Módulo II Sujeitos da EJA CEEJA. Reconhecimento da Diversidade Sóciocultural dos educandos e das educandas Temática: Relações de Gênero

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Transcrição:

Módulo II Sujeitos da EJA CEEJA Reconhecimento da Diversidade Sóciocultural dos educandos e das educandas Temática: Relações de Gênero

O que é ser mulher??? O que é ser homem???

SEXO Biológico Transmitido geneticamente De nascimento GÊNERO Construção Social Transmitido pela educação Não nascemos com ele Ninguém nasce mulher: torna-se mulher Simone de Beauvoir

O conceito de Gênero Bases essencialmente na sociologia, antropologia e história; No ano de 1950 os estudos falavam da mulher sem contextualizá-la, naturalização da mulher; Patriarcado: direitos dos homens sobre as mulheres, sem restrições; Estudos sobre as mulheres : situa a subordinação das mulheres no tempo, espaço e em diferentes relações; Na década de 1980 surge efetivamente o conceito de gênero: estudos sobre as relações sociais e ideológicas entre homens e mulheres; Distintas perspectivas, mas sobretudo discutindo as formas de preconceito e discriminação entre homens e mulheres em diferentes campos; No campo da história: crítica porque a mulher não faz parte da história (Joan Scott).

O conceito de Gênero, para Scott (1995) Põe ênfase sobre todo um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas não é determinado por ele; É uma tentativa das feministas em mostrar a inadequação das teorias existentes para explicar as desigualdades; Significa relações de poder entre os sexos, mas também podem ser entendidas como possibilidades de transformações e construções de subjetividades; Refere-se aos símbolos culturalmente disponíveis em uma dada organização social, às normas expressas em suas doutrinas e instituições e à subjetividade construída nesse contexto Ênfase nas relações que os homens também estão inseridos.

O conceito de Gênero a divisão de trabalho e as relações entre homens e mulheres não são construídas em função de suas características biológicas, senão de um produto social que legitima as relações de poder dentro de um processo histórico que pode ser transformado. Portanto, gênero é uma categoria social que permite analisar papéis, responsabilidades, limitações, e oportunidades, que se dão de forma diferente, para homens e mulheres, no interior da unidade de produção, da família, da comunidade e da sociedade. (ABRAMOVAY & SILVA, 2000, p. 348)

O conceito de Gênero As relações de gênero evidentemente refletem concepções de gênero internalizadas por homens e mulheres. Eis porque o machismo não constitui privilégio de homens, sendo a maioria das mulheres também suas portadoras. Não basta que um dos gêneros conheça e pratique as atribuições que lhe são conferidas pela sociedade; é imprescindível que cada gênero conheça as responsabilidades-direito do outro gênero (SAFFIOTI, 1992, p. 193).

E como as ideologias de gênero são por nós internalizadas? Segundo Dulce Whitaker (1988) pela nossa socialização e educação: diferentes pessoas, instituições e meios se utilizam de mecanismos para produzir e reproduzir as desigualdades de gênero e manter a dominação masculina. - Didática da Gravidez; - Infância e Adolescência; - Papel da mídia e das instituições; - Inexistência Histórica das mulheres; - Educação do homem para violência, etc.

No Trabalho: Mulheres ligadas ao trabalho reprodutivo, doméstico, de cuidado com o outro; Múltiplas jornadas de trabalho (89% das mulheres e 47% dos homens ocupadas/os dedicam-se ao trabalho doméstico sendo 21 horas semanais contra 9h); Trabalho invisível, considerado ajuda ; Fragilização da mulher no trabalho; Valorização das profissões femininas quando realizadas por homens (agricultura, cozinheiros...). Em contrapartida: homens sustentação, são os que mais sofrem com o desemprego, trabalhos pesados...

