DEGRADAÇÃO DO TRABALHO NO CAMPO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

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Transcrição:

DEGRADAÇÃO DO TRABALHO NO CAMPO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA MARCOCCIA, Patrícia Correia de Paula Marcoccia UEPG pa.tyleo12@gmailcom PEREIRA, Maria de Fátima Rodrigues UTP maria.pereira@utp.br RESUMO: O objetivo desta proposta de comunicação é apresentar a morfologia do trabalho no campo na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), com ênfase no Terceiro Anel. Utilizaram-se documentos disponibilizados publicamente no Sistema Público de Emprego e Renda (ISPER), Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). Este estudo orienta-se pela teoria social e abordagem marxista do conhecimento que possibilita apontar o predomínio do trabalho temporário nesta Região, por outro lado, concentra-se o maior número de trabalhadores familiares, os quais estão sob impactos de degradação, a saber: a) os membros da família não se dedicam totalmente a produção; a maioria dos produtores familiares e não familiares não estão associados a cooperativas e/ou entidades de classe e o nível de instrução predominante entre os produtores familiares e não familiares e pessoas de 10 anos e mais ocupadas em atividades agrícolas é o Ensino Fundamental Incompleto. Constatouse que a situação é de degradação dos trabalhadores privados que possuem os meios de produção da sua existência enquanto classe, expandem-se, apenas, as condições de sobrevivência e reprodução controlada da sua força de trabalho sob os ditames do capital. Palavras chave: trabalho; degradação; campo. Introdução O trabalho é uma prática social que constitui o ser humano, é um processo que se trava historicamente entre os homens, para a produção da existência. Marx (2010, p. 211) lembra que, o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma das suas forças, põe em movimento as forças naturais de seu corpo [...], a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, marcando à vida humana. Esse fundamento se ampara nas teses da Teoria Social e do conhecimento de Marx e Engels. Por outro lado, essas relações se expressam de forma contraditória, pois alguns homens vivem do trabalho de outras pessoas, e para manter esse processo, expropriam o trabalhador do seu próprio trabalho e do conhecimento. Essa prática social, sob relações capitalistas se expressa na perda dos meios de produção e de relações exploratórias, disso resulta o objetivo do texto que é apresentar o estudo da morfologia 29 do trabalho no campo na RMC, com ênfase no Terceiro Anel. 29 A expressão morfologia do trabalho é utilizada por Ricardo Antunes para se referir as tendências presentes no mundo do trabalho.

Os procedimentos utilizados neste estudo são a pesquisa bibliográfica, decorrente de pesquisas anteriores em documentos impressos e a pesquisa documental que possibilitou a coleta e análise dos documentos a respeito do trabalho na RMC, disponibilizados no Sistema Público de Emprego e Renda (ISPER), Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). O método eleito enunciado permitiu análise dos referidos documentos e possibilitou conhecer a morfologia do trabalho na RMC, principalmente no Terceiro Anel, e apontar que há degradação do trabalho dos trabalhadores no campo, pois suas condições objetivas carregam as marcas da submissão do trabalho ao capital. Essa forma de submissão é operada pelos processos de produção que se realizam de modo estranhado para o trabalhador, através do trabalho precarizado, do subemprego e do desemprego estrutural. O texto está estruturado em quatro partes, a saber: A primeira discute os sentidos históricos do trabalho; a segunda apresenta as características do trabalho na RMC, a terceira as relações de trabalho assalariada e as condições do trabalhador familiar no Terceiro Anel e, por fim, as considerações finais. Sentidos históricos do trabalho No fundamento dos diferentes modos históricos de existência, o trabalho expressa a relação social predominante, sendo a sociabilidade constituída pelo e no trabalho. Por exemplo, a comunidade primitiva organizou a divisão do trabalho por sexo, já no modo escravista o trabalho produtivo foi predominantemente realizado sob relações escravistas, o feudalismo organizou o trabalho sob a base servil e o fundamento do trabalho no capitalismo é o assalariamento. Marx (2013) ao analisar a sociedade burguesa revelou que o seu fundamento está na compra e venda da força de trabalho, no processo de produção de mais valia, no qual se produz todas as coisas sobre a forma de mercadorias. Nesse sentido, o mercado se tornou o eixo central dessa forma de organização social, sendo constituído por duas classes fundamentais que se opõem radicalmente, o proletariado e a burguesia. Essa oposição ocorre porque o proletariado produz a riqueza e o capitalista se apropria da maior parte dessa riqueza. Os interesses das classes são radicalmente opostos, contudo os interesses da burguesia são sempre de caráter particular, muitas vezes apresentados inclusive como interesses de todos. Os interesses da classe trabalhadora, embora sinalizem para interesses privados e por vezes não há consciência do seu projeto, representam uma forma de organizar a sociedade sob o princípio da universalidade, ou seja, em que todos sejam iguais.

