Resumo. Problemas socioambientais Urbanos e Rurais. Laís Lima Ambrosio. Tarcila Cardoso Queiroz Ramos

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Transcrição:

Problemas socioambientais Urbanos e Rurais O PROCESSO DE OCUPAÇÃO E O COMPROMETIMENTO AMBIENTAL NUMA ABORDAGEM SOCIOAMBIENTAL NA ÁREA QUE COMPREENDE O PROJETO IGUAÇU, AS BACIAS DOS RIOS BOTAS, IGUAÇU E SARAPUÍ Laís Lima Ambrosio Estudante de graduação em Geografia UFF Universidade Federal Fluminense Niterói/RJ laislam@hotmail.com Tarcila Cardoso Queiroz Ramos Estudante de graduação em Geografia UFF Universidade Federal Fluminense Niterói/RJ tarcilaq.geo@gmail.com Resumo O debate sobre o impacto socioambiental vem ganhando destaque na sociedade, na mídia e no meio acadêmico, sobretudo, devido ao agravamento dos últimos eventos de chuvas fortes e conseqüentes enchentes e substanciais perdas de vidas humanas e bens materiais. A viabilidade de controle e manutenção de eventos dessa natureza em canais fluviais urbanos baseia-se em projetos, pesquisas ambientais e investimentos governamentais. Nesse contexto está inserido o Projeto Iguaçu - Projeto de Controle de Inundações e Recuperação Ambiental das Bacias dos rios Iguaçu/Botas e Sarapuí esse projeto iniciado e abandonado ainda na década de 90 é retomado com recursos provenientes do PAC Programa de Aceleração do Crescimento onde parte do projeto é desenvolvido através da parceria com a Fase - ONG e Governo do Estado INEA/SERLA. Esses rios e seus afluentes nascem e percorrem a Baixada Fluminense, nos municípios de Nova Iguaçu, Belford Roxo, Mesquita, São João de Meriti e Nilópolis, com exceção do rio Sarapuí que nasce em Bangu no município do Rio de Janeiro, eles fazem parte da sub-bacia Iguaçu-Sarapuí. O principal objetivo do projeto é minimizar os problemas socioambientais associados à ocupação desordenada do leito desses rios em períodos de chuvas intensas, decorrentes, muitas vezes, da ausência de planejamento adequado. O objetivo do trabalho consiste em apresentar a discussão a respeito do Projeto Iguaçu de modo a destacar seus avanços e estagnações em relação a projetos anteriores aplicados na mesma região que não foram capazes de solucionar a questão e ainda sofreram muitos retrocessos com a ausência de manutenção das obras de engenharia. Para tanto analisaremos o levantamento socioambiental realizado entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009 pela FASE ONG que trabalha no projeto.

Introdução Os rios Botas, Iguaçu e Sarapuí fazem parte da bacia Iguaçu/Sarapuí compreendida dentro do compartimento Bacia Noroeste da macrobacia da Baía de Guanabara. De um modo geral se situam na Baixada Fluminense, A bacia que compreende os três rios ocupa uma área de drenagem de 726 Km². Dessa área 168 Km² correspondem a sub-bacia do rio Sarapuí que percorre de sua nascente na serra de Bangu no município do Rio de Janeiro, à foz, no rio Iguaçu, cerca de 36 km, nos municípios de Belford Roxo e Mesquita e parte dos municípios do Rio de Janeiro (abrangendo os bairros de Bangu, Padre Miguel e Senador Câmara), de Nilópolis, São João de Meriti, Nova Iguaçu e Duque de Caxias. O rio Botas nasce no município de Nova Iguaçu no bairro de Jardim Roma e deságua no Rio Iguaçu já no Município de Belford Roxo num percurso de 20Km de extensão. O rio Iguaçu tem sua nascente na serra do Tinguá, percorre aproximadamente 43km e deságua na Baía de Guanabara (mapa 1). A bacia Sarapuí/Iguaçu limita-se com as seguintes bacias: ao norte com a do rio Paraíba do Sul, ao sul com as dos rios Pavuna-Meriti, a leste com as dos rios Saracuruna e Inhomirim- Estrela e a oeste com a do rio Guandu e outros afluentes da Baía de Sepetiba Durante os trabalhos de campo para caracterização socioambiental da área foram observados os principais problemas ambientais associados à ocupação desordenada, algumas áreas ainda apresentam cobertura florestal mesmo que não seja a adequada, áreas com ocupação irregular são recorrentes, áreas densamente ocupadas, com urbanização já consolidada, entre outras. Ocupação da região e gestão dos recursos hídricos A ocupação da região se deu de maneira não planejada. Desde os primeiros colonizados com as sesmarias os vales desses rios foram ocupados, a região exercia um importante papel econômico com a produção agrícola, principalmente a cana-de-açúcar nos séculos XVI e XVII, além desses rios servirem como rota de escoamento da produção agrícola e mais tarde já no século XVIII, da produção aurífera das minas gerais, o Iguaçu inclusive tinha um porto fluvial. Outros ciclos econômicos se desenvolveram na região, o ciclo do café, sem muito sucesso nas encostas suscetíveis a erosão, ciclo da laranja e a atividade econômica atual, serviços, indústria e comércio. 2

