MUDANÇAS CLIMÁTICAS O QUE CONSELHEIROS PRECISAM SABER. Núcleo de Sustentabilidade

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Transcrição:

Núcleo de Sustentabilidade MUDANÇAS CLIMÁTICAS O QUE CONSELHEIROS PRECISAM SABER Autores: Ricardo Muscari Scacchetti, Marise Hosomi, Heiko Spitzeck e Fernando Eliezer Figueiredo 2014

(c) Publicação do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral 2014. Créditos Autores: Ricardo Muscari Scacchetti Marise Hosomi Heiko Spitzeck Fernando Eliezer Figueiredo Colaboradores: Mário Pino, Beatriz Luz, Luiz Carlos Xavier Cláudia Melo Erika Rangel Keyvan Macedo Marcos Vaz Mariana Malufe e Renata Villegas Niels Holthausen Raphael Stein Thales Crivelli Nunes Henrique Pereira, Marcela Paranhos Marco Antonio Fujihara Braskem Swiss Re Fundamento Análises Natura O.N.E. Sustentabilidade Ilha Pura Empreendimentos Imobiliários Ernst Basler + Partners BNDES Samarco Way Carbon Key Associados Apoio técnico 2

Prefácio Núcleo de Sustentabilidade O tema de mudanças climáticas está cada vez mais maduro nas discussões na mídia, e na agenda do governo Brasileiro. Diversos estudos nacionais e internacionais relevantes foram publicados sobre o tema, como o relatório Stern sobre os impactos econômicos das mudanças climáticas 1, o Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, e grupos de discussão foram formados, como o Empresas Pelo Clima, da GVCes 2, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas 3 presidido pelo Presidente da República, e o Fórum Clima do Instituto Ethos 4. Comparando o discurso na mídia e o trabalho dos diversos fóruns empresariais relatando atividades de combate às mudanças climáticas (por exemplo, através do CDP (antigo Carbon Disclosure Project)) no Brasil 5, um leitor crítico nota que ainda são poucas as empresas que traduzem o discurso em prática, de forma proativa 6. Na interação com acionistas, conselheiros, presidentes de empresas e CEOs, a equipe do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral notou que a discussão sobre as mudanças climáticas ainda não entrou na agenda do conselho executivo das empresas. A falta de uma abordagem estratégica do tema, que é sem dúvida relevante para a sociedade, baseia- se no desafio de associar mudanças climáticas com a geração de valor econômico da empresa. Este estudo tem como objetivo apresentar os riscos e oportunidades de negócio atrelados ao tema de mudanças climáticas, para informar as decisões de conselhos de administração. O estudo é escrito em uma linguagem de negócios direcionada a bancos e seguradoras que têm o desafio de avaliar o desempenho de empresas frente a riscos climáticos na hora de conceder créditos ou oferecer seguros. Almejamos que esta publicação seja útil à transformação de empresas em organizações bem sucedidas, capazes de administrar melhor as oportunidades e riscos das mudanças climáticas. No mercado financeiro em particular, esperamos que o risco de inadimplência diminua em carteiras de investimentos contendo empresas mais resilientes e que seguradoras e resseguradoras arquem com menores custos frente aos impactos das mudanças climáticas em sua base de clientes corporativos. Heiko Spitzeck Gerente do Núcleo de Sustentabilidade Fundação Dom Cabral 1 Stern, N. (2007): The Economics of Climate Change, Cambridge University Press. 2 Veja http://www.empresaspeloclima.com.br (acessado 08.02.2014). 3 Veja http://www.forumclima.org.br (acessado 08.02.2014). 4 Veja: http://www3.ethos.org.br/conteudo/projetos/em- andamento/forum- clima- acao- empresarial- sobre- mudancas- climaticas/#.uvehsxlfwyg (acessado 08.02.2014). 5 Veja por exemplo o relatório do CDP Brasil de 2013 disponível em: http://www.cdpla.net/pdf/cdp_ra_2013_port_final_09_10.pdf (acessado 08.02.2014). 6 Sobre empresas proativas veja Araújo, L. E Gava, R. (2011): Empresas Proativas Como antecipar mudanças no mercado. 3