Para Marx (2013), a base está em como as pessoas produzem a riqueza material, a qual se expressa na produção e na sua relação com a distribuição, circulação, troca e o consumo. Esses elementos apesar de não serem semelhantes fazem parte de uma mesma realidade, porque mesmo quando se produz algo, também se consome, portanto, não há como produzir sem ter consumido. Todavia, o trabalho sob as relações capitalistas contém a marca em que alguns produzem, mas não se apropriam ou apropriam migalhas do que produzem, e outros, não produzem, mas consomem e desfrutam do que se tem de mais avançado na produção humana. Esse movimento caracteriza o processo de acumulação capitalista, em que uns apropriam a produção da riqueza social e outros permanecem com o mínimo, reproduzindo a miséria e pobreza. Desde as primeiras organizações sociais, na ordem burguesa até o século XIX, a humanidade avançou na produção de instrumentos para o trabalho, por meio de ferramentas e da maquinaria. Embora, contraditoriamente, houvesse avanço nas forças produtivas, neste período, o gênero humano não possuía a capacidade de produzir riqueza para todos. No processo de transição do feudalismo ao capitalismo predominava o trabalho artesanal. O emprego de um número grande de trabalhadores e a divisão técnica de trabalho possibilitou o aumento da produção e introduziu alterações nas relações de trabalho dando origem a mais intensa cooperação e ao regime da manufatura, o qual foi subdividido em tarefas e realizado por diversos trabalhadores parcelados (BRAVERMAN, 1980). Esse movimento trouxe modificações para a organização do trabalho e ao mesmo tempo fortaleceu a propriedade privada, as classes sociais e a desigualdade social. Com a Revolução Industrial (1760-1830) a humanidade começou a produzir riqueza suficiente para todo o mundo, por intermédio do conhecimento científico, da maquinaria, do avanço da capacidade de produzir riqueza, etc. A maquinaria, tirou o instrumento de trabalho do trabalhador e transferiu para um mecanismo acionado por energia da natureza, captada para esse fim, que transmitida à ferramenta atuou sobre o material para produzir o que o mercado desejasse. (BRAVERMAN, 1980, p.148). Nesse sentido, a mudança no modo de produção procedeu pela modificação nos instrumentos de trabalho, cuja finalidade foi ampliar a produtividade em menos tempo sob o controle bem definido da gerência. Esse movimento buscou tratar os próprios trabalhadores como máquinas (BRAVERMAN, 1980, p.148), e com isso, elevou-se extraordinariamente a produtividade, a ponto de conceber o trabalho como movimentos universais e repetidos, separados do esforço humano, cuja finalidade foi produzir riqueza suficiente para atender a necessidade dos capitalistas. De lá para cá, as relações sociais tiveram sucessivas modificações tecnológicas, com a finalidade de baratear o trabalho, parcelar os ofícios para eliminar as especialidades e manter o controle da produção. A revolução eletrônica nos anos de 1950 e 1960 forneceu circuitos baratos e dignos de confiança para os instrumentos de

controle (BRAVERMAN, 1980, p.171). Tal processo reduziu o número de trabalhadores nos empregos formais, tornando-os excedentes e os colocando à disposição dos interesses dos capitalistas para produzir sua riqueza. A lógica do capital é essa, pois antes a riqueza era produzida como valor de uso e agora é produzida como valor de troca, como mercadoria para se tornar capital. Esse movimento tem a finalidade de acumular capital de forma infinita, mas somente se efetiva, se o capitalista tiver o domínio dos meios de produção e da força de trabalho a ser vendida. Contudo, esse processo não se dá sem conflitos, com a luta entre capital e trabalho desde o início do século XIX, a classe trabalhadora constituiu uma ampla classe devido às grandes concentrações nas indústrias, as quais possibilitaram que se organizassem como classe, em associações, sindicatos, partidos, tomando consciência dos interesses burgueses e dos interesses da classe trabalhadora. Essa luta entre capital e trabalho está presente até os dias de hoje, todavia, o trabalho tem sido derrotado diante do capital, ainda que existam conquistas parciais. As respostas exitosas à crise de 1970 implicaram ampla reestruturação social e o trabalho passou a ser flexibilizado, impactando a vida dos trabalhadores, com múltiplas formas de precarização, terceirização, intensificação da exploração dos trabalhadores, sob o argumento do desenvolvimento da tecnologia que não esteve e não está a serviço dos trabalhadores, mas a serviço da burguesia. Este processo afetou e continua afetando profundamente a vida dos trabalhadores, os quais estão sob formas mais diversas de exploração do trabalho, anulação de direitos e expropriação da vida humana. Nesse contexto, fica claro que há uma contradição entre capital e trabalho, pois os interesses são antagônicos. Não é possível querer que o capital se sensibilize com a exploração humana, porque a sua finalidade é a concentração de riqueza, a qual está nas mãos de grandes corporações e bancos, ou seja, esses grupos veem dominando o mundo. Entretanto, essa dominação se materializa com a ajuda do Estado, que tem nas suas origens uma profunda dependência do capital. Certamente, isso não é linear e depende dos arranjos políticos e econômicos, que ora poderão estar mais próximos dos interesses dos capitalistas ora dos trabalhadores. Mas de modo geral, as crises do capital atingem, sobretudo, a vida dos trabalhadores, intensificando sua exploração. Embora esses trabalhadores historicamente tenham conquistado a regulamentação do trabalho, a redução da jornada de trabalho para 8h, a previdência social, essas conquistas não alteraram a vida dos trabalhadores, pois para mudar isso, a classe trabalhadora teria de lutar pela superação radical da exploração do capital e por outra forma de organização do trabalho. Esse objetivo, atualmente, não parece estar conduzindo as lutas da classe trabalhadora, melhor dizendo, não parece orientar essa luta. Pelo contrário, os partidos comunistas e a burocracia sindical foram subordinando a classe trabalhadora ao projeto burguês,