No século XIX o transporte aquaviário perde importância com a chegada da ferrovia. Além da construção destas secionarem rios, como o Botas. Mapa 1 As primeiras cidades surgem nessa dinâmica de ocupação das margens dos rios que serviam para o escoamento da produção. A criação do município de Nova Iguaçu em 1833 se confunde com a ocupação dessa importante bacia. Nesse momento também faziam parte do 3

município os territórios dos municípios atuais de Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis, Japeri, Queimados, Belford Roxo e Mesquita. Essa ocupação desordenada, sem planejamento do uso do solo reflete hoje nos graves problemas socioambientais enfrentado pelas populações locais. Esse descaso com os recursos hídricos na região vem desde o início do processo de colonização. Com o passar do tempo, perda da importância econômica, o aumento da população no século XX, contribuíram para agravar o problema, então medidas começaram a ser tomada para conte-lo e as obras de engenharia surgiram como a solução do problema. Rios foram retificados, muitos concretados para assim aumentar a velocidade do escoamento e reduzir as enchentes, aterros, pontes em cotas inadequadas. Assim o rio Sarapuí foi integrado a bacia do rio Iguaçu no início do século XX através do desvio de sua foz para o curso inferior do rio Iguaçu Os principais problemas da ocupação que se deu desordenadamente através de loteamentos precários sem o mínimo de infra-estrutura em locais inadequados como o leito, a nascente dos rios, ou seja, o uso do solo sem nenhum planejamento, o que demonstra o enorme descaso do poder público, nesse caso as prefeituras. Isso associado ao relevo local de baixada em conjunto com as fortes chuvas de verão resulta nas enchentes. O adensamento populacional na baixada Fluminense se dá principalmente entre 1951 e 1980 com as migrações provenientes, em maior parte do município do Rio de Janeiro e do nordeste brasileiro, agravando as condições de vida, já precária. O maior peso populacional se localiza no Rio de Janeiro, também é notável que essa população é urbana, a população rural fica reduzida a 4,5% da população total desses municípios (Tabela 1). Observar o uso do solo (tabela 2) e sua distribuição espacial nos permite perceber melhor o adensamento populacional e seu crescimento e as formas de ocupação e uso da bacia Iguaçu/Sarapuí. A partir de meados da década de 1980 é que a região da Baixada passou a ser objeto de intervenções mais sistemáticas voltadas para a implantação de serviços de saneamento e para o controle de inundações. Dentro desta vertente foram desenvolvidos distintos planos. Entre 1983 e 1986 foi elaborado o PEBs (Plano Global de Saneamento da Baixada Fluminense) que estabelecia um conjunto de obras direcionadas para a implementação de sistemas de coleta de esgoto da região. Zonas prioritárias para os investimentos, também, foram definidas como a: Bacia do Sarapuí, seguida das bacias do Pavuna_ Meriti e do Botas. Entretanto apenas uma pequena parte das obras foram realizadas devido a escassez de recursos financeiros, 4