Conteúdo Sumário Executivo... 5 A Relevância de Mudanças Climáticas para o Negócio... 10 Regulatório... 15 Reputação... 18 Redução de custos... 21 Gestão de riscos... 24 Novos mercados... 27 Acesso a capital... 29 Mudanças climáticas no setor financeiro... 31 Conclusão e Road Map... 34 Referências... 37 Anexo I. Priorização setorial... 39 Anexo II. Mudanças climáticas... 41 4

Sumário Executivo Uma visão clara e realista da relação das mudanças climáticas com a geração de valor econômico permitirá aos conselhos de administração tomar decisões mais assertivas frente a riscos e oportunidades que o tema apresenta para as empresas. Segundo Marcos Vaz da O.N.E. Sustentabilidade: organizações que explicitam seus interesses financeiros por trás de iniciativas de sustentabilidade são vistas de forma mais credível e apresentam maior potencial de criação de reputação. Mesmo no contexto brasileiro atual, em que não existem obrigações legais de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), as empresas que visam à geração de valor O aumento das temperaturas pode provocar perdas no valor de R$ 7,4 bilhões na agricultura já em 2020 (2). Perdas anuais com enchentes somam atualmente cerca de R$ 1,4 bilhão, concentrando- se nas grandes cidades do Sudeste (21). econômico no longo prazo são, em muitos casos, recomendadas a considerar as mudanças climáticas em sua tomada de decisões, beneficiando assim seus acionistas e a sociedade. O presente estudo descreve a relação entre os riscos e oportunidades das mudanças climáticas e a geração de valor econômico, tendo em vista o contexto atual do Brasil. Estas informações são cruciais para aquelas empresas que querem reduzir os riscos atuais e preparar a empresa para explorar potenciais oportunidades relacionadas ao tema. Ao entender a relação das mudanças climáticas com a geração de valor econômico, as empresas serão capazes de priorizar suas iniciativas de forma mais fundamentada, e instituições financeiras poderão integrar aspectos de mudanças climáticas na avaliação de empresas ou na criação de novos produtos financeiros. Portanto, este estudo é recomendado principalmente a: Conselheiros e Diretores de Empresas Gestores de Carteiras de Investimentos Gestores de Risco em Seguradoras Mudanças no ambiente de negócios Evidências das mudanças no clima já podem ser percebidas principalmente através de eventos climáticos extremos. O aumento da temperatura, secas e enchentes têm afetado a produtividade da indústria e destruído ativos em diversas regiões do país. Além dos impactos diretos nas empresas, as mudanças do clima terão impactos indiretos através de pressões de regulamentações, exigências de investidores, clientes e fornecedores. Neste contexto, foram identificados 6 áreas de ação orientadas para a geração de valor, chamadas de alavancas de valor : Regulatória resposta a exigências legais atuais e preparação para obrigações prováveis. Reputação manutenção e melhoria da reputação da empresa perante clientes, governo, investidores e a mídia. Gestão de riscos identificação, avaliação e gestão de riscos climáticos físicos. Redução de custo programas de melhoria de eficiência que reduzem emissões de GEE e custos simultaneamente. Novos mercados desenvolvimento de novos produtos/serviços que possibilitem atingir novos mercados. 5

