ACONSELHAMENTO PASTORAL VOLTADO PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DO SER HUMANO



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Transcrição:

ACONSELHAMENTO PASTORAL VOLTADO PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DO SER HUMANO Walter Fidelis de Oliveira Segundo 1 RESUMO O presente artigo analisa o aconselhamento pastoral voltado para o desenvolvimento integral da pessoa humana, considerando a oportunidade de auxiliar a pessoa em seu crescimento espiritual, emocional e físico, abrangendo sua existência holística. Procura-se direcionar a ação do conselheiro para o conhecimento acerca da pessoa a ser aconselhada perscrutando suas necessidades, atuando ativamente para fazê-la crescer e superar seus limites e bloqueios. Esta ação do conselheiro deve ser compassiva. Palavras-chave: Aconselhamento Pastoral. Desenvolvimento Integral. Aconselhamento Holístico. ABSTRACT This article analyzes the pastoral counseling focused on the integral development of the human person, given the opportunity to help the person in their spiritual growth, emotional and physical, including its holistic existence. Wanted direct advisor of action for the knowledge of the person being counseled scanning needs, actively working to make it grow and overcome their limits and locks. This action of the counselor should be compassionate. Keywords: Pastoral Counseling. Integral Development. Holistic Counseling. INTRODUÇÃO Não é difícil encontrar uma pessoa que esteja passando por crises. Da mesma forma não é difícil encontrar conselheiros despreparados e insensibilizados com a causa alheia. Aqueles que enveredam pelo caminho do cuidado e acompanhamento pastoral devem estar cientes do tipo de terreno em que estão. Dá prazer e satisfação ajudar as pessoas, e é preciso ter consciência de que estas pessoas do outro lado da mesa são de carne, osso e emoções. Por isso abordar este tema é ao mesmo tempo desafiador e necessário, transitando por questões melindrosas, cada vez mais habituais sobre o despreparo do conselheiro. 1 Teólogo pela Universidade Metodista de São Paulo (2009), Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia (1999). Especialista em Ciências da Religião: Educação Religiosa e Ensino Religioso pela Universidade Presidente Antônio Carlos (2009), Especialista em Pedagogia Empresarial e Organizacional: Educação Continuada e Planejamento Estratégico na Gestão de Talentos Humanos pela Universidade Federal de Uberlândia (2011). Docente da Faculdade Shalom de Ensino Superior-FASES. Pastor de tempo integral na Igreja Metodista e Coordenador Regional de Educação Musical e Arte na referida Igreja

Pela natureza do artigo buscou-se aproximação da ênfase no aconselhamento bíblico pastoral, sem tanger outras instâncias de ajuda como por exemplo mentoreamento e coaching. Entretanto, são mencionadas estruturas de apoio externa que servem de expediente para levar o indivíduo ao crescimento. Apresenta-se uma visão, ainda que periférica, do aconselhamento pastoral voltado para o desenvolvimento da pessoa humana. O tema aventado é um convite à reflexão dos aspectos da intervenção do conselheiro privilegiando a dimensão integral a pessoa humana. O processo de aconselhamento pastoral em si não pertence ao interesse desse estudo, voltado para a provocação do tema de cuidado holístico. As primeiras linhas revelam o aconselhamento como instrumento que traz esperança, preocupando-se especialmente com o interlocutor da ação aconselhadora. O referencial teórico tem espeques no modelo centrado em libertação e crescimento explorado por Howard Clinebell, que poderá ser facilmente compreendido. Este artigo mostra o aconselhamento como fato gerador de liberdade, convidando o conselheiro a conhecer necessidades preeminentes dos aconselhandos visando o melhor exercício da função. O conhecimento, é o que se verá, promove o desenvolvimento humano, sendo este fundamental para os passos escolhidos pelo conselheiro. Este conhecimento acerca da pessoa cuidada e o atendimento ao chamado para o amor incondicional ou compassivo, revela-se inerente à todo aquele que se aventura como genuíno conselheiro. Trata-se, portanto, de artigo que apesar de não esgotar o tema, levará o leitor ao contato com pesquisa bibliográfica favorecendo o suporte à ação do aconselhamento pastoral como forma de atendimento às necessidades das pessoas humanas. O objetivo é sempre o desenvolvimento integral. É o que se pretende discorrer neste apertado trabalho acadêmico. 1 O ACONSELHAMENTO BÍBLICO 1.1 Aconselhamento Bíblico que alimenta esperança e faz crescer Considerando o ser humano como alvo da atividade do conselheiro bíblico, faz-se necessário compreendê-lo em toda sua existência, oferecendo recursos para seu crescimento integral afim de que se torne um indivíduo capaz de estar bem consigo mesmo, com sua família e demais interações sociais. A forma como se dá essa compreensão por parte do conselheiro e o crescimento da pessoa humana, passa necessariamente pelo critério de observância integral do indivíduo.