colocando o trabalho sobre os fundamentos da perspectiva dos capitalistas. (ANTUNES, 2008). Nesse sentido, se o trabalho está vinculado ao projeto burguês, certamente, o que irá avançar é o capital. Os trabalhadores não conseguem resistir a essa lógica, ou se conseguem, são conquistas superficiais, de modo geral, acabam recuando, em decorrência, perdem direitos, recursos, condições de viver com dignidade. Hoje, o capital busca adequar trabalhadores flexíveis para constituir um trabalhador supérfluo, ou seja, um trabalhador que se submete a um salário mais baixo sob pena de perder o emprego e viver na miséria. Esse movimento está sendo conduzido por diversos sindicatos que ideologicamente difundem a diminuição do tempo de trabalho e a subordinação do trabalhador para que este seja obrigado a aceitar um salário menor porque há vários trabalhadores de reserva. (ANTUNES, 2008). As marcas do capital estão presentes na cidade e no campo, enquanto no urbano o capital avança sob o discurso da urbanização, de outro lado, produz o desemprego e a miséria. No campo, o capital trabalha sob a mesma lógica, se apropriando das terras para o desenvolvimento da agricultura de larga escala, com alta tecnologia, para atender o setor de commodities, e com isso, expropria o trabalhador de sua terra e do seu trabalho, produzindo a miserabilidade do camponês. Outra forma de subordinação é incorporar o camponês ao grande capital, o qual tem o controle do conhecimento técnico e se utiliza da terra e da força de trabalho dele. A agricultura familiar é parte do agronegócio, do projeto de desenvolvimento para o campo no sistema capitalista, inviabilizando outras formas de organização do trabalho no campo, pois os trabalhadores familiares que não se associarem a esse processo estarão sob formas primitivas do capitalismo, sob relações de trocas de produtos e a subsistência. Nesse sentido, apresenta-se a situação do trabalhador, as relações de trabalho que estão postas nos municípios da RMC, principalmente nos municípios considerados rurais, com ênfase no trabalho do camponês, agricultura familiar, não familiar e no trabalho dos capitalistas. Assunto analisado a seguir. Morfologia do trabalho na Região Metropolitana de Curitiba Atualmente a RMC é constituída por 29 municípios, considerada a oitava mais populosa do país e a segunda maior em extensão, sendo sua área equivalente a 8% do estado, e desta, 30% representam o local de moradia da população urbana. Sua localização geográfica foi organizada de modo que estivesse próximo dos mais importantes mercados produtores e consumidores do Brasil, o que influenciou na formação de novas indústrias nos municípios. Dados do Censo de 2010 revelam que a população total da RMC é de 3.223.836, sendo que 2.956.272 estão na área urbana e 267.564 estão na área rural. A população da área urbana está concentrada em Curitiba, juntamente com os municípios próximos à capital.

A população rural reside nos municípios mais afastados, caracterizados por maior densidade demográfica e demandando grande deslocamento até os núcleos urbanos. A RMC está dividida em três aneis, a saber: Primeiro Anel, Segundo Anel e Terceiro. O Primeiro Anel 30 é uma classificação utilizada para definir quais são os municípios que tem proximidade com a capital e possuem núcleos urbanos mais definidos devido ao seu grau de urbanização. Contudo, a utilização do termo Primeiro Anel, não expressa consenso nos institutos de pesquisas do Brasil e nas produções acadêmicas, as quais entendem que há áreas de concentração da população (ACP) e áreas de menos concentração da população, sendo que as áreas de maior concentração representam grandes manchas urbanas de ocupação contínua, conforme aponta o IBGE (2008). O Segundo Anel 31 é constituído por municípios próximos a capital e municípios localizados em áreas rurais e o Terceiro Anel 32 constituído por municípios rurais, sendo mais afastados da capital. A população no Primeiro Anel está concentrada nos espaços urbanos, atinge 1051.219 habitantes, e a população rural representa 135.745. (IBGE, 2010). De modo geral, houve um crescimento da população na RMC no Primeiro Anel, a qual nos anos 2000, contava com o 972.846 habitantes, conforme o Censo Demográfico (2000). Neste Anel está concentrado o maior número de habitantes da RMC. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desses municípios oscilam entre médio desenvolvimento (0.60 a 0.69) e alto desenvolvimento (0.70 a 0.80). O município de Piraquara foi o único que apresenta baixo desenvolvimento (0.50 a 0.59). (IBGE, 2010).Vale destacar que mais da metade da população de Piraquara reside na área rural, apontando baixa densidade demográfica entre a população. De modo geral, a maioria dos municípios mencionados apresenta alto e médio desenvolvimento, ou seja, bom nível de qualidade de vida e de desenvolvimento econômico. Esse dado pode estar relacionado às grandes indústrias que se constituíram nesses municípios, bem como, o fato de estarem próximos a capital e pertenceram as grandes manchas urbanas de ocupação contínua, facilitando o deslocamento daqueles que trabalham e/ou estudam na capital. Contudo, chama atenção o fato de Piraquara ter o menor índice de IDH e a maioria da população residir no campo, esse dado revela que, onde há áreas rurais as condições de produção da vida. Os municípios do Primeiro Anel revelam que há um nível bom de emprego formal 33 e que os níveis de pobreza são baixos no que se refere a ½ salário mínimo. O indicador de 30 Municípios que compõem o Primeiro Anel: Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Fazenda Rio Grande, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e São José dos Pinhais. 31 Municípios que compõem o Segundo Anel: Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Contenda, Itaperuçú, Mandirituba e Rio Branco do Sul. 32 Municípios que compõem o Terceiro Anel: Agudos do Sul, Campo do Tenente, Cerro Azul, Doutor Ulysses, Lapa, Piên, Quitandinha, Rio Negro, Tijucas do Sul e Tunas do Paraná. 33 Os dados apresentados referem-se a uma revisitação nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010 e do Ministério da Saúde. A partir desses dados foram criados novos índices em três