Exemplo de Pesquisa: Madeirarte Assentamento Pirituba II Eu já escutei eles falarem assim que a gente vem aqui por que somos vagabundas, porque a marcenaria não é de gente que trabalha direito...eu já escutei isso aí...nunca comentei com ninguém [...] mas quando o Marcelo começou a trabalhar aqui falaram assim, onde já se viu o Marcelo trabalhar assim, mas eles falam isso porque a gente é mulher...eles acham que serviço nosso tinha que ser lidar com porco, lidar com vaca... (Rosa) Eles chegam aqui e falam: cadê o dono? Pois é, agora nós estamos mostrando que não é só homem que pode fazer assim, não tem diferença, você imagina o serviço da roça era muito mais pesado que esse aqui (da marcenaria) e a gente fazia, imagina pegar no cabo na enxada e carpir o dia inteirinho, arar a terra, plantar...quando? Mais pesado e debaixo do sol, da chuva...e na roça sempre o homem e a mulher iam, agora você vê, trabalhar fora a mulher não podia (Camélia).

Dados sobre mulher e trabalho: No mundo: - As mulheres executam 67% do trabalho realizado pela humanidade, mas recebem 33% dos valores destinados a salários; - São proprietárias de 1% dos bens imóveis; -Dos quase 1,3 milhão de miseráveis do mundo, 70% são mulheres; - 1,2 milhões de mulheres desempregadas em comparação aos homens No Brasil: - As diferenças de renda entre mulheres e homens são as maiores do mundo; - As mulheres recebem metade do salário dos homens e, - As mulheres negras recebem a metade do que ganham as mulheres brancas; -- As mulheres são as maiores proporções entre as empregadas domésticas, trabalhadoras na produção para o próprio consumo ou não remuneradas e servidoras públicas. Os homens se encontram na condição de empregados (com ou sem carteira assinada), conta-própria e empregadores.

Pesquisas R$ 7,00 R$ 6,00 R$ 5,00 R$ 4,00 R$ 3,00 R$ 2,00 R$ 1,00 R$ 0,00 R$ 6,29 R$ 4,62 R$ 4,35 R$ 2,92 Ganho por hora trabalhada Em qualquer situação, as mulheres negras são as que mais sofrem, sob o peso da dupla discriminação Homem Branco Mulher Branca Homem Negro Mulher Negra População escolarizada (com ensino médio completo ou superior incompleto).

Na educação Área de maior avanço das mulheres. O universo acadêmico registra maior número de matrículas de mulheres: Em 2007, 45% das matrículas do ensino superior foram de homens, enquanto que 54% foram de mulheres; Em 2005, as mulheres de 15 anos ou mais tinham uma escolaridade média de 7,1 anos de estudos, comparados a 6,8 entre os homens; Nas faixas etárias acima de 45 anos temos mais mulheres analfabetas, enquanto na faixa de 15 a 19 anos temos quase o dobro de homens (5,3%) que mulheres analfabetas (2,7%); Muitos destes meninos passaram pela escola, mas não aprenderam a ler e a escrever; Observa-se que o fracasso escolar e evasão é maior entre os homens jovens, principalmente entre os homens negros.

Segundo Maria Pinto de Carvalho (2004)... Pesquisas com alunos e alunas nas salas de reforço e análise dos critérios das professoras: 35 meninas Salas da 4º série: 60 alunos 25 meninos 17 crianças negras 13 no reforço 4 meninas 9 meninos -7 no reforço - 6 com indisciplinas Existe um silêncio nas escolas em torno dos temas gênero, classe e raça. É algo que não se discute organizadamente, embora incomode ou exatamente porque incomoda ; Observa-se uma culpabilização das famílias para o fracasso escolar, mas não se tem atentado para o que a escola fracassa em ensinar (em sua maioria homens e negros).

Na educação A desigualdade entre homens e mulheres na educação é observada no sexismo das áreas; Homens obtém melhores resultados em áreas exatas; A área de educação é um nicho de trabalho para mulheres: 80% (com exceção aos cargos de diretoria); Maiores médias de anos de estudos para as mulheres; Por outro lado, precisam estudar mais que os homens para conseguir as mesmas posições; Problemática: diferenças entre as mulheres (campo, regiões, raça/etnia, etc.); Quando adultas a dificuldade de voltar a estudar é maior, principalmente pelas relações familiares.

