Alternativa pressupõe um outro modelo, diferenciado do encarceramento e da impunidade.

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Transcrição:

Alternativa pressupõe um outro modelo, diferenciado do encarceramento e da impunidade. Porto Alegre, setembro de 2007.

Expediente Texto Memorial do Judiciário do RS Equipe Técnica da VEPMA Revisão Memorial do Judiciário do RS Projeto Gráfico e Impressão Departamento de Artes Gráficas do TJ/RS Capa Corregedoria-Geral da Justiça do TJ/RS

RESUMO Este trabalho integra o V Seminário do Projeto "Trabalho para a Vida", da CGJ, cujo tema é a Prestação de Serviço à Comunidade (PSC), uma das modalidades de Pena Restritiva de Direito aplicada em todo o País. O modelo de acompanhamento da PSC praticado em Porto Alegre foi criado na década de 1980. Os resultados positivos alcançados pelo projeto o tornaram exemplo a ser implantado em diferentes regiões do Brasil. São 20 anos de um trabalho com acompanhamento técnico na execução das penas alternativas envolvendo o Poder Judiciário e a comunidade, cujo executor desse processo é a Vara de Execução das Penas e Medidas Alternativas (VEPMA). Apresenta-se aqui a trajetória e os resultados deste modelo pioneiro no Brasil. Palavras-chave: Prestação de Serviço à Comunidade. Penas Alternativas. Poder Judiciário. VEPMA Serviço Social.

SUMÁRIO 1 CONTEXTO HISTÓRICO... 7 1.1 MUDANÇAS POLÍTICAS NO BRASIL 1980... 7 1.2 MUDANÇAS NO PODER JUDICIÁRIO 1980... 8 2 PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE NO BRASIL E NO MUNDO... 9 2.1 O QUE SÃO AS PENAS ALTERNATIVAS... 9 2.2 O QUE É A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE. 10 2.3 COMO SE DESENVOLVEU NO BRASIL... 11 3 PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE NO RS E EM PORTO ALEGRE... 15 3.1 VEC / VEPMA... 15 4 EVOLUÇÃO NAS LEIS: O CAMINHO DA PSC... 19 5 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE (PSC): REFLEXOS NA SOCIABILIDADE DO SENTENCIADO... 23 6 DADOS ESTATÍSTICOS... 27 6.1 DADOS SOBRE A PSC EM PORTO ALEGRE DE 1988 A 1995... 27 6.2 PRIMEIRO PERÍODO - 1998-2000... 28 6.3 SEGUNDO PERÍODO - 2005-2007... 35 CONCLUSÃO... 43 REFERÊNCIAS... 44

1 CONTEXTO HISTÓRICO 1.1 MUDANÇAS POLÍTICAS NO BRASIL - 1980 A década de 1980 marcou de forma indiscutível e definitiva a História do Brasil. Desde 1964, o Regime Militar havia-se instalado na organização do Estado brasileiro e, ao longo de duas décadas, não houve solução dos problemas sociais do País, mas seu aprofundamento. Contudo, desde o final dos anos 70, a Ditadura estava enfraquecida, pois a crise econômica existente superou toda a propaganda governista e a sociedade se viu diante de um quadro de inflação, diminuição do crescimento econômico e aumento da pobreza (fome e êxodo rural). A abertura política foi o recuo de um regime emperrado pela crise e contestado pelo povo que se organizava. O movimento estudantil renascia, entidades, como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), intelectuais e imprensa alternativa se manifestavam contra o Regime. Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participaram do movimento "Diretas Já". O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que garantiria eleições diretas para Presidente, naquele ano. Todavia, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos Deputados. No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolhia o Deputado Tancredo Neves como novo Presidente da República. Era o fim do Regime Militar. Porém, Tancredo Neves faleceu e assumiu o Vice-Presidente José Sarney. Em 1988, foi aprovada uma nova Constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no País. Em 1989, após 29

