APLASIA DE MEDULA ÓSSEA: características, diagnóstico e tratamento

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Transcrição:

APLASIA DE MEDULA ÓSSEA: características, diagnóstico e tratamento Fernando Hilário Miguel Graduando em Biomedicina Faculdades Integradas de Três Lagoas FITL/AEMS Roberta Martinho Zardetti Graduanda em Biomedicina Faculdades Integradas de Três Lagoas FITL/AEMS Steffani Sobianek Carmo Graduanda em Biomedicina Faculdades Integradas de Três Lagoas FITL/AEMS Vanessa da Silva Lima Graduanda em Biomedicina Faculdades Integradas de Três Lagoas FITL/AEMS Renan Fava Marson Biomédico, Mestre em Bioengenharia Universidade Camilo Castelo Branco Docente das Faculdades Integradas de Três Lagoas FITL/AEMS Alex Martins Machado Biomédico, Doutor em Imunologia Básica e Aplicada (Virologia) Universidade de São Paulo. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS Aline Rafaela da Silva Rodrigues Machado Biomédica, Doutora em Clínica Médica (Investigação Biomédica Virologia) Universidade de São Paulo. Docente das Faculdades Integradas de Três Lagoas FITL/AEMS. RESUMO Denomina-se aplasia a deficiência na produção das células sanguíneas na medula óssea que pode ser causada por diversos fatores, classificando-a em aplasia moderada e aplasia grave. Não há evidências de que células imaturas ou malignas tenham invadido o tecido e causado a patologia, também não ocorre pela falta de vitamina B 12, folatos, ferro e outras substâncias hemoformadoras. O diagnóstico da anemia aplástica é realizado através de hemograma simples e no esfregaço sanguíneo também podemos constatar a pancitopenia. Dada a gravidade da doença, inicia-se o tratamento específico, onde o paciente frequentemente recebe transfusões de sangue para a reposição das células sanguíneas. O uso de antibióticos é necessário caso haja infecção. As formas de tratamento ainda estão em fase de pesquisa, mesmo assim podem promover uma vida melhor aos portadores da doença. PALAVRAS-CHAVE: Anemia aplástica; Hipoplasia de medula óssea; Pancitopenia.

INTRODUÇÃO O sistema hematopoiético é formado por órgãos hemoformadores (medula óssea, gânglios linfáticos, baço e fígado), sendo, nos adultos, o principal, a camada medular do esterno, e osso ilíaco o qual contem a medula óssea constituída pelo estroma e células hematopoiéticas as quais originam-se de células-tronco (stem cell). (OLIVEIRA, 1990; ZANICHELLI et al., 1995; JAMRA, LORENZI, 1997; GOLDESTEIN, 1998). Parte deste sistema também é o sangue, o qual é formado por uma porção líquida, denominada plasma e por células em suspensão, denominadas eritrócitos, leucócitos e plaquetas, os quais devem circular em concentrações diferenciadas, permitindo elaborar suas funções no organismo (GOLDESTEIN, 1998). Os eritrócitos tem como rol o transporte de oxigênio, realizado pela molécula de hemoglobina, já as células leucocitárias têm o papel de defesa imunitária ao organismo e são formadas por dois grupos de diferentes células, com funções e características próprias, sendo elas: granulócitos (neutrófilo, eosinófilo, e basófilo), e linfócitos (linfócitos T, B e monócitos). As plaquetas fazem parte do mecanismo de hemostasia e coagulação, tendo origem em células denominadas megacariócitos (OLIVEIRA, 1990; ZANICHELLI et al., 1995; JAMRA, LORENZI, 1997; ATHENS, 1998; QUESENBERRY, COLVIN, 2002). Doenças do sangue podem afetar uma ou mais partes do sangue, impedindo que este realize sua função vital. Estes distúrbios podem ser agudos ou crônicos, genéticos ou não, e ainda efeitos colaterais de medicamentos ou falta de certos nutrientes em sua dieta. Dentre as doenças do sangue temos 3 grupos de desordens clínicas, as quais possuem manifestações clínicas, idiopáticas e patológicas diferentes, com diverso grau de comprometimento da saúde do indivíduo. Entre eles temos: a) Desordens plaquetárias, as quais podem levar a coagulação excessiva e/ou problemas de sangramento; b) Anemias, relacionadas a diminuição de eritrócitos ou morte dos mesmos, causando diminuição da oxigenação ao organismo; c) Síndromes miledodisplásicas, como leucemias e mielomas, os quais afetam diretamente a produção de células sanguíneas (DEISS et al., 1998). As síndromes mielodisplásicas (SMD) são um conjunto de distúrbios hematológicos clonais adquiridos pela célula tronco (stem cell) que levam a uma ineficiente proliferação e diferenciação das células sanguíneas e são caracterizadas

