Acórdão 7a Turma Digitador. Intervalo. Concessão. Comprovado o exercício da função de digitador, de se aplicar, por analogia, a norma prevista no art. 72 da CLT, ou seja, concessão de intervalos, não deduzidos da duração normal do trabalho, de dez minutos a cada noventa minutos de trabalho consecutivo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário, provenientes da MM. 17ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, em que são partes: CARREFOUR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., como recorrente, e FERNANDA ELDIRA ALENCAR SALES, como recorrida. Inconformado com a sentença de fls. 307/312, de lavra da Juíza Anna Elisabeth Junqueira Ayres Manso Cabral Jansen, que julgou procedente em parte o pedido, o reclamado apresenta recurso ordinário, consoante razões de fls. 315/325. Sustenta, em síntese, que: a inicial afirma que, embora a digitação fosse a atividade essencial, esta não era a única desenvolvida; a dependência de mecanismos de informática impôs a todo e qualquer trabalhador o desempenho de suas atividades eminentemente em micro comutadores; a prova documental demonstra que a função desempenhada pela autora se resumia a coletar, resumir, montar planilhas, tabelas e gráficos; a exigência de metas é inerente à atividade empresarial, sendo comum a divulgação de dados; a narração da própria inicial demonstra a inexistência de qualquer dano que ensejasse o pagamento de indenização por danos morais; não há menção à existência de dor, sofrimento, angústia ou repercussão moral que tenha desestabilizado o recorrido em seu ambiente de trabalho ou na vida pessoal; para que haja indenização, necessária se faz a comprovação inequívoca da existência dos danos morais; indevidos os honorários advocatícios; o recolhimento do imposto de renda deve ser feito com base na totalidade do valor a ser pago. Custas e depósito recursal às fls. 326. Contrarrazões às fls. 332/339. 4788 1
Nos termos do inciso II, do artigo 85, do Regimento Interno desta Casa, não houve manifestação do Ministério Público do Trabalho. É o relatório. V O T O CONHECIMENTO Por preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do Recurso Ordinário. MÉRITO DAS HORAS EXTRAS E DA FUNÇÃO EXERCIDA O pedido de pagamento de horas extras diz respeito à ausência de concessão de 10 (dez) minutos de descanso a cada 50 (cinqüenta) minutos trabalhados, sob a alegação de que a autora exercia atividade de digitação, inserindo dados de forma ininterrupta e sempre voltada ao terminal de vídeo (fls. 03). O reclamado defende-se afirmando que a autora nunca exerceu a função de digitadora, mas sim a de assistente administrativo I, fornecendo apoio administrativo geral para departamento ou grupo de profissionais, realizando atividades relacionadas à coleta, resumo e montagem de planilhas, tabelas e gráficos, dentre outras (fls. 106/107). Sucede que a prova produzida foi firme, inclusive no depoimento prestado pelo representante do reclamado, demonstrando que a autora, no exercício de suas funções, digitava os dados das notas fiscais no computador: (...) que a reclamante recebia notas fiscais das lojas e lançava os dados destas notas fiscais em planilhas no computador; que as funções da reclamante eram basicamente lançar dados no computador; (...) (fls. 302). (...) que o depoente trabalhou no mesmo setor que a reclamante, fazendo digitação de notas fiscais; (...) que o exercício das funções de assistentes administrativos I e II eram 4788 2
idênticos, sendo as de digitação de notas fiscais; (...) (fls. 303). (...) que na reclamada foi instituída uma meta de cento e trinta notas fiscais (...) (fls. 304). A função de digitador exige que o empregado exerça permanentemente um esforço contínuo e repetitivo de movimentos que pode ocasionar a inflamação da bainha dos tendões, denominada tenossinovite. Esta inflamação, quando resultante da atividade do digitador, que é comparada aos serviços de mecanografia, quais sejam, dos datilógrafos, pianistas profissionais e etc., é considerada como possível causa de doença do trabalho, razão porque o legislador determinou intervalo de 10 (dez) minutos a cada 90 (noventa) trabalhados. Comprovado que a reclamante exercia função de digitadora, de se aplicar, por analogia, a norma prevista no art. 72 da CLT, ou seja, concessão de intervalos, não deduzidos da duração normal do trabalho, de dez minutos a cada noventa minutos de trabalho consecutivo: "Digitador. Essa função, por analogia, deferida pelo art. 8º da CLT, enseja a aplicação do art. 72 do diploma consolidado e o direito à percepção, como extra, com adicional de 20, dos dez minutos referidos naquele diploma legal. A ancianidade do Estatuto Laboral, superada pelas recentes conquistas técnicas, pode ser atualizada pelas demais fontes do direito, admitidas na própria CLT como aplicáveis." (TRT, 2ª Reg., 6ª T., RO 2.345/84, in Rev. LTR 49-9/1.1201 (1985), republ. in CLT comentada, de Eduardo Gabriel Saad, 25ª edição, pág,. 83) "O digitador permanente, cujo trabalho consta ser até mais penoso que os expressamente mencionados - o autor se refere ao trabalho de mecanografia e afins -, reúne os requisitos fáticos para que se lhe aplique a norma - art. 72 da CLT - por interpretação analógica finalística. A inflamação da bainha dos tendões (tenossinovite), quando resultante da atividade de digitador, datilógrafo ou pianista profissional foi considerada 4788 3