Acesso a capital financiamento de projetos através de linhas de crédito especiais. Exemplos de geração de valor econômico O potencial de geração de valor econômico das alavancas depende do contexto externo e do setor de atuação da organização. Abaixo, citamos exemplos de pressões externas ou riscos que afetaram empresas e ações que empresas tomaram, capazes de transformar a situação em oportunidades. Os exemplos foram classificados conforme sua interferência no valor econômico da empresa, isto é no valor presente liquido. RELEVÂNCIA ALTA Risco O nordeste brasileiro enfrentou em 2013 a maior seca dos últimos 50 anos. Em Pernambuco, os prejuízos na pecuária são estimados na ordem de R$ 1,5 bilhão 7. No Ceará, 1.400 municípios foram afetados 8. Oportunidade Gestão de risco: a Unilever, tomando conhecimento de potenciais riscos em sua cadeia de suprimentos, desenvolveu um programa para treinar pequenos produtores de chá no Quênia em agricultura sustentável, aumentando sua produtividade entre 5% e 15% (1). Oportunidade - Redução de custos: no setor de transportes, o combustível representa mais de 30% dos custos operacionais 9. Uma melhoria de eficiência de 10% poderia significar 3% de redução de custo ou ainda 12% de aumento de EBITDA 10. RELEVÂNCIA MÉDIA Risco - Mudança do comportamento dos clientes: a Natura integrou a pegada de carbono a seu processo de tomada de decisão de compras. Sendo assim, produtos com uma menor pegada são mais competitivos 11. Oportunidade Novos mercados: Na Braskem, cada kg de plástico verde produzido absorve 2-2,5 kg de CO2 da atmosfera. A proposta do produto aumentou o preço do plástico significativamente, porque agrega valor a clientes com preocupações de sustentabilidade (ex. Natura). O produto de plástico verde provoca uma diferenciação em um mercado tradicionalmente de commodities. RELEVÂNCIA MODERADA Risco Regulatório: a Política Nacional de Resíduos Sólidos exerceu pressões sobre a gestão de resíduos sólidos da construção civil, levando ao aumentando do custo de disposição. Oportunidade Redução de risco: Ilha Pura Empreendimentos Imobiliários, reduziu R$ 500 mil dos custos de destinação de resíduos com a implantação de um programa de reaproveitamento e reciclagem de resíduos. Além disso, esta iniciativa reduzirá emissões de GEE da obra 12. 7 Veja http://www.nordeste.cnm.org.br/img/download/estudocnm/estudo_seca_nordeste_final.pdf 8 Veja por exemplo: http://globotv.globo.com/tv- verdes- mares/cetv- 2a- edicao/v/agricultores- fecham- trecho- da- br- em- protesto- por- acoes- contra- a- seca/2535934/ (acessado 08.02.2014). 9 EPE, Plano Nacional de Eficiência Energética, 2012 10 Assumindo uma margem EBITDA de 20%. 11 http://revistasustentabilidade.com.br/com- novos- produtos- natura- espera- reduzir- pegada- de- co2- em- 2013/ 12 Dados concedidos pela empresa. 6

Prioridades setoriais para geração de valor econômico Dependendo do setor de atuação, as alavancas apresentam maior ou menor potencial de geração de valor econômico. Abaixo, ilustramos as alavancas prioritárias, seja por reduzirem a exposição a riscos seja por explorarem oportunidades, de acordo com a opinião dos especialistas participantes da elaboração do estudo. É importante mencionar que algumas alavancas de valor, como regulatória e novos mercados, dependem mais fortemente do contexto externo, enquanto outras, como redução de custos, dependem mais do contexto interno da empresa. Veja Anexo I. Priorização setorial, para maiores detalhes sobre a avaliação do grau de relevância das alavancas de cada setor. Potencial de geração de valor Setor Regulató- rio Reputação Gestão de Risco Redução de custos Novos mercados Acesso a capital 01. Construção 02. Varejo 03. Açúcar e álcool 04. Agronegócio 05. Alimentos 06. Autopeças 07. Atacado 08. Bebidas e fumo 09. Bancos 10. Cosméticos 11. Educação 12. Eletroeletrônicos 13. Energia 14. Farmacêutica 15. Higiene e limpeza 16. Materiais de construção 17. Mecânica 18. Mineração 19. Papel e celulose 20. Petróleo e gás 21. Química e petroquímica 22. Saúde 23. Seguros 24. Serviços 25. Siderurgia e metalurgia 26. Tecnologia software e serviços 27. Telecomunicações 28. Têxtil, couro e vestuário 29. Transportes 30. Veículos 7