pela ocorrência de um ou mais quadros de citopenia, associados à hipercelularidade da medula óssea (JAMRA, LORENZI,1997; DEISS, 1998; BRASIL, 2001a; ASTER, KUMAR, 2002; YOUNG, 2002). As SMD apresenta-se crônica, com variável duração, aparecimento insidioso, podendo evoluir para um quadro hemorrágico e/ou infeccioso, com sintomas como fadiga, perda de peso e palidez, podendo levar a óbito, principalmente nos casos de pancitopenia, ou seja, redução em todos os elementos celulares sangue (ASTER, KUMAR, 2002; YOUNG, 2002). Dentro das SMD temos as anemias aplásticas, caracterizadas por pancitopenia periférica e alterações na medula óssea com depleção celular e presença de hipoplasia grave ou aplasia, as quais ocorrem como consequência de um defeito qualitativo em uma população de células-tronco (WILLIAMS, 1998; YOUNG, 2002). Com o propósito de compreender melhor as características clínicas, etiopatológicas, diagnóstico e tratamento desta grave enfermidade, nos objetivamos realizar uma revisão de literatura abordando os aspectos comentados. 1 METODOLOGIA A metodologia empregada, por se tratar de uma revisão bibliográfica, foi a pesquisa em diferentes bibliotecas e bases de dados eletrônicas em saúde, com o intuito de selecionar elementos para discutir manifestações clínicas da aplasia de medula óssea. Adicionalmente, pesquisou-se também os possíveis fatores extrínsecos relacionados ao aparecimento desta SMD. Foram incluídos artigos em português e na língua inglesa. 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO A anemia aplástica (AA) é na realidade uma hipoplasia medular e não uma aplasia propriamente dita, o que seria incompatível com a vida (WILLIAMS, 1998; YOUNG, 2002; PITA, et al., 2008). É uma doença caracterizada pela deficiência na produção de células sanguíneas pela medula óssea, dificultando a produção destas e a doença pode ser classificada em dois níveis, de acordo com suas manifestações clínicas: moderada e grave. A hematopoese é a produção das células sanguíneas

na medula óssea, o processo inicia-se a partir de uma stem cell. Na aplasia medular ocorre a pancitopenia (diminuição da produção dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas), sem evidências de células imaturas ou malignas invadindo o tecido hematopoiético e deficiência de vitamina B 12, folatos, ferro e outras substâncias hemoformadoras (WILLIAMS, 1998; YOUNG, 2002; PITA, et al., 2008). Diversas causas podem ser apontadas como interferências nessa patologia, classificando-a em: congênita (intrínseca) ou adquirida (extrínseca), como mostra a Quadro 1. Quadro 1 - Classificação da hipoplasia de medula óssea em congênita ou adquirida. Fonte: Adaptado de Pita et al., 2008. Entre as causas de caráter hereditário/congênito, duas principais patologias são identificadas: a anemia de Fanconi (AF) caracteriza-se por pancitopenia e a principal anomalia associada à doença é a ausência ou hipoplasia do polegar. Nesta patologia ocorre a substituição das células da medula óssea por tecido gorduroso (OLIVEIRA, 1990; JAMRA, LORENZI 1997; WILLIAMS, 1998; BRASIL, 2001a; YOUNG, 2002; VERRASTRO, 2005). A anemia de Fanconi é uma doença bastante rara, afetando 1 a cada 350.000 nascidos e levando à falência da medula óssea. Nela a medula óssea é impedida de produzir células sanguíneas novas suficientes podendo afetar muitos órgãos, tecidos e sistemas do seu corpo. As crianças que herdam a AF estão em maior risco de nascer com defeitos congênitos, e aumento do risco de