decorrentes da crise do sistema que financiava o plano, assim a Bacia do rio botas não foi contemplada. Em 1988, em decorrência de enchentes calamitosas que atingiram a região, foi negociado em caráter emergencial com o Banco Mundial, o Projeto Reconstrução Rio, cujo centro das intervenções previstas eram a meso e macro drenagem dos rios e canais que cortam a Baixada Fluminense, visando evitar novas enchentes. Com relação às efetivas operacionalidades dos planos apenas no setor de drenagem e prevenção de enchentes que se concentrou a maior parte das obras, pouquíssimo foi feito em termos das redes de esgotamento sanitário, todavia com relação ao tratamento de esgotos foi inaugurada a primeira estação de tratamento da Baixada. Tabela 1: População Municipal, Área Total e Área Inserida na Bacia dos Rios Iguaçu/Sarapuí. Municípios População Municipal Urbana Rural Total Área total 1 (ha) Área na bacia 2 (ha) % (*) População Municipal estimada 2007³ Belford Roxo 434.474-434.474 7.350 7.350 10 480 555 Duque de Caxias 772.327 3.129 775.456 46.570 27.359 38 842 686 Nilópolis 165.843-165.843 1.920 1.042 1 153 581 Mesquita 153.712-153.712 3.477 3.477 5 182 495 Nova Iguaçu 754.756-754.756 53.183 27.894 38 830 672 Rio de Janeiro 5.857.904-5.857.904 126.420 3.290 5 6 093 472 São João de 449.476-449.476 3.490 2.293 3 464 282 Meriti Total 8.588.492 3.129 8.591.621 242.410 72.705 100 9.047.743 Fontes: (1) Censo Demográfico do IBGE do ano 2000, com a divisão territorial de 2001 e (2) Adaptado do Projeto Iguaçu; (3) Contagem Populacional do IBGE de 2007. (*) percentual de cada município em relação à área da bacia. Tabela 2: Uso do Solo Classes de uso Área (ha) (%) Vegetação* 24.569 34 Campo Antrópico 23.764 33 Densidade Urbana Alta 770 1 Densidade Urbana Média 4.542 6 Densidade Urbana Baixa 7.225 10 Densidade Urbana Muito Baixa 8.342 11 Expansão Urbana 1.300 2 Uso Industrial 1.849 3 Utilidades 323 < 1 Total 72.683 100 Fonte: Projeto Iguaçu; * agrupamento das classes de floresta, capoeira, capoeirinha, mangue e várzea. 5

Características do Projeto Iguaçu O início do Projeto Iguaçu se dá com as reivindicações dos movimentos sociais e é elaborado no final dos anos de 1990 com a participação de diversos agentes sociais, com contribuição da COPPE / UFRJ e da FASE, mas não foi levado adiante. No ano de 1994 como o apoio do BIRB e do PNUD foi montada uma equipe técnica para elaborar o Plano Diretor Integrado de Controle de Inundações da Bacia do Rio Iguaçu- Sarapui, na qual o Rio Botas está incluído, conhecido como Projeto Iguaçu. As atividades envolviam obras assim como planejamento do uso do solo, além de montagem de uma nova estrutura institucional. O Projeto Iguaçu é um importante instrumento para a gestão dos recursos hídricos na região, contudo poucas ações previstas foram efetivamente realizadas. O Governo do Estado do Rio de Janeiro por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e da Fundação Superintendência de Rios e Lagoas, finalizou o Relatório Final o Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do rio Iguaçu-Sarapuí, no ano de 2006. Com o Programa de Aceleração do Crescimento PAC e a chegada dos recursos o projeto é implementado pelo INEA - Instituto Estadual do Ambiente, integrado pela antiga Superintendência Estadual de Rios e Lagoas - SERLA / RJ. De acordo com a construção do projeto a participação integrada das prefeituras também é importante. O Projeto Iguaçu - "Controle de Inundações, Urbanização e Recuperação Ambiental das Bacias dos Rios Iguaçu, Botas e Sarapui Projeto Iguaçu será realizado em duas fases ao longo de seis anos, com investimentos totais no montante de oitocentos milhões de reais (R$ 798.838.840,00). Para os próximos dois anos e meio, na sua primeira fase, receberá R$ 270 milhões em investimentos. seis municípios da Baixada Fluminense, além de dois bairros da zona Oeste do Rio de Janeiro. O Projeto Iguaçu apresenta dois pontos inovadores e que são os principais apontados como causa das intervenções para contenção de enchentes na Baixada Fluminense realizados antes, obras de intervenção que vêem a bacia como um todo e a participação popular. O primeiro é importante à medida que ao trata a bacia como um todo, enquanto intervenções pontuais apenas levam o problema, ou seja, as enchentes para outro ponto da bacia. O segundo, a participação e controle social permitem que as obras se mantenham após o seu término pelo comprometimento da população e o estímulo do projeto com a criação de áreas verdes agradável ao convívio social ao invés de áreas com acúmulo de lixo, entulho, ocupação 6

irregular com residências, criação de animais e pequenos comércios, como observado nos campos realizados para caracterização socioambiental da região. Essa participação se dá através da formação de comitês locais de acompanhamento das obras e o Fórum Regional de Acompanhamento do Projeto Iguaçu, também previstos no projeto com a participação da FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (ONG) atuando na promoção de uma participação política. A FASE também realizará a proposta de educação ambiental de modo a mudar a imagem que a população tem hoje dos rios, pela sua vivência de enfrentamento de enchentes, muitas vezes com perdas materiais e humanas, fazem referencia ao rio com o nome de valão, como um esgoto a céu aberto, onde tudo pode, desde jogar papel, até sofá, o esgoto já é historicamente lançado nos rios sem tratamento, e ainda a ocupação das margens, seja para construção de moradias, seja para criação de animais, e raramente para cultivo de hortaliças, ou bananeiras, é importante colocar que o poder público também contribui quando coloca um aterro sanitário, como o de Gramacho Duque de Caxias, próximo a um rio tão importante como o Sarapuí. Um aspecto positivo da participação da FASE em especial, é o seu envolvimento em propostas para a região desde a década de 90 em parceria com o COPPE / UFRJ. Outra ONG, a Fundação Bento Rubião participa da realização do cadastramento das 2.020 famílias que serão reassentadas por estarem em áreas de risco, as margens dos rios, além da impedir a realização das obras. Obras do Projeto Iguaçu As intervenções se darão de modo a considerar a bacia como um todo, além de pensar nos impactos das mudanças climáticas na região, que devido as suas características geomorfológicas ficará ainda mais vulnerável a inundações com o provável aumento do nível do mar, também considera a direção do crescimento da região. As áreas como campos de futebol que não costumam ser ocupada a margem dos rios serão aproveitada para a criação das áreas verdes, além de ciclovias e pavimentação das ruas, desassoreamento dos rios, em muitos pontos haverá retificação dos leitos, contudo as barragens, diques e poldêres são projetadas a partir dos pressupostos apresentados pelo Projeto Iguaçu. Um ponto negativo do projeto é não prever a revitalização das águas, em contra partida, haverá a viabilização para que progressivamente o esgoto lançado seja tratado, além disso, o PDBG (Programa de Despoluição da Baía de Guanabara) que objetiva reduzir os índices de poluição da Baía de Guanabara já vem realizando obras que contribuíram para o tratamento do esgoto na região, a ETE Sarapuí, concluída em 2005, implantada no meio da Baixada Fluminense, atenderá o esgoto proveniente de 580.000 habitantes de Belford Roxo, Nova Iguaçu, Mesquita e de outra área de S. João de Meriti. 7

Conclusão Por todos os aspectos apresentados no presente trabalho, apesar de suas limitações também apresentadas no trabalho, o Projeto Iguaçu não pode ser caracterizado apenas como um conjunto de intervenções maquiadoras visto os avanços do projeto frente à participação popular e a visão integradora da bacia considerado para o planejamento das obras. Bibliografia BARROS, Raphael T. de V. et alli. Saneamento. Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, 1995. REZENDE, Vera F. Política urbana ou política ambiental, da Constituição de 88 ao Estatuto da Cidade. In: CARDOSO, Adauto L. RIBEIRO, Luiz César Q. (org.) Reforma Urbana e gestão democrática: Promessas e desafios do Estatuto da Cidade. Rio de Janeiro, Revan: 2003. SILVA, Ricardo Toledo, PORTO, Mônica Ferreira do Amaral. Gestão urbana e gestão das águas: caminhos da integração. Estudos Avançados 17 (47), 2003. BITTENCOURT, Ana Lúcia Costa. Et alli. Auditoria operacional no Programa de Despoluição da Baía. Trabalho apresentado ao XI Simpósio Nacional de Auditoria de Obras Públicas SINAOP, realizado entre 6 e 10 de novembro de 2006, em Foz do Iguaçu, Paraná. Rio de Janeiro, RJ. 2006. CARNEIRO, Paulo Roberto F. e AZEVEDO, José Paulo Soares de. Site da Fase. www.fase.org.br. Visitado em 03/03/2009. Site da SERLA. Visitado em 03/03/2009. Site do Inea. Visitado em 03/03/2009. 8