alfabetização nem sempre está atrelado à pobreza, tendo em vista a ampliação das políticas sociais no acesso à educação por meio de uma diversidade de programas de alfabetização ofertados pelo governo federal. Contudo, um índice que salta aos olhos, trata do percentual dos que concluíram o Ensino Médio. Esse indicador aponta que há um baixo índice de conclusão nesses municípios. Vale destacar que o município de Piraquara apresenta índices baixos mediante os outros municípios, além disso, possui a maior população residente na área rural, situação que leva a suscitar se nos espaços rurais do Primeiro Anel há precarização da vida humana. (GUERRA; POCHMANN; SILVA, 2014). A população no Segundo Anel está constituída nos espaços urbanos e rurais, cujo total atinge 114.935, sendo a população rural 44.291. (IBGE, 2010). De modo geral, houve um crescimento da população na RMC no Segundo Anel, a qual nos anos 2000 era de 102.280 habitantes, conforme o Censo Demográfico (2000). Apesar disso, verifica-se uma menor população comparada ao Primeiro Anel, em que está concentrado o maior número de habitantes da RMC. O IDH desses municípios oscila entre baixo desenvolvimento, a saber: Bocaiúva do Sul (0,5347), Itaperuçu (0,5386) e Rio Branco do Sul (0.5979) e médio desenvolvimento, como, Contenda (0,6461) e Mandirituba (0,6532). O município de Balsa Nova é o único com alto desenvolvimento (0,7334). (IBGE, 2010). Os municípios no Segundo Anel apresentam dados inferiores ao Primeiro Anel, no que diz respeito ao indicador de emprego e escolaridade. (GUERRA; POCHMANN; SILVA, 2014). Essa questão pode ter relação com a distância dos municípios para os núcleos centrais, o que implica menor acesso ao emprego formal, bem como, a ausência do acesso às escolas de ensino médio na área rural, dado já constatado por diversos pesquisadores, entre eles Molina, Montenegro, Oliveira (2009). Contudo, os demais índices transitam no nível intermediário, o que significa que há concentrações de desigualdade, pobreza, exclusão, mas isso não se expande para todas as partes dos municípios. Exceto, nos municípios de Itaperuçu, Bocaiúva do Sul e Rio Branco que apresentaram baixo IDH e baixa escolaridade, além disso, o município de Itaperuçu apresenta baixa taxa de alfabetização e de emprego. A população no Terceiro Anel está constituída, na sua maioria, nos espaços rurais, atingindo 87.568, sendo a população urbana 62.122 habitantes. (IBGE, 2010). Os municípios de Campo do Tenente, Lapa e Rio Negro são os únicos que apresentam a população superior no urbano. De modo geral, houve um crescimento da população da RMC no Terceiro Anel, que nos anos 2000 era de 105.953 habitantes, conforme o Censo Demográfico (2000). Este Anel possui mais habitantes do que o Segundo Anel, devido ao aumento do número de dimensões de análise: Vida Digna, Conhecimento, Vulnerabilidade Juvenil. (GUERRA; POCHMANN; SILVA, 2014).

municípios pertencentes a esse eixo. Embora o número de habitantes seja superior ao Segundo Anel, não ultrapassa o número de habitantes no Primeiro Anel. O IDH desses municípios oscila entre muito baixo desenvolvimento, como: Doutor Ulysses (0,4546) e Cerro Azul (0,4915); baixo desenvolvimento, a saber: Agudos do Sul (0,5633) e Tunas do Paraná (0.5798); médio desenvolvimento, como: Quitandinha (0,6289), Campo do Tenente (0,6397), Tijucas do Sul (0,6524) e Lapa (0,6666). Os municípios de Piên (0,7412) e Rio Negro (0,7205) apresentam alto desenvolvimento. (IBGE, 2010). Há um crescimento da população do Terceiro Anel que está concentrada nas áreas rurais. Quanto ao IDH, há municípios com o nível muito baixo e municípios com alto desenvolvimento. Há uma oscilação nos níveis de desenvolvimento neste indicador, todavia, os municípios com baixíssimo desenvolvimento são aqueles de difícil acesso, distantes dos centros urbanos. Os municípios no Terceiro Anel, na sua maioria, apresentam dados inferiores ao Segundo e Primeiro Anel, no que diz respeito aos indicadores de emprego, pobreza, escolaridade e exclusão. (GUERRA; POCHMANN; SILVA, 2014). Os municípios deste Anel são eminentemente rurais e estão localizados em áreas bem distantes dos núcleos centrais, sendo que alguns são de difícil acesso, devido às fragilidades das estradas e do insipiente acesso ao transporte público. Os demais índices como, desigualdade e alfabetização oscilaram entre o nível intermediário e baixo. Analisando todos os aneis é possível identificar que o Primeiro Anel por estar próximo aos centros urbanos apresenta indicadores mais elevados, entretanto, Piraquara possui maior população no campo e apresenta os menores índices deste Anel. No Segundo Anel, os indicadores estão dentro da média, mas Bocaiúva do Sul com a mesma população no campo e na cidade, Itaperuçu e Rio Branco do Sul com a maior parte dos habitantes no urbano, apresentam baixo IDH e índice de escolaridade. No Terceiro Anel, a maioria dos índices está abaixo da média. Percebe-se que os municípios em que a população está concentrada em áreas rurais, geralmente, seus indicadores estão num nível bem abaixo. Os municípios de Doutor Ulysses e Cerro Azul apresentam uma enorme distância diante dos municípios de outros aneis e até mesmo quando comparado com o seu próprio anel. No que diz respeito ao indicador escolaridade, a maioria dos municípios de todos os anéis estão em um nível abaixo do esperado, isso quer dizer que não estão concluindo o Ensino Médio aos 17 anos. Mediante esse contexto, compreende-se que o Terceiro Anel apresenta os indicadores mais baixos, diante disso, definiu-se aprofundar mais dados desse Anel, no que diz respeito à situação do trabalhador no campo e na cidade. Assunto abordado a seguir.

Morfologia do trabalho no Terceiro Anel na Região Metropolitana de Curitiba A política de desenvolvimento para o Terceiro Anel está vinculada a três eixos: Trabalho assalariado, que mantém relações de parcialização e desqualificação do domínio dos meios de produção; agricultura familiar voltada para atender a produção de alimentos e a subsistência e produção agrícola ligada ao agronegócio, principalmente na exploração de reflorestamento de pinus e mineração, com intensificação da tecnologia, se utilizando do trabalho temporário e parceiro. Nos municípios do Terceiro Anel não há políticas públicas para as áreas rurais e a agroindústria está superexplorando os recursos naturais e a força de trabalho predominantemente temporária. O trabalho assalariado e precário assume uma importância cada vez maior na sociedade capitalista e o preço da força de trabalho tem sido cada vez mais baixo. Para o capital só interessa o valor das coisas e não a forma de trabalho, assim, não importa o tipo de trabalho, mas o quanto ele pode ser mais produtivo. Na era do capitalismo monopolista, a divisão do trabalho pode ser aplicada com o mesmo propósito às operações mecânicas e mentais. (BRAVERMAN, 1980). O parcelamento do trabalho criou novas ocupações para funções cada vez mais simplificadas, rotinizadas e controladas. O mesmo processo de trabalho constituído na indústria que é a administração moderna e o uso da tecnologia passa também a reger os outros setores de empregos. Sobre os setores de emprego, foram trabalhadas com as seguintes atividades econômicas: Agropecuária, Indústria de Transformação, Extração Mineral, Administração Pública, Construção Civil, Comércio e Serviços, conforme dados da Comissão Nacional de Classificação (CONCLA), a qual está ancorada no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Sua finalidade é a descrição de atividades econômicas e do conjunto de atividades associadas a ela. Quanto ao número de empregos formais de trabalhadores homens nos municípios do Terceiro Anel na RMC, verificou-se que, o município que mais emprega trabalhadores homens é o da Lapa com 5.197 empregos, seguido do município de Rio Negro com 4.237. Doutor Ulysses é o município com menos emprego formal, apenas 262, seguido do município de Agudos do Sul com 452. O município de Doutor Ulysses apresenta o menor IDH e um dos piores índices de emprego, pobreza, escolaridade e de exclusão, quando comparado aos municípios do Terceiro Anel. Vale destacar que é o município com a menor população do Terceiro Anel na RMC. Já o município da Lapa, está entre os indicadores que ficam no nível intermediário. O setor que mais empregou trabalhadores homens foi o de indústria e transformação que envolve agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura, com 6.730 empregos, seguido do setor comércio com 3.726 e do setor agropecuária com 2.106. Ao mesmo tempo em que o