alguns tipos de câncer, como leucemias (WILLIAMS, 1998; BRASIL, 2001a; YOUNG, 2002; VERRASTRO, 2005). Outra forma de anemia aplástica de caráter hereditário/congênito é a anemia aplástica pura de eritrócitos, também conhecida por eritroblastopenia idiopática, é uma doença rara na qual não há comprometimento das séries granulocíticas e plaquetárias, sendo evidenciado somente anemia periférica e eritoblastopenia medular (OLIVEIRA, 1990; JAMRA, LORENZI 1997; WILLIAMS, 1998; BRASIL, 2001a; YOUNG, 2002; VERRASTRO, 2005). Esta doença pode também ser causada por fatores adquiridos como uso de medicamentos, infecções ativas, neoplasias hematológicas, invasão medular por neoplasias não hematológicas, doenças sistêmicas (como a colagenose) e exposição a radiação e a agentes químicos, os quais podem ser desencadeadores desta patologia (VERRASTRO, 2005). Estudo realizado Fonseca & Pasquini (2002) analisaram o perfil de casos de anemia aplástica grave em crianças de um Hospital de Curitiba, no período de 1979 a 1993, mostrando que 42% delas apresentaram exposição recente aos derivados de benzeno, agrotóxicos e radiações ionizantes, permitindo correlacionar esta exposição ao desencadeamento da patologia. Historicamente, a exposição a altas concentrações de benzeno foi responsável por elevada incidência de casos em todo o mundo e também relacionada a casos fatais com grave redução nas células das séries eritrocitária e leucocitária, de maneira mais abrupta que na série plaquetária (WILLIAMS, 1998; GOLDSTEIN, 1998; KANE, KUMAR, 2000; BRASIL, 2001a). As radiações ionizantes, devido a efeitos cumulativos, também estão relacionadas a quadros de aplasia medular de graus variáveis, que vão desde uma monocitopenia a uma pancitopenia. O efeito aplásico agudo destas radiações sobre a medula óssea é bem conhecido em situações de alta intensidade e pode resultar em casos de anemia aplástica grave ou fatal (OLIVEIRA, 1990; WILLIAMS, 1998). Outro fator adquirido que pode levar ao desencadeamento de aplasia pura da série vermelha, são as infecções virais. Recentemente, Garcia et al., (2009), demonstraram que infecções por eritrovírus B19, podem levar ao desencadeamento do quadro em pacientes imunosuprimidos e Setubal et al., (2001), mostrou que a infecção persistente por parvovírus também pode estar associada ao desenvolvimento do quadro (GARCIA et al., 2009; SETUBAL, et al., 2001). Muitos

outros fatores extrínsecos podem ser associados a esta patologia, e são mostrados na quadro 1. É importante salientar, que ainda que esta patologia apresente uma baixa incidência 2-4 pessoas por 1.000.000 ao ano, pode ocorrer maior proporção de casos entre os indivíduos de 10-25 anos e maiores de 60 anos, sem diferenças entre os sexos. Há relatos de que populações de origem asiática têm maior incidência (YOUNG, 2002; BRASIL, 2010; CICCO, 2015). Considerando que cerca de 50% dos casos de anemia aplástica são classificados como idiopáticos, uma anamnese realizada adequadamente é um grande auxiliar no diagnóstico de anemia aplástica em situação de exposição, entretanto o exame laboratorial pode auxiliar eficazmente no diagnóstico definitivo da patologia (GOLDESTEIN,1998; WILLIAMS, 1998; BRASIL, 2001a; YOUNG, 2002). O diagnóstico da anemia aplástica é realizado através de hemograma, com achados de: hemoglobina menor de 10 g/dl, plaquetas < 50.000/mm 3 e neutrófilos < 1.500/mm 3 e diminuição dos elementos figurados do sangue (pancitopenia), comparado com o padrão normal (Figuras 1 e 2) (YOUNG, 2002; BRASIL, 2010; CICCO, 2015). Entretanto, o diagnóstico, por não ser fácil, deve ser de exclusão, tendo em vista que várias outras causas de pancitopenia podem apresentar quadro clinico semelhante ao de aplasia (YOUNG, 2002; BRASIL, 2010; CICCO, 2015). Figura 1 Esfregaço Sanguíneo Normal, lâmina fotografada nas objetivas de 4 vezes, 10 vezes, 40 vezes e na objetiva de imersão (100 vezes). Fotografada: Fernando Hilário Miguel. Modificada: Steffani Sobianek Carmo.