8 20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul anos, os brasileiros votaram em eleições diretas para Presidência da República. 1.2 MUDANÇAS NO PODER JUDICIÁRIO -1980 A abertura política refletiu-se diretamente no Poder Judiciário que, até então, havia sido cerceado pelos Atos Institucionais decretados sucessivamente ao longo do Regime Militar. O Congresso Nacional promulgou importantes instrumentos, como o Código do Meio Ambiente Lei nº 6.938, de 1981; a Lei da Ação Civil Pública (1985), bem como o Código do Consumidor Lei nº 8.078, de 1990. A alteração do Código Penal, em 1984, com a instituição das Penas Restritivas de Direito dentre elas a Prestação de Serviço à Comunidade (PSC), foi, sem dúvida, um marco histórico em relação à forma de punir, no Brasil. Nas últimas décadas, cresceu de forma significativa a demanda social sobre o Judiciário em todo o Brasil, aumentando o número de processos que tramitam na Justiça. Ajudam a explicar esse fenômeno, a abertura política e a democratização institucional de 1988. Neste contexto, os órgãos do Poder Judiciário retomaram reflexões e discussões sobre a prestação jurisdicional e sua eficácia no atendimento das necessidades do cidadão que haviam sido suspensas durante o período militar. Foram constituídos, assim, espaços para debate, e projetos sobre diversos temas jurídicos foram idealizados por magistrados, operadores do direito e sociedade civil, em diferentes partes do Brasil, tendo como principal objetivo garantir e efetivar os direitos dos cidadãos. No Rio Grande do Sul, não seria diferente a preocupação com a humanização das penas e seu necessário caráter educativo, tema discutido no mundo inteiro. Resultou dessa discussão a elaboração de um projeto sobre penas alternativas, pela então Pretora Dra. Vera Regina Müller, cujos resultados destacam-se na Prestação de Serviços à Comunidade.

2 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 2.1 O QUE SÃO AS PENAS ALTERNATIVAS A partir da década de 1980, intensificou-se a inquietação da sociedade brasileira, principalmente dos operadores do Direito, sobre as questões relativas à violência, sobretudo, à eficácia das penas aplicadas. Verificavase que era necessário criarem-se novas modalidades de sanções, substituindo aquelas que privavam os indivíduos de sua liberdade - eminentemente punitivas -, por medidas que privilegiassem o caráter educativo das penas, principalmente quando a gravidade do crime era baixa, em regra geral, resultante das desigualdades sociais do País. A preocupação com o cárcere como castigo, e não com a reintegração dos indivíduos infratores na sociedade, há muito se fazia presente no mundo, tanto que inúmeras experiências de aplicação de penas alternativas vinham acontecendo isoladamente em alguns países: Saxônia, Prússia e Baden (1875); União Soviética, Polônia, Hungria, Romênia, Tchecoslováquia e Bulgária (1926); Egito (1912); Canadá (1977), Itália (1981), Portugal, Dinamarca e Holanda (1982), França (1983), Noruega (1984). A Organização das Nações Unidas (ONU) demonstrava apreensão no sentido de tornar as penas menos segregadoras, mais educativas e humanas, aprovando, em 1955, as Regras Mínimas para o Tratamento dos Presos. Em 1966, o Pacto Internacional dos Direitos Políticos e Civis veio reforçar a implantação, execução e fiscalização das alternativas à pena de prisão. Coube, em 1986, ao Instituto Regional das Nações Unidas da Ásia

