Estudo Sobre a Temática do Lazer nos Cursos de Graduação em Turismo de Belo Horizonte, Minas Gerais 1 Christianne Luce Gomes 2 Bruna Fantini Silva Von Dollinger 3 Ana Cristina Drumond Caldeira 4 Alicia Maricel Oliveira Ramos 5 Universidade Federal de Minas Gerais FAPEMIG/CNPq Resumo: Este artigo apresenta uma análise dos entendimentos de Lazer e as relações estabelecidas com o Turismo de 16 docentes coordenadores e professores que atuam/atuaram em 8 cursos de Graduação em Turismo de Belo Horizonte, Minas Gerais. A metodologia baseou-se em pesquisa bibliográfica, entrevistas e análise de conteúdo. Os resultados evidenciaram existência de várias compreensões de lazer além de certa confusão entre os termos lazer, recreação e entretenimento. As interfaces entre o lazer e o turismo também se demonstraram imprecisas para os entrevistados. Constatou-se a importância de um repensar sobre a recreação e a animação turística, de forma a construir com os estudantes práticas de lazer refletidas, bem como superar a predominância do enfoque mercadológico do lazer e do turismo, no processo de formação acadêmica. Palavras-chave: Lazer; Turismo; Graduação; Belo Horizonte. Introdução Uma compreensão que precisa ser problematizada no contexto da formação acadêmica em Turismo em Instituições de Ensino Superior (IES) é aquela que reduz o lazer aos aspectos técnicos e operacionais da recreação. Esta estratégia é muito 1 Este trabalho foi elaborado a partir dos resultados obtidos em uma pesquisa sobre os conhecimentos sobre o lazer que integram os cursos de Graduação em Turismo de Minas Gerais, realizada com o apoio do CNPq (Edital Universal, PIBIC) e FAPEMIG (PPM II, PROBIC). 2 Doutora em Educação; Mestre em Ciências do Esporte; Especialista em Lazer; Licenciada em Educação Física. Professora da UFMG na Graduação e no Mestrado; pesquisadora FAPEMIG (PPM). Coordenadora pedagógica do Centro de Estudos de Lazer e Recreação (CELAR-UFMG). Líder do grupo de pesquisa OTIUM: Lazer, Brasil & América Latina (UFMG). E-mail: chrislucegomes@gmail.com, CV: http://lattes.cnpq.br/3397229266029271 3 Acadêmica do Curso de Graduação em Turismo, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista PIBIC/CNPq. E-mail: bruna_dollinger@hotmail.com 4 Acadêmica do Curso de Graduação em Turismo, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista PROBIC/FAPEMIG. E-mail: tina.ufmg@gmail.com 5 Bacharel em Turismo e mestranda em Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista ME. E-mail: aliciamaricel@gmail.com
difundida na área de Educação Física brasileira e, em geral, vem sendo tomada como referência para a chamada animação turística desenvolvida no contexto do Turismo. Entretanto, faltam pesquisas que permitam conhecer esta realidade de forma mais sistematizada e consistente, tendo em vista qualificar a formação acadêmica em Turismo. Afinal, as vivências de lazer não devem ser tratadas como meros recursos metodológicos, mas como manifestações culturais que adquirem significados singulares em cada contexto e são essenciais para o turismo, uma vez que constituem o acervo cultural e o patrimônio histórico-social que se deseja apreender. O presente estudo pretende contribuir com o aprofundamento de conhecimentos sobre a temática do lazer no contexto dos cursos de Graduação em Turismo de Belo Horizonte, Minas Gerais, explorando algumas facetas relacionadas aos entendimentos de lazer de coordenadores e de professores responsáveis pelas atividades acadêmicas vinculadas a essa temática no contexto dos cursos investigados. Lazer e turismo O conceito de lazer formulado na década de 1960 por Dumazedier (1973) representa, ainda hoje, uma grande referência para o campo de estudos sobre este tema no Brasil. Segundo Camargo (1998), foi a partir das contribuições de Dumazedier que o lazer deixou de ser apenas uma idealização teórica e passou a ser tratado como um fato empiricamente delimitável e observável, instigando novas pesquisas sobre o tema. 6 Para Dumazedier (1973, p. 34), o lazer pode ser compreendido como: [...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçarse das obrigações profissionais, familiares e sociais. Ao definir o lazer como um conjunto de ocupações, além de restringi-lo à prática de determinadas atividades, supõe que o indivíduo deve ocupar-se com algo. Na época em que Dumazedier elaborou essa definição, o lazer era definido como contraponto das obrigações institucionais, e não apenas do trabalho. As contribuições de Dumazedier foram e continuam sendo relevantes, porém, necessitam ser repensadas em muitos aspectos. Afinal, o lazer e as sociedades industriais 6 Uma análise do lazer, pelo prisma conceitual, foi desenvolvida de forma mais completa e detalhada em Gomes (2004).