Figura 2 Esfregaço Sanguíneo Anemia Aplástica, lâmina fotografada nas objetivas de 4 vezes, 10 vezes, 40 vezes e na objetiva de imersão (100 vezes). Fotografada: Fernando Hilário Miguel. Modificada: Steffani Sobianek Carmo. Dada à gravidade da doença, é prescindível o início de um tratamento específico o mais rápido possível. O paciente frequentemente recebe transfusões de sangue para a reposição das células sanguíneas: hemácias ou plaquetas. O uso de antibióticos é necessário caso haja infecção, o paciente é internado e passa a receber medicação intra-venosa, devido a diminuição das células de defesa do indivíduo afetado pela AA, sendo recomendado, muitas vezes, o isolamento para evitar contato com agentes infecciosos (YOUNG, 2002; BRASIL, 2010; CICCO, 2015). Aconselha-se também diminuir as atividades perigosas com a intenção de prevenir acidentes que acarretem perda de sangue. Também pode ser receitado medicamento imunossupressor que estimula a produção de células sanguíneas pela medula falida, quando o transplante de medula óssea (TMO) não é a melhor opção ou quando aguarda um doador. O transplante de medula óssea também pode ser realizado sendo realizada a substituição da medula doente por uma sadia, geralmente entre irmãos com medula compatível, ou, no caso de não encontrar familiares compatíveis recorre-se ao Registro de Doadores. Entretanto, transplantes de TMO utilizando doadores não aparentados ainda encontram-se em fase experimental. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo pretende trazer uma elucidação sobre a Anemia Aplástica que é causada pela falha na produção de células sanguíneas pela medula óssea. Foi constatado em pesquisas que é uma doença rara e por sua gravidade pode ser letal.

As formas de tratamento ainda estão em fase de pesquisa, mesmo assim podem promover uma vida melhor aos portadores da doença. REFERÊNCIAS ASTER, J.; KUMAR, V. Leucocitos, linfonodos, baço e timo. In: COTRAN, R. S.; KUMAR, V.; TUCKER, C. Robbins Patologia estrutural e funcional. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, cap. 15, p. 581-625. ATHENS, J. W. Leucemia mielóide crônica. In: LEE, G. R. et al. Wintrobe Hematologia Clínica. São Paulo: Manole, 1998, v. 2, pt. 6, s. 2, cap. 75, p. 2169-2201. BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Relacionadas ao Trabalho: Manual de procedimentos para os Serviços de Saúde. Brasília, DF, 2001. 580 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).. Ministério da Saúde. Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas: v.2 / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada, 2010. CICCO, Lúcia Helena Salvetti de, Associação Brasileira de Aplasia de Medula Óssea. Disponível em <http://www.saudevidaonline.com.br/aplasia.htm/>. Acesso em: 30 set. 2015. DEISS, A. Doenças não-neoplásicas, agentes químicos e transtornos hematológicos que podem preceder as neoplasias hematológicas. In: LEE, G. R. et al. Wintrobe Hematologia Clínica. São Paulo: Manole, 1998, v. 2, pt. 6, s. 2,cap. 74, p. 2143-2165. FONSECA, T. C. C.; PASQUINI, R. Anemia aplástica severa: Análise dos pacientes pediátricos atendidos pelo serviço de transplante de medula óssea do hospital de clínicas de Curitiba no período de 1979-1993. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 48, n. 3, p. 263-267, jul./set., 2002. GARCIA, SO; PEREIRA J. et al., Doenças hematológicas associadas ao eritrovírus. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. 2009;31(4):285-290. GOLDSTEIN, B. D. Haematopoietic and Lymphatic System. In: INTERNATIONAL LABOUR OFFICE (ILO). Encyclopaedia of occupational health and safety. 4 ed. Geneva: ILO, 1998, v. 1, pt. 1, cap. 1, p. 1.2.-1.9. JAMRA, M.; LORENZI, T. F. Sistema Hematopoiético. In: PORTO, C. C. Semiologia Médica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997, pt. 10, cap. 142, p. 763-787. OLIVEIRA, H. P. Anemias aplásticas e diseritropoiéticas. In: Hematologia Clínica. 3 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1990, cap. 11, p. 215-225.

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