10 20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul e do Extremo Oriente para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente formular os primeiros estudos relacionados ao assunto, tendo em vista que o cárcere não apresentava um resultado significativo na ressocialização dos apenados e a violência aumentava exponencialmente no mundo. Em 1990, foi aprovada pela Assembléia Geral da ONU a Resolução 45/110, que estabeleceu as Regras Mínimas das Nações Unidas para as Medidas não Privativas de Liberdade, denominadas "Regras de Tóquio", da qual o Brasil é signatário. Tais recomendações constituíram-se num instrumento internacional importante, uma vez que estabeleceu regras mínimas sobre as medidas não-privativas de liberdade. As penas alternativas, na forma como são previstas na legislação e aplicadas pelo Poder Judiciário brasileiro, não têm por objetivo desocupar os presídios, pois, em geral, o perfil dos indivíduos sentenciados a penas restritivas de direito não se identifica com aquele da população carcerária. As penas restritivas de direito, como a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), mantêm os condenados em liberdade. Nesses casos, a pena de prisão é substituída por uma ou mais restritivas de direitos, sendo estas também conhecidas como penas alternativas/substitutivas. A partir da criação dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/ 95), a Prestação de Serviços à Comunidade passou a ser aplicada também nas transações penais, para os casos de delitos de menor potencial ofensivo. Nestas transações, pelo Ministério Público, é oferecida ao autor do fato a alternativa de realizar um acordo/transação, objetivando não dar seguimento ao processo criminal. Havendo aceitação pelo autor do fato, homologação pelo Juiz e cumprimento da Prestação de Serviço à Comunidade, não haverá a instauração do processo penal. As penas/medidas alternativas são um avanço no sistema penal moderno. A Prestação de Serviços à Comunidade é grande exemplo, pois, ao mesmo tempo em que pune, possibilita ao infrator, por meio do trabalho gratuito, repensar sua vida e ser útil, contribuindo com mão-de-obra, não raro qualificada, para as instituições que atendem populações carentes e, em geral, discriminadas. 2.2 O QUE É A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE A Prestação de Serviços à Comunidade é uma pena/medida alternativa com função social, de caráter educativo, preventivo e, notadamente, ressocializador. Simplesmente é uma alternativa ao encarceramento e à impunidade, não tendo como objetivo o castigo, mas, sim, a educação. Por meio de um trabalho útil e gratuito, essa pena/medida viabiliza ao sentenciado dar sua parcela de contribuição à sociedade. Muitas vezes,

20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul 11 além de não ser privado de sua liberdade, ele se engaja em projetos desenvolvidos pelas entidades assistenciais participantes, prosseguindo na prestação de serviços, de forma voluntária, após o cumprimento da pena. A sociedade em geral ganha com a Prestação de Serviços à Comunidade, uma vez que abre espaço para o diálogo entre o Judiciário e a população. Ao permitir essa aproximação, possibilita uma maior conhecimento do papel do Judiciário, das iniciativas da comunidade e dos resultados positivos na execução das penas alternativas. 2.3 COMO SE DESENVOLVEU NO BRASIL No Brasil, a Prestação de Serviços à Comunidade era prevista na Lei nº 6.416/77, art. 698, inciso II, do Código de Processo Penal, como condição do sursis. Em 1984, foi instituída como pena restritiva de direitos na reforma do Código Penal (Decreto Lei nº 2.848/40) com a Lei nº 7.209/84. No ano de 1983, antes da alteração do Código Penal, a magistrada Vera Regina Müller, Pretora na 12ª Vara Criminal de Porto Alegre, verificou que havia um número considerável de réus primários beneficiados com Suspensão Condicional da Pena que recebiam apenas as condições do sursis simples, cujo efeito educativo era nulo. A partir da reforma do Código Penal, em 1984, os magistrados, ao sentenciarem e executarem a PSC, tinham a preocupação de que essa pena não se tornasse inócua. Dessa forma, para alcançar os objetivos do legislador, fazia-se necessário encaminharem-se os condenados a atividades adequadas às suas aptidões e locais/instituições que compartilhassem esses objetivos. Entretanto, não havia infra-estrutura, nas Varas de Execução Criminal do Rio Grande do Sul, para acompanhar os prestadores de serviços. As experiências realizadas até aquele momento, na Comarca de Porto Alegre, com o encaminhamento de 49 apenados a FUNDASUL e a Pequena Casa da Criança, sem o devido acompanhamento técnico mostraram-se ineficazes. A magistrada Vera Müller, buscando alternativas para execução dessa modalidade penal e inspirada nas legislações inglesa e norte-americana, desenvolveu um projeto-piloto, cuja idéia inicial era constituir um núcleo de trabalho composto por uma equipe interdisciplinar capaz de realizar uma testagem. Esse projeto foi encaminhado pelo Diretor Acadêmico da Escola da Superior da Magistratura, Desembargador Ruy Rosado de Aguiar Júnior, a Brasília, visando à obtenção de recursos para sua implantação. No ano de 1985, o projeto foi encaminhado para o Ministério da Justiça e, em 04 de agosto de 1987, foi assinado convênio entre o Tribunal de

