PARECER N 14.396 FADERS. Empregados Públicos. Função Gratificada. Incorporação. Súmula 372 TST. O presente expediente administrativo EA 556-1955/05-1 - tem origem em requerimento apresentado por JORGE LUIS SANTOS DE FRAGA E OUTROS, empregados públicos da Fundação de Atendimento ao Deficiente e ao Superdotado FADERS -, pretendendo ter incorporado valor relativo a função gratificada exercida por mais de 10 (dez) anos consecutivos. A pretensão tem por fundamento a Orientação Jurisprudencial TST-SBDI1 n. 45. Do EA consta, ainda, documentação que relata a vida funcional do empregado da fundação e solicitação do Secretário de Estado da Educação. É o Relatório. A dúvida que é trazida a esta Equipe de Consultoria diz com a possibilidade de incorporação de função gratificada por empregados públicos, impondo, para o seu deslinde que se verifique a situação dos mesmos perante a Administração Pública a partir das regras específicas que regem as suas relações de trabalho com as entidades às quais estão vinculados. Desde logo, portanto, é de se ter presente que, por se tratarem de empregados públicos, estes trabalhadores têm seus vínculos laborais regidos pelas normas contidas na Consolidação das Leis do Trabalho CLT, como bem demonstrado no Parecer n. 14026/04, bem como por aquelas normas
convencionais acordos ou dissídios estabelecidas em negociações coletivas levadas a efeito entre a entidade sindical representativa da categoria profissional e o ente público. No caso sob análise tem-se demanda de empregados da FADERS, que, exercendo posições de confiança na entidade, pleiteiam sejam incorporados aos seus vencimentos os valores relativos ao cargo de confiança respectivo. Assim, para que se chegue a uma resposta adequada à demanda é necessário que se verifique a ocorrência de suporte legal para a pretensão apresentada. Tratando-se de empregado público, como dito, de regra deve-se buscar tal solução na verificação de ocorrência de norma consolidada ou convencional que lastreie o pedido. Entretanto, para além das estipulações peculiares à relação de trabalho analisada deve-se levar em consideração que o Tribunal Superior do Trabalho TST por intermédio da Orientação Jurisprudencial n. 45/96 da Seção de Dissídios Individuais 1 SBDI1, hoje traduzida na Súmula 372 TST, tem assentado que, respeitado o princípio da estabilidade econômica, após 10 (dez) anos de exercício de posição de confiança, o empregado afastado desta mantém o direito à percepção do valor correspondente integrada à sua remuneração, como se lê: Súmula Nº 372 do TST - Gratificação de função. Supressão ou redução. Limites. (conversão das Orientações Jurisprudenciais nos 45 e 303 da SDI-1) - Res. 129/2005 DJ 20.04.05 I - Percebida a gratificação de função por dez ou mais anos pelo empregado, se o empregador, sem justo motivo, revertê-lo a seu cargo efetivo, não poderá retirar-lhe a gratificação tendo em vista o princípio da estabilidade financeira. (ex-oj nº 45 - Inserida em 25.11.1996) II - Mantido o empregado no exercício da função comissionada, não pode o empregador reduzir o valor da gratificação. (ex-oj nº 303 - DJ 11.08.2003) E, esta Casa, no Parecer 13935/, no mesmo sentido apontou: 2
E a jurisprudência recente do Tribunal Superior do Trabalho tem adotado este entendimento: "GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO. SUPRESSÃO. Não há preceito de lei que assegure ao empregado, na hipótese de afastamento do cargo de confiança sem justo motivo, a manutenção do pagamento da gratificação respectiva quando tenha sido ela percebida por vários anos continuados. Tal manutenção decorre de construção jurisprudencial e tem por base a necessidade de se preservar a estabilidade financeira do empregado, encontrando-se hoje externada por meio do Precedente nº 45 da SDI1 do Tribunal Superior do Trabalho. Nesse contexto, sendo decorrente de construção jurisprudencial, não cabe a adoção de entendimento mais elastecido para concluir-se que a supressão concretizada, quando faltando apenas setenta e sete dias para a implementação da incorporação, revestese em ilicitude e óbice à aquisição do direito. Tendo o Reclamante exercido a função gratificada por apenas nove anos e dez meses, não há como ser mantida a Decisão regional, na medida em que não implementado o tempo mínimo reconhecido pela jurisprudência como autorizador da incorporação pretendida. Recurso de Embargos não conhecido." (TST, ERR 476930, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, julgado em 24/11/2003). "GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO PERCEBIDA POR MAIS DE DEZ ANOS. SUPRESSÃO. Em face do que estatui o artigo 468, parágrafo único, da CLT, induvidosa a possibilidade de o empregador reverter o