por ele estudadas não são mais as mesmas verificadas neste início do século XXI, fortemente marcado pelo avanço tecnológico e pelo substancial crescimento do setor de serviços, entre outros aspectos importantes, como ressaltado por Werneck, Stoppa Isayama (2001) ao tratar das mudanças verificadas neste novo milênio. As proposições sobre o lazer enunciadas por Dumazedier influenciaram a produção de muitos autores brasileiros, dentre os quais Marcellino (1987). Fundamentando-se no pensamento de Gramsci, este autor assume as perspectivas marxistas como pano de fundo para suas análises. Marcellino (1987) enfatiza que o lazer pode ser compreendido a partir da combinação dos aspectos tempo e atitude. A atitude diz respeito à relação estabelecida entre o sujeito e a experiência vivida, fruto de uma escolha pessoal e prazerosa. O tempo se refere ao tempo disponível, obtido pelo indivíduo, após se desvencilhar não apenas das obrigações profissionais, mas também das obrigações familiares, sociais e religiosas, ou seja, o tempo da não-obrigatoriedade. Para Marcellino (1987), somente com uma visão mais crítica e criativa é que se pode lutar pela transformação da sociedade, tornando-a mais justa, humanizada e menos atrelada aos valores do mercado. Ao compreender o lazer como cultura 7, o autor supera a visão restrita de lazer como um mero conjunto de ocupações. Assim, o lazer é entendido: [...] como a cultura compreendida em seu sentido mais amplo vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível. O importante, como traço definidor, é o caráter desinteressado dessa vivência. Não se busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A disponibilidade de tempo significa possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa. (MARCELLINO, 1987, p. 31.). Nos dias atuais, vem crescendo o entendimento de lazer como uma das dimensões da cultura, sendo esta concebida como um campo privilegiado de produção humana em várias perspectivas. Dessa maneira, constituído conforme as peculiaridades do contexto histórico e sociocultural no qual se desenvolve, o lazer implica produção 7 Lazer e cultura, no entanto, não são sinônimos, como observa Alves (2003). Associar o lazer com a cultura ressalta a importância de aprofundarmos conhecimentos sobre esta última. De acordo com as reflexões antropológicas de Gomes e Faria (2005), a cultura pode ser concebida como um sistema simbólico que considera a necessidade de codificação da realidade. A cultura torna pensável a experiência humana, a institui; e não apenas a representa. Nesse sentido, é fundamental considerar a idéia de diferentes inteligibilidades ou racionalidades, lógicas de significação do que com o aspecto normativo, embora ele esteja também presente. Ao considerar a centralidade do significado na experiência humana, assumimos a cultura como dimensão específica da nossa espécie. Dessa maneira, o ser humano constrói a si mesmo e a seu mundo à medida que se apropria das condições de sua existência e atribui a elas um significado, que nunca é o único possível.