dado do setor de indústria e transformação, se justifica, tendo em vista que a maior parte vive no campo, por outro lado, esse número é ínfimo diante da população de 87.568 habitantes do Terceiro Anel que reside no campo. Uma hipótese para o pouco número de trabalhadores neste setor pode ter relação com o alto desenvolvimento tecnológico e científico no campo, o qual tem eliminado diversos empregos. De modo geral, a população total do Terceiro Anel da RMC é de 149.690 e o número de empregos formais para trabalhadores homens é de 18.833, representando um pouco mais de 10% no número total de habitantes. É um percentual pequeno de empregos formais. Vale destacar que a população masculina historicamente tem se tornado um depósito disponível de trabalho desempregado. (BRAVERMAN, 1980). Todavia para captar esse movimento apontado pelo autor é necessário aprofundar outras formas de trabalho no/do campo, tais como dados da agricultura familiar, não familiar, trabalho temporário etc. Sobre o emprego formal na agropecuária entre 2007 a 2013, constatou-se que na maioria dos municípios houve queda de emprego no setor mencionado entre 2007 a 2013. Essa queda tem relação com as alterações nos processos de trabalho e novas formas de organização da produção, principalmente pelo avanço científico e técnico que sob relações capitalistas tem servido contra o próprio trabalhador gerando desemprego e superexploração. Se de um lado há dispensa de força de trabalho na agricultura, por outro lado, há absorção de novas ocupações de aproveitamento de recursos naturais [que] instiga novos processos e formas sociais de trabalho, o que requer incluir aí, o caráter de extração de sobretrabalho camuflado no disfarce da busca de novas alternativas não agrícolas. (LUSTOSA, 2012, p.63). Quanto à a situação do emprego formal das trabalhadoras mulheres, verificou-se que a Lapa é o município que mais emprega trabalhadoras com 4.102 empregos formais, seguido de Rio Negro com 3.293. O município com menos emprego é Doutor Ulysses com 177, seguido de Adrianópolis com 285. Essa realidade também foi constatada acima no número de empregos formais de trabalhadores homens. A Lapa e Rio Negro são os municípios mais populosos do Terceiro Anel, o que justifica o maior número de empregos nestes municípios, além disso, há diversas indústrias como, Seara alimentos, Naturalat, Above Metalúrgica, Usina de Potencial Biodiesel, Souza Cruz S.A., entre outras. O setor que mais empregou as trabalhadoras em 2013 foi de administração pública com 3.997, seguido do comércio com 2.534 e da indústria de transformação com 1.098. Há um movimento contrário entre os postos de trabalho de homens e mulheres, pois as trabalhadoras estão concentradas na administração pública e no comércio e depois na indústria e transformação, já os trabalhadores homens estão concentrados no setor de indústria e transformação, que significa o trabalho com a agricultura. Apesar de os postos serem contrários, na essência representam parte do

mesmo fenômeno, certamente os trabalhadores homens estão nessa frente para executar trabalho braçal, e as mulheres estão na administração para executar o trabalho manual ou mental. Entretanto, a divisão do trabalho é aplicada a homens e mulheres da mesma forma, porque o fundamento é converter tudo em instruções rígidas e específicas para cada rotina (BRAVERMAN, 1980), de forma a baratear cada vez mais o trabalho assalariado e converter o processo de trabalho sob o domínio da tecnologia. Entretanto, há uma nova forma de ser do trabalho feminino, o qual se fundamenta em menor qualificação e no trabalho intensivo, além disso, há uma dupla exploração pelo capital, pois além de trabalhar no espaço público, fabril e de serviços, ela realiza [o] trabalho doméstico, garantindo a esfera da reprodução societal, esfera no não diretamente mercantil, mas indispensável para a reprodução do sistema do capital. (ANTUNES, 2008, p.119). De modo geral, o número de empregos formais para mulheres em 2013 foi de 13.260 e para os homens foi de 18.833. O número total de ocupações entre homens e mulheres foi de 32.093, considerando a população de 149.690 do Terceiro Anel, esse valor representa um pouco mais de 20%. Quanto ao número de estabelecimentos agropecuários no Terceiro Anel, o Quadro 1 apresenta o tipo de produtor, porém são variáveis que derivaram do Censo Agropecuário em 2006, mas só foram disponibilizados em 2009. A outra variável no Quadro 1 sobre o Médio Produtor foi disponibilizada no site do IBGE em 2014. (ZANCHET, 2010). QUADRO 1 NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS 34 TERCEIRO ANEL NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Município Agricultura Familiar PRONAF 2006 Agricultura Familiar PRONAF 2015 Familiar não PRONAF 2006 Não familiar, módulo fiscal Médio produtor 2006 NO Outros não classificados 2006 Adrianó 752 400 72 31 88 polis Agudos do 1.126 605 86 13 121 Sul Campo do 216 273 14 18 44 Tenente Cerro Azul 1.832 1.448 115 49 254 Doutor 555 551 19 27 55 Ulysses Lapa 2.244 1.492 159 237 236 Piên 1.035 899 58 10 37 Quitandinha 1.800 1.247 66 21 117 Rio Negro 880 806 78 33 63 Tijucas do Sul 818 650 39 40 89 Tunas do 236 200 13 4 19 34 Segundo o Censo Agropecuário de 2006, estabelecimento agropecuário é a unidade de produção que emprega total ou parcialmente atividades agropecuárias, aquícolas e florestais, submetidas à administração do produtor ou do empregador, localizada em área rural ou urbana, cuja finalidade pode ser a subsistência ou a venda, formando uma unidade recenseável. (IBGE, 2006).