Clinebell (2007) entende isso como sendo um modelo holístico que visa facilitar a integralidade centrada no Espírito que requer integração de outras fontes tais como os recursos das ciências psicossociais e psicoterapêuticas, sem prescindir dos recursos teológicos. Quer seja em gabinetes pastorais ou numa aprazível cafeteria, o diálogo chegará à incontornável conclusão de que cada vez mais os indivíduos falham em conquistar uma vida relacional-emocional-funcional-espiritual sadia. A esperança de escapar de um buraco sem saída está no crescimento gradativo, superando bloqueios emocionais e construções mentais desfavoráveis ao ser. Essa superação torna-se uma tarefa complexa, pois muitos e diferentes fatores podem limitar, constringir e sufocar o crescimento em direção à integralidade do ser Clinebell (2007, p.29) expõe como alguns destes fatores: (...) a falta de um suprimento adequado de amor maduro na infância; uma crise traumática ou uma série de crises (perda de um ente querido, divórcio, acidentes, desemprego, doenças graves, catástrofe natural, guerra); a paralisia causada por conflitos interiores, ansiedades debilitantes e as consequências acumuladas de um modo de vida irresponsável; o círculo vicioso e autoperpetuador de um matrimônio tóxico ou de outros relacionamentos íntimos igualmente tóxicos; limitação opressiva do crescimento e injustiças sociais e institucionais. Quaisquer que sejam as causas do crescimento bloqueado, as pessoas afetadas são incapazes de se relacionar de formas que satisfaçam sua necessidade dos alimentos básicos precisos para um sadio crescimento da personalidade. Não é de se admirar que ao procurar o conselheiro, a pessoa esteja vivenciando um estado de crise e de desorientação significantes, não raras vezes sem saber identificar o problema que a aflige. A esperança que pulula no drama da existência humana repousa em homens e mulheres que dedicam seu tempo a ajudar outras pessoas a encontrarem o descanso tão almejado através da Bíblia, utilizando recursos diversos para esta finalidade. O conselheiro deve estar atento ao estado físico, emocional e espiritual da pessoa que o procura para rapidamente identificar, através de uma escuta atenta, a causa da queixa apresentada. Clinebell (2007) alerta a respeito da condição do coração machucado que pode se traduzir em infindável variedade de problemas psicológicos e psicossomáticos, conflitos interpessoais e comportamento destrutivo, que prejudicam ao indivíduo, a outras pessoas próximas e em última instância à sociedade. O fato de uma pessoa buscar este tipo de orientação quando está no fundo do posso, quando a crise se agrava, quando tudo parece perdido, pode comunicar o desejo de mudança. É o momento em que o encorajamento e expectativas de um futuro melhor