de cultura no sentido da reprodução, construção e transformação de diversos conteúdos culturais usufruídos por parte de pessoas, grupos e instituições (GOMES, 2008). Diante do exposto, é possível compreender o lazer: como uma dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações, especialmente com o trabalho produtivo. (GOMES, 2004, p. 125). Tais considerações revelam que lazer é um fenômeno complexo, permeado de conflitos, tensões, ambiguidades e contradições. Nessa direção, o lazer representa um fenômeno sociocultural que se manifesta em diferentes contextos (histórico, social, político, etc.) de acordo com os sentidos/significados que são produzidos e reproduzidos por meio de relações dialógicas dos sujeitos nas suas relações com o mundo. Será que o lazer é compreendido desta maneira pelos coordenadores dos cursos de Graduação em Turismo de Belo Horizonte, Minas Gerais? E pelos professores responsáveis pelas atividades curriculares relacionadas ao lazer nos currículos desses cursos? Conforme Bramante (1998), a ludicidade representa o principal eixo da experiência de lazer e é uma das poucas unanimidades entre os estudiosos da área, pois, não há um consenso do ponto de vista conceitual. No caso do turismo, percebe-se um esforço em defini-lo, sobretudo por parte de acadêmicos e órgãos governamentais relacionados ao setor. Mesmo que não haja um consenso, uma breve análise da produção bibliográfica da área do turismo indica que algumas compreensões são amplamente aceitas. A abordagem econômica do turismo que vem predominando nessa área, embora importante, não é suficiente para a compreensão deste fenômeno multi/interdisciplinar. É necessário, pois, superar as abordagens simplistas do turismo, buscando novas propostas para tentar compreender este complexo fenômeno e reconhecer a importância das representações sociais e dos significados que é capaz de gerar: significados esses que, para muitos autores, estabelecem estreitos vínculos com o lazer. Pode-se afirmar que o turismo é um fenômeno humano e uma possibilidade de lazer, caracterizado pelo (re)conhecimento de um lugar extra-ordinário, no qual são estabelecidas as mais variadas relações (sociais, econômicas, históricas, políticas, ambientais, culturais, afetivas, etc.) em determinado tempo/espaço. Esta compreensão
coloca em evidência a necessidade de construir outros referenciais para o turismo, e as Ciências Humanas e Sociais podem trazer importantes contribuições. Ao se deparar com o novo, com o outro e com o desconhecido, o indivíduo pode vivenciar o turismo como uma experiência de lazer na sua própria cidade, que se torna um lugar com o qual podem ser estabelecidos novos vínculos, significados e relações simbólicas. Assim, deslocamento, pernoite e viagem não podem ser as únicas referências para o turismo, cuja vivência pode ser, constantemente, reinventada. Todavia, questões dessa natureza são emergentes na produção bibliográfica na área do turismo, onde é possível constatar uma intensa reprodução de conhecimentos. Segundo Barreto e Santos (2005, p. 363), reiteram-se conhecimentos porque não se faz pesquisa para gerar novos. Essa situação é um reflexo da falta de pesquisas consistentes nessa área e questões como essas precisam ser problematizadas nos cursos de Graduação em Turismo. A metodologia utilizada nesta investigação envolveu pesquisa bibliográfica e foi complementada com a realização de entrevistas com 16 docentes (8 coordenadores e 8 professores) vinculados a 08 IES que desenvolvem/desenvolveram cursos de Graduação em Turismo em Belo Horizonte, Minas Gerais. As IES pesquisadas não foram identificadas na pesquisa, e o anonimato dos entrevistados foi preservado, sendo os coordenadores e professores indicados nesta pesquisa, respectivamente, pelos códigos C1, C2, C3; P1, P2, P3 e assim sucessivamente. Os dados coletados foram analisados por meio da análise de conteúdo, priorizando a estratégia denominada análise interativa de uma explicação (LAVILLE, DIONNE, 1999). Alguns dos resultados são apresentados a seguir. Entendimentos de lazer de professores e coordenadores Foi perguntado aos professores e coordenadores dos cursos de Graduação em Turismo qual era o seu entendimento de lazer. Através das respostas dos entrevistados, pode-se perceber a existência de compreensões diversificadas entre os mesmos. As diferentes compreensões de lazer podem ser decorrentes da diversidade de formações acadêmicas de Graduação desses docentes, das variadas Pós-graduações cursadas, das visões sobre o curso ao qual estão vinculados, bem como dos distintos
posicionamentos, em relação ao mercado de trabalho na área do lazer, que se abrem para o bacharel em turismo. Com a análise das respostas, foi verificado que, de forma geral, os professores possuem conhecimentos mais ampliados sobre o lazer do que os coordenadores de curso, constatação que, de certa forma, era esperada. Isso pode ser explicado pelo fato destes professores terem maior contato com o tema, acumulando conhecimentos no decorrer de suas formações, principalmente através dos cursos de Pós-graduação que realizaram. A maior parte dos coordenadores se limitou a dar uma resposta breve ao questionamento. Foi possível perceber uma insegurança ao abordar a temática do lazer, o que tambem é compreensível uma vez nenhum destes profissionais se especializou ou dedicou estudos mais aprofundados sobre o tema. Dois coordenadores afirmaram ter poucos conhecimentos sobre a temática (C7 e C8) e um deles (C5) destacou a necessidade de aprofundar conhecimentos sobre o lazer. Alguns coordenadores expressaram, inclusive, dificuldades em diferenciar lazer e turismo. Sobre esta dificuldade, os depoimentos que se seguem demonstram o que foi relatado por alguns coordenadores: Olha, para ser sincero, é uma área que eu visito muito pouco. (...) normalmente, quem trabalha com o lazer é o professor de educação física, não é o turismólogo, na maioria das escolas. (C8) (...) o próprio conceito de lazer numa sociedade do século XXI tem que ser melhor entendido (...). Então eu acho que seria necessário um aprofundamento muito maior do tema do que efetivamente há hoje. (C5) Entre os coordenadores de cursos de Graduação em Turismo vinculados a IES privadas prevalece a compreensão de que o lazer é um serviço a ser prestado no âmbito do turismo (C2, C3, C4, C5). Neste ponto de vista o lazer estaria relacionado às atividades recreativas que são realizadas nos eventos e em equipamentos turísticos como hotéis, resorts e navios, visando a ocupação do tempo livre dos turistas. Este entendimento aproxima-se do conceito de lazer formulado por Dumazedier (1979), que foi criticada entre outros aspectos por restringir o lazer à mera ocupação ou atividade, desconsiderando assim as possibilidades de ócio enquanto reflexão, contemplação, relaxamento, descanso. O trecho a seguir exemplifica o que foi dito pelo coordenador C5: Bom, eu não sou professor de lazer. O meu entendimento de lazer, no
contexto do turismo, é uma lógica ligada à ocupação do tempo, no sentido de absorção de um tempo livre de uma forma ordenada. (C5) É preciso ressaltar que o entendimento de lazer enquanto um estado voltado para a ocupação do tempo livre pode assumir a conotação de fuga do cotidiano e válvula de escape dos conflitos e tensões que permeiam o dia-a-dia, em especial nas grandes cidades. Este aspecto precisa ser problematizado, uma vez que pode contribuir para que o lazer seja desenvolvido e vivenciado apenas como uma diversão alienada. Como consequência, os valores sociais e culturais, assim como as possibilidades de desenvolvimento pessoal e de formação crítica por meio do lazer, podem ser negligenciados. Outro aspecto enfatizado pelos coordenadores é de que o lazer se relaciona com desligamento da rotina, descontração, divertimento, distração e alegria (C2, C3, C4, C8). Os trechos abaixo exemplificam o que foi dito por dois entrevistados: O lazer é uma área de estudo que propicia o envolvimento com a parte gerencial de empreendimentos que vão proporcionar entretenimento, descontração, fuga do cotidiano. A gente trabalha em cima disso. (C3) (...) eu acho que o lazer, principalmente dentro do turismo, é quando você faz uma viagem não remunerada, é quando você tem, você sai de férias ou de fim de semana, você pode ter lazer dentro de uma viagem de negócio, por exemplo, você trabalhou o dia inteiro e a noite você vai descansar, você vai fazer uma caminhada, você vai a um cinema, vai a um teatro se enriquecer culturalmente, você está fazendo uma atividade para estancar sua mente, enfim para conhecer a cultura daquele lugar, mas um turismo de lazer é quando você viaja para alguma atividade que não seja trabalho. (C4) No depoimento acima, observa-se a compreensão de lazer como algo à parte das obrigações, caracterizado especialmente em oposição ao trabalho. Do ponto de vista deste estudo, não existem fronteiras absolutas entre o trabalho e o lazer, tampouco entre este e as demais obrigações próprias da vida social. Trabalho e lazer são distintos, porém complementares, constituem faces distintas de uma mesma moeda (GOMES, 2008a). Os entendimentos de lazer enunciados por vários entrevistados precisam ser repensados. Afinal, a partir de distintas nuanças, reduzem o lazer ao contraponto do trabalho e das obrigações e o concebem como mercadorias geralmente materializadas nas atividades recreativas desenvolvidas no âmbito dos equipamentos turísticos. Além disso, atribuem ao lazer o papel de promover a distração e a fuga do cotidiano, atuando como válvula de escape para as tensões do dia-a-dia. O lazer não deve ser pensado apenas como algo que existe para renovar as energias para o trabalho. Mais do que um
produto da indústria cultural, o lazer é, em sua essência, um fenômeno sociocultural que diz respeito a práticas culturais diversas, as quais são coletivamente produzidas em cada realidade histórico-social. Contudo, o lazer, como se apresenta hoje em nossa sociedade, não pode ser considerado algo ingênuo, pacífico ou inocente. É importante considerar o lazer sob uma perspectiva abrangente, sem que, com isso, esqueçamos da possibilidade de que ele também pode ser utilizado como estratégia de manipulação e de controle social. Além disso, é preciso compreender que o lazer pode ser vivenciado como fuga dos problemas e como um compensador das frustrações vividas no cotidiano, passando a ter uma conotação alienante e a ser visto como simples diversão e entretenimento a ser consumido. Nenhum coordenador citou uma compreensão de lazer mais elaborada, ou pautada em algum referencial teórico, que pudesse fundamentar seu entendimento, o que pode ser uma evidência de que esses docentes tiveram pouco (ou nenhum) contato com os estudos sobre o lazer no decorrer de suas formações acadêmicas. Interessante observar que alguns coordenadores (quatro entre os entrevistados), não conseguiram mencionar nenhum autor que tenha produzido conhecimentos ou publicado algum trabalho sobre a temática do lazer (C1, C5, C7, C8). Considerando que a temática do lazer integra a formação acadêmica dos cursos de Graduação em Turismo de Belo Horizonte, Minas Gerais, é importante que professores e coordenadores busquem conhecer estudos e reflexões que vêm sendo feitos no campo do lazer, bem como analisar algumas das principais concepções trabalhadas e difundidas neste campo. Este exercício pode contribuir para ampliar e aprofundar os conhecimentos sobre o lazer e instigar novos olhares, mais críticos e reflexivos, sobre este tema. Alguns professores expressaram o entendimento de lazer enquanto uma dimensão da cultura (P1, P3, P5, P6). O professor P6 afirma que lazer é um fenômeno social, histórico e cultural, uma dimensão da vida humana. O professor P5 afirma que existe ligação do lazer à cultura a qual, sendo dinâmica, sofre mudanças ao longo do tempo. Portanto, no seu ponto de vista, o lazer relaciona-se com alguns elementos considerados básicos: opção (possibilidade de opção do sujeito em vivenciá-la), busca do prazer (interesse em alcançá-lo) e gratuidade (sem o compromisso de ganhar dinheiro). Dentre os coordenadores, apenas um (C6) compartilhou esta idéia ao dizer que compreende o lazer como uma experiência humana no tempo livre.
Como exposto anteriormente, apesar das diferenças conceituais entre os estudiosos da área é possível verificar uma tendência entre os autores críticos que vêm produzindo conhecimentos sobre o lazer na realidade brasileira em compreendê-lo como uma dimensão da cultura. Alguns autores que o observam a partir dessa perspectiva são Alves (2003), Gomes (2008a; 2008b), Gomes e Faria (2005) e Marcellino (1987; 1995), entre outros. Essa compreensão de lazer embasou o presente artigo, pois, é considerada ampliada e contextualizada. Assumir que o lazer é constituído conforme as peculiaridades do contexto histórico e sociocultural no qual se desenvolve, significa que este fenômeno está dialogando e sofrendo interferências das demais esferas da vida em sociedade. Além disso, foi observado que tanto os coordenadores quanto os professores buscaram destacar, em seus depoimentos, os principais elementos que caracterizam o lazer. Que, de acordo com eles, seriam: Tempo (livre, disponível ou desobrigado): P2, P4, P5; A atitude que o caracteriza, que está relacionada, principalmente, à busca pelo prazer, pela alegria : P1, P2, P3, P5, P6, C3, C8; O espaço onde a vivência ocorre: P2, P5. Apesar da diversidade de entendimentos sobre o lazer constatada na pesquisa, pode-se perceber a existência de pontos em comum entre as opiniões de coordenadores e professores. Aspectos como a associação do lazer com o tempo livre se repete nos discursos, assim como a busca da satisfação e a caracterização do lazer em oposição ao trabalho, demonstrando haver consenso quanto a algumas características. Entretanto, o fato de haver uma certa uniformidade de pensamento não significa que estes e outros pontos não necessitem ser repensados. Conforme pontuado anteriormente, os aspectos levantados pelos entrevistados também são considerados importantes no âmbito deste artigo. Ao afirmar que o lazer é uma dimensão da cultura construída socialmente em nosso contexto, considera-se que estão envolvidos quatro elementos inter-relacionados, os quais refletem as condições materiais e simbólicas que caracterizam a vida em sociedade (GOMES, 2004): tempo, que corresponde ao usufruto do momento presente e não se limita aos períodos institucionalizados para o lazer; espaço-lugar, que vai além do espaço físico por ser um local no qual os sujeitos se apropriam no sentido de transformá-lo em ponto de encontro
e de convívio social; manifestações culturais, conteúdos vivenciados como fruição da cultura, seja como possibilidade de diversão, de descanso ou de desenvolvimento; e a atitude, uma vez que as ações vivenciadas são fundadas no lúdico entendido como uma forma de linguagem, ou seja, como expressão humana de significados da/na cultura. Esta linguagem é referenciada no brincar, pode se manifestar em todos os momentos da vida e de diversas formas (escrita, oral, visual, artística, gestual, etc.). Considera-se, pois, importante aprofundar conhecimentos sobre a temática do lazer, que apresenta interfaces com o turismo. Relação essa destacada como algo importante por todos os coordenadores e professores, como será visto no tópico a seguir. Relações constituídas entre lazer e turismo Outro aspecto investigado diz respeito à percepção dos professores e coordenadores quanto aos vínculos constituídos entre o lazer e o turismo. Vários entrevistados pontuaram que estes fenômenos estão interligados e consideram que os estudos do lazer estão intimamente relacionados ao turismo. Alguns explicitaram que não compreendem que possa existir um curso de Graduação em Turismo que não desenvolva estudos articulados ao lazer. O professor P1, por exemplo, afirmou o seguinte: o lazer está intimamente relacionado ao Turismo, então eu não consigo compreender alguém que se forme em turismo e que não estude o lazer. O professor P6 também observou que é fundamental aprofundar nos conhecimentos do lazer, na teoria do lazer, articulando o tempo inteiro com o Turismo, com a área do Turismo (...). A partir das respostas obtidas foi possível perceber que, para todos os coordenadores e professores, o lazer e o turismo estão interligados e estabelecem íntima relação, como pode ser verificado nos depoimentos de alguns dos voluntários da pesquisa: Primeiro tem que compreender que eu considero que o lazer está intimamente relacionado ao turismo, então eu não consigo compreender alguém que se forme em turismo e que não estude lazer. São áreas que estão intimamente relacionadas. (P1). Não consigo dissociar a palavra lazer da palavra turismo. Eu acho muito importante, eu acho que deveria ter mais coisa de lazer do que tem. Como nosso foco é muito na gestão, a gente está muito preocupada com as matemáticas, etc., do que com o lazer. Inclusive eu acho até que a gente não forma o aluno para trabalhar nesta área muito, trabalha mesmo na área de recreação, que não é a mesma coisa que o lazer, mas implica alguma coisa de
lazer. A gente não pensou nisso (...). (C7) Embora a articulação entre turismo e lazer tenha sido uma unanimidade entre os entrevistados, foram utilizados argumentos variados para explicar a ligação entre esses fenômenos. Alguns entrevistados (C1, C6, C7, P1, P4, P6) consideram o lazer um campo amplo, no qual o turismo estaria inserido. De acordo com eles, o turismo seria uma das possibilidades de vivenciar o lazer, uma de suas vertentes. Nessa mesma direção, um professores (P4) disse que o turismo é um dos conteúdos culturais do lazer, compreendendo assim o lazer como um fenômeno maior no qual o turismo está inserido. Alguns relatos evidenciam esta compreensão: Turismo é lazer de uma certa forma, não importa que tipo de turismo você esteja fazendo, ele sempre deve estar embutido ao lazer. (C7) (...) para se fazer turismo pressupõe-se que haja um tempo de lazer. Então o lazer antecede a questão do turismo. (P4) A compreensão destes entrevistados é coerente com o entendimento de alguns autores. Barreto (2003), por exemplo, afirma que o turismo é uma atividade de lazer praticada por pessoas fora das suas respectivas cidades que utilizam equipamentos e serviços, cuja prestação constitui um negócio, para atingir seus objetivos de lazer. Para Camargo (1992), Marcellino (1996), Melo e Alves Júnior (2003), o turismo é um dos conteúdos culturais do lazer, ou seja, uma das diversas motivações e interesses pelos quais os sujeitos procuram vivenciar o lazer. Marcellino (1996) explica que o turismo pode e deve ser entendido como uma atividade cultural de lazer, uma oportunidade de conhecimento e de enriquecimento das sensibilidades. Melo e Alves Júnior (2003) sugerem que o lazer turístico, além do conhecimento de outras localidades, pode estimular o reconhecimento do próprio espaço onde vive o indivíduo e, assim, combater o esvaziamento dos espaços públicos como lugar de vivência social. Todavia, opinião contrária foi demonstrada por outros entrevistados (C2, C3, C4, C5, C8) ao afirmarem que o turismo é o campo maior no qual o lazer está inserido. Para esses voluntários o lazer é que estaria dentro do turismo sendo, portanto, uma de suas segmentações ou uma motivação para que o turista se desloque. Através das entrevistas realizadas, pode-se perceber que as relações constituídas entre lazer e turismo representam um assunto que divide opiniões e que não é muito claro para vários entrevistados.
A dificuldade de compreensão sobre esta polêmica questão pode ser justificada pela falta de sistematização de conhecimentos sobre os vínculos entre lazer e turismo. Nota-se que poucos estudos visaram discutir as aproximações, semelhanças e diferenças existentes entre esses fenômenos. Concordamos com Camargo (2001), que afirma que o campo do lazer deve constituir objeto de conhecimento e vivência imprescindível ao profissional do turismo, tendo em vista a necessidade de uma nova compreensão acerca deste fenômeno. Assim, considera-se que esta interface deve ser tema de reflexões para os profissionais, estudantes e pesquisadores de ambas as áreas. É importante esclarecer que, do ponto de vista desta pesquisa, o fato de existirem interfaces entre o lazer e o turismo não significa que sejam sinônimos. Este aspecto foi ressaltado dois professores (P5 e P6), que entendem que lazer e turismo, apesar de possuírem muitos vínculos, são campos diferentes. Nas palavras do professor P5, o lazer (...) estabelece uma relação muito íntima com o turismo, mas na verdade são dois campos distintos que tem uma interface muito presente. (P5) Como observam Araújo e Isayama (2009), por mais que alguns autores tentem sobrepor ou reduzir um fenômeno ao outro, é necessário entender que lazer e turismo se recortam mutuamente, mas são fenômenos distintos. Alguns entrevistados percebem claramente limites e interseções entre os campos do lazer e do turismo, entendendo que são áreas distintas, mas interligadas. O professor P2 ilustra essa visão ao dizer que (...) no fundo é uma diferença muito tênue, (...) eu acho que no fundo [lazer e turismo] são complementares. Mesmo apresentando diferenças e semelhanças, tanto na produção acadêmica quanto na prática cotidiana lazer e turismo apresentam fronteiras muito tênues. Embora sejam formulados conceitos distintos para designar o lazer e o turismo, na realidade concreta nem sempre é possível delinear onde um termina e o outro começa. Como pondera Morin (2007, p.72-73), os conceitos não se definem jamais por suas fronteiras, mas a partir de seu núcleo. Afinal, as fronteiras são sempre fluidas, são sempre interferentes. No caso do turismo, destacamos que este se trata de um fenômeno humano, marcado pela mobilidade/deslocamento de pessoas, estimulado por aspectos simbólicos (traduzidos como uma motivação, ou várias motivações combinadas). A essência do lazer, por sua vez, é a vivência lúdica de manifestações culturais (que podem ser diversas atividades ou até mesmo o ócio) em um determinado tempo/espaço. Nessa
relação dialógica, enquanto o turismo representa uma possibilidade de lazer, este pode constituir, por exemplo, uma das motivações para o turismo (GOMES et al, 2009). Como visto anteriormente, lazer e turismo não devem ser pensados apenas como algo que existe simplesmente para renovar as energias para o trabalho. Mais do que produtos da indústria cultural, turismo e lazer são, na sua essência, fenômenos socioculturais e, ao vivenciá-los, pode-se aprofundar os saberes sobre as sociedades em que vivemos. Considerações Finais Ao investigar os entendimentos de lazer dos coordenadores e dos professores envolvidos com as atividades curriculares relacionadas ao lazer nos cursos de Graduação em Turismo de Belo Horizonte, Minas Gerais, foi identificada a existência de variadas compreensões, o que também foi verificado na revisão da literatura. Predomina uma compreensão de lazer fortemente ligada ao uso do tempo livre e a atividades recreativas e de entretenimento em equipamentos turísticos. Foi também constatada a existência de diferentes concepções de lazer, no que se refere aos professores vinculados a IES. Considerando a recreação e os elementos que a diferenciam do lazer, as entrevistas demonstraram que para alguns dos entrevistados esse assunto não é muito claro. Foi possível perceber nas respostas dadas por alguns dos coordenadores e professores que estão vinculados a IES particulares a existência de uma certa confusão entre os termos lazer, recreação e entretenimento. No decorrer das entrevistas realizadas, essas palavras foram muitas vezes empregadas como sinônimos. No que se refere às relações constituídas entre o lazer e o turismo, na visão dos entrevistados essa questão evidenciou diferentes interpretações. Mesmo apresentando diferenças e semelhanças, lazer e turismo apresentam fronteiras fluidas, seja na produção acadêmica sobre o tema, seja na prática cotidiana. Apesar das visões dos entrevistados serem muitas vezes divergentes, entende-se nesta pesquisa que lazer e turismo possuem particularidades e apresentam tênues fronteiras. Ambos são construções sociais que podem representar um tempo/espaço de expressão humana, de fruição, espontaneidade, prazer e de recriação de nossas identidades através do contato com novas situações, pessoas, paisagens, sociedades e culturas.
Concluindo, esta investigação evidenciou a importância de repensar a visão instrumentalizada que caracteriza a recreação e a animação turística, tendo em vista construir com os alunos, no decorrer de seu processo de formação acadêmica, práticas de lazer refletidas ; práticas pedagógicas que sejam contextualizadas, sistematizadas, consistentes e críticas e, para isso, o diálogo com a teoria é fundamental. Além disso, é essencial superar a visão técnica que permeia a formação/ação do bacharel em Turismo e aprofundar conhecimentos multi/interdisciplinares sobre o lazer na Graduação, buscando conferir uma maior consistência teórica e crítica à formação e atuação profissional na área. REFERÊNCIAS ALVES, V. F. N. Uma leitura antropológica sobre a educação física e o lazer. In: WERNECK, C. L. G.; ISAYAMA, H. F. (Org.). Lazer, recreação e educação física. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 83-114. ANSARAH, Marília G. R. (Org.). Turismo: como aprender, como ensinar. 2. ed. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001. ARAÚJO, Marina; ISAYAMA, Hélder Ferreira. As fronteiras entre turismo e lazer. Anais. X Seminário O Lazer em Debate. Belo Horizonte, UFMG/DEF/CELAR, 2009. BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas, SP. Papirus, 1995. BARRETTO, Margarita. O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e a compreensão do turismo. Horizontes Antropológicos. Vol.9, n.20, Porto Alegre, oct. 2003. BARRETO, M; SANTOS, R. J. Fazer científico em turismo no Brasil e seu reflexo nas publicações. Turismo: visão e ação. Itajaí, v 7, n.2, 2005. BRAMANTE, A.C. Concepções e significados de lazer. Licere. Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p.9-17, 1998. CAMARGO, L. O. L. O que é lazer? 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. CAMARGO, Luiz O. L. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 1998. CAMARGO, Luis Otávio de Lima. Sociologia do Lazer. In: ANSARAH, M. G. R. (Org.). Turismo: Como aprender, como ensinar. 2 ed. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001. CUNHA, Maria Isabel da. Aportes teóricos e reflexões da prática: a emergente reconfiguração dos currículos universitários. In: MASETTO, Marcos (org.). Docência na Universidade. Campinas, SP: Papirus, 1998. p.27-38.. DUMAZEDIER, J. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 1973. DUMAZEDIER, J. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva, 1979. GOMES, A. M. R.; FARIA, E. L. Lazer e diversidade cultural. Brasília: SESI/DN, 2005. GOMES, C.L. (Org.). Dicionário Crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2004. GOMES, Christianne Luce. Lazer Concepções. In: GOMES, C. L. (org.). Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. p. 119-126.
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