como possível causa de doença do trabalho (Port. MPAS/GM 4.062/87; NR 15 e 17, c/red. Port. 3.751/90, DOU 26.11.90) Valentin Carrion, in Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 20ª ed., pág. 119). Nego provimento. DO DANO MORAL Dano moral é, como o próprio nome o diz, a ofensa ou violação que à liberdade ou à honra da pessoa ou à família (Vocabulário Jurídico de De Plácido e Silva). Durante muito tempo doutrina e jurisprudência divergiram quanto a sua receptividade pela legislação pátria. A Constituição Federal em vigor tornou inócua a discussão ao dispor, em seu artigo 5º, inciso X, que "são invioláveis a intimidade a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação." Reparação por dano moral se faz devida quando acarreta reflexos de ordem patrimonial. O patrimônio, como sabemos, é constituído tanto pelos bens materiais como por aqueles de ordem moral, como a honra, dignidade, etc. No caso, a autora fundamenta sua pretensão reparatória no fato de a reclamada expor gráfico contendo a produtividade de cada empregado, o que lhe causava grande desconforto. Junta, para tanto, os aludidos gráficos, às fls. 20/21. Não se nega que a publicidade da qualificação dada pelo empregador ao desempenho funcional de cada empregado contenha em si enorme potencial para provocar lesão a direito personalíssimo dos qualificados. A reparação do dano, entretanto, exige que este se efetive e esteja presente o nexo de causalidade entre a ação/omissão do empregador e a lesão sofrida pelo empregado no cumprimento do contrato de trabalho. No caso específico, somente haveria dano se, além de ter seu nome incluído no quadro, com qualificação negativa, a autora fosse alvo de comentários desairosos quanto à sua imagem pessoal e profissional. Isso entretanto, por certo 4788 4
não ocorria, pois os gráficos apresentados às fls. 20/21 apontam regular produtividade desta. A própria inicial deixa evidente que assim não se verificou, não noticiando nenhuma lesão específica, mas apenas uma potencialidade. Não bastasse, apesar de a testemunha de fls. 304 ter declarado que a autora teria sido questionada por outros colegas acerca de sua baixa produtividade, não afirmou ter sido a obreira objeto de qualquer chacota, evidenciando que o dano potencial não se concretizou. Demais disso, referida testemunha também afirma que o nome dos empregados que haviam ou não alcançado a meta não foi divulgado fora do setor. Dou provimento. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS O art. 133 da Constituição Federal não acarretou qualquer alteração quanto ao jus postulandi conferido às partes pelos artigos 839 e 843 da CLT, pois ao se referir à indispensabilidade do advogado à administração da justiça ressalva os "limites da lei", significando haver resguardado aqueles procedimentos em que a legislação ordinária dispensa a presença do profissional em direito - habeas corpus, reclamação trabalhista. Assim, por não atendidos os requisitos da Lei nº 5.584/70 e, ainda, à luz da jurisprudência consubstanciada na Súmula nº 329 do TST, indevidos os pretendidos honorários advocatícios. Dou provimento. IMPOSTO DE RENDA - APURAÇÃO MÊS A MÊS Insurge-se o réu contra a determinação de apuração do Imposto de Renda mês a mês. Embora o artigo 46 da Lei n 8.541/92 estabeleça o regime de caixa quanto ao recolhimento da cota fiscal, que deve, assim, incidir sobre a totalidade do crédito, no momento da disponibilização deste, não se pode ignorar que o inadimplemento do empregador que não quita suas obrigações trabalhistas no 4788 5
vencimento efetivamente pode ocasionar a elevação do imposto de renda devido pelo empregado. Por tal razão, tenho determinado a apuração mês a mês do imposto de renda, entendimento agora reforçado pelo Ato Declaratório n 01, de 27/03/2009, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, segundo o qual, verbis: nas ações judiciais que visem obter a declaração de que o cálculo do imposto de renda incidente sobre rendimento pagos acumuladamente, devem ser levadas em consideração as tabelas e alíquotas das épocas próprias a que se referem tais rendimentos, devendo o cálculo ser mensal e não global. Se a própria Fazenda Nacional adota, agora, o critério de apuração do imposto de renda mês a mês, conforme cada época própria, não cabe ao Judiciário determinar procedimento em contrário, mormente quando mais benéfico para o contribuinte. Nego provimento. PELO EXPOSTO, conheço do recurso e dou-lhe parcial provimento, para excluir da condenação a indenização por danos morais e honorários advocatícios. Mantidos os valores arbitrados pela sentença de primeiro grau. A C O R D A M os Desembargadores da Sétima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, para excluir da condenação a indenização por danos morais e honorários advocatícios. Mantidos os valores arbitrados pela sentença de primeiro grau.///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 2010. SC FERNANDO ANTONIO ZORZENON DA SILVA Desembargador Relator 4788 6