Transferência de renda é a principal marca da gestão Lula

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Transcrição:

Transferência de renda é a principal marca da gestão Lula Ribamar Oliveira De Brasília 27/12/2010 Houve um gigantesco aumento das transferências de renda para as famílias durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Esta foi a principal marca do gasto público durante os oito anos do mandato do atual presidente. No período de seu governo, as despesas primárias da União (não inclui o pagamento de juros das dívidas públicas) cresceram muito, 2,9 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com dados do Ministério da Fazenda. Deste aumento, 2,2 pontos percentuais do PIB resultaram de gastos com as transferências de renda para as famílias, que subiram de 6,8% do PIB em 2002 para 9% do PIB este ano. As transferências de renda compreendem os gastos do governo federal com o pagamento de benefícios previdenciários, seguro desemprego, abono salarial, benefícios assistenciais, definidos pela Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), e o programa Bolsa Família. Na prática, as transferências representam dinheiro que o governo coloca diretamente na mão do cidadão, sem intermediações. O gasto adicional de 2,2% do PIB significa que o governo está transferindo às famílias cerca de R$ 75 bilhões a mais do que em 2002. O aumento das transferências foi tão grande que absorveu todo o crescimento da receita bruta da União (antes das transferências constitucionais para Estados e municípios) no período. Neste sentido, o atual governo pode dizer que transferiu para a população todo o aumento da carga tributária na área federal registrada durante o governo Lula.

O aumento das despesas primárias (2,9 pontos percentuais do PIB) superou o crescimento das receitas (2,2 pontos percentuais do PIB), segundo a radiografia feita pelo Ministério da Fazenda. Isso só foi possível pela redução do superávit primário do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central). Como pode ser visto na tabela ao lado, o superávit primário do governo central caiu 0,9 ponto percentual do PIB no governo Lula, em comparação com aquele registrado em 2002, sem considerar no cálculo o Fundo Soberano do Brasil (FSB) e a cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal para a Petrobras, realizada durante o processo de capitalização da estatal este ano. Mesmo com todos os aumentos salariais concedidos pelo presidente Lula aos servidores públicos, principalmente a partir de 2007, as despesas com pessoal da União, ativo e inativo, permaneceram no mesmo patamar de 2002, em proporção do PIB, ou seja, em torno de 4,7% do PIB. Esse resultado, em grande medida, decorreu da forte expansão real do PIB, a base de comparação, que foi de 4% ao ano, em média, durante o governo Lula. Em termos reais, no entanto, a despesa com os servidores cresceu muito, pois ela acompanhou o aumento real do PIB do período. Este ano, os gastos com pessoal ficarão, em valores correntes, em torno de R$ 180 bilhões, contra R$ 75 bilhões em 2002, segundo o Boletim Estatístico de Pessoal, do Ministério do Planejamento. Para 2010, a previsão é que eles cheguem a R$ 200 bilhões. Houve uma retomada dos investimentos públicos, após uma forte queda no primeiro mandato do presidente Lula. Em 2003, por conta do forte ajuste fiscal realizado pelo governo, os investimentos caíram para 0,3% do PIB, o menor nível já registrado. Em 2002, os investimentos ficaram em 0,8% do PIB. Este ano, a expectativa do Ministério da Fazenda é a de que eles atinjam 1,2% do PIB - um aumento de 0,4 ponto percentual do PIB em relação ao último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. As despesas do governo federal com saúde e educação subiram no governo Lula, mas em ritmo menor. Segundo os dados do Ministério da Fazenda, os gastos com custeio e investimento da saúde e educação aumentaram apenas 0,2 ponto percentual do PIB, em relação a 2002. Neste cálculo, não estão incluídas as despesas com pessoal das duas áreas. Se elas forem consideradas, o aumento chega a 0,5 ponto percentual do PIB. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, concorda que a principal marca do gasto público durante o governo Lula foi o aumento das transferências de renda para as famílias, mas ele destaca também a elevação dos investimentos público, principalmente no segundo mandato do presidente. "A marca da política fiscal do governo Lula foi o aumento do papel do Estado na transferência de renda às famílias, principalmente para combater a pobreza, e uma recuperação dos investimentos. Houve um aumento expressivo dos investimentos, durante o segundo mandato, que passaram de 0,6% do PIB em 2006 para 1,2% do PIB este ano. Observou-se ainda, nestes últimos dois anos, maiores investimentos em educação", analisou o secretário.