proposto pelo Reino de Deus são compartilhados e podem favorecer a adequada cura da alma. Ao ouvir palavras como as que estão no conhecido sermão do monte, acerca das bemaventuranças pode-se trazer nova perspectiva por exemplo. Mas o que se depreende é a Palavra que gera vida quer gerá-la de maneira integral, considerando o ser como um todo. A orientação está no compartilhar a Palavra que traz vida ao espírito humano, mas também no fornecer condições para que a pessoa efetivamente saia da posição de sufocamento e assim cresça. Neste sentido a pessoa deve ser orientada a ler a Palavra, mas também frequentar uma academia para sair da depressão; deve ser confortada pela Palavra de alento, mas também orientada a participar de comunidades terapêuticas para reassumir seu papel na sociedade através das práticas de apoio mútuo; deve ser lembrada que o perfeito amor lança fora todo medo, mas também deve ser encorajada a não ser tão somente ouvinte, mas praticante da Palavra. Em suma, deve-se tratar de aspectos estritamente espirituais e ainda atentar para questões práticas e simples da vida. Alimente a alma, mas literalmente o físico também. Assim acontece ao fazer o aconselhamento bíblico visando estabelecer um processo de crescimento que observa cada uma das necessidades do ser. A solução para os dilemas não surgem como num a passe de mágica. Apesar de ser um remédio sem contraindicações para o espírito, por vezes a mente não está preparada para receber as afirmações contidas nas Sagradas Escrituras. Depende da vontade do ser humano aconselhado. Neste sentido MacArthur e Mack (2008, p. 228-229) afirmam que a esperança é uma questão de vontade: A verdadeira esperança é uma questão de vontade. A esperança é uma escolha, assim com estar entregue é uma escolha. Podemos escolher tanto ter esperança quanto não ter esperança. A primeira carta de Pedro, 1.13, diz: Esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelaão de Jesus Cristo. é um mandamento vindo de Deus portanto precisamos ter a capacidade (com a ajuda do Espírito Santo) para escolher e fazer o que ela diz. Ao oferecer o aconselhamento bíblico, coloca-se também a oportunidade de crescer em relacionamento espiritual com Jesus Cristo e consequentemente a pessoa fundamenta seu crescimento num modelo que deu certo. A história de Cristo é uma história de vitória. Todos precisam de um referencial, e Jesus é o referencial. Mais que isso Ele proporciona as condições para conquistar o crescimento integral, a libertação integral. Apresentando a história de Jesus e o Jesus da História, por exemplo, há o convite para que as pessoas sigam seus passos. Há realmente esperança para o ferido. Este ferido deve reconhecer que é

possível erguer-se, voltar a caminhar, consertar a sua caminhada de vida e ajudar outras pessoas enquanto caminha. 1.2 Conhecendo o ser ajudado Se você vai aconselhar alguém, é bom que saiba a quem está ajudando. Várias perguntas deveriam orbitar os pensamentos: Trata-se de uma pessoa que está há vinte anos na igreja ou é uma pessoa que nunca colocou os pés neste lugar? Trata-se de um líder dedicado à obra e que está passando por crise? Trata-se da irmã, de um membro frequente da igreja, mas que nunca ouviu falar sobre Jesus, ou o Reino de Deus? Independente das possíveis respostas, saiba: deve-se tratar cada um de acordo com sua individualidade. Não se pode traçar uma régua nivelando todos por baixo ou por cima. Há que se atentar para cada necessidade apresentada, pois cada pessoa é um indivíduo que traz consigo percepções, tendências, influências e questionamentos diferentes. Nivelar todos sob um signo de igualdade é matar a todos um pouquinho de cada vez. (...) o aconselhamento bíblico reconhece que crentes e não crentes não podem ser aconselhados da mesmo forma. Não podemos usar as Escrituras para aconselhar um não-cristão que não está suneito à sua autoridade. Sem dúvidao aconselhado não pode e não reagirá à verdade se seus olhos espirituais cegos não forem abertos por Deus. (MACARTHUR, MACK, 2004, p. 423). Cuidar de pessoas implica num aprofundamento das questões práticas que envolvem a complexidade da vida humana, não só no que concerne a órbita espiritual, mas também no conhecimento sobre o cotidiano, sobre as tendências de mercado, sobre as leis trabalhistas e que favorecem as pessoas com benefícios sociais. A ajuda ao próximo, aconselhamento bíblico, implica em conhecer a necessidade do outro. Os pescadores tinham a necessidade de pescar os peixes para sua subsistência, Jesus simplesmente orientou (ordenou) que lançassem a rede do outro lado do barco (Jo 21.6). Percebe-se a influência da vontade acima exposto. Como consequência de um conselho certo as redes mal aguentaram o peso dos peixes que foram pescados. Aconselhamento tem a ver com conhecimento das necessidades e se importar com elas. Se você quer ajudar as pessoas, precisa estar disposto a compreender suas angústias, crises e decepções, enfim conhecer. Pressupondo uma experiência pessoal do conselheiro, a intervenção no momento de angústia implica em levar a pessoa a se equilibrar