Alavancas de geração de valor mais relevantes para sua organização O potencial das alavancas deve ser refinado de acordo com as especificidades da empresa. Elencamos abaixo algumas questões para auxiliar a identificação das alavancas de maior potencial na sua organização. Para cada sim marque um ponto ao lado. As alavancas que tiverem 2 ou mais pontos são relevantes. Quais são as alavancas de valor mais relevantes para sua organização? Alavanca de valor Regulatório Reputação Redução de custos Gestão de Risco Novos mercados Indicadores de relevância Sua organização é obrigada a apresentar inventário de GEE? (Consulte notas de rodapé 18 e 19 da página 17) Sua empresa ou as empresas da sua cadeia de valor participa(m) de licitações para fornecimento ao Poder Público de produtos florestais ou utilizadores de recursos naturais (como madeira, papel, carne bovina)? O índice de emissões de GEE por receita é superior a 0,25 tco2e/r$ mil 13? Caso este valor seja superior, uma potencial taxação do carbono poderia gerar impactos representativos no resultado da empresa. O setor em que sua organização atua é carbono- intensivo? Investidores e clientes valorizam o tema? Concorrentes estão listados no ICO2, ISE ou DJSI? Os concorrentes estão mais à frente do que sua organização na gestão de carbono? Os custos com energia, perdas de materiais ou destinação de resíduos e tratamento de efluentes representam mais de 10% do EBITDA da organização? A organização apresenta um consumo específico de material e energia crescente, ou no mesmo patamar nos últimos 3 anos? É possível alterar o processo ou substituir equipamentos visando à melhoria de eficiência? A organização possui ativos em áreas afetadas anteriormente por eventos climáticos extremos? Consulte: http://s2id.integracao.gov.br/ A organização possui ativos a menos de 1 metro acima de áreas alagáveis ou do nível do mar? Os principais recursos para a operação da empresa (humanos e cadeia de suprimentos) podem ser impactados por eventos climáticos? Consulte: http://preview.grid.unep.ch/ A organização possui atividades de agricultura que podem ser impactadas pela mudança gradual do clima? Consulte: http://www.agritempo.gov.br/climaeagricultura/ Seus produtos podem ser configurados para apoiar a adaptação às mudanças climáticas? Exemplos: infraestrutura de proteção, serviços de consultoria, seguros, entre outros. Seus clientes ou investidores já demonstraram algum interesse ou demanda específica relacionada a mudanças climáticas? Exemplo: estudo de pegada de carbono, estudo de riscos climáticos, entre outros. Alguns de seus produtos são feitos a partir de base vegetal que captura CO2? Ex. Pontos 13 Industrias que apresentam um fator superior a 0,25 tco2e/r$ 1.000 de receita podem ser exposto ao risco de uma taxa mais significativa em termos económicos. As premissas relevantes são: meta de 25% de redução, preço da taxa R$40 por t de CO2e. Ex. o setor de logística poderia ter uma taxa equivalente a 0,3% da receita anual. 8

móveis são capazes de sequestrar o carbono contido na madeira ou siderurgia alimentada a carvão vegetal renovável. Sua empresa exporta produtos para mercados mais exigentes como, por ex., a Europa? Acesso à capital Existem investimentos programados com potencial de redução de GEE? O capital necessário para projetos de mitigação/adaptação é relevante? As operações da empresa podem ser alinhadas com a mitigação das mudanças climáticas? O custo de capital da empresa está acima da média de mercado? 9