Expansão dos gastos vem da Constituição de 1988 De Brasília 27/12/2010 O gasto público no governo Lula seguiu o mesmo padrão que vem sendo registrado depois da promulgação da Constituição de 1988, com o predomínio das transferências relacionadas ao INSS e aos gastos sociais, segundo o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De 1991 a 2002, Mansueto informou que 55% do crescimento da despesa do governo federal veio do INSS e 41%, de 2003 a 2009. "O aumento forte das transferências é um padrão típico do Brasil pós-constituição", explicou o economista. A expansão dos gastos sociais no governo Luiz Inácio Lula da Silva foi maior, segundo ele, por causa do aumento do salário mínimo e da expansão da cobertura dos programas voltados para as populações mais carentes. A elevação do mínimo impacta os gastos do governo com benefícios previdenciários, os benefícios assistenciais, o abono salarial e o seguro desemprego. "O que houve no governo Lula foi um menor crescimento dos benefícios previdenciários, como proporção do PIB, e uma expansão mais forte dos gastos sociais", analisou. "O lado positivo desse modelo foi que o aumento do salário mínimo e a expansão dos programas sociais tiveram um forte impacto sobre a redução da pobreza", afirmou. O economista Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), tem opinião semelhante. Ele também considera que a transferência de renda foi a marca do gasto público durante o governo Lula, mas observa que essa característica da despesa já vem dos governos anteriores. "O presidente Lula teve margem orçamentária para fazer uma política social mais agressiva", explicou. O economista também chamou a atenção para a ampliação das despesas relacionadas com o salário mínimo. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas de Estudos Socioeconômicos (Dieese), o aumento real do salário mínimo foi de 53,67% de 2003 a 2010, com ritmo mais acelerado no segundo mandato do presidente Lula. Mas o valor do salário mínimo também aumentou muito durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O modelo baseado em expansão das transferências de renda e aumento real contínuo do salário mínimo tem uma grande limitação. O modelo só pode ser executado com uma elevação também contínua da carga tributária, segundo observou o economista Mansueto Almeida. Até o início da década de 1990, o Brasil tinha uma carga tributária que flutuava em torno de 25% do PIB. De lá para cá, a carga só aumentou. Este ano, ela ficará perto de 35% do PIB.

A política fiscal no Brasil pós-constituição de 1988 possui três características principais, na avaliação de Mansueto Almeida. O gasto público cresce por causa das transferências de renda e do aumento real do salário mínimo, o que resulta em elevação contínua da carga tributária. A partir de 1999, o governo começou a fazer superávit primário expressivo. "Não sobrou nada para o investimento público que, na verdade, caiu como proporção do PIB tanto em relação aos anos 1970 como também em relação aos anos 1980", analisou. De 1991 a 2009, o gasto do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência), incluindo transferências aos Estados e municípios, passou de 13,7% do PIB para 22,3% do PIB - um crescimento de quase 0,48 ponto percentual do PIB a cada ano. "Se essa tendência se mantivesse pelos próximos dez anos, o gasto público não financeiro do governo central seria de 27,6% do PIB em 2020, o que exigiria novos aumentos de carga tributária em pelo menos cinco pontos percentuais do PIB ao longo da próxima década", explicou Mansueto. O investimento público da União no governo Lula ficou, na média, abaixo de 1% do PIB, de acordo com o economista do Ipea. Este ano, o investimento deve ficar em torno de 1,2% do PIB. "O problema da baixa execução do investimento público não é algo específico do governo Lula, mas uma realidade do Brasil pós-constituição de 1988", analisou.(ro) Governo: Para especialistas, dívida pública é outro fator de preocupação para a futura presidente Queda do superávit exigirá ajuste fiscal rigoroso de sucessora Ribamar Oliveira De Brasília 27/12/2010 A política fiscal dos últimos anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva sofreu algumas alterações e o crescimento do gasto público mudou de padrão. Em primeiro lugar, houve uma redução do superávit primário, em função da crise financeira internacional e do ciclo político, de acordo com o economista Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em segundo lugar, a conta de juros nominais do setor público está se mantendo constante, apenas da queda da taxa básica de juros da economia (a Selic) e da dívida líquida, como observou Pessoa. Isso mostra que, nos últimos anos, o Tesouro Nacional acumulou passivos muito mais caros que os ativos.