emocionalmente, a encontrar dentro de si mesma a organização necessária para superar a descompensação emocional. Cury (2004) compara a existência da vida humana com um grande palco de teatro; o teatro da vida. Neste teatro as emoções recebem uma atenção especial, pois ela é um dos fatores determinantes para o sucesso e do fracasso do espetáculo da vida. A emoção pode gerar a mais rica liberdade ou a mais drástica prisão: o cárcere da emoção. Muitos vivem nesse cárcere. Embora a emoção deva ser administrada, é impossível dominála completamente. (CURY, 2004, p. 114) A função dos conselheiros e pastores é identificar o ponto de caos alojado nas pessoas e ajudá-las a proteger suas emoções reorganizando suas prioridades. Neste sentido é que Gary Collins elenca alguns objetivos a serem alcançados em caso de comportamentos desorganizados que ocorrem em momentos de crise. Segundo Collins (2004, p. 77), o conselheiro deve ajudar a pessoa a superar o momento agudo da crise e voltar ao seu estado normal; diminuir o nível de ansiedade, preocupação e outras inseguranças que podem surgir durante a crise e permanecer depois que ela passar; ensinar técnicas de controle de emergências para que a pessoa possa antever e lidar eficazmente com crises futuras; ministrar os ensinamentos bíblicos sobre situações de crise, para que a pessoa possa tirar lições dos acontecimentos e amadurecer. Não há propósito num aconselhamento que apenas ouve e não interage com a pessoa humana. A condição de fragilidade da pessoa, por vezes, requer atenção e cuidados dobrados para que surta algum resultado a médio ou longo prazo. Há que se ter em mente a metáfora do ambulatório e do pronto socorro. Algumas situações permitem que você permaneça como interventor passivo, apenas ouvindo, por vários encontros. Seria este o caso semelhante ao ambulatório, onde há tempo para toda a sorte de investigação para só depois tomar medidas invasivas. De outro lado, aquele que está em estado de depressão profunda, com indicativos de cometer suicídio, deve ser imediatamente atendido com todos os recursos práticos, éticos e imediatos que possam significar o equilíbrio emocional da pessoa. Mas nada disso é possível sem a intervenção de uma pessoa que tenha conhecimento, que saiba orientar, dar a esperança e agir proativamente visando o restabelecimento da pessoa humana. Nem sempre o conselheiro ou pastor dominam a área de conhecimento necessária, nem é cobrado dele que saiba tudo sobre tudo. Mas é coerente que saiba como orientar da melhor forma para que a pessoa saiba onde, quando e a quem procurar para obter ajuda especializada.

