ASSUNTO: RECOMENDAÇÃO MINISTERIAL ACERCA DO USO DE APARELHOS ELETRÔNICOS EM SALA DE AULA NOTIFICAÇÃO RECOMENDATÓRIA Nº. 03/2014 O DO ESTADO DE MATO GROSSO, por intermédio da Promotora de Justiça titular da 2ª Promotoria de Justiça Cível - Promotoria da Infância e Juventude de Alta Floresta/MT, com amparo nos artigos 127 e 129, incisos II e III, ambos da Constituição da República, e com alicerce no artigo 25, inciso VI, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei 8.625/93) e no artigo 47, inciso VII da Lei Orgânica Estadual do Ministério Público (Lei Complementar 25/98), CONSIDERANDO que a Constituição Federal e a Lei n. 8.069/1990, com base nos princípios fundamentais proteção integral, da prioridade absoluta e da dignidade da pessoa humana, garantem a toda criança e adolescente o efetivo exercício de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, através da ação integrada da família, da sociedade e do Poder Público (cf. art. 1º, inciso III c/c art.227, da Constituição Federal e arts.1º, 3º e 4º, da Lei nº 8.069/1990); CONSIDERANDO que o artigo 129 da Constituição Federal atribui ao Ministério Público o dever de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
CONSIDERANDO que o citado artigo 25, inciso VI, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei n. 8.625/93) dá ao Ministério Público o poder de fiscalizar os estabelecimentos penais e os abrigos de idosos, MENORES, incapazes ou pessoas portadoras de deficiência; CONSIDERANDO que a educação é DIREITO de todos e DEVER do Estado e da FAMÍLIA (art. 205, CF), observando-se, além disso, que o ensino será ministrado com base no princípio da garantia de padrão de qualidade (art. 206, inciso VII, CF); CONSIDERANDO que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, COM ABSOLUTA PRIORIDADE, o direito à educação (art. 227, caput, CF); CONSIDERANDO que a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho (art. 53, ECA); CONSIDERANDO que recentemente esta Promotora de Justiça foi informada acerca do uso indevido de aparelhos eletrônicos pelos alunos da rede estadual de ensino (ofício nº. 074/2014 Procedimento Preparatório SIMP nº. 002530-011/2014); CONSIDERANDO que a utilização indevida desses aparelhos, por alunos em sala de aula, prejudica profundamente o conteúdo ministrado, afetando não só o próprio detentor do aparelho como todos os alunos do recinto; CONSIDERANDO a eventual possibilidade de conivência dos pais à utilização de tais aparelhos, omitindo-se na orientação e guarda de
tais tecnologias, contribuindo, sobremaneira, com o prejuízo do ensino dos próprios filhos; CONSIDERANDO que as autoridades escolares solicitaram uma posição do Ministério Público, até mesmo para maior segurança jurídica das medidas a serem adotadas; RESOLVE: RECOMENDAR à todas as Escolas públicas situadas no Município de Alta Floresta, sejam elas Municipais ou Estaduais, a partir deste expediente, promovam as medidas administrativas necessárias para impedir que Celulares, MP3, MP4, Walkman, Discman e congêneres permaneçam LIGADOS no período em que as aulas estiverem sendo ministradas. Para tanto, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso recomenda a observância das seguintes proposições: 01. Todos os alunos deverão ser cientificados desta recomendação. Serão igualmente informados que, a partir da respectiva data, É TERMINANTEMENTE VEDADA A UTILIZAÇÃO DE TAIS APARELHOS DURANTE AS AULAS, os quais, inclusive, deverão permanecer desligados; 02. SOMENTE SERÁ PERMITIDA A UTILIZAÇÃO DESSES APARELHOS NO INTERVALO e RECREIO, haja vista que neste período não há prejuízo para o ensino; 03. Mesmo no período em que se permite a utilização dos aparelhos (intervalo e recreio), caso constatado, pelas autoridades escolares, que a tecnologia esteja propiciando situações perniciosas para o aluno, prejudicando a sua formação ou o seu ensino, poderá ser determinado o
desligamento imediato do referido objeto. Incontinente, os pais ou responsável serão chamados para tomar conhecimento dos fatos, exigindo-lhes que tomem as providências necessárias; 04. CASOS DE APREENSÃO DOS APARELHOS: se o aluno relutar em desligar o aparelho, o objeto será apreendido pela direção da escola, e os pais ou responsável serão chamados para que tomem conhecimento dos fatos, bem como para as providências necessárias, momento em que lhes será entregue o respectivo aparelho. Caso o aluno se negue a entregar o aparelho, a direção deverá tomar a conduta como indisciplina grave, chamando imediatamente os pais ou responsável; 05. INFORMAÇÃO JURÍDICA NECESSÁRIA: nas situações em que houver apreensão dos objetos, caso o aluno, ou mesmo os pais, contrários a medida extrema, aleguem o direito de propriedade dos aparelhos, deverá a autoridade escolar informar-lhes que o direito à educação, nas presentes circunstâncias, sobrepõe-se ao direito de propriedade. Não que se negue o direito de propriedade, ele existe, mas o direito a educação, nesse contexto, termina por afastá-lo, temporariamente; 06. Nas situações descritas nessa recomendação, em que a presença dos pais ou responsável for solicitada, caso não haja o comparecimento, ou a medida não seja suficiente, o CONSELHO TUTELAR deverá ser acionado. Ocorre que os Conselheiros Tutelares já foram orientados por esta Promotora de Justiça, acerca das medidas a serem adotadas. Em casos de maior gravidade ou não solução do problema, o Conselho Tutelar solicitará ao Ministério Público solução urgente;
07. Em situações de EXTREMA GRAVIDADE, a juízo da autoridade escolar, o Ministério Público deverá ser acionado diretamente. 08. Deverá ser afixado em local de acesso e nas dependências do estabelecimento de ensino, nas salas e em outros locais onde sejam ministradas aulas, cópia do aviso em anexo com os seguintes dizeres: É PROIBIDO O USO DE APARELHO CELULAR, GAMES, IPOD, MP3, MP4, MP5 OU QUAISQUER OUTROS EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS CONGÊNERES DURANTE AS AULAS." 09. Os servidores públicos vítimas de crime de DESACATO (Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.), deverão procurar a Autoridade Policial para confecção de Boletim de Ocorrência, a fim de que este órgão possa aplicar as sanções cabíveis em desfavor dos ofensores. 10. A proibição contida nesta notificação, também abarca os professores, coordenadores e diretores, quando encontrarem-se em sala de aula. Diante do exposto, fixo o prazo de 30 (trinta) dias para a apresentação de resposta à presente recomendação, informando as medidas adotadas, se o problema foi resolvido ou mesmo sugestões para uma maior aplicabilidade das medidas. Alta Floresta/MT, 29 de agosto de 2014. Élide Manzini de Campos Promotora de Justiça