Por último, as despesas de custeio da máquina administrativa (viagens, diárias, materiais de escritório, luz, água etc.) foram as que mais cresceram este ano, até outubro, segundo o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A política fiscal do governo Lula teve duas fases, na avaliação do economista Samuel Pessoa. "Nos seis primeiros anos, ela tem uma cara e nos últimos dois anos, outra", afirmou. A primeira fase foi caracterizada por elevados superávits primários, de 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano, em média. O superávit caiu nos últimos dois anos, inicialmente como uma resposta à crise financeira internacional e, em seguida, em decorrência do que os economistas chamam de "ciclo político". Durante os anos eleitorais, a política fiscal costuma ser mais expansionista. "O presidente Lula está deixando um superávit primário muito baixo para a presidente Dilma, algo em torno de 2% do PIB", alertou Pessoa. Para obter o superávit de 3% do PIB este ano, meta estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a presidente Dilma terá que fazer um ajuste fiscal mais rigoroso do que aquele executado no primeiro ano do governo Lula, de acordo com o economista. Outro indicador preocupante da segunda fase da política fiscal do governo Lula, segundo Pessoa, está relacionado com a dívida pública. Ele observa que apesar da queda da Selic e da dívida líquida nos últimos anos, a conta de juros nominais do setor público não está caindo. Pessoa disse que este fenômeno resulta da constituição de passivos pelo Tesouro Nacional mais caros do que os ativos. Ele citou, como exemplo, a política de aporte de recursos subsidiados ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os

recursos do Tesouro são emprestados ao BNDES ao custo de Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que está em 6% ao ano. O Tesouro capta os recursos no mercado ao custo de Selic, que está em 10,75%. O economista Mansueto Almeida, do Ipea, chama a atenção para outra mudança na política fiscal do governo Lula. De janeiro a outubro deste ano os gastos com o custeio restrito cresceram 0,37 ponto do PIB em relação ao mesmo período do ano passado. Essas despesas são aquelas diretamente relacionadas ao custeio da máquina pública. Elas passaram de 1,61% do PIB nos dez primeiros meses de 2009 para 1,98% do PIB no mesmo período de 2010, como mostra a tabela abaixo, que foi construída para que se possa ter uma ideia do resultado registrado no mesmo período dos dois anos. "Este ano há um crescimento forte de duas contas: custeio restrito e investimento público. Nesse aspecto, o padrão de crescimento dos gastos no último ano do governo é um pouco diferente do padrão normal de todo o governo Lula", analisou Mansueto. Ajuste fiscal: formalizar para crer 27 de dezembro de 2010 Maílson da Nóbrega e Felipe Salto - O Estado de S.Paulo A política econômica do atual governo consolidou uma combinação de expansão fiscal e aperto monetário, minando a possibilidade de expandir uma mais robusta formação bruta de capital fixo. Ainda que as taxas de juros tenham se reduzido ao longo dos últimos anos, o Brasil ainda figura, no grupo dos emergentes, entre aqueles que possuem as taxas mais elevadas. Bem sabemos, contudo, que jabuti não sobe em árvore sozinho. Se os juros são altos e se a conta que o próprio setor público paga por estes juros é igualmente elevada - 5,4% do PIB -, a culpa é do próprio governo, que tem sido incapaz de produzir uma política fiscal verdadeiramente austera. Poucos discordam desse fato, mesmo os que consideram a política de metas de inflação e a gestão da política monetária, desde sua concepção, um modelo pautado no excesso de "conservadorismo". Ordenar ao jabuti que desça da árvore, portanto, não funciona. Ele até escuta, mas não pode obedecer, não depende dele sair dali. Se tentar, tem plena consciência dos resultados da aventura. Essa não é, definitivamente, uma questão de vontade política, como parece sugerir a "promessa" da presidente eleita, Dilma Rousseff, ao indicar os exatos 2% de juros reais para o final de seu mandato, como se fosse o mesmo que decidir sobre o reajuste do salário mínimo ou do Bolsa-Família. Ora, se o Banco Central continuará a ser autônomo, conforme já sinalizou a presidente eleita, o foco precisa ser outro.

