musas ANA HUGO, EX-CONCORRENTE DO PROGRAMA PESO PESADO, DESPE-SE DE PRECONCEITOS E MOSTRA QUE UMA MULHER COM CURVAS TAMBÉM PODE SER UMA MULHER GQ. TEXTO RITA DE LA BLÉTIÈRE.
"Qualquer mulher pode ser sexy, qualquer mulher pode ser desejada e sedutora desde que se sinta bem com ela própria" O que te fez entrar para o programa Peso Pesado"? Entrei porque achei que era uma oportunidade para conseguir perder peso. No ponto em que estava, só um tratamento de choque c que ia ajudar-me a conseguir emagrecer. Achaste que ias conseguir aguentar tanto tempo num regime daqueles? Sinceramente, pensei que não ia conseguir, achei mesmo que ia ser um fracasso, não estava à espera de ir tão longe. Quando cheguei ao fim do segundo dia, passou-me pela cabeça desistir, achei que não ia perder peso nenhum. O meu pensamento foi: OK, tenho estes quilos todos para perder... Impossível, vai demorar anos. O facto é que ultrapassei esse pensamento e, para mim, foi uma vitória o ter ido tão longe. Quando entrámos em contacto contigo para fazeres esta produção, qual foi o teu primeiro pensamento? Quando me telefonaram, a primeira coisa que disse foi: sabem que sou gordinha, não sabem? Não estava à espera, sou leitora assídua da vossa revista e as capas, normalmente, são com mulheres lindíssimas. Por outro lado, achei giríssimo. À partida, não percebi muito bem qual era o intuito de quererem uma pessoa com excesso de peso, mas, quando percebi, achei uma excelente ideia. Acima de tudo, penso que é uma excelente ideia para incentivar uma abertura de mentalidades e mostrar às pessoas que a sensualidade é um state ofmind. Qualquer mulher pode ser sexy, qualquer mulher pode ser desejada e sedutora desde que se sinta bem com ela própria. Para alem disso, acho que é muito importante passar esta mensagem, porque há imensas mulheres lindíssimas com excesso de peso que não têm coragem de o ser. Achas que ainda existem muitos estereótipos criados em torno das pessoas com uns quilinhosa mais? Acho que a nossa sociedade ainda está um pouco atrasada nesse sentido. As pessoas criam rótulos desnecessários que, muitas vezes, causam um certo desconforto, parece que a única coisa que interessa é o número da roupa. A ideia que eu tenho das pessoas, principalmente cm Portugal, é que, ou se tem as medidas certas, ou não vale a pena, e eu acho isso ridículo, é pôr uma fasquia muito alta à qual quase ninguém chega, o que, para mim, não faz qualquer tipo de sentido. Qual é o significado e o impacto que achas que esta produção vai ter? Acho que esta produção vai mostrar que, afinal, a beleza também existe fora dos padrões a que estamos habituados e acho que vai fazer muita gente feliz, muitas pessoas vão passar a olhar para o espelho de outra forma. Gostava muito que esta produção tocasse as pessoas e ajudasse a abrir mentalidades, quer dos homens, quer das mulheres, porque as mulheres são as maiores críticas delas próprias. Gostava muito que se acabasse com a ideia de que ser gordo é a pior coisa que existe no Mundo, e não é, para mim, é a mesma coisa do que ser daltónico. Estar gordo não é um crime. Sentes-te sexy e sentes que os outros te acham sexy? Tenho dias, acredito piamente que ser sexy e sensual vem de dentro, se eu me sentir, mostro- -o aos outros. Nos dias em que estou mais feliz e me sinto melhor, sei que os outros sentem isso de mim, acho que temos o poder de influenciar as pessoas e de fazer com que me achem sexy quando eu me sinto assim. Na cabeça das mulheres, é precisa ser magra para agradar os homens. Achas que os homens preferem, de facto, as magras? Não acho nada disso. Eu, por exemplo, nunca estive solteira, nem mesmo quando pesava 145 quilos. Estou a passar por essa experiência agora pela primeira vez. Claro que não vou dizer que a procura seja tão grande como a de uma mulher lindíssima ou que seja tão grande como quando era magra, mas não tenho motivos de queixa, é uma questão da pessoa arranjar-se e estar bem com ela própria. Agora, dizer que só há mercado para magras, isso é totalmente mentira. Ouves muitos piropos dos homens? Agora, sim. Aliás, comecei a ouvir com muito mais frequência, acho que tem a ver com o facto de ter participado no Peso Pesado e de ser reconhecida. Confesso que, às vezes, é um pouco constrangedor. Apesar de me sentir intimidada, acaba por ser bom, embora muitas vezes não se saiba até que ponto são verdadeiros. Sei que foste modelo e que já foste realmente magra. Gostavas de voltar a ser o que eras? Não quero de todo ficar magra como já fui, pelo contrário, quero ser uma mulher grandalhona. Agora, o meu objectivo é perder mais vinte quilos e, obviamente, vou ter de submeter-me a cirurgias plásticas para reduzir as peles que ficaram em excesso. É o problema deste tipo de dietas drásticas, as quais não aconselho a ninguém. Isto foi um extremo, deixou-me inclusive sequelas a nível de saúde. Neste momento, estou a curtir o peso que tenho e estou confortável com isso, despi-me em frente da equipa toda da GQ e fi-lo sem preconceitos. Os quilos que tenho para perder, vou perdê-los com calma, com pés e cabeça. Tens algum fetiche por realizar? Considero-me uma privilegiada na esfera intima. Com ou sem quilos a mais, sempre tive uma vida sexual muito saudável e divertida, sendo que fui satisfazendo as minhas curiosidades mais marotas ao longo do tempo... Quanto a fetiches, não me sobra nenhum. Acho que o que mais me atrai são as acções repletas de uma paixão arrebatadora, o não conseguir conter o sentimento, o aqui e agora. Felizmente, nesse campo, há sempre opções a explorar.
/ "Nunca estive solteira, nem mesmo quando pesava 115 quilos. Sá agora é que estou"
"Sempre tive uma vida sexual muito saudável e divertida"