PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Valmir de Araujo Carvalho Av. Presidente Antonio Carlos,251 10o. andar Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ PROCESSO: 0143100-47.2001.5.01.0059 - RTOrd A C Ó R D Ã O 2ª T U R M A AGRAVO DE PETIÇÃO - EMBARGOS À EXECUÇÃO - GRUPO ECONÔMICO Considerando que cabe ao juiz trabalhista impulsionar a execução dos créditos trabalhistas de ofício, não há qualquer óbice para que o julgador, verificando a existência de grupo econômico, inclua a agravante na execução, sem provocação das partes ou do Parquet. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de agravo de petição, em que são partes: EDITORA JB S.A. como agravante, e ESPÓLIO DE ROMILDO SANTOS DA SILVA (NA PESSOA DE IRACI FIGUEIREDO DA SILVA), como agravado. Insurge-se a devedora derivada contra a r. sentença de fls. 263/264, proferida pelo Exmo. Juiz Leonardo da Silveira Pacheco, da 59ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou improcedentes os embargos à execução. Manifesta seu inconformismo a fls. 266/280, sustentando, em síntese, a impossibilidade de ser incluída na execução de ofício, a inexistência de grupo econômico com o JORNAL DO BRASIL S.A. e o excesso de execução. sentença a quo. Em contraminuta (fls. 306/308), o exequente sustenta o acerto da r. Remetidos os autos ao Ministério Público do Trabalho, este se absteve de exarar parecer (fl. 316). É o relatório.
VOTO Do Conhecimento de admissibilidade. Conheço do agravo de petição, por preenchidos os pressupostos Do Mérito A devedora derivada sustenta, em síntese, a impossibilidade de ser incluída na execução de ofício, a inexistência de grupo econômico com o JORNAL DO BRASIL S.A. e o excesso de execução. Quanto à possibilidade de se declarar a existência de grupo econômico, incluindo a agravante na execução de ofício, observa-se que tal questão veio invocada nos embargos à execução. Contudo, não foi apreciada na r. sentença agravada. Sem a oposição de embargos de declaração com o fim de suprir a aludida omissão, conclui-se pela preclusão na apreciação de tal matéria. De toda sorte, considerando que cabe ao juiz trabalhista impulsionar a execução dos créditos trabalhistas de ofício, não há qualquer óbice para que o julgador, verificando a existência de grupo econômico, a declare sem provocação das partes ou do Parquet, incluindo o devedor derivado no polo passivo. A r. sentença agravada entendeu que há grupo econômico, constituído pelo SISTEMA JORNAL DO BRASIL e que foi celebrado contrato de Licenciamento de Uso de Marcas e Usufruto Oneroso entre a embargante e devedora originária, tendo como objeto a marca JORNAL DO BRASIL. Entendeu, ainda, que restou inequívoco que a embargante é a única titular das marcas JB e JORNAL DO BRASIL. No caso, a agravante adunou as suas atas de assembleias (fls. 203/223). No agravo, sustenta a inexistência de grupo econômico com o JORNAL DO BRASIL S.A., que o credor não lhe prestou serviços e que a marca JORNAL DO BRASIL foi objeto de contrato de exploração. Aduz que o devedor originário
(JORNAL DO BRASIL S.A.) continua existindo, sem alterações em sua estrutura e que possui conglomerado, não tendo sido absorvido pela agravante. Quando da interposição do apelo, adunou documentos referentes ao JORNAL DO BRASIL S.A., com o escopo de comprovar que este continua existindo (fls. 290/303) No que toca à alegação de que o M.M. Juízo a quo proferiu a decisão agravada com base em decisões de outras ações, é bem verdade que estas não têm força vinculatória. Contudo, servem de base para o convencimento do juiz, sendo possível ao magistrado utilizar as regras de experiência para dirimir a controvérsia. De toda sorte, verifica-se que a agravante tem como objeto social a edição, comercialização e distribuição de revistas, jornais, livros e periódicos em geral e a publicidade neles veiculadas, além da participação no capital social de outra sociedade (fl. 214, art. 2º). Observa-se, ainda, que há identidade no exercício da atividade empresarial do devedor originário (fl. 295). Analisando-se a certidão simplificada do JORNAL DO BRASIL S.A. (fls. 295/294), constata-se que