A Relevância de Mudanças Climáticas para o Negócio Evidências das mudanças no clima já podem ser percebidas e já estão afetando os negócios e a sociedade. O aumento da temperatura, secas e enchentes têm afetado a produtividade da agricultura no país. Estima- se que as perdas na agricultura devido às mudanças no clima somem R$ 7,4 bilhões já em 2020 (2). Eventos climáticos extremos no Brasil, como o furacão Catarina em 2004, que causou prejuízos na ordem de R$ 330 milhões (3), e as chuvas intensas na costa Sudeste em 2010, que causaram prejuízos de R$ 230 milhões (4), tenderão a ocorrer com maior frequência e intensidade. Uma breve descrição sobre mudanças climáticas pode ser encontrada no Anexo II. Pesquisas científicas do IPCC e Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas projetam que os impactos das mudanças climáticas tenderão a aumentar, afetando diversos setores da economia e cidades. Neste contexto, as empresas tenderão a se assegurar contra riscos climáticos, o que deslocaria o risco para as mãos das seguradoras e resseguradoras. Nos EUA, onde produtos de seguro têm maior penetração, o Furacão Sandy gerou perdas asseguradas de U$ 30 bilhões de um total de prejuízo de U$ 65 bilhões (5). Isto significa que U$ 35 bilhões foram riscos não assegurados que têm que ser pagos pelas empresas e pessoas afetadas. As perdas de U$ 30 bilhões das seguradoras vão provocar uma reavaliação das metodologias de cálculo de riscos e podem levar ao aumento do custo do seguro ou até à rejeição a assegurar algumas empresas. Segundo estimativas da Swiss Re, o Brasil sofre perdas anuais da ordem de U$ 1,4 bilhão com inundações (21). Em 2030, principalmente devido ao aumento de ativos expostos a risco, este valor poderá chegar a USD 4,0 bi, concentrando- se na região Sudeste (21). Para se estimar o valor do risco a que sua empresa está exposta, pode- se imaginar uma perda anual de R$ 237/ R$ 1 milhão do ativo imobilizado em 2012 e R$ 340/ R$ 1 milhão do ativo imobilizado em 2030 15. Desta forma, basta multiplicar este fator pelo ativo imobilizado da empresa. Além dos impactos físicos citados acima, as mudanças do clima terão impactos indiretos através da mudança do ambiente regulatório, relação com clientes, investidores e fornecedores. Por exemplo: Preocupados com os impactos das mudanças climáticas, clientes têm pressionado as organizações para implantar ações de mitigação, direcionando suas compras a produtos mais responsáveis. A Carbon Trust já certificou 178 organizações e 28.000 produtos com selos de pegada de carbono que informam os consumidores sobre a emissão de toda a cadeia de produção do produto (7). No primeiro momento, isso gera uma boa reputação para empresas proativas no mercado. No segundo momento, torna- se padrão e gera uma desvantagem para empresas não certificadas, principalmente se atenderem a mercados mais exigentes, como a Europa. Investidores estão incorporando a análise de desempenho socioambiental ao processo de análise de crédito, visando reduzir sua exposição a riscos, tanto reputacionais, como regulatórios e físicos. Atualmente, existem redes de instituições financeiras trabalhando neste tema, por exemplo, o Principles of Responsible Investment tem 1245 instituições financeiras signatárias. O governo tem criado novas regulamentações e incentivos a iniciativas de baixo- carbono. O Fundo Clima oferece financiamento a taxas atraentes para projetos que reduzam emissões de 10

gases de efeito estufa. O fundo investiu, por exemplo, em um projeto que ampliou a eficiência da produção de carvão vegetal 14. No Rio de Janeiro, o processo de licenciamento ambiental exige inventário de carbono para certos empreendimentos 15. A cadeia de fornecimento de matéria- prima e logística tem sido impactada pelas mudanças climáticas. O aumento das temperaturas pode provocar perdas da ordem de R$ 7,4 bilhões já em 2020 (2). Custo externo do carbono A emissão de GEE, através das mudanças climáticas, causa danos monetários aos atores externos, aos agentes responsáveis por sua emissão, efeito chamado de custo externo. Com o aumento da conscientização destes danos por entidades públicas, consumidores e instituições financeiras, espera- se que ocorra uma gradativa internalização destes custos no balanço das empresas. Segundo estimativa do Governo dos EUA (8), o "custo social do carbono", assumindo uma taxa de desconto de 3% a.a., será de U$38/tCO2e em 2015. Para estimar o custo externo causado diretamente pela sua organização basta multiplicar as emissões de GEE diretas de sua empresa por U$38. Agora divida este valor pelo EBITDA da empresa. Qual o % do EBITDA que pode estar exposto à internalização dos custos do GEE? Custo externo do carbono = emissões de GEE (tco! e) custo do carbono (U$/tCO! e) Pode- se aplicar a mesma lógica para o produto comercializado por sua organização, neste caso, considere não apenas as emissões diretas (ligadas à operação), mas também as indiretas (ao longo da cadeia de valor). O relatório Stern (6) também provê informações que permitem calcular o custo externo do carbono. Segundo este estudo, o impacto econômico de mudanças climáticas, caso não sejamos capazes de limitar o aquecimento global a 2 C, pode representar uma perda de 5% do PIB mundial a cada ano. O PIB brasileiro em 2013 era de aproximadamente U$ 72 trilhões 16, aplicando o dado mundial de perdas por mudanças climáticas no Brasil, o impacto econômico poderia somar cerca de de U$ 3,6 trilhões ou R$ 8,6 trilhões por ano. O relatório Stern estima o custo social do carbono em U$ 106/tCO2e (9). Pode- se seguir o mesmo procedimento descrito acima para estimar o custo externo do carbono. Alternativamente, caso não haja dados sobre as emissões da organização, pode- se estimar o custo externo calculando- se a representatividade da receita da empresa no PIB Brasileiro e, posteriormente, multiplicando pelo impacto econômico das mudanças climáticas no Brasil (U$ 3,6 trilhões). Custo externo do carbono =!"#$%"&'(#) impacto econômico das mudanças climáticas!"# Frente a estes dados, a reação das empresas pode ser classificada em três grupos: 1. Céticos muitos executivos nos dizem que ainda não está 100% comprovado que as mudanças climáticas são causadas pelas atividades econômicas. Este grupo corre o risco de que as 14 Para acessar os recursos, a empresa precisou comprovar que toda a madeira utilizada tinha origem em florestas plantadas. Veja http://www.institutocarbonobrasil.org.br/mudancas_climaticas1/noticia=736344. 15 Resolução INEA/PRES Nº 64 DE 12/12/2012. Link: http://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=248481 Acesso: 15/02/2014. 16 Fonte: Banco Mundial - http://databank.worldbank.org/data/views/variableselection/selectvariables.aspx?source=world- development- indicators 11

