equilibrado, as pessoas terão melhor qualidade de vida. IV - JUSTIFICATIVA O Brasil, seus Estados da Federação, inclusive o Estado do Rio de Janeiro e assim como também o Município de Campos, desenvolveu-se ao longo de sua história através de atividades poluidoras. Campos, em especial, explorou os recursos naturais, com a indústria da cana de açúcar e atualmente as atividades da indústria do petróleo. Atividades estas que geraram crescimento econômico, mas nem sempre desenvolvimento social e proteção da 10 O Plano Diretor do Município de Campos de Goytacazes está sendo revisado, devendo ser entregue até o dia 06 de outubro de 2006 e deverá compatibilizar as suas normas com as existentes na Agenda 21. 5
qualidade de vida das pessoas, principalmente aquelas que moram em áreas ambientalmente protegidas. A finalidade da pesquisa é verificar se os documentos internacionais, assim como a legislação ambiental estão comprometidas com os princípios do desenvolvimento sustentável, da dignidade da pessoa humana e da solidariedade social em Campos de Goytacazes. Para tanto, serão analisados os instrumentos contidos em Tratados e Convenções Internacionais e na legislação nacional, como o Código Florestal, as Leis da Política Nacional de Meio Ambiente e do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, com leitura direcionada para o Município de Campos. Também serão pesquisadas as decisões dos tribunais nacionais e internacionais que poderão subsidiar a procura por uma vida mais sadia. Esta pesquisa poderá subsidiar um livro com artigos sobre Direitos Humanos e Proteção da Biodiversidade, e propondo, inclusive, a implantação de uma política municipal de meio ambiente, embasada nos princípios da Agenda 21. V METODOLOGIA A pesquisa será iniciada com leitura de doutrina relacionada à tutela dos direitos humanos e à proteção ambiental com os livros indicados na bibliografia e do levantamento e análise das decisões dos tribunais nacionais e internacionais. 5.1. Itemização doutrinária da pesquisa: a) Pesquisa, identificação e análise dos documentos internacionais de tutela dos direitos humanos; b) Análise da Agenda 21; c) Normas de Direito Ambiental, com o seguinte sumário: d) Jurisprudên cia. VI CRONOGRAMA 6.1. Prazo da pesquisa: agosto de 2006 a agosto de 2007. 6.2. Cronograma: 6.2.1. Agosto a Dezembro de 2006 levantamento e leitura dos documentos internacionais. 6.2.2. Janeiro de 2007 entrega e leitura do 1º relatório. 6.2.3. Fevereiro a Abril de 2007 levantamento da doutrina referente à pesquisa, não somente das obras recomendadas, como de outras obras a serem levantadas; 6.2.4. Maio de 2007 entrega do 2º relatório, contendo texto analítico sobre a doutrina levantada; 6.2.5. Junho e Julho de 2007 levantamento e análise da legislação ambiental federal, estadual e municipal; 6
6.2.7. Agosto de 2007 entrega do 3º relatório e textos para publicação. VII BIBLIOGRAFIA LEME MACHADO, Paulo Affonso. Direito Ambiental Brasileiro. Malheiros Editora: São Paulo, 2006.. Estudos de Direito Ambiental. Malheiros Editora: São Paulo, 1994. DA SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. Editora Revista dos Tribunais: São Paulo, 2004. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Lumen Juris Editora: Rio de Janeiro, 2006. MORATO LEITE, José Rubens. Organizador. Inovações em Direito Ambiental. Fundação José Arthur Boiteux. Florianópolis, 1999.. Direito Ambiental na Sociedade de Risco. Editora Forense: Rio de Janeiro, 2002 SHIMADA KISHI, Sandra e outros. Organização. Desafios do Direito Ambiental no século XXI estudos em homenagem a Paulo Affonso Leme Machado. Malheiros editora: São Paulo, 2005. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direitos Humanos e Meio Ambiente. Sergio Antonio Fabris Editor: Porto Alegre, 1993. SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Livraria do Advogado Editora: Porto Alegre, 2006. COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação dos Direitos Humanos. Editora Saraiva: São Paulo, 2005. NASCIMENTO SILVA, Geraldo Eulálio. Direito Ambiental Internacional. Thex Editora: Rio de Janeiro, 1995. SOARES, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente. Editora Jurídica Atlas: São Paulo, 2001. 7