12 20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e a Associação de Juízes do Rio Grande do Sul, através da Escola Superior da Magistratura, o que permitiu a contratação da primeira Equipe Técnica para monitorar a pena de prestação de serviços à comunidade na Comarca de Porto Alegre. Nesta etapa, sob a coordenação da Dra. Vera Regina Muller, foram contratados duas assistentes sociais e dois estudantes de Direito. Esses técnicos fizeram o cadastramento das instituições que passariam a receber os apenados, bem como iniciaram a avaliação e os encaminhamentos aos locais mais adequados para que a prestação de serviços à comunidade fosse cumprida. Na implementação do projeto-piloto, foi formada uma comissão constituída por representantes de vários parceiros: Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul (PGE), Procuradoria da Justiça do Rio Grande do Sul, Superintendência do Sistema Penitenciário (SUSEPE), Escola da Magistratura do Rio Grande do Sul e Juízes das Varas de Execução Penal. O projeto-piloto teve a duração de dois anos (de 1987 a 1989). Nesse mesmo período, foram criados os cargos de Assistentes Sociais, Psicólogos e Comissários de Vigilância. Em 1989, ao término do projeto-piloto, o Poder Judiciário assumiu o monitoramento das penas nomeando profissionais concursados. Em decorrência do sucesso do projeto, sua expansão para outros Municípios e Estados foi questão de tempo, sendo que a Dra. Vera Regina Müller teve papel fundamental nesse processo. Em 1989, a magistrada auxiliou a Prefeitura de São Paulo a redigir um protocolo de intenções para recrutamento de técnicos para apoiar o programa de implantação de penas alternativas. Considerando que a pesquisa realizada pelo Instituto Latino-Americano para a Prevenção do Delito e o Tratamento do Delinqüente (ILANUD) apontou para as vantagens da Prestação de Serviço à Comunidade, o trabalho de consultoria da magistrada só viria a aumentar. No ano de 1997, colaborou de forma ativa no projeto de estruturação de penas alternativas dos Estados de Goiás, Pará e Paraíba e do Distrito Federal. O plano elaborado pela Dra. Vera Regina Müller, relacionado às penas restritivas de direito, principalmente a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), ultrapassou as fronteiras do Rio Grande do Sul. Esse projeto demonstrava maior eficiência no que diz respeito ao combate à criminalidade e à ressocialização dos apenados (quando comparado aos resultados e custos obtidos com a pena privativa de liberdade). O Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional de Justiça, solicitou à Dra. Müller sua participação na montagem de uma estrutura nacional de penas alternativas. O projeto foi discutido e elaborado de abril de 2000 até outubro de 2001.

20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul 13 No ano de 2002, ocorreu a criação da Central Nacional de Penas Alternativas (CENAPA), cujos objetivos são: difundir no País o instituto das Penas e Medidas Alternativas como instrumento eficaz para os crimes cometidos sem o emprego da violência ou grave ameaça à pessoa; sensibilizar os operadores do Direito da importância da aplicação das Penas e Medidas Alternativas; organizar e capacitar Juízes, Promotores de Justiça, representantes da OAB e Defensoria Pública, bem como servidores do Poder Judiciário e do Poder Executivo, além da Universidade Federal, ONGs e Clubes de Serviço, para atuarem como multiplicadores na aplicação e fiscalização das Penas e Medidas Alternativas; divulgar experiências bem-sucedidas de aplicação de Penas e Medidas Alternativas (exemplos: RS, PR, PA, CE e MS); possibilitar à Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, o apoio, acompanhamento e a coleta de dados, com a divulgação de resultados.