mudanças climáticas se manifestem em riscos físicos e financeiros e a empresa pode ser atingida sem estar preparada. 2. Moderados este grupo de executivos aceita a tese de que as mudanças climáticas representam riscos reais para o negócio da empresa. Eles começam a identificar as áreas de negócios mais afetadas e a medir indicadores- chaves de desempenho (ex. emissões, consumo de água, consumo de energia) e inserem aspectos de mudanças climáticas na gestão de riscos (monitoramento, engajamento da cadeia de valor, redução e mitigação de riscos, planos de contingência, planejamento de cenários). 3. Pioneiros este grupo de executivos vai além da gestão de risco e procura criar valor para outros stakeholders, como clientes sustentáveis, investidores conscientes e funcionários com valores socioambientais. Embora os impactos das mudanças já estejam ocorrendo, a grande maioria das empresas ainda não está considerando estes impactos nos seus negócios. A integração das mudanças climáticas na estratégia e gestão demanda um tempo considerável, devido à complexidade do tema e à necessidade de interação com diversas áreas. Por exemplo: leva- se cerca de 3 anos para alcançar um bom nível de qualidade na contabilização de emissões de GEE (inventário), que também envolve a cadeia de fornecedores. Além disso, tomadas de decisão no curto- prazo podem expor a empresa a riscos climáticos no longo prazo, por exemplo, em contratos de venda de energia hidroelétrica de longo- prazo em caso de secas. 12

Alavancas de valor das mudanças climáticas O tema das mudanças climáticas pode ser integrado na estratégia e sistema de gestão das empresas, assim como Natura e Braskem fizeram. Para isso, é preciso ter uma visão clara de como as mudanças afetarão os negócios. Obviamente, um business case é um argumento mais forte para convencer conselheiros e acionistas para atuar fortemente no tema. Valor econômico Pressão externa Alavancas de valor! Mudança de comportamento dos clientes! Impacto de eventos climáticos no custo dos insumos! Criação de taxas e incentivos atrelados à pegada de carbono! Impacto de eventos climáticos nos ativos da empresa! Linhas de crédito especiais para mitigação e adaptação climática! Aumento da percepção de riscos climáticos por investidores! Criação de reputação! Exploração de novos mercados! Redução de custos ou eco- eficiência! Cumprimento e engajamento na construção de regulamentação! Gestão de riscos! Acesso a capital! Manutenção da reputação! Manutenção de acesso a capital! Maior rigidez na concessão de licenças de expansão! Gestão de risco regulatório As alavancas de valor podem se relacionar tanto a proteção de valor (gestão de riscos em sentido mais amplo) como a geração de valor (exploração de oportunidades) de forma tangível e intangível como ilustrado na figura abaixo: 13

Conteúdo das seções seguintes Nas seções seguintes, são apresentadas cada uma das alavancas de valor em maior detalhe: Regulatório Cumprimento de exigências legais e engajamento na elaboração de regulamentações setoriais e incentivos. (seção 2.1) Reputação Desenvolvimento de iniciativas e comunicação do comprometimento da empresa com a mitigação das Mudanças Climáticas. (seção 2.2) Gestão de risco Identificação, avaliação e gestão de riscos climáticos físicos. (seção 2.3) Redução de custo Identificação e desenvolvimento de iniciativas capazes de reduzir emissões de GEE e gerar retornos financeiros. (seção 2.4) Novos mercados Criação de serviços e produtos que exploram novos mercados ligados a mitigação e adaptação climática. (seção 2.5) Acesso a capital Financiamento de projetos de mitigação e adaptação através de linhas especiais de crédito. (seção 2.6) As seções contarão com os seguintes aspectos: Breve descrição da alavanca e sua relação com o valor econômico Fatos relevantes, exemplificando a ocorrência de fatos que justificariam ações das empresas ou casos em que foi gerado valor para as empresas. Boas práticas, recomendações de especialistas sobre formas de aplicação dentro de uma organização. Indicadores de relevância da alavanca para sua organização. Estes indicadores servem como termômetro para verificar se o tema é relevante para sua organização. 14

Ferramentas apresenta as ferramentas, guias e relatórios mais relevantes sobre o tema. Regulatório Existem incertezas quanto ao rumo regulatório sobre mudanças climáticas a ser tomado no Brasil. Isto porque a definição de um marco regulatório claro pressupõe a seleção de um modelo de política pública, dentre os vários possíveis - tal como o estabelecimento de metas de redução, instrumentos fiscais positivos ou negativos, concessões de créditos e financiamentos, cap and trade, pagamentos por serviços ambientais, entre outros - e a formalização de compromissos visando a implantar a política adotada. Hoje, a base do marco regulatório é representada pela Política Nacional 17 e pelas Políticas Estaduais de Mudanças Climáticas de alguns estados, dentre as quais destacam- se as do Amazonas 18 e de São Paulo 19, estados cujas economias estão lastreadas em atividades com maior potencial de serem positiva ou negativamente impactadas por esforços de redução de emissão (gestão de florestas e indústria/energia/transporte urbano, respectivamente). Com relação à Política Nacional, destaca- se o estabelecimento do compromisso voluntário de redução de GEE de 36,1 a 38,9% das emissões nacionais, projetadas até 2020. Com relação às políticas estaduais, mais especificamente aquelas do estado de São Paulo, destaca- se o estabelecimento da meta vinculante de redução global de 20% das emissões de CO 2, relativas a 2005, em 2020. A maioria das previsões destas políticas tem um caráter programático, ou seja, mais estabelecem diretrizes para guiar a atuação futura, do que regras, incentivos e penalidades específicas, o que faz deste um momento importante de engajamento das empresas nas discussões promovidas nos diversos fóruns existentes. Porém, há alguns aspectos já regulamentados, como: a obrigatoriedade de apresentação de inventário de emissões de GEE por empresas atuantes nos estados de RJ 20 e SP 21 de determinados setores, que vincula, inclusive, a renovação de licenças ambientais, e a comprovação de origem de produtos florestais (como madeira) ou utilizadores de recursos florestais (como carne bovina) para compras governamentais. Como se pode notar, as metas de redução foram estabelecidas de forma voluntária na esfera federal e, vinculante, na estadual. Este conflito de abordagem gera dúvidas sobre se o Governo Federal, visando à proteção ambiental, poderia exigir o cumprimento de tais metas ao Estado de SP ou se o Estado de SP teria competência para estabelecer obrigações às empresas em seu território. Atualmente, é possível verificar que a meta federal, estabelecida com base nas emissões projetadas para 2020, será facilmente atingida por meio da redução do desmatamento verificada a partir de 2004, e também devido a uma atividade industrial mais lenta do que aquela assumida nas projeções para 2020. Neste sentido, o Governo Federal poderá buscar o atingimento do compromisso voluntário diretamente pelo Poder Público, sem a participação direta do setor privado. 17 Lei Federal 12.187/2009, regulamentada pelo Decreto Federal 7.390/2010 18 Lei Estadual 3.135/2007, regulamentada pelo Decreto Estadual 26.581/2007 19 Lei Estadual 13.798/2009, regulamentada pelo Decreto Estadual 55.947/2010 20 Resolução INEA/PRES Nº 64 DE 12/12/2012. Link: http://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=248481 Acesso: 15/02/2014. 21 Decisão de Diretoria nº 254/2012/V/I, de 22-8- 2012. Link: http://www.cetesb.sp.gov.br/proclima/inventario- de- gee- empreendimentos/384- inventario- de- gee- empreendimentos Acesso: 15/02/2014 15