Paraná Total 10.440 8.470 667 439 1.051 FONTE: Fonte: IBGE Censo Agropecuário (2006). Dados disponibilizados pelo IPARDES (2015) e pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-PR) (2015). Organização da autora. Considerando os dados da Agricultura Familiar 35, ou seja, somente àqueles que fazem parte do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF 36 ), referente ao ano de 2006, no Terceiro Anel, na RMC, verifica-se um total de 11.290 estabelecimentos de Agricultura Familiar. Em 2015 essa realidade foi alterada, pois houve redução no número de estabelecimentos da Agricultura Familiar com PRONAF para 8.470. Quanto ao estabelecimento de agricultor familiar na condição de médio produtor 37, que diz respeito ao regime familiar, mas demanda a contratação de empregado, constituindo, assim, o emprego rural, que pode ser caracterizado como permanente, temporário, parceiro 38 ou outra condição, foi identificado que, em 2006 houve 719 estabelecimentos que se utilizaram desta condição. Sobre os estabelecimentos não familiares, mas na condição de médio produtor, em 2006, foram identificados 459. Os outros considerados como não classificados, em 2006, representavam 1.123 estabelecimentos. A categoria outros não classificados são aqueles que não se enquadram como agricultor familiar e médio produtor. Por outro lado, essa categoria diz respeito aos grandes capitalistas, seja por extensão de terra ou por valor da produção. Vale lembrar que o Paraná é o segundo produtor de soja no país e sua economia está sustentada na exportação de commodities, como soja e milho. Os dados supracitados sobre a agricultura familiar revelam que no Terceiro Anel se concentra o maior número de estabelecimentos da agricultura familiar 12.561, portanto, esse dado é superior a soma do Primeiro e Segundo Anel que representa 11.478. Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) apontam que no Paraná a 35 A Lei nº 11.326 da agricultura familiar foi instituída em 24 de julho de 2006, a qual considera como agricultor familiar aqueles que dirigem o processo de produção, trabalham e se utilizam de mão de obra familiar no seu estabelecimento que tem até quatro módulos fiscais. 36 O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) visa o fortalecimento do agricultor familiar, de forma a integrá-lo ao agronegócio para que amplie a renda, o valor do seu produto e de sua propriedade, mediante apropriação de novas bases técnica e científica de produção, valorização do produtor rural e profissionalização dos produtores familiares. Para que os agricultores familiares tenham acesso a esse Programa, necessitam apresentar a Declaração de Aptidão ao PRONAF, que só pode ser adquirida se for considerado que o agricultor familiar explore a terra na condição de proprietário, arrendatário, posseiro, ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária, se residir na propriedade ou local próximo, utilize do trabalho familiar para explorar o estabelecimento e possuir até 4 módulos fiscais.para mais detalhes, ver referências conceituais, diretrizes e objetivos do PRONAF no site do Ministério do Desenvolvimento Agrário.http://www.mda.gov.br/ 37 A categoria médio produtor aparece pela primeira vez em 2014, no site do IBGE, cuja finalidade era evidenciar a importância da agricultura familiar e as ações de política agrícola para esta categoria que não se beneficia do PRONAF, mas pode acessar investimentos com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 38 O trabalhador parceiro é aquele que está sujeito ao produtor ou capataz e realiza as atividades sob o recebimento de uma cota-parte da produção. (ZANCHET, 2010).

agricultura familiar representa 82% do número de estabelecimentos na agropecuária e 70% do pessoal ocupado. Este segmento pratica a agricultura de subsistência e a produção de alimentos, voltada para o abastecimento interno e a segurança alimentar, por outro lado, também está associado ao grande capital. (NEAD, 2008). A integração do pequeno produtor ao grande capital é para investir na sua produção, contudo, necessita se aliar ao governo (políticas) e aos bancos. Esse processo expressa o interesse do capital em homogeneizar todos os que trabalham na agricultura, ou seja, integrá-los, de modo que se sintam parte de um mesmo projeto de desenvolvimento para o campo. O trabalhador familiar se submete ao capital, o qual mascara que estão sob o mesmo espaço político, sem revelar as desigualdades entre eles, aparentemente não há como diferenciá-los, mas na essência, há profundos processos excludentes que os expropriam da riqueza e da renda. Retomando os dados do Quadro 1, o qual revela que, de 2006 para cá houve redução no número de estabelecimentos da agricultura familiar, pode-se inferir que as mudanças na forma de produção têm alterado essa realidade, e também, porque o capital quando não tem interesse em se juntar com a agricultura familiar, isto é, quando não é rentável para ele, o mesmo dissemina os trabalhadores familiares. O capital tem interesse na agricultura familiar, como um dos pilares para a base social de desenvolvimento do país. Contudo, a forma como incorpora este processo, é no sentido de produzir no trabalhador familiar a sujeição à proletarização, por meio da integração plena. De acordo com Abramovay (2012), o qual corrobora com a integração do pequeno produtor ao grande produtor, a sobrevivência do agricultor familiar depende de sua integração ao capital, que significa se profissionalizar e aperfeiçoar tecnologicamente sua produção. Ora, a integração total, sob a lógica do mercado, tem uma feição impessoal, que produz nesse trabalhador espírito de competitividade e eficiência. Por traz disso, há diversas formas de submissão desse trabalhador ao capital, o qual está sob condições extremamente diferenciadas em termos de domínio dos meios de produção, da propriedade da terra, de acesso às políticas agrícolas de crédito e financiamentos etc. Àqueles trabalhadores familiares que não acompanharem a escala de produção acabarão sendo expropriados de suas terras e do seu trabalho. Embora, aparentemente esse processo separe o trabalhador familiar que se associa ao capital e o trabalhador que não consegue servi-lo, considera-se que eles pertencem a classe que vive do seu trabalho. A tendência da agricultura familiar, nesse contexto, é flexibilizar o trabalho e proletarizar o trabalhador familiar, submetendo-o ao comando do capital, o qual os quer apenas como produtor de mercadorias, e esse movimento se efetiva por meio das