uma de suas filiais está localizada na Av. Nossa Senhora de Copacabana, 978, loja 102, Copacabana, nesta cidade. Ou seja, o mesmo endereço para cumprimento do mandado de fls. 224 e onde a agravante exerce parte de suas atividades. Acertada a r. sentença que entendeu pela existência de grupo econômico, constituído pelo chamado SISTEMA JORNAL DO BRASIL. Quanto ao alegado licenciamento da marca JORNAL DO BRASIL, cabe transcrever parte da decisão proferida nos autos do RO 0649-2004-019-10-00-2 pela 3ª Turma do TRT da Região, sendo Relatora a Desembargadora Márcia Mazoni Cúrcio Ribeiro: MARCA GAZETA MERCANTIL: SUPOSTO LICENCIAMENTO AO JORNAL DO BRASIL: GRUPO ECONÔMICO DISSIMULADO: RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DAS EMPRESAS USUFRUTUÁRIAS DA MARCA NOTÓRIA, INTEGRANTES DE GRUPO ECONÔMICO INEQUÍVOCO. PRECEDENTES. A sucessão da marca, com "licenciador" e "licenciado" usufruindo conjuntamente dos resultados, em parceria, mas com o "licenciador" perdendo a gerência sobre o uso ou agindo em
conjunto com o "licenciado" na constituição de inequívoca e nova empresa, ainda que informal, reflete efeitos no mundo trabalhista e em geral, tanto mais quando se verifica o desaparelhamento do "licenciador" para usar a marca, por si próprio, necessitando da associação como meio de persistir numa sociedade mascarada apenas no campo contratual, quando em verdade há uma verdadeira e nova empresa por trás da suposta licença de uso. No caso, os elementos contidos nos autos consagram o grupo econômico real entre JB Comercial, Editora JB e Companhia Brasileira de Multimídia, e ressaltam a constituição de grupo econômico impróprio destas com a Gazeta Mercantil S/A, a partir do "contrato de licenciamento" da marca notória "Gazeta Mercantil", que tanto repercutiu nas demais como grupo "Jornal do Brasil" que todas as outras além da subscritora como "licenciada" perante a dona original da marca se responsabilizaram pela execução do suposto "licenciamento", editando o jornal ou fazendo as publicações em multimídia decorrentes. Cabe ressaltar que o fato de suposto contrato de licenciamento ter sido efetivado quando já rescindido o contrato de trabalho entre o Reclamante e a ex-empregadora não descaracteriza os efeitos ora delineados porque não se pode admitir que o desmantelamento patrimonial da empresa venha prejudicar os créditos trabalhistas ainda pendentes, como no caso, cabendo as empresas que assumem o novo patrimônio, ainda que imaterial como a marca notória, sejam chamados à responsabilidade solidária com aquel'outra, enquanto perdurar a constituição do grupo econômico impróprio que constituíram entre si. Precedente regional. (sem grifo na fonte) No que toca ao alegado excesso de execução, a r. sentença agravada julgou improcedentes os embargos à execução ao fundamento de que a embargante não trouxe demonstrativo dos valores que entende devidos. Ocorre que, nos embargos (fls. 244/245), a devedora alegou que já havia depósito recursal a fl. 135 e que este não foi abatido da conta homologada. De fato, há a comprovação do depósito recursal de fl. 135, efetuado em 05/02/2002 por SUPERBANCAS DISTRIBUIDORA DE JORNAIS, REVISTAS E LIVROS LTDA., sucedida pelo JORNAL DO BRASIL S.A., ainda durante o conhecimento da ação. Também é certo que tal valor não foi deduzido da conta de fl. 175, até mesmo porque tal depósito não foi convolado em penhora. E, tratando-se de grupo econômico, não houve nem haverá qualquer prejuízo à agravante. Em sendo expedidos os alvarás, se for o caso, será devolvido o depósito recursal de fl. 135 ao JORNAL DO BRASIL S.A., integrante do sistema de que a devedora derivada faz parte.
Por tudo isso, não há que se falar em excesso de execução. Nego provimento. Isto posto, voto por conhecer do agravo e, no mérito, negar-lhe provimento, na forma da fundamentação. A C O R D A M os Desembargadores da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do agravo e, no mérito, negar-lhe provimento, na forma da fundamentação do voto do Relator. Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 2012. Desembargador Federal do Trabalho Valmir de Araujo Carvalho Relator VAC/rgo/j.