2. CONHECIMENTO QUE GERA DESENVOLVIMENTO DA PESSOA HUMANA Antes de aprofundar o aconselhamento ou tirar conclusões acerca da situação de cada pessoa é importante, sempre que possível, fazer um inventário do aconselhado, ou uma coleta de seus dados. Quão eficaz será o vínculo que construiremos com o aconselhado e instilar nele esperança será determinado e norteado pelo que viermos a aprender acerca dele e de seus problemas. (MACARTHUR; MACK, 2004, p. 261). O empenho em conhecer a vida da pessoa aconselhada implica adentrar muitas vezes em corredores que permaneciam escuros e vazios. Conhecer sem querer se envolver e levar a pessoa a uma transformação não tem finalidade alguma, não enobrece e não dignifica o trabalho do conselheiro. O conselheiro deve ouvir, o que significa que ele deve também atuar como facilitador para a descoberta da transformação da crise em oportunidade. Neste sentido Hildegart Hertel discorre que a crise pode ser perigo ou oportunidade: Por perigo entende-se a situação em que a realidade de crise, na qual vivemos, nos desorganiza de tal forma, que não mais conseguimos conviver em sociedade de maneira equilibrada. A crise é oportunidade, quando a situação nos leva a reagir, buscando novas forças de sobrevivência através de passos criativos, possibilitando saídas antes não experimentadas ou descobertas. (HERTEL, 2005, p.37). Quando se está no fundo do poço a única perspectiva é subir, para tanto é necessária uma corda, um impulso que ajude a superar o obstáculo. O suicida na cobertura de um edifício não precisa de um empurrãozinho ; precisa de alguém que lhe mostre uma ótica diferente do que o aguarda quando conseguir desejar a vida. Neste aspecto é que a abnegação e a compaixão devem superar quaisquer entendimentos ou teorias rumo a uma presença eficaz e consoladora. Num mundo de caos faz-se necessária uma palavra de ordem, como descreve esperançosamente o livro de Gênesis; mesmo em meio ao caos o Espírito, que pairava sobre a face das águas, estava aguardando a Palavra de Ordem para organizar a criação. Muitos apenas esperam uma palavra de ordem em meio ao caos que está sua vida. O conselheiro não pode limitar-se a conhecer tão somente a história particular e superficial da pessoa, mas sim conhecer o lugar de onde ela veio, e quais as suas expectativas, pois sem uma identificação com o meio, sem um diálogo com as necessidades e perguntas do ser humano de hoje, toda pastoral se torna inoperante (DE LIZ, 2005, p. 109).

2.1 Conhecendo seu chamado para ser compassivo A pretensão de ser conselheiro ou ajudador deve estar intimamente ligada ao desejo de ser também um discípulo. O discípulo aprende rapidamente que sua primeira característica é a obediência. Ao compreender esse sentido de obediência certamente será compreendido que obedecer ao chamado implica em obedecer Àquele que fez o chamamento. Logo descobre-se que é impossível ser um conselheiro se não cumprir os dois grandes mandamentos sinteticamente: Amar a Deus e Amar ao próximo como a si mesmo. A necessidade de amar ao próximo justifica-se porque o discípulo partilha da mesma gênese e do mesmo destino sobre a face da terra; por isso, a insistência de Deus é o Senhor, doador e mantenedor da vida (NOÉ, 2004, p. 153). Deve haver a disposição em doar tempo e empenho para ajudar as pessoas necessitadas a se libertarem, e capacita-las a sair de uma eventual situação de comodismo. Libertação é um alvo desejável para todo o cristão. Libertação é o motivo unificador do estilo de vida cristão. O Evangelho é experimentado como boa-nova sempre que liberta e capacita as pessoas para realizar o sonho e a intenção de Deus de que tenham vida em abundância. (CLINEBELL, 2007, p.27) Não se pode falar em aconselhamento sem destacar o papel potencializador do crescimento do ser humano que o conselheiro desempenha. Possibilitar a cura e crescimento espiritual é a tarefa em toda poimênica e em todo aconselhamento pastoral. (CLINEBELL, 2007, p. 99). Um grande desafio para levar as pessoas a uma condição de abundância é ouvi-las e compreendê-las com um coração compassivo. O que dizer a uma mulher quando esta perde seu filho aos seis meses de gestação e os médicos não têm explicações para dar? Ou o que fazer quando um homem liga enquanto você está passeando no clube dizendo que vai matar a mulher quando ela chegar em casa? A resposta está em demonstrar amor prático e não teorizado. Amor que ouve e que é compassivo. A resposta está em simplesmente estar presente, ficar ao lado daquela mulher quando ainda está na cama do hospital sentindo as dores antes do parto induzido; ouvi-la e cantar um cântico que ela gosta; simplesmente compreendê-la quando muitas pessoas a estavam criticando por ter feito isso ou aquilo. No caso do marido enlouquecido, ir à casa e ser tão somente um pacificador evitando-se o pior; mais uma vez ouvir e amar, sendo enérgico quando necessário. A constatação é que as pessoas tem necessidades práticas que

