RESISTÊNCIA DA CULTURA POPULAR O Cururu e o Siriri diante do desafio de se perpetuar na cultura mato-grossense



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Transcrição:

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste Cuiabá MT - 8 a 10 de junho de 2011 RESISTÊNCIA DA CULTURA POPULAR O Cururu e o Siriri diante do desafio de se perpetuar na cultura mato-grossense Luiza Raquel Souza e SILVA¹ Maurício Rodrigues PINTO² Universidade Federal de Mato Grosso Resumo Este artigo tem como base o processo de apropriação da cultura popular pela comunicação de massa, fenômeno que ocorre quando a cultura popular passa a ser vista como produto cultural, como mercadoria valorável. Mas nesse artigo esse fenômeno será visto como um processo natural, que acompanha o processo da sociedade. Esse fato será tratado como objeto de estudo da folkcomunicação, sobre o hibridismo entre a cultura popular e o mercado, apontando pontos positivos e negativos dessa aliança. Palavras-chave Siriri, Cururu, Cultura, Popular, Folkcomunicação. ¹ Estudante de graduação do 2º semestre do curso de Comunicação Social Habilitação em Rádio e TV pela UFMT ² Estudante de graduação do 2º semestre do curso de Comunicação Social Habilitação em Rádio e TV pela UFMT.

Introdução A parceria entre a folkcomunicação e a comunicação de massa tem se tornado um acontecimento cada vez mais comum. Sozinha a cultura popular se perderia aos poucos, afinal, a disputa com os Mass Medias é desleal. Aliada à comunicação de massa, ela ganha força para aprofundar suas raízes na cultura regional. Mesmo que para se transformar em uma manifestação notória aos olhos da massa sejam necessárias algumas modificações nos hábitos de sua origem, ainda assim as perdas dessa herança cultural são menos agressivas se for apropriada pela comunicação de massa. Considerando que a partir do instante em que a cultura popular se vincula à comunicação de massa ela se transforma em mercadoria da indústria cultural - se transformando em um vantajoso instrumento para a comunicação de massa e, inclusive, para outras instituições - não podemos esquecer-nos de mencionar os interesses camuflados por trás dessa busca pela valorização da cultura popular. Seria impossível esquecer que a cultura propicia considerável desenvolvimento na formação de empregos, na área do turismo, na gastronomia e de entretenimento etc. É justamente esse hibridismo que vai se transformar em objeto para a folkcomunicação. Segundo Cristina Schmidt, Os processos folkcomunicacionais não são nem realidades autônomas, independentes da vida econômica-social, nem meros reflexos desta. A folkcomunicação é a possibilidade de um diálogo entre agentes dos grupos populares (agentes folk) e mercado, uma mediação de interesses. No mundo capitalista as estratégias de mediação precisam ser muito bem delimitadas, pois tende a esvaziar a autenticidade das relações, graças ao aparecimento de um conjunto econômico que objetiva apoderar-se de todas as manifestações da vida humana. (SCHMIDT, Cristina. Folkcomunicação: estado do conhecimento sobre a disciplina. Ano 1 2008) A Folkcomunicação como instrumento de análise da comunicação popular A Folkcomunicação vai muito além de um sistema de metodologia que procura entender os processos comunicacionais da cultura popular. É importante enfatizar que a

cultura popular que tratamos aqui é aquela que raramente vemos veiculadas pelas grandes mídias. A Folkcomunicação impulsiona um envolvimento muito mais intenso entre o pesquisador e seu objeto. Para Luiz Beltrão (BELTRÃO, Luiz. Comunicação e folclore, 1971) a Folkcomunicação inspira uma militância científica. Segundo Cristina Schmidt (SCHMIDT, Cristina. Folkcomunicação: estado de conhecimento sobre a disciplina, Ano 1 2008), A folkcomunicação é pesquisar as manifestações dos marginalizados em grandes centros urbanos ou em pequenas vilas rurais; com formas tradicionais que passam de geração em geração, ou criados a partir das novas tecnologias. Luiz Beltrão, em sua tese de doutorado desenvolveu a teoria da folkcomunicação e a partir daí os intensos estudos não pararam mais, criando a cada dia novas possibilidades de pesquisar os procedimentos de comunicação do povo, que nunca deixou de se manifestar e se trocar conhecimentos pelo simples fato de não ter espaço na grande mídia. Cururu e Siriri: uma herança cultural O Siriri é dançado por crianças, homens e mulheres em rodas ou fileiras formadas por pares, que acompanham toadas cujos temas mudam de verso para verso e cujas composições exaltam principalmente santos, cidades, a natureza, pessoas etc. Tem presença indispensável em festas, batizados, casamentos e festejos religiosos a origem do seu nome é obscura e alguns acreditam ser originado de uma palavra portuguesa e outros acreditam que ele venha do nome de um cupim de asas que tem o mesmo nome e o vôo parecido com os passos da dança. Na dança, as meninas e mulheres mexem as longas e coloridas saias com estampas florais e batem os pés descalços no chão, um ritual que serve para tirar o mau espírito. Os homens e meninos acompanham a toada e os passos com palmas e pisadas fortes. Eles usam sapatos, ao contrário das mulheres, porque fazem uma espécie de sapateado. Os grupos de siriri têm diferenças entre si: há alguns mais lentos e outros têm batidas distintas na viola de cocho. O Cururu é um canto primordial do folclore mato-grossense. A cantoria do cururu se classifica em sacra e profana.