É preciso estabelecer uma nova política fiscal, capaz de restaurar os compromissos com a austeridade, de fixar regras críveis para a redução do ritmo de crescimento do gasto corrente e de fixar a meta de déficit nominal zero, paralelamente à definição de mecanismos para aumentar os investimentos em infraestrutura, particularmente com a atração de capitais privados. Em grande medida, a equipe econômica do novo governo parece ter percebido que é essa a resposta que o mercado e a sociedade esperam e, por isso, começou a discursar nestes termos. Parece também uma resposta à posição do presidente do Banco Central, para quem não haverá mudança da conduta da instituição, pois tem o aval da presidente para perseguir metas de inflação. Diante disso, o que fazer para dar consistência a esse discurso fiscalista, considerando a perda de credibilidade da contabilidade pública? As dúvidas a respeito do prometido ajuste fiscal seriam resolvidas, se uma proposta formal clara, detalhada e crível fosse apresentada pela nova equipe econômica e pela presidente eleita, explicitando a "nova política fiscal". Isto é, o novo governo deveria fixar um programa com metas quantitativas e qualitativas, que incluísse uma trajetória para o comportamento dos gastos correntes e dos gastos com investimentos, compatível com tal objetivo. Seria preciso contemplar detalhes e instrumentos para atingir cada um dos objetivos intermediários e finais. Essa, sim, seria a conduta adequada para confirmar as intenções da nova equipe, até o momento, restritas apenas às intenções e ao discurso. E, como se diz, de "boas intenções o inferno está cheio". Esse programa fiscal seria o sinal concreto para mostrar que o navio estaria efetivamente voltando à rota da qual não deveria ter-se desviado, particularmente nos dois últimos anos. A austeridade fiscal é o começo de uma política que, se bem formulada e executada, poderia conduzir a uma situação de juros mais baixos e, no médio prazo, a taxas maiores de crescimento econômico, com mais investimentos. A correspondente criação de poupança pública contribuiria para reduzir o déficit em conta corrente e para deter e, até mesmo, reverter a apreciação cambial. O passado recente, entretanto, mostra que a política fiscal tem deixado muito a desejar e contraído problemas sérios para a presidente Dilma e seu governo, uma vez que lançou mão de subterfúgios para mostrar resultados e fabricar uma falsa situação de normalidade no cumprimento de metas fiscais. Esta "contabilidade criativa", como passamos a chamar tal façanha desde dezembro de 2009, no artigo Contabilidade criativa turva meta fiscal, começou com os abatimentos do antigo Projeto Piloto de Investimentos (PPI), que ficavam próximos de 0,5% do PIB, no Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2009, e, como em um passe de mágica, foram ampliados a quase 1% do PIB, com a substituição do PPI por todo o orçamento do PAC. Depois, ocorreu a venda de receitas futuras de direito da União perante a Eletrobrás para o BNDES, em 2009 e em 2010, e, finalmente, o registro de R$ 31,9 bilhões em receitas primárias artificialmente construídas aproveitando a capitalização da Petrobrás. Some-se a isso a má qualidade do gasto, que continua a figurar entre os problemas centrais do setor público e do governo central em especial, que investe apenas 1,3% do PIB, ante gastos com pessoal de 4,7% do PIB e outras despesas de custeio em 3,6% do PIB.