políticas públicas e programas governamentais, a exemplo do PRONAF 39, cuja lógica é difundir que não há oposição entre o grande capital e a agricultura familiar, pois os dois se compõem em um mesmo movimento. Sob essa perspectiva, o trabalhador familiar para sobreviver, precisa estar unido a esse processo e acatá-lo. Retoma-se o Quadro 1, a partir da categoria não familiar, módulo fiscal, médio produtor, o qual possui 459 estabelecimentos, no Terceiro Anel da RMC. Esta categoria, já assume a feição empresarial e, nesse sentido, articula com os dados abaixo que retrata a condição de empregados, nesse contexto. Sobre a condição de empregados em estabelecimento agropecuário em 2006, total e de 14 anos e mais, sem laço de parentesco com o produtor, constatou-se que, haviam 1.740 empregados permanentes, 2.144 empregados temporários, 49 empregados parceiros e 13 empregados em outra condição. Somando o número de empregados temporários e parceiros, tem-se 2.193 trabalhadores que são contratados para trabalhar nos estabelecimentos agropecuários uma ou mais vezes, de acordo com a demanda do empregador. De modo geral, os estabelecimentos que contrataram os empregados mencionados, são aqueles que contratam menos de cinco pessoas, e são responsáveis por 37% do total de empregos e, provavelmente, ligados à agricultura familiar. (ZANCHET, 2010, p. 166). Vale destacar que o agricultor familiar que se enquadra no PRONAF pode ter até dois empregados permanentes. A agroindústria também é responsável pela contratação de um amplo número de empregados, seja na forma de emprego permanente ou temporário. Antunes (2011) evidencia um movimento contraditório, processual e multiforme de desqualificação do trabalho e subproletarização em setores situados na periferia, em que há um numeroso grupo de trabalhadores reserva, aptos para assumirem trabalho informal, temporário, parcial e subcontrato. De modo geral, os estabelecimentos agropecuários estão necessitando cada vez menos do emprego permanente e mais do emprego temporário, que aparece pela face de um trabalho parcializado e precarizado, cuja finalidade é intensificar as formas de extração do sobretrabalho em tempo cada vez mais reduzido (ANTUNES, 2011, 120-121). Sobre o número de parentes que trabalham com o produtor em estabelecimento agropecuário, verificou-se que há predominância entre 2 a 3 familiares que trabalham com laço de parentesco na agricultura familiar, totalizando 14.823, seguido de 4 a 5 familiares com 8.214, e 1 familiar com 3.251. Não foi identificado se a produção na agricultura familiar foi para subsistência ou se foi distribuída para comercialização. Zanchet (2008, p. 22-26) fez um estudo sobre as 39 De acordo com o Quadro 1, há estabelecimentos familiares que não se utilizam do PRONAF, porque contratam funcionários para trabalhar na produção. Entretanto, considera-se que o mesmo também se submete ao capital para produzir mercadorias.

ocupações no Paraná, a qual menciona que na produção animal há um crescimento dos trabalhadores por conta própria, juntamente com os membros não-remunerados, representam mais de 60% do total de pessoas ocupadas na criação de bovinos. Por outro lado, na produção de hortaliças mais de 70% do pessoal ocupado é para o consumo próprio, embora haja um importante segmento de produtores nessa área com atividade mercantil. (ZANCHET, 2008). Para a autora, a agricultura familiar representa 66,6% de pessoas ocupadas por conta própria e não-remunerados, sendo 22,8% na criação de bovinos, 11,1% na soja e 10,8% no fumo. De todo modo, esse dado é relevante, pois se apenas 2 a 3 parentes estão envolvidos com o trabalho na agricultura familiar, no Terceiro Anel na RMC, infere-se que os outros familiares, se houver, estão trabalhando em outros estabelecimentos para complementar a renda, tendo em vista que boa parte da agricultura familiar pode estar sendo direcionada para o consumo próprio, conforme aponta Zanchet (2008). Neste caso, considera-se que não é possível reproduzir as condições de vida somente com a agricultura familiar, implicando a necessidade de outros familiares buscarem outros empregos. Quanto à condição do produtor, se está associado à cooperativa e/ou entidade de classe, constatou-se que, dos 13.615 estabelecimentos apenas 3.411 produtores são associados à cooperativa e/ou entidade de classe. No que diz respeito à cooperativa, há 828 estabelecimentos associados. Sobre os associados a entidades de classe há 2.200. E os associados à cooperativa e entidade de classe representam 383 produtores. Chama atenção que 10.204 produtores não estão associados a nenhuma entidade no Terceiro Anel na RMC. Vale destacar que há sindicatos de trabalhadores rurais nos municípios do Terceiro Anel da RMC, como FETAEP 40 e FETRAF-Sul, essa última em um número 40 Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (FETAEP). É uma entidade sindical de segundo grau constituída para representar legalmente a categoria profissional dos trabalhadores rurais. (FETAEP, [2014?]). Esses trabalhadores compreendem: assalariados permanentes e temporários, agricultores familiares pequenos proprietários, arrendatários, meeiros e parceiros entre outros. Possui 308 sindicatos filiados no Paraná e esta entidade faz parte do sistema da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). A CONTAG e a FETAEP estão sendo subsidiada pelo SENAR que é mantido pelas entidades patronais. Essas entidades sindicais nos seus espaços de formação apontam que o seu fundamento é o fortalecimento da categoria trabalhador rural/agricultura familiar na sua base e na sociedade (FETAEP, 2013). Contudo, parece haver uma contradição, pois o movimento tem como princípio fortalecer a classe trabalhadora rural sob o apoio técnico e financeiro do patronato. Essa relação anula as tensões entre as classes, pois difunde uma visão de que os interesses dos capitalistas são os mesmos interesses dos trabalhadores rurais. Apesar de a CONTAG defender que os trabalhadores rurais precisam de uma formação crítica tornando-se os protagonistas na construção de alternativas de enfrentamento e de transformação da realidade, com vistas a implementar um novo projeto de sociedade (FETAEP, 2013, p. 29) sua aliança política para a concorrência pela representação desses trabalhadores/ agricultores familiares mantém práticas de conciliação entre as classes, desmobilizando os trabalhadores.