A sacra, também chamada de função ou porfia, tem função religiosa e foi criada por fiéis. Geralmente acontece após as orações aos santos de devoção popular, na casa de amigos ou comunidade da igreja, e tem o objetivo de louvar ou homenagear aquele determinado santo. A profana é aquela acompanhada pelos desafios e versos dos trovadores, por trovas de amor, declarações e desabafos ou desafio a alguém que roubou uma mulher amada e uma variada coreografia totalmente masculina. Os cururueiros fazem roda caminhando no sentido horário, iniciam a dança com passo simples de pé esquerdo, pé direito, e vice-versa. Fazem frô, floreiam à vontade, que é o movimento de ajoelhar-se até dar rodopios completos, ou seja, embelezar a dança. Os instrumentos da cantoria são viola-de-cocho e um ganzá ou cracachá. A festança, onde estão presentes cururu e siriri, duram toda noite, até os primeiros raios de sol. Os foliões se divertem, expressando essa pura riqueza cultural. O Siriri e o Cururu são estratos inerentes da cultura mato-grossense. Há cerca de três séculos essa herança vem resistindo fortemente às barreiras impostas pela contemporaneidade. Atualmente o maior desafio de todas as culturas folclóricas são aquelas provocadas pelos hábitos e valores cultuados pela comunicação de massa nos jovens, fato que, na contemporaneidade, se tornou o maior problema dos agentes da cultura popular. A valorização e reconhecimento da cultura local pela sociedade é a solução que vem sendo buscada para que não se percam os vínculos entre a história e o seu povo. O mais curioso é que antes do desenvolvimento da tecnologia midiática não havia nenhum grande concorrente que disputava a atenção da cultura popular hereditária, mas depois do surgimento de tecnologias como o telefone, o rádio, a televisão, a internet etc., os membros das comunidades aos poucos foram entorpecidos pelos encantos das mídias e afastando-os de sua comunidade. No momento em que a luta com essas novas mídias seria vã, a comunicação de massa passou de adversária à aliada do fortalecimento da cultura popular. Uma prova disso é o fato de que Festival de Siriri Cururu - evento anual onde grupos de Siriri e Cururu se apresentam na capital - conta, hoje, com uma estrutura capaz de receber cerca de vinte mil pessoas por dia, além de ter como um dos objetivos principais a eleição do melhor grupo, oferecendo uma premiação no valor de dez mil reais para o grupo vencedor. Segundo Cristina Schmidt,

as manifestações da cultura popular não expressam apenas os aspectos ligados a uma sociabilidade, apresentam características decorrentes do contexto sócio-econômico em que estão inseridas, dando-lhes uma nova forma e um novo significado. Na sociedade capitalista e globalizada as manifestações vão pouco a pouco se coisificando. Isso quer dizer que, a cultura popular vai adequando suas manifestações de modo a tornarem-se produtos comercializáveis, e os agentes dessa produção se inserem na dinâmica dessa sociedade (SCHMIDT, Cristina. Folkcomunicação: estado de conhecimento sobre a disciplina. 2008) Em entrevista para o site New Time, em 2006, Valdemir Taques, membro Fórum Permanente da Cultura Popular, discorre sobre o Seminário de Siriri e Cururu, realizado pela prefeitura da capital de Mato Grosso meses antes do Festival Siriri Cururu, afirmando que os grupos precisam ter uma maior leitura da contemporaneidade. Eles não têm a consciência do potencial mercadológico do siriri. Desde a dança, a música, a coreografia, o turismo. Basta qualificar e profissionalizar a mão de obra. Fica evidente o distanciamento entre o Siriri Cururu como manifestação cultural das festas ritualísticas em homenagens aos santos e o Siriri Cururu como mercadoria da indústria cultural, que é fonte de emprego e renda e não mais de prazer, louvor e descontração. Roberto Benjamin (Anuário UNESCO, Ano V n.5, 17-24. 2001) classifica as festas como manifestações culturais em institucionalizadas e espontâneas. No primeiro caso temos as festas organizadas por determinadas instituições, que, embora a princípio seja imposta à comunidade, pode vir a se tornar depois parte do seu gosto popular. No grupo das chamadas festas espontâneas estão aquelas que nascem como comemorações públicas de conjuntos de parcela da população urbana. O autor salienta situações em que essas festas são cooptadas por interesses políticos, religiosos e econômicos, como é o caso dos desfiles das escolas de samba, que hoje está sob a manipulação dos interesses econômicos e políticos de instituições. O Festival Siriri Cururu não está distante dessa institucionalização provocada pelos interesses econômicos e políticos da indústria cultural. Segundo Benjamim, as manifestações deixam de lado os interesses lúdicos, hipervalorizando as oportunidades profissionais e os aspectos visuais da espetacularização dos eventos.