Destarte, somos céticos quanto à realização de um ajuste fiscal efetivo e duradouro, capaz de contribuir para a queda responsável da taxa de juros, sem a formalização de compromissos efetivos ao início do próximo governo. Sem isso, ou seja, sem "amarrar as mãos ao mastro do navio" para evitar ser atraído pelo "canto das sereias", os equívocos tenderão a se reproduzir e as contas públicas poderão voltar a navegar de uma só vez rumo à nebulosidade e à obscuridade. Nesse caso, restaria ao Banco Central o resgate dos sobreviventes. Não basta, pois, o discurso em prol da austeridade fiscal. É preciso convencer, com um programa fiscal crível, detalhado e consistente, que as declarações se transformarão em realidade. RESPECTIVAMENTE: EX-MINISTRO DA FAZENDA E SÓCIO-DIRETOR DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA; ECONOMISTA PELA FGV/EESP E ANALISTA DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA http://bit.ly/ezlc01 /Opinião O inchaço do pessoal 28 de dezembro de 2010 0h 00 - O Estado de S.Paulo O governo federal continuará inchando os quadros do funcionalismo em 2011, se a presidente Dilma Rousseff não se dispuser a interromper a festa das contratações iniciada na atual administração. Estão previstas no Orçamento-Geral da União 19,6 mil contratações por meio de concursos, mas poderá haver, também, criação de empregos em funções terceirizadas. Também neste tipo de contratação o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mostrou muito esforçado, especialmente no segundo mandato, como informou o Tribunal de Contas da União (TCU). O inchaço da folha de pessoal foi ostensivo desde o começo do governo Lula. O aumento das contratações foi oficialmente explicado, durante algum tempo, como necessário para compensar o corte dos contratos de terceirização. O argumento parecia razoável, mas nunca foi levado a sério por quem acompanhava os dados da administração federal. Se houvesse alguma dúvida quanto à orientação efetiva do governo, estaria agora totalmente eliminada. Em valores correntes, os gastos com terceirização passaram de R$ 7,6 bilhões para R$ 14,1

bilhões entre 2006 e 2009, com aumento de 85%. Descontada a inflação, o aumento foi de 61%. O problema não está na contratação de serviços terceirizados. Essa política é seguida por muitas empresas privadas e pode haver bons motivos para sua adoção também pela administração pública. Em princípio, não há por que rejeitar a terceirização de serviços como, por exemplo, os de limpeza, de manutenção de veículos e de segurança de prédios. Mas o governo merece críticas, em primeiro lugar, por haver anunciado uma orientação e seguido outra. O aumento dos quadros de pessoal foi inchaço mesmo, e não uma forma de compensar o corte de empregados terceirizados. Em segundo lugar, é absolutamente injustificável o enorme aumento real dos gastos com serviços terceirizados. A despesa com pessoal continuou crescendo aceleradamente nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre 2006 e 2009, a despesa com ativos e inativos dos Três Poderes saltou de R$ 105,5 bilhões para R$ 151,6 bilhões. A variação nominal foi de 43%. O aumento real, isto é, acima da inflação, ficou em 24%. Alguns analistas menosprezam esse tipo de comparação e preferem examinar a proporção entre o gasto com pessoal e o Produto Interno Bruto (PIB). Mas esquecem de um detalhe : nenhum princípio gerencial exige o crescimento paralelo da folha de pessoal e do PIB. Isso não teria sentido em termos administrativos ou econômicos. Ao contrário: a boa administração inclui a busca de maior produtividade. Mas ninguém pode apontar ganhos de eficiência, no governo, sequer proporcionais à expansão do pessoal e dos gastos. Desde o começo do primeiro mandato, em janeiro de 2003, até setembro de 2010, o governo petista contratou 151,2 mil funcionários por meio de concursos. Esse número é quase o triplo do contratado pelo mesmo processo durante os oito anos da administração do presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo dados oficiais coletados e organizados pela organização Contas Abertas. Só neste ano, até setembro, foram nomeados 32,3 mil funcionários, número recorde dos últimos 15 anos. Se alguém esperava moderação num ano de eleições, devia estar muito desinformado sobre os padrões dominantes de administração pública e, especialmente, sobre o estilo petista de governar. Mais de uma vez o presidente Lula defendeu a expansão do gasto público e do aparelho administrativo, como se o aumento da máquina do governo fosse necessário para o crescimento econômico. Economistas do setor publico chegaram a publicar artigos e "estudos" em defesa da ampliação dos quadros de pessoal. Nenhum defensor da gastança conseguiu esconder os fatos ou mascará-los. E os fatos são claros: o aumento das contratações e da folha é mero inchaço da máquina e dos custos para benefício político dos partidos no governo. Não só o contingente de funcionários aumentou. Os salários foram generosamente elevados, sem vantagem para o contribuinte. A presidente eleita ainda não explicou se manterá essa política. http://bit.ly/hb5z1u

Quanto custa o BNDES 28 de dezembro de 2010 0h 00 - O Estado de S.Paulo Embora poucos deles saibam, os contribuintes sustentam um programa de crédito subsidiado cujos critérios de concessão são misteriosos, e que lhes custa até R$ 21 bilhões por ano, 38% mais do que o governo gasta com o Bolsa-Família, que vem ajudando a mitigar a pobreza no País. Trata-se dos financiamentos do BNDES com juros subsidiados pelo Tesouro Nacional, cujo total pode chegar a R$ 296 bilhões em 2011. É a diretoria do BNDES que, sem consultar outras instâncias do governo, decide para quem, quanto, em que condições e com que garantias emprestará o dinheiro. Suas escolhas podem não corresponder ao interesse do País - mas, quaisquer que elas sejam, o contribuinte é chamado a pagar sua parte. O cálculo do valor pago pelos contribuintes foi feito pelo pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Mansueto Almeida. De 2008 a 2010, o BNDES recebeu R$ 236 bilhões em repasses do Tesouro para financiar investimentos de empresas privadas e, assim, combater os efeitos da crise mundial sobre a economia brasileira. Se se confirmar a informação de que, em 2011, o banco terá mais R$ 60 bilhões, sua disponibilidade será de quase R$ 300 bilhões. Para captar recursos no mercado, o Tesouro paga juros de 10,75% (a taxa Selic) a 12,5% ao ano (a remuneração da NTN-F, título prefixado de longo prazo), mas o BNDES cobra, pelos empréstimos concedidos, 6% ao ano, que é a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). "Se o Tesouro fosse uma empresa, acionistas e credores estariam olhando com atenção esse descasamento entre os juros pagos e os recebidos", advertiu o economista Mário Garcia, professor da PUC-RJ, em entrevista à repórter do Estado Raquel Landim. Não sendo o Tesouro uma empresa, cabe ao contribuinte fiscalizar o que se faz com o dinheiro que ele recolhe aos cofres públicos. Nas contas de Mansueto Almeida, o subsídio anual varia de R$ 11,6 bilhões a R$ 15,9 bilhões, dependendo do custo da captação do Tesouro (Selic ou NTN-F). Adicionando-se o custo de R$ 5 bilhões do Programa de Sustentação de Investimentos, para o financiamento de máquinas, os subsídios totais variam de R$ 16,6 bilhões a R$ 20,9 bilhões. Cada ponto porcentual de aumento da Selic faz o subsídio crescer R$ 2,5 bilhões. Mas não é só por causa do alto custo dos subsídios que a política de financiamentos e de investimentos do BNDES exige maiores esclarecimentos públicos por parte de seus diretores. É também pelas escolhas que a direção do banco tem feito. Alguns de seus diretores defendem a tese de que é necessário criar empresas brasileiras em condições de disputar espaços e consolidar sua presença no mercado mundial. Seriam o que eles chamam de "campeões nacionais". Mas são eles mesmos, os diretores do BNDES, que escolhem os futuros "campeões".