3 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE EM PORTO ALEGRE E NO RS O projeto desenvolvido no Rio Grande do Sul não foi resultado de um esforço isolado, mas fruto de necessidades regionais, em consonância com discussões correntes no mundo todo sobre questões relativas à humanização das penas. O modelo que serviu para todo o Brasil foi baseado nos projetos de Penas Alternativas inglês e norte-americano. A Inglaterra foi o primeiro país europeu a implantar a Prestação de Serviços à Comunidade como pena autônoma, em 1972. Nos Estados Unidos, através do Instituto de Justiça Vera (The Vera Institute of Justice) foi introduzido o trabalho à comunidade, onde foi realizado com êxito um projeto-piloto no Bairro Bronx (Bronx Pilot Project). 3.1 A VARA DE EXECUÇÕES CRIMINAIS - VEC - E A VARA DE EXECUÇÃO DAS PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS - VEPMA. Em 1989, após o término do projeto-piloto, o Poder Judiciário estruturou, na Vara de Execuções Criminais da Comarca de Porto Alegre, uma Equipe Técnica de monitoramento, composta inicialmente por 4 Assistentes Sociais e 6 Comissários de Vigilância. Em continuidade ao trabalho até então desenvolvido pelo projeto-piloto, essa equipe ampliou e qualificou a intervenção técnica junto às instituições conveniadas e aos prestadores de serviço. Os resultados positivos demonstraram a eficácia da execução da pena de Prestação de Serviços à

16 20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul Comunidade, viabilizando a aplicação, pelos magistrados das Varas Criminais, desse instituto penal sempre que previsto na legislação. No ano de 2001, por iniciativa da magistrada da VEC, Drª Cleuza Mariza Silveira de Azevedo, e acompanhando o incentivo da CENAPA, a 3ª Vara Criminal da Comarca de Porto Alegre foi transformada em Vara de Execução das Penas e Medidas Alternativas (VEPMA), Resolução nº 353/ 2001, do Conselho Superior da Magistratura. Hoje a VEPMA está localizada no 4º andar do Foro Central e tem a competência jurisdicional sobre as transações, penas restritivas de direito, livramento condicional, suspensão condicional da pena, prisão domiciliar e medidas de segurança. Para o acompanhamento da execução, o Poder Judiciário na VEPMA, atualmente é composto por: Gabinete 01 Juiz, 01 Assessor de Juiz, 01 Secretário, 01 estagiária de Direito; Cartório 01 Escrivão e 06 funcionários; Equipe técnica 06 Assistentes Sociais, 01 Psicóloga, 01 funcionário administrativo, 01 estagiário; Comissários de Vigilância 04 Comissários. Além da VEPMA, existem estruturas diferenciadas de monitoramento de Penas e Medidas Alternativas em, pelo menos, 180 Comarcas do Interior do Rio Grande do Sul, conforme a realidade de cada Município. Em algumas Comarcas, o monitoramento é realizado por funcionários dos cartórios e pela equipe técnica, sendo esta responsável pela capacitação das entidades, avaliação e encaminhamento dos prestadores de serviços. Em muitos Municípios, o Poder Judiciário conta com o apoio dos Conselhos da Comunidade e das próprias Prefeituras Municipais. A Prestação de Serviços à Comunidade não tem como objetivo o castigo, e sim transformar sua execução em um processo educativo e socializador, no qual todos os envolvidos (Poder Judiciário, Instituições Conveniadas e Prestadores de Serviços) tenham a consciência da importância de seu papel. Neste contexto, a Equipe Técnica intervém na realidade das penas e medidas alternativas, com quatro abordagens principais: institucional, individual, assessoria e articulação de redes sociais. A abordagem institucional está centrada na avaliação, diagnóstico, capacitação e acompanhamento das entidades parceiras. O cumprimento da prestação de serviços à comunidade somente pode ser executado com sucesso se houver Instituições que compartilhem do entendimento da função social da pena. Esses locais devem ser espaços privilegiados para o desenvolvimento de valores morais, voltados para a promoção e valorização da pessoa na sociedade. Essa intervenção é realizada de forma sistemática

20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul 17 através de uma relação dialógica, em visitas, reuniões, contatos com responsáveis pelo acompanhamento e encontros semestrais. A abordagem individual é o momento em que a Equipe Técnica realiza o estudo psicossocial e elabora o diagnóstico individual, definindo o perfil do sentenciado e norteando a intervenção e o encaminhamento deste ao cumprimento da pena/medida. Na definição do perfil do prestador de serviços, a Equipe Técnica classifica em três categorias, de acordo com o Manual de Monitoramento da Penas e Medidas Alternativas do Ministério da Justiça: Baixa e média complexidade: pessoas aptas a serem encaminhadas ao cumprimento da prestação de serviços à comunidade, a partir da realização do estudo social. Alta complexidade: pessoas que apresentam doenças físicas incapacitantes, sofrimento mental e/ou qualquer indicativo que não recomende o encaminhamento sem antes haver uma intervenção especializada. Nos casos de perfil de baixa e média complexidade, conhecendo a disponibilidade de cada Conveniada, é realizado o cruzamento dos dados e definido o melhor local para o cumprimento da pena/medida. Durante a execução, o acompanhamento é realizado diretamente pela Conveniada e mensalmente pelo Serviço Social, se o cumprimento for regular. Na ocorrência de qualquer irregularidade ou dificuldade, imediatamente a Instituição a comunica aos técnicos e, em conjunto, é definido o melhor encaminhamento do caso, que será submetido à análise do Juiz. Nos casos de perfil de alta complexidade, antes do encaminhamento ao cumprimento da pena, é realizada avaliação psicológica e, de acordo com o parecer psicossocial, são encaminhados a recursos da comunidade que atentem às necessidades prioritárias e que auxiliem na reorganização do sentenciado, a fim de que cumpra a pena/medida imposta. Sempre que necessário, a Equipe Técnica intervém junto aos familiares dos sentenciados, contando também com algumas Instituições Conveniadas que se propõem a realizar um acompanhamento especial e diferenciado. A assessoria é a intervenção técnica junto aos magistrados, operadores do Direito e demais envolvidos nesse processo, no sentido de dar visibilidade à realidade dos sentenciados em cumprimento da pena. É sua atribuição, também, propor projetos ou alternativas que visem à melhoria das condições de vida dos sentenciados e viabilizem a plena execução da pena. A articulação de redes sociais é a intervenção da Equipe que visa à construção de parcerias com a Rede Social para o atendimento dos sentenciados nas áreas de saúde, assistência social, educação e ingresso no mercado de trabalho. A atual conjuntura, com o agravamento da pobreza, do desemprego, da violência e do aumento da dependência química, tem refletido diretamente no perfil das pessoas que devem cumprir penas/medidas

18 20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul alternativas, sendo imprescindível a criação de uma rede capaz de garantir os direitos de cidadania e inclusão social. A Equipe Técnica estabelece os seguintes objetivos na execução da pena: manter em liberdade os sentenciados, proporcionando-lhes a permanência no convívio familiar e no trabalho; oportunizar aos beneficiários a possibilidade de refletir sobre o delito cometido e o exercício da sua cidadania; detectar causas de uma possível reincidência e auxiliar os beneficiários a encontrar caminhos alternativos; possibilitar a vivência de limites, com o uso adequado da autoridade, transformando o cumprimento das penas alternativas num ponto de referência para o aprendizado de uma vida social saudável; envolver a sociedade na reflexão dos problemas da criminalidade e da exclusão social, na construção de soluções, onde todos assumam a responsabilidade cooperativamente; auxiliar no resgate da auto-estima, despertando potencialidades para trabalhos sociais; auxiliar as instituições assistenciais com o trabalho gratuito dos prestadores de serviço; proporcionar uma economia ao Estado com despesas carcerárias, além de evitar o risco de os beneficiários serem corrompidos pelo sistema prisional. Dessa forma, o Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, por intermédio da Equipe Técnica da Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas (VEPMA), cumpre o estabelecido no Código Penal Brasileiro, no que se refere às Penas Restritivas de Direito.

4 EVOLUÇÃO NAS LEIS: O CAMINHO DA PSC Segundo Fernando Antônio Sodré de Oliveira 1 : Os modelos reeducadores e ressocializadores têm conseguido expressivas vitórias legislativas, como a aprovação de Leis como: Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), a Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95) e a Lei das Penas Alternativas (Lei nº 9.714/98) [...]. Em 1984, através da Lei nº.7.209 (11/7/1984), que alterou o Decreto- Lei nº 2.848/40 (Parte Geral do Código Penal, nova redação dos artigos 1º ao 120), foram introduzidas no Brasil as penas alternativas, cuja ideologia era: a recuperação é mais importante do que a punição. Esta alteração instituiu a PSC não apenas como condição do sursis, mas também em substituição às penas privativas de liberdade para delitos cuja pena máxima não ultrapassasse dois anos. Os artigos que dispõem sobre as penas restritivas de direito tiveram a seguinte redação: Art. 43 - As penas restritivas de direito são: I prestação de serviços à comunidade; II interdição temporária de direitos; III limitação do fim-de-semana. Art. 44 - As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I aplicada pena privativa de liberdade inferior a um ano ou se o crime for culposo; 1 OLIVEIRA, Antônio Sodré de. A Prisão em flagrante delito nos crimes sujeitos à aplicação de Penas Alternativas. Porto Alegre: Revista da Ajuris, 2003, p. 110.

20 20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul II o réu não for reincidente; III a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.... Art. 46 A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres em programas comunitários ou estatais.... Art. 77 a execução da pena privativa de liberdade, não superior a dois anos, poderá ser suspensa por dois a quatro anos, desde que: I O condenado não seja reincidente em crime doloso; II a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizam a concessão do beneficio; III Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. Em 1998, com a Lei nº 9.714/98, o legislador ampliou o número de penas restritivas de direito, bem como o tempo de condenação para o benefício, dando uma nova redação para os arts. 43, 44 e 46. Art. 43 As penas restritivas de direito são: I prestação pecuniária; II perda de bens e valores; III prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas: IV interdição temporária de direitos; V limitação do fim-de-semana. Art. 44 As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I aplicada pena privativa de liberdade não superior a 04 anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II o réu não for reincidente em crime doloso; III (manteve igual).... Art. 46 A prestação de serviços á comunidade é aplicável as condenações superiores a 06 meses de privação de liberdade: 1º A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado. 2º A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais.

20 anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul 21 3º As tarefas a que se refere o 1º serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho. 4º Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada." Pode-se observar, então, a preocupação da sociedade em estabelecer leis de cunho mais humano e ressocializador, visando a uma mudança de paradigma do sistema punitivo e introduzindo um processo integrador do apenado na sociedade sem desvinculá-lo dos seus laços familiares e de seu cotidiano. Na Lei nº 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais (JECs), a PSC também foi introduzida na transação penal ou como condição da suspensão do processo, nos casos de delitos menor complexidade.

5 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE (PSC): REFLEXOS NA SOCIABILIDADE DO SENTENCIADO No Brasil, o sistema carcerário enfrenta inúmeros problemas estruturais, de superlotação e de alto custo na manutenção de cada condenado. Nesse contexto, a PSC (Prestação de Serviços à Comunidade) apresentase, como uma importante forma de ajudar a diminuir o ingresso de condenados no sistema prisional. Dados da Vara de Execução das Penas e Medidas Alternativas (VEPMA) demonstram que, em 20 anos de experiência em Porto Alegre, cerca de 9600 pessoas já cumpriram prestação de serviços nas Entidades Conveniadas, denotando a utilidade da aplicação das penas alternativas para sociedade, ao longo desses anos. Esta experiência comprova que a parceria com as Instituições Conveniadas viabiliza o comprometimento de todos os envolvidos (VEPMA, sentenciados, comunidade) na transformação da sociedade e na construção de um mundo mais justo e igualitário. Conforme afirmação do Presidente da SPAAN 2 : Nesse sentido é que Programas como PSC e PEMSE, do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, são muito bem-vindos, pois permitem aos réus o devido reparo à sociedade, bem com beneficiam as entidades parceiras com mão-de-obra. Desde 2000, 219 prestadores de serviços passaram pela Instituição, totalizando 71.204 horas trabalhadas, o que corresponde a uma economia de aproximadamente R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais) na contratação de servidores qualificados, cabe 2 Sr. Ederon Amaro Soares de Silva, Presidente da SPAAN.