Mulheres na EJA Dois terços do total de analfabetos no mundo são mulheres com mais de 40 anos (África, Ásia e América Latina); A alfabetização da mulher vem ganhando espaço nas grandes conferências e nas políticas educacionais (redução da pobreza/ políticas para grupos identitários); Cresce o número de mulheres na EJA principalmente pela busca no mercado de trabalho (53% mulheres); A maioria dos que cursavam EJA era formada por pessoas que se declaravam pardas (47,2%), seguidas por brancas (41,2%), negras (10,5%) e de outra raça (1,1%). De um lado histórias de mulheres que viveram processos de exclusão, por não terem aprendido a ler e a escrever, na infância e na juventude, e de outro histórias de coragem e solidariedade que permitiram que se matriculassem em classe de alfabetização.

Falas de mulheres na EJA As mudanças que vivi pessoalmente... foi ter mais confiança em mim mesma. Agora, por exemplo, não tenho medo de reconhecer coisas que antes não queria reconhecer. Por exemplo, dizer que era analfabeta. Bom, não há problema ser analfabeta, eu era e pronto. Falar em público... eu pensava que nem iria entender ou saber falar. E também a vergonha, que ainda tenho, mas que antes não me deixava entrar num escritório de alguém para reivindicar coisas... Minha história... bom... eu tinha ido à escola, mas era analfabeta, porque tinha ido à escola dos 6 até os 9 anos, três anos... minhas duas irmãs menores foram para a escola, e eu, como meus pais achavam que eu já sabia... pois eu sabia somar, subtrair e multiplicar, mas não sabia dividir, e ler e escrever eu sabia um pouco, como sabe uma criança... então, supunham que eu sabia. E eu tinha que ajudar a minha mãe e, então, não fui mais para a escola. Fazia um par de anos que eu tinha a idéia de vir, mas não vinha, porque me dava vergonha; até que um dia meu marido disse: Venha, vamos para a escola, e me acompanhou e eu comecei a estudar. (auto-exclusão/auto-proteção)

Falas de mulheres Aconteceu a mesma coisa comigo: minha filha me empurrou. Porque eu, desde criança, fui para o batente e sempre me virei, e ninguém nunca conseguiu me enganar, mas isso de não conseguir ler uma placa, uma revista... Agora, estou muito contente, porque chegará o dia em que vou ler. Quando ando pelas ruas com uma amiga, a Lola, que sabe, ainda tenho que perguntar: o que está escrito ali?. Ela sabe um pouco, não muito, mas sabe. E por isso eu fico contente... A mulher trabalhadora não está representada, a que não tem formação está muito discriminada... às vezes, por ela mesma, pois pensa que não pode assumir nenhum protagonismo, nem pode fazer nada, que sempre tem que estar acompanhada de um homem: o marido, ou irmão. Ou, ainda, pensa que tem de estar acompanhada da professora, se está em curso. Pensa que não pode falar, não pode porque pensa que não vai conseguir. Há que empurrá-la para que faça coisas, para que perca o medo... O que quero dizer é que quando lhes dão lugar onde se podem expressar, elas se expressam... Caso de mulheres vítimas de violência e desmoralização ( falação ) por tentarem estudar e de mulheres que buscam outras mulheres para que os maridos as deixem estudar.

Pesquisa sobre aprendizado de homens e mulheres adultas/os Beltrame, 2007 (UFSC). Diferenças de trajetória e não de acesso: mulheres tempo escolar mais longo e ficam mais tempo fora da escola; Homens fundo da sala e sozinhos; Mulheres em duplas; Mulheres perguntam mais para as amigas e homens participam das discussões com mais segurança; Maior evasão de mulheres (trabalho, casamento, gravidez); Homens estudam mais em casa; Mulheres apoio da família e das professoras (cumplicidade) e homens vontade própria ou patrão; Conclusões: especificidades dos sujeitos que querem aprender nesta etapa da vida; movimento de pressão pelo alargamento de direitos.