empregado ao exercício do cargo efetivo se, por qualquer motivo, decai da sua confiança, o que equivale a dizer que não há estabilidade no exercício da função de confiança. Entretanto, consoante tem perfilhado a iterativa, notória e atual jurisprudência desta Corte, consubstanciada na Orientação Jurisprudencial nº 45 da SDI, o empregado tem direito à manutenção do pagamento da gratificação de função percebida por dez ou mais anos, mesmo com o afastamento do cargo, sem justo motivo, tendo em vista o princípio da estabilidade financeira. Como a decisão recorrida está em inteira harmonia com a orientação acima citada, não se vislumbra o alegado conflito pretoriano nem a pretensa violação legal, a teor do Enunciado nº 333 do TST, erigido em requisito negativo de admissibilidade da revista. Recurso não conhecido." (TST, RR 1196-2001-003-22-00, 4a Turma, julgado em 11.12.2003). Assim, o tema vem solvido em sede jurisdicional pela incorporação à remuneração do trabalhador da parcela correspondente à gratificação percebida por pelo menos 10 (dez) anos, uma vez que, decorrido tal lapso temporal, este não pode tê-la suprimida em face da necessidade de manutenção da estabilidade financeira de certo modo constituída com o passar do tempo como consectária da irredutibilidade salarial assegurada constitucionalmente 3
(art. 5 o, VI da CFB/88), com a ressalva de que tal afastamento não se dê por motivo justificado. Portanto, no âmbito das relações de trabalho regidas pelo regime consolidado está sedimentada posição no sentido de que há de ser mantido o padrão financeiro estabelecido com o passar do tempo, não podendo este ser desconstituído com a supressão de parcela correspondente à gratificação percebida por longo período. Na situação posta há que se considerar, portanto, a presença da repercussão jurisprudencial da garantia constitucional da irredutibilidade salarial. Ora, se o trabalhador teve assegurada a manutenção do status financeiro tendo por base o transcurso do tempo, ocorrido este não há que se furtar à sua concretização, com a manutenção do pagamento do valor acrescido, agora incorporado ao salário básico do empregado. Dessa forma, diante da garantia constitucional, com o significado que lhe é dado pela jurisdição trabalhista, acaso constituída a situação prevista, deve a Administração proceder à verificação da concretização dos pressupostos fáticos conducentes à incidência da previsão constitucional, com a efetivação das conseqüências decorrentes no que diz com a manutenção da situação remuneratória do trabalhador. Entretanto, na aplicação desta orientação deve-se ter em conta, na esteira do Parecer 13935/, que: Contudo, também já reconheceu o Egrégio TST que a incorporação fica limitada ao valor da menor gratificação percebida no período, como se vê do seguinte julgado: "GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO SUPRESSÃO - INCORPORAÇÃO AO SALÁRIO. ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL N 45 DA SBDI-1/TST No caso sob exame, embora seja incontroverso que foi paga à Reclamante gratificação de função por aproximadamente doze anos, verifica-se que, no decorrer do período, o tipo de gratificação recebida alternou. O direito da Reclamante restringe-se, portanto, à incorporação da gratificação de menor valor, pois, estando contida nas de maior importância, foi a única que, 4
certamente, foi recebida por pelo menos uma década. Recurso de Revista conhecido e parcialmente provido." (TST, RR 61484-2002-900-09-00, 3a Turma, julgado em 19.11.2003). Concluo, pois, no sentido de que a Fundação consulente, se e quando lhe convier desprover da função empregado que perceba o adicional de serviços especiais da função, deverá, caso detida a vantagem por mais dez anos ou mais, manter o pagamento do valor correspondente a gratificação de menor valor percebida, em atenção ao entendimento consolidado na Orientação Jurisprudencial no 45 do Egrégio Tribunal Superior do Trabalho. No caso da FADERS, tendo o empregado cumprido 10 (dez) anos ininterruptos no exercício da função gratificada deve o seu valor o menor percebido pelo empregado - ser incorporado permanentemente ao salário básico do mesmo, dando, com isso, concretização à garantia constitucional, em conformidade com a Súmula TST n. 372. É o Parecer. Porto Alegre, 04 de novembro de 2005. JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS PROCURADOR DO ESTADO EA 00556-1955/05-1 5
Processo nº 000556-19.55/05-1 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.396, da Procuradoria de Pessoal, de autoria do Procurador do Estado Doutor JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Educação. Em 28 de novembro de 2005. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.