Nos últimos tempos, empresas do setor de frigoríficos foram fartamente beneficiadas com financiamentos subsidiados do BNDES, até mesmo para adquirir empresas no exterior, garantindo empregos em outros países, em detrimento do emprego do trabalhador brasileiro. Agora, o banco amplia sua atuação no setor de papel e celulose, por meio de financiamentos e de participação no capital da empresa financiada. O anúncio do financiamento de R$ 2,7 bilhões para a Suzano Papel e Celulose, uma operação perfeitamente justificada pelo porte e pelo programa de expansão da empresa, veio acompanhado, porém, da informação de que o banco estatal, por meio de seu braço de investimentos BNDESPar, terá poder de veto em algumas decisões da companhia privada. O BNDES já é sócio da Fibria, empresa líder na produção de celulose no País, e analisa um empréstimo de R$ 3 bilhões para o projeto de celulose da Eldorado, empresa da família que controla o frigorífico JBS, que já recebeu R$ 8 bilhões do banco. Por que a concentração das operações em alguns setores e, sobretudo, em algumas empresas, quando há milhares de pequenas e médias empresas carentes de financiamentos a custos toleráveis para ampliar suas operações e gerar empregos? http://bit.ly/fudcwj Ajuste Fiscal? Sim, mas não apenas em 2011 O Estado de São Paulo - 29 de dezembro de 2010 Este final de ano termina com uma promessa ousada do novo governo quanto à necessidade de um choque fiscal já para 2011, o que parece ser resultado de algo que se tornou consensual: a velocidade do crescimento do gasto público, nos últimos dois anos, foi muito rápida e não diminuiu no pós-crise. Ao longo dos dez primeiros meses de 2009, o crescimento do gasto público não financeiro do governo federal foi de R$ 65 bilhões e, neste ano, foi de R$ 76,1 bilhões (excluindo a capitalização da Petrobrás). Uma boa notícia é que o investimento público da União vem mostrando um bom crescimento, com expansão de R$ 12 bilhões até outubro. Mas mesmo se descontássemos toda a alta do investimento, o crescimento da despesa não financeira do governo federal seria de R$ 64 bilhões quase igual para o mesmo período de 2009. Assim, dado que o Brasil precisa aumentar a taxa de investimento público (além do privado) e controlar a expansão da demanda, seria imperioso um forte ajuste fiscal, ou melhor, um choque fiscal já em2011. No entanto, dada a estrutura atual dos gastos fiscais no Pais, seria prudente aumentar o esforço fiscal, ainda que de forma gradual, em quatro anos, em vez de tentar um grande ajuste fiscal apenas em 2011.

Pelos seguintes motivos: primeiro, nos dois anos de crescimento do resultado primário, 1999 e 2003, coincidentemente anos do início de novos mandatos, o aumento planejado do superávit primário veio, em grande parte, de uma forte queda do investimento público. Em 1999, o investimento público foi cortado em 33% e, em 2003, o corte foi ainda maior, 50%. O Brasil já está com o cronograma de investimento público atrasado nos portos, aeroportos e rodovias. Assim, em vez de cortar esses investimentos, seria recomendável cortar as demais despesas, o que exigirá uma agenda de reforma fiscal não para um, mas para os próximos quatro anos. Em segundo lugar, o espaço para se fazer ajuste fiscal em cima do corte de custeio é pequeno no curto prazo, mas grande em quatro anos. O gasto de custeio total (GND-3), em 2009, foi de R$ 510,9 bilhões. Quando se retiram dessa conta os gastos com Loas, Bolsa- Família, seguro-desemprego e PIS/Pasep (R$59,4 bilhões), previdência (R$ 217,4 bilhões), repartição de receita (R$ 122,4 bilhões), o custeio da função saúde e educação (R$ 61,2 bilhões), sobram apenas R$ 50,4 bilhões. A quantia corresponde a 1,60% do PIB de 2009, de uma despesa total deste ano que foi de R$572,2 bilhões ou 18,20% do PIB. Reduzir o custeio exigirá redução não só de despesas com manutenção da máquina pública, mas também das despesas obrigatórias e INSS. Vale lembrar que o importante nem sempre são cortes nominais na despesa, mas controlar o seu crescimento para que o seu peso no PIB seja decrescente. Terceiro: seria bom que, dessa vez, ao contrário de 1999 e 2003, o ajuste fiscal viesse do corte das despesas, sem o uso de artifícios contábeis. Em 1999, do aumento programado do superávit primário em 1,1 ponto porcentual do PIB, a maior parcela veio do crescimento da carga tributária em 0,9% do PIB e, em 2003, mais da metade do crescimento do primário veio da alta do saldo dos restos a pagar processados investimentos efetuados no exercício, mas que deixaram para ser pagos no ano seguinte. Nos últimos dois anos, o Tesouro abusou de truques contábeis no calculo do superávit primário e seria ruim continuar fazendo o mesmo. O ajuste fiscal tem que ser real, e não baseado em truques contábeis. Em resumo, a agenda de reforma fiscal terá que olhar para os próximos quatro anos, controlar o crescimento do salário mínimo real (que impacta o crescimento das contas do INSS, Loas e segurodesemprego), o reajuste dos funcionários públicos e também o custeio. O novo governo deveria se comprometer com uma trajetória de aumento da poupança pública para elevar a capacidade de investimento do setor público ao longo de todo o próximo governo. Não apenas em 2011. http://bit.ly/ghp4gk