Ele também comenta sobre a diferença do agente cultural, que antes era eleito para organizar e financiar as festas, recebendo dessa forma, grandes demonstrações de respeito da comunidade, enquanto hoje, o que se vê no lugar desse mecena é a figura do promotor cultural ou, mais pedantemente ainda, como promoter, que ao contrário daqueles que se preocupavam em gastar dinheiro, buscam somente vencer a disputa para ganhar dinheiro com realizações de festas. O que possivelmente poderia explicar essa transformação no âmbito da cultura popular é que a partir do momento em que os governantes perceberam que os hábitos e costumes populares - mais especificamente a dança e música regionais estavam ameaçados pelo bombardeio contemporâneo de informações e novidades, a solução encontrada para re - significar o folclore foi transformar tal cultura em interesses atraentes para a os olhos da massa. Considerações Finais Embora a exposição midiática do Siriri e o Cururu seja hoje uma alternativa muito vantajosa para a indústria cultural mato-grossense, ainda há grande desconhecimento por parte dos nativos do estado. Muitos ainda desconhecem a diferença entre um e outro, por exemplo. Nesse sentido muito ainda tem a ser explorado. Uma cobertura mais abrangente do antes e depois do Festival ainda é algo a ser realizado. Inserir as danças em outros momentos culturais, a qualificação dos envolvidos em todas as fases do Festival, a popularização dos grupos, como escolas de Siriri e Cururu, todas estas são ações ainda a serem tomadas que podem beneficiar o espetáculo e espectadores. Em todos estes momentos a participação da massa midiática tem papel fundamental. A dança, as cores, os modos e linguajares típicos da "baixada cuiabana" ficam assim protegidos do esquecimento e ainda mais, podem renascer nas mentes e corações de gerações inteiras que de outra forma não teriam contato com essa riqueza. Ainda existem poucos estudos registrados sobre essas tradições, sob a ótica da folkcomunicação, principalmente, os estudos são muito recentes. As transformações que o Siriri e o Cururu sofreram depois que começaram a ser parte da comunicação de massa são vistas, na maioria das vezes, como um acontecimento prejudicial à cultura popular, mas mesmo compreendendo esse ponto de vista, não vejo

outra possibilidade que não fosse essa para que essa herança continuasse trilhando a história de um povo. A preocupação que tradição vá aos poucos se diluindo nesse universo de informações é tão intensa que as instituições estão tomando medidas para inventar estímulos para que os jovens se interessem em cultivar a identidade regional de Mato Grosso. Desenvolver pesquisas nessa área é também uma forma de continuar, divulgar e registrar as características e fenômenos decorrentes das manifestações pertencentes à população marginalizada da sociedade. Identificar os meios e procedimentos populares para a propagação do Siriri e Cururu, que muito antes das intervenções da comunicação de massa, já eram capazes de causar efeitos de imensa eficácia. Se houver algum caminho para encontrarmos a essência da sociedade, de cada membro de uma comunidade, esse caminho é a cultura popular. Cada parte desse todo tem em si o resultado final de uma variada mistura, e isso explica um pouco a dificuldade de comunicação que há quando a diversidade se encontra. Mas foi nessa troca, nesse intercâmbio de ideias, valores e culturas que o folkcomunicação encontrou seu objeto de estudo. E não foi por acaso que essa linha de pesquisa em comunicação foi criada e desenvolvida no Brasil e hoje já avançou por toda a América do Sul, afinal, somos parte de um povo que carrega influências de culturas do mundo todo e que se permite fazer dessa experiência um processo de enriquecimento espiritual, social e cultural. Referências Bibliográficas SCHMIDT, Cristina. Folkcomunicação: estado de conhecimento sobre a disciplina (artigo). Ano 1 2008. SCHMIDT, Cristina. Teoria da Folkcomunicação: Conceitos e pertinências das ciências humanas no campo da comunicação (artigo). BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: teoria e metodologia. São Bernardo do Campo: Metodista Digital. 2004.

TAVARES, Débora Cristina. BRANCO, Ramachandra dos Santos. Festival Cururu Siriri de Cuiabá: A tradição como espetáculo (artigo). UFMT: Grupo de Pesquisa estudos de Mídia e Cultura. 2010. BENJAMIN, Roberto. As Festas populares como processos comunicacionais (artigo). Anuário Unesco/Umesp de Comunicação Regional, Ano V n.5, 17-24. São Paulo. 2001. KALIL, Luka. Cururu e Siriri: O resgate de duas tradições que colorem Mato Grosso. Disponível em www.coisasdemt.blogspot.com. 2008.