Brasília, 08 de abril de 2014. Autores: Breno de Mesquita, presidente da Comissão Nacional do Café e Natália Fernandes, Assessora Técnica. Assunto: Impacto da seca brasileira na safra cafeeira, nas cotações e na renda do produtor rural. 1. Cenário 2014 Após a forte desvalorização da saca de café em 2013, o mercado reverteu a tendência de queda neste início de 2014 devido principalmente à estiagem registrada no Brasil. As altas temperaturas e o baixo volume de precipitação que atingiram as principais regiões produtoras de café no País prometem causar perdas significativas à safra a ser colhida em 2014. A severidade dessa seca é considerada inédita para este período do ano, em que a precipitação em fevereiro foi muito baixa, com as chuvas atingindo cerca de 20% da média histórica nas principais regiões produtoras. De acordo com a Somar Meteorologia, os dois primeiros meses de 2014 foram os mais secos em 30 anos no país, o que prejudicou a granação dos grãos, deixando-os ocos e chochos (ver figuras abaixo). Foto: Frutos com grãos completamente negros (esq.) e outros mal granados (dir). Fonte: Procafé.
Gráfico 1. Série histórica de precipitações mensais Varginha/MG. Fonte: Procafé. Segundo a Fundação Procafé, estima-se uma quebra de safra de até 20% nas principais regiões produtoras como Norte do Paraná, Mogiana e Alta Mogiana de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Acredita-se que em algumas regiões como as Matas de Minas as perdas podem atingir até 30%. Regiões como o Cerrado Mineiro, onde algumas lavouras são irrigadas, esse percentual deve ser menor. Além disso, para as lavouras mais novas as perdas poderão chegar a 50%, segundo relatos de produtores e informações da Cooxupé. Na imagem abaixo, o Diretor Comercial da Cocatrel e diretor do CCCMG, Nivaldo Mello Tavares, demonstra que testes realizados nas lavouras da região apresentam uma proporção entre cafés chochos e granados de 85% e 15%, respectivamente.
Além das perdas nos aspectos produtivos, há também registros das perdas vegetativas, como a escaldadura, em diversos níveis, com queima de folhas e até de frutos, conforme figura abaixo. Foto: Escaldadura severa, com queima de folhagem e frutos, no Sul de Minas(esq.) e escaldadura menos severa, na Z. Mata-MG(dir.). Fonte: Procafé. Diante disso, recente um levantamento da Procafé diminuiu a estimativa para a safra atual, de 44 milhões de sacas de 60 quilos para entre 40,1 e 43,3 milhões de sacas.
Gráfico 2. Evolução da produção brasileira de café. Os efeitos da atual seca também devem ser sentidos na próxima safra, a 2015/16, que será colhida ano que vem, já que o crescimento dos ramos dos cafeeiros pode ser afetado, assim como o da chamada gema floral, onde se formam os novos botões de flores que se transformarão em frutos no ano que vem. 2. Estimativas para safra cafeeira de 2015 Frente a isso, a Procafé reduziu a estimativa de 2015 para entre 38,7 e 43,6 milhões de sacas, ante projeção inicial de 43 a 44 milhões de sacas. Especialistas do Citigroup alertam que o tempo frio em junho e julho também pode danificar as plantações de café no Brasil, oferecendo suporte para movimentos ascendentes ainda mais acentuados. Vale ressaltar que o tempo seco impediu que os cafeicultores procedessem ao calendário de adubações recomendado. A maior parte deles realizou apenas a adubação de novembro, alguns poucos a de dezembro e pouquíssimos deles a de janeiro. A má nutrição das plantas poderá agravar os problemas de granação mencionados. 3. Impacto da seca na renda do produtor Com muitos grãos não granados e outros muito miúdos, considera-se inevitável uma quebra da safra, conforme apontado pela Procafé. Isso incentiva traders a se manterem na ponta compradora, dando força aos movimentos de alta. Tanto no mercado interno como externo, as cotações do produto têm mostrado firmeza nesses quatro primeiros meses do ano. No acumulado de 2014, a cotação do
café para o vencimento maio/14 na ICE Futures subiu 70%, até 07 de abril. No mercado físico, o indicador Cepea/Esalq para o café arábica registrou valorização de 50,6%, saindo de R$ 281,71/ saca em 1º de janeiro para R$ 424,29/saca em 07 de abril do presente ano, chegando a máxima de R$ 485,62/saca em 13 de março. Gráfico 3. Evolução das cotações do Indicador Cepea/Esalq para o arábica e do contrato set/14 da BM&FBovespa. Mesmo diante da forte valorização da saca de café, acredita-se que os produtores terão sérios problemas na época de colheita, problemas esses que poderão comprometer sua renda. Isso porque não há como distinguir os grãos chochos dos granados quando estão na árvore, o que obriga o produtor fazer a colheita completa de sua lavoura. A partir daí, só no momento do beneficiamento o produtor conseguirá mensurar as perdas decorrentes dos grãos que não granaram. Entretanto, neste momento ele já terá arcado com os gastos de colheita, e não terá a totalidade do volume colhido para comercializar. Considerando isso e que, normalmente, são necessários 400 a 500 litros para preparar uma saca de 60 quilos de café, técnicos da Cocatrel acreditam que esse ano será necessário em torno de 550 a 600 litros. Baseado no Campo Futuro (CNA/CIM-UFLA), o custo operacional total (COT) de uma saca de 60 quilos de café em uma região do Sul de Minas como Santa Rita do Sapucaí é, em média, R$ 458,36. Se for considerado que serão necessárias 100 litros a mais para se fazer uma saca, o COT de uma saca da safra 2014/15 seria R$ 550,03. Com a saca de café cotada a R$ 532,13 para setembro/14 (contrato BM&FBovespa a US$ 239,70 e dólar a R$ 2,22), sem a quebra de safra o produtor teria
Margem Líquida (ML = Preço COT) de R$ 73,81. Com a quebra de safra, a ML seria negativa em R$ 17,90, não remunerando a atividade. Portanto, mesmo com a forte valorização das cotações, o cafeicultor terá sua renda comprometida.