reduzido. Por outro lado, não há movimentos camponeses com identidade de luta de classes como: MST, MPA, MAB e CPT. Os dados analisados revelam que o trabalho no Terceiro Anel na RMC se apresenta de forma parcializada, desqualificada e precarizada. Esse processo também influencia as entidades de classe e as cooperativas, que apontam para redução dos produtores em se associar as entidades sociais. Esse dado, também pode ser analisado sob a perspectiva de que, se há pouca articulação coletiva nesses municípios, provavelmente há uma ocupação densa do capital nesses territórios, tendo em vista que ele se transfere para locais em que encontra menores resistências para explorar a terra e a força de trabalho. Os produtores estão cada vez mais individualizados porque essas entidades não estão fortalecendo suas demandas. Para Antunes (2008, p. 70), há uma crise sindical mundial que aponta para um movimento de individualização das relações de trabalho, de um sindicalismo subordinado ao comando do patronal, bem como, crescente burocratização e institucionalização das entidades sindicais que se distanciam dos movimentos sociais autônomos, em decorrência, de ações anticapitalistas, da luta contra o capital. Em síntese, há pouca articulação coletiva entre os produtores e ao mesmo tempo uma mínima representação, a qual está vinculada ao patronato rural por meio do SENAR. Essa situação desmobiliza os trabalhadores familiares que são predominantes no Terceiro Anel na RMC. Sobre o nível de instrução da pessoa que dirige o estabelecimento agropecuário, de um total de 13.615 produtores, 8.272 possuem Ensino Fundamental incompleto, 862 cursaram Alfabetização de Adultos, 1.350 tem o Ensino Fundamental completo, 215 possuem Ensino Médio Completo (técnico agrícola), 813 tem Ensino Médio completo, 60 possuem formação superior (Engenheiro Agrônomo, Veterinário, Zootecnista, Engenheiro Florestal), 180 tem outra formação superior, 778 não tiveram acesso à escola, mas sabem ler e escrever e 1085 produtores não sabem ler e escrever. Os dados revelam que o nível educacional desses produtores é extremamente baixo, se considerar que a maioria das pessoas que dirige os estabelecimentos agropecuários tem o Ensino Fundamental Incompleto. Outro dado que elucida isso é o analfabetismo entre os produtores, situação que traz conseqüências graves no que diz respeito às posições e condições de trabalho. Nesse mesmo processo está o acesso e a conclusão do Ensino Médio e da Educação Superior. A oferta de matrícula no campo brasileiro está entre os anos iniciais e finais do ensino fundamental [é] para duas vagas nos anos iniciais, [e] uma nos anos finais. Em relação aos anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, constata-se que

há seis vagas nos anos finais correspondendo a apenas uma vaga no ensino médio. (MOLINA, MONTENEGRO, OLIVEIRA, 2009, p. 28). O baixo acesso dos trabalhadores do campo aos diferentes níveis de ensino é parte da história da formação do campo brasileiro, revelando as persistentes desigualdades educacionais, e da vida econômica e política que foi estabelecida para esta população. A educação escolar que chega aos trabalhadores familiares é mínima, apenas para sua sobrevivência. Portanto, pode-se inferir que há dois movimentos que se expressam no Terceiro Anel, na RMC, a saber: a) se a maioria dos trabalhadores familiares possui baixa escolaridade, em decorrência, seu trabalho é para subsistência, tendo em vista que estes municípios são de difícil acesso aos centros urbanos em que geralmente é realizada a comercialização dos seus produtos ou b) esse trabalhador familiar vende seus produtos para um terceiro, o qual adquire por um valor mínimo. Esses movimentos acarretam submissão nas mais diversas condições de trabalho e remuneração. Esse retrato mencionado acima, se estende também para as pessoas ocupadas de 10 anos ou mais em atividades agrícolas, as quais estão predominantemente entre a ausência de instrução e o Ensino Fundamental incompleto, representando 22.467. Entre o Ensino Fundamental completo e o Ensino Médio incompleto há 4.319 pessoas, entre o Ensino Médio completo e o Ensino Superior incompleto há 2.917 pessoas, com o Ensino Superior completo há 402 pessoas e por fim, os não determinados representam 90 pessoas. Se os trabalhadores familiares na sua maioria tiveram acesso somente a um tipo de educação básica, elementar para o campo, isso significa que são trabalhadores pobres, que produziram sua existência material de forma precária, portanto, precisavam atender suas necessidades básicas. Assim, as condições para estudar, o tipo de educação, a formação e o conhecimento que tiveram acesso foi frágil, escasso, provavelmente não possibilitou que pudessem fruir do conhecimento produzido pela humanidade, pelo contrário, tratou-se da privação de um bem. No campo, sabe-se que essa privação se expressa de forma mais aguda, ou seja, há mais ausência no acesso e pouca fruição do conhecimento. Vale ressaltar que, os problemas que o trabalho enfrenta hoje, são os mesmos no campo e na cidade, porque os dois estão sob relações capitalistas, sob o monopólio do capital industrial, financeiro e comercial, os quais se juntam para disputar com o trabalho, no entanto, para produzir valor necessitam da força de trabalho assalariada. Considerações finais Esse texto apresentou a morfologia do trabalho e do trabalhador no Terceiro Anel na RMC, e a partir dos dados apresentados e analisados, foi possível revelar que: