Aula 04 29/02/2012 2.1.3 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio art. 122 Nossa lei não pune aquele que tenta se matar e não consegue. Assim, não é crime o ato de tentar se suicidar. Em contrapartida, a lei permite a coação para impedir o suicídio, conforme art. 146, 3º, inciso II do CP. Este crime é também conhecido como participação em suicídio porque nele se pune quem toma parte em suicídio alheio. O legislador, embora não considere o suicídio um crime, pune como crime autônomo, a conduta de colaborar dolosamente no suicídio. Objeto jurídico vida humana extrauterina. Sujeito ativo qualquer pessoa. Sujeito passivo qualquer pessoa. É necessário que o sujeito ativo tenha um mínimo de discernimento e capacidade de resistência ao induzimento, à instigação ou ao auxílio. Caso contrário poderá ser tipificado como homicídio, por exemplo, se o suicida é inimputável ou menor. Também é indispensável que a pessoa seja DETERMINADA. Exige-se ainda dolo em relação ao suicídio de pessoa ou pessoas determinadas de modo que não podem ser punidos os autores de músicas ou livro que falem em suicídio e que acabam servindo de inspiração para se matar. O autor da música ou livro não agiu com dolo direto ou eventual em relação ao suicídio daquele desconhecido. Tipo objetivo Induzir, instigar ou auxiliar. O induzimento e a instigação são classificados como forma de participação moral do suicídio, pois se referem ao processo de conscientização do suicida. Induzir consiste em fazer surgir a ideia de suicídio em alguém. A instigação consiste em reforçar a ideia suicida já existente em alguém. Exemplo: o suicida que está em alto prédio dizendo que vai pular e outra pessoa o induz. O auxílio é uma participação material no suicídio, pois consiste em colaborar com o ato suicida. Exemplos: ministrar instruções sobre o modo de empregar os meios para matar-se, no criar as condições de viabilidade do suicídio. Se ficar demonstrado que foi o agente quem provocou a morte da vítima, por exemplo, empurrando-a do alto de um prédio a pedido desta, o agente responde por homicídio porque tecnicamente não houve suicídio. O consentimento não exclui o crime porque a vida é um bem indisponível, entrega a arma para a pessoa se matar. A prática de duas condutas responde por apenas um delito. Tipo subjetivo dolo. Consumação e tentativa como a lei prevê pena de 2 a 6 anos de reclusão se a vítima morreu, e de 1 a 3 anos se em razão do ato suicida ela sofrer lesão corporal Profª Tâmisa Fleury Página 15
grave, conclui-se que a consumação ocorre no momento em que a vítima morre ou sofre lesão grave. Quando a vítima sofre lesão grave o crime é considerado consumado porque existe pena para este caso na parte especial do código, o que torna desnecessária a combinação com o art. 14 que é o dispositivo que confere pena para os crimes tentados em geral. O legislador intencionalmente deixou de prever pena para outras hipóteses, ou seja, se a vítima sofrer lesão leve ou não sofrer nenhuma lesão. Fato considerado atípico nesta hipótese. Conclusão: o crime de participação em suicídio não admite tentativa, porque se a vítima morre ou sofre lesão corporal grave o crime se considera de lesão grave e nos demais casos é considerado atípico. Causas de aumento de pena a pena será duplicada: Se o crime for praticado por motivo egoístico excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida alheia. Ex: estimular pai para ficar com a sua herança. Primeira parte quando a vítima é menor de 18 anos. Discute-se na doutrina que em se tratando de menor de 14 anos, o crime deixará de ser participação em suicídio com pena em dobro e passará a ser de homicídio na hipótese em que alguém estimula o menor a se matar. Segunda parte doenças (físicas ou mentais), abalos psicológicos, ingestão de álcool ou outras substâncias. Se a vítima não tiver nenhuma capacidade de resistência, o crime é o de homicídio. Exemplo: estimular pessoa com grave problema mental a pular do alto de um prédio. Classificação: comum, material, instantâneo, comissivo (de ação), de dano, unissubjetivo, de forma livre, plurissubsistente. Curiosidades: Quando alguém presta um certo auxílio para que a vítima cometa suicídio, mas esta se mata de algum outro modo não se valendo do auxílio prestado pelo agente, não existe crime por não ter nexo causal entre o auxílio prestado e o suicida. Exemplo: o agente fornece veneno, mas ela pula do prédio. Omissão Existem duas correntes em torno da possibilidade de caracterização por omissão por parte de quem tinha o dever jurídico de evitar o suicídio, mas resolve se abster. A 1ª corrente diz que sim, com fundamento no art. 13, 2º do CP, que diz que responde pelo resultado quem tem o dever jurídico de evitá-lo e podendo fazê-lo se omite. Para esta corrente incorre no art. 122 o bombeiro que é chamado ao local onde alguém está dizendo que vai se matar e intencionalmente fica inerte, embora pudesse tentar o ato. A 2ª corrente diz que não, porque os verbos induzir, instigar e auxiliar são incompatíveis com a omissão, o que o bombeiro, no exemplo acima, responda por omissão de socorro agravada pelo resultado morte. Profª Tâmisa Fleury Página 16
Pacto de morte (suicida) em que duas pessoas estimulam-se mutuamente a praticar suicídio numa mesma ocasião. Quando ambos não participam do ato consumativo: Se ambos sobrevivem, mas um sofre lesão grave e outro, lesão leve Aquele que sofreu lesão leve responde pelo art. 122 estando incurso na pena de 1 a 3 anos, porque o outro sofreu lesão grave. Para aquele que sofreu lesão grave o fato é atípico, pois embora tenha estimulado um ato suicida, a lei não prevê pena quando a consequência é uma lesão leve. Se A e B estimulam-se mutuamente a morrer na mesma ocasião, mas fica combinado que A efetuaria o disparo em B e depois se mataria, temos as seguintes possibilidades: 1 se o B morre e A sobrevive, ele responde por homicídio, porque ele quem executa o ato consumativo o disparo da arma; 2 caso B sobreviva e A morra ou sofra lesão corporal grave, como consequência do ato suicida, B responde pelo crime do art. 122. Roleta Russa quem sobreviveu responde por participação em suicídio. Testemunhas de Jeová: As Testemunhas de Jeová são uma seita que tem como um de seus dogmas não aceitar a transfusão de sangue, sob o argumento de que se a Palavra de Deus proíbe a sua ingestão, também não podemos infundi-lo em nosso organismo, pois que, nesse caso, estamos permitindo que a alma de outra pessoa entre em nós, sendo preferível, nesse caso, a morte. O que fazer diante de uma situação em que um adepto da seita das testemunhas de Jeová, após ferir-se gravemente em um acidente de trânsito, necessitando realizar uma transfusão de sangue, recusa-se a fazê-lo sob o argumento de que prefere morrer ao ser contaminado com o sangue de outra pessoa, que passará a correr em suas veias? Dessa forma, temos que observar os seguintes detalhes: a) o próprio agente, maior e capaz, recusa-se terminantemente a receber o sangue; b) seus pais, dada a falta de consciência do paciente, não permitem a transfusão; c) a responsabilidade do médico diante dessa hipótese. Entendemos que, no caso de ser imprescindível a transfusão de sangue, mesmo sendo a vítima maior e capaz, tal comportamento deverá ser encarado como uma tentativa de suicídio, podendo o médico intervir, inclusive sem o seu consentimento, uma vez que atuaria amparado pelo inciso I do 3º do art. 146 do CP, que diz não se configurar constrangimento ilegal a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida. Os pais daquele que não possui capacidade para consentir são, conforme determina o 2º do art. 13 do CP, considerados garantidores, tendo que levar a efeito tudo o que esteja ao seu alcance, a fim de evitar a produção do resultado Profª Tâmisa Fleury Página 17
lesivo. Se o paciente, por exemplo, necessitava de transfusão de sangue, sob o risco iminente de morte, também poderá o médico, deixando de lado a orientação dos pais que seguem a seita, realizar a transfusão de sangue, com fundamento no mencionado parágrafo do art. 146 do CP. Agora, o que fazer com os pais que não autorizam a necessária transfusão de sangue, retirando, inclusive, seu filho do hospital, o qual, em razão disso, vem a falecer? Entendemos que, nesse caso, deverão os pais responder pelo delito de homicídio, uma vez que gozam do status de garantidores, não podendo erigir em seu benefício a dirimente relativa à inexigibilidade de conduta diversa. No que diz respeito à posição ocupada pelo médico, também acreditamos que, enquanto o paciente estiver sob os seus cuidados, deverá levar a efeito todos os procedimentos que estejam ao seu alcance, aí incluída a transfusão de sangue, no sentido de salvá-lo, pois que também é considerado como garantidor. 2.1.4 Infanticídio art. 124 Objeto jurídico vida. Sujeito ativo mãe em estado puerperal. Trata-se de crime próprio. Admite-se participação e coautoria. Teoria monista: Essa possibilidade existe em razão do art. 30 do CP que diz que esta circunstância de caráter pessoal se estende a todos os envolvidos quando forem elementares do crime, como ocorre no infanticídio. o Haverá participação quando a mãe, sozinha, matar o recém-nascido, mas ficar provado que outra pessoa a incentivou a fazê-lo, sendo esta o partícipe. o A coautoria é também possível e se aperfeiçoa quando a mãe e outra pessoa matam o recém-nascido. Sujeito passivo filho que está nascendo ou é recém-nascido. Se a mãe mata outro filho de idade avançada, o crime é de homicídio. Se natimorto (nasceu morto) configura crime impossível, art. 17 do CP. Se por erro a mãe mata outro recém-nascido pensando que se trata do seu próprio filho, ela responde por infanticídio porque ocorreu erro sobre pessoa, em que o art. 20, 3º diz que o agente responde como se tivesse matado quem pretendia. Por já fazerem parte das elementares do tipo, não são aplicáveis a este crime as agravantes genéricas que se referem a crime contra descendente e crime contra criança (art. 61, II, e e h ). Tipo objetivo Matar, estado puerperal, próprio filho, durante, logo após. Matar tirar a vida. Estado puerperal CRITÉRIO BIOPSÍQUICO conjunto de alterações que ocorre no organismo da mulher em decorrência do fenômeno do parto e que podem levá-la a um breve sentimento de rejeição em relação ao filhó e se por esse motivo ela o matar, o crime será o de infanticídio. Para a configuração do infanticídio é necessário que se faça prova de que a morte decorreu do estado puerperal, ou isso é sempre presumido? Profª Tâmisa Fleury Página 18
Por ser exigência do próprio tipo penal é necessário que se faça prova nesse sentido, que é obtida mediante exame médico-psiquiátrico. Se o laudo for positivo a mulher responderá por infanticídio, mas se for negativo, responderá por homicídio. Caso, todavia, seja apresentado laudo inconclusivo porque os médicos ficaram em dúvida, a solução é presumir que a morte ocorreu do estado puerperal por ser o que comumente ocorre e em razão do indubio pro réu. O infanticídio é um crime que possui elementar temporal, pois só pode ser praticado durante ou logo após o parto. O parto se inicia com a dilatação do colo do útero, com o corte das camadas abdominais ou com o rompimento da membrana amniótica e termina com a expulsão completa do feto (nascimento). Logo após dura enquanto perdurar o estado puerperal de cada mulher em cada caso concreto. Essa duração é variável de acordo com cada organismo, mas é comprovado que não excede alguns dias. Tipo subjetivo dolo, nas formas direta ou eventual. É admissível o delito na forma omissiva. Exemplo: quando deixa de alimentar. Não admite-se na forma culposa. E se a mãe, durante o estado puerperal, mata por imprudência? Existem 2 correntes: 1ª corrente majoritária diz que o crime é o homicídio culposo. 2ª corrente diz que o fato é atípico, porque o estado puerperal é incompatível com o crime culposo. Além disso, o desencadeamento de A. P por homicídio culposo seria sempre inócuo, porque acabaria em concessão de perdão judicial. Consumação e tentativa com a morte. A tentativa é admissível. Classificação próprio, instantâneo, comissivo, material, de dano, unissubjetivo, plurissubsistente, de forma livre. Curiosidades: Estado puerperal mínimo, médio, máximo: Se a mãe sob estado puerperal mínimo, não atua para evitar a morte do filho, incorrerá em homicídio. Se sob estado puerperal máximo, será considerada inimputável. Se sob o estado médio, será infanticídio. Profª Tâmisa Fleury Página 19