precisam ser resolvidas. Às vezes uma oração por telefone não é suficiente para dar condições à pessoa de se reerguer. As pessoas vivem em busca de uma motivação e de um estímulo comparados aos comprimidos numa farmácia. Fórmulas prontas como sete passos para isso ou aquilo, ou ainda livros de auto-ajuda não podem ser utilizados como exclusiva fonte terapêutica. Faz-se necessário calor humano que não se transmite nas páginas de livros. A própria pessoa humana deve ser levada à compreensão de que precisa de auxílio para crescer e encontrar seu verdadeiro potencial. O exercício do aconselhamento compassivo, considerando-se a condição da pessoa humana fragilizada, ainda é o que faz a diferença para a recuperação, tratamento ou desenvolvimento, tanto físico como espiritual. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apreciando o tema, considera-se o aconselhamento como uma ferramenta para o desenvolvimento da pessoa humana constatando-se o quão significante é o conhecimento acerca da vida do aconselhado. A contribuição de Clinebell desafia o conselheiro a estender um olhar holístico, voltado para o ser humano como um todo, atento às necessidades de minimizar o sofrimento observando ainda as oportunidades de participar do crescimento desta pessoa humana. Neste prisma, o cuidado deve ser vivenciado no sentido de auxiliar nas questões psicológicas, mas também nas questões de suprimento das necessidades psicossociais. A respeito disso verifica-se a sugestão apontada por Mack Wayne de se fazer um inventário coletando dados do aconselhado, o que deverá encurtar a jornada para diagnosticar e tratar as queixas apresentadas. Aconselhar é mais que um cargo ou ministério. Aconselhar está arraigado no cerne do chamado para prática de amor ao próximo. Esse amor, com compaixão, privilegia ouvir e compreender o ser humano antes de emitir qualquer opinião; sem pré-julgamentos. O caminho para se ajudar as pessoas a se desenvolverem e alcançarem a cura passa necessariamente por um contato enquanto pessoa humana, considerada como tal. Desta forma o material de trabalho do conselheiro é uma pessoa humana, que deve ser individualizada, amada e tratada com toda responsabilidade, à semelhança de cirurgiões numa delicada operação. O que está sobre a mesa de operação pode sofrer estrago ainda maior se mexido e remexido de maneira displicente.

Por isso aquele que se propõe a ser um médico de almas deve aprofundar no intrincado mundo da psique, não como pretensão de ser um psicólogo ou psicanalista cristão, mas justamente para conhecer qual o limite de sua atuação e como encaminhar os casos que extrapolam sua competência, sem prescindir dos recursos para satisfação da vida integral (corpo, alma e espírito) que estão na órbita de necessidades do aconselhando. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ACONSELHAMENTO. Fundamentos Teológicos do Aconselhamento. São Leopoldo: Sinodal/IEPG, 1998. p 5-78. CLINEBELL, Howard J.. Aconselhamento Pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. Tradução: Walter O. Schlupp e Luís Marcos Sander. São Paulo: Paulinas, 2007. COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão. São Paulo: Vida Nova, 2004. DE LIZ, João Pedro. Ministério da Visitação: elementos para uma prática de aconselhamento pastoral. In: I SIMPÓSIO DE ACONSELHAMENTO E PSICOLOGIA PASTORAL, número, ano, São Leopoldo, RS. Comunidade Terapêutica: cuidando do ser através de relações de ajuda. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2005. HERTEL, Hildegart. Redes Sociais e Qualidade de Vida. In: I SIMPÓSIO DE ACONSELHAMENTO E PSICOLOGIA PASTORAL, número, ano, São Leopoldo, RS. Comunidade Terapêutica: cuidando do ser através de relações de ajuda. 2ª ed. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2005. NOÉ, Sidnei Vilmar. Espiritualidade e saúde: da cura d almas ao cuidado integral. Tradução. São Paulo: Editora Sinodal, 2004. 167 p. MACARTHUR, John F.; MACK, Wayne A. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. Um guia básico de princípios e práticas de aconselhamento. São Paulo: Editora Hagnos, 2004. p 437.