De maneira geral, pode- se esperar que o marco regulatório nacional não crie obrigações de redução ou imponha taxas de carbono ao setor privado no curto e médio prazos, tendo em vista o cumprimento da meta federal, a elevada carga tributária da indústria e o grande número de oportunidades de abatimento de GEE a um custo negativo (veja seção 2.3). Os autores acreditam que o governo focalizará o incentivo às reduções do setor privado através de instrumentos de crédito como o Fundo Clima e o Fundo Amazônia (veja detalhes na seção 2.6), porém, estenderá suas iniciativas de imposição de obrigações, como, por exemplo, o monitoramento através dos inventários de GEE, controlando seu cumprimento por meio de instrumentos já conhecidos e testados, como as licenças ambientais. Por fim, o marco regulatório nacional deverá sofrer influências diretas de discussões internacionais em andamento, como as que discutem a criação de metas de redução nacionais, a criação de carbon border taxes (cuja definição esbarra no crivo de organismos como a OMC, em razão do impacto no livre comércio internacional) e a política climática global pós- Kyoto. Algumas regulamentações nacionais criadas no longo prazo, porém com maior incerteza sobre seu funcionamento, são: Taxação de carbono, discutida nos últimos anos em diversos países industrializados (10). Estes projetos envolviam indústrias de alta emissão, como cimento, aço, alumínio, química ou produtores de combustíveis fósseis, como no México. Caso fosse implantada uma regulamentação do gênero no Brasil, a taxa para se atingir uma meta de redução de 25% das emissões da indústria, poderia alcançar até R$ 40,00 por tco2e acima da meta 22, afetando principalmente companhias de aviação e logística, nas quais o combustível representa cerca de 30% dos custos operacionais. Soluções menos conservadoras, como as baseadas em instrumentos de mercado e pagamento por serviços ambientais poderiam ser reforçadas, a depender do resultado de negociações internacionais que as testem e incentivem. Fatos relevantes Indicadores de relevância: Se você responder sim a todas as questões abaixo, vale a pena olhar mais detalhadamente para a questão regulatória. Sua organização é obrigada a apresentar inventário de GEE? Consulte notas de rodapé 18 e 19. Sua empresa ou as empresas da sua cadeia de valor participa(m) de licitações para fornecimento ao Poder Público de produtos florestais ou utilizadores de recursos naturais (como madeira, papel, carne bovina)? O índice de emissões de GEE por receita é superior a 0,25 tco2e/r$ mil? Caso este valor seja superior, uma potencial taxação do carbono poderia gerar impactos representativos no resultado da empresa. Em diversos estados, as compras governamentais de produtos florestais ou utilizadores de recursos naturais (como madeira, papel, carne bovina) estão sujeitas à comprovação de origem e ao atendimento de critérios ambientais. É possível que esta exigência venha a ser estendida para outros produtos e serviços com alta pegada de carbono. Empresas de determinados setores, como aviação civil, já sofrem na prática os efeitos da judicialização do assunto. Trinta das maiores empresas do setor, nacionais e estrangeiras, que operam no aeroporto de Guarulhos tiveram as emissões atmosféricas de suas aeronaves 22 Estimativa de acordo com curva de custo marginal de abatimento traçada pelo IPEA (13). 16