Nos espaços de poder Ocupam 9% das cadeiras na Câmara de Deputados. 12% das cadeiras no Senado Federal. Homens Mulheres Homens Mulheres Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9% são mulheres. - Nos grandes espaços de poder, em geral, as mulheres ou não têm filhos ou tem apenas 1, enquanto os homens têm de 3 a 4 filhos; - O fato de não estarem nesses espaços impedem a discussão de temas fundamentais. De maneira geral as mulheres participam com posições de poder em pequenos espaços e têm grande atuação nos movimentos sociais, associações de bairro, grupos de mães, etc.

Outros dados sobre gênero As mulheres representam 51% da população. Existem cerca de 95 homens para cada 100 mulheres no Brasil (Roraima e Mato Grosso se invertem); Maior expectativa de vida: mulheres 75,8 anos e homens 68,1; Homens são as maiores vítimas da violência urbana; Diminuição da taxa de fecundidade no país (quanto mais baixa a escolaridade maior o número de filhos). Em 2005, 20% das crianças nascidas foram filhos e filhas de mães adolescentes; Maiores questões detectadas da gravidez precoce: abandono da escola e doenças sexualmente transmissíveis; Antigamente: 26 homens para cada mulher infectada por DST/Aids. Em 2007, 1,5 homem para cada mulher relações heterossexuais (94,5%) e entre mulheres casadas;

Outros dados sobre gênero No Brasil a mortalidade materna chega a 73 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. Nos países desenvolvidos de 6 a 20; Temas que envolvem essa questão: sexualidade feminina, planejamento familiar, saúde da mulher. A maior parte dos partos são realizados em hospitais, sendo 41% cesarianos. Na zona rural, o parto feito em casa corresponde a 20%, sendo que a maior parte não realizou qualquer atendimento pré-natal (escolha X única opção); Aumento da proporção de famílias chefiadas por mulheres. Em 2005, 28% das famílias tinham uma mulher como referência familiar.

Violência contra as mulheres: Psicológica, moral, sexual, patrimonial e física No Brasil, os números de espancamento de mulheres, são: Ano Mês Dia Hora Minuto 2 milhões 175 mil 5.800 243 4 1 mulher é espancada a cada 15 segundos Em 40 a 70% dos assassinatos de mulheres o autor é o próprio marido ou (ex)companheiro. Em 2006, pesquisas mostram que para 33% da população brasileira com 16 anos ou mais, a violência é o que mais preocupa as mulheres. 51% das pessoas entrevistas conhecem pelo menos 1 mulheres vítima de violência.

Reflexões Ainda não temos o igual direito à diferença garantido em nossa sociedade; Quais são as possibilidades de escolhas de homens e mulheres? Quais são as garantias sociais para a igualdade de gênero e autonomia feminina? Como estamos refletindo com as pessoas sobre as relações de gênero?

"A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbio, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros nas esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas, as coisas que não têm voz" (Ferreira Goulart)

Referências ABRAMOVAY Miriam; SILVA Rocicleide da. As relações de gênero na confederação nacional de trabalhadores rurais (Contag). In ROCHA, Maria Isabel Baltar (org). Trabalho e Gênero: mudanças, permanências e desafios. São Paulo: editora 34, 2000. p. 347 367. BELTRAME, Sônia Aparecida Branco. Relações de Gênero na escolarização de pessoas jovens e adultas. Fazendo Gênero, Santa Catarina, 2008. BRUSCHINI, Cristina. Gênero e trabalho no Brasil: novas conquistas ou persistência da discriminação? In ROCHA, Maria Isabel Baltar (org). Trabalho e Gênero: mudanças, permanências e desafios. São Paulo: editora 34, 2000. p. 13-58. CAMARGO, Elenice, et al. EJA: Tecendo reflexões sobre a alfabetização da mulher cidadã. Fazendo Gênero, Santa Catarina, 2008. CARVALHO, Marília Pinto de. O fracasso escolar de meninos e meninas: articulações entre gênero e cor/raça. Cadernos Pagu. Campinas, 2004. v. 22. p. 311-344. CHERFEM, Carolina, Orquiza. Mulheres marceneiras e autogestão na economia solidária: aspectos transformadores e obstáculos a serem transpostos na incubação em assentamento rural. Dissertação de mestrado defendida junto ao CECH/UFSCar, São Carlos, 2009. IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2005. IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2006.

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