A C Ó R D Ã O 5ª T U R M A PLANO DE SAÚDE. DIREITO ADQUIRIDO. AUXÍLIO-DOENÇA. O cancelamento abrupto do plano de saúde caracteriza-se como violação ao direito adquirido do reclamante, que é detentor do benefício ainda que em gozo de auxílio-doença, devendo ser restabelecido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário, interposto contra a sentença proferida pela MM. 44ª Vara de Trabalho do Rio de Janeiro, em que são partes: SENDAS DISTRIBUIDORA S.A., recorrente, e REGIFÁBIO DA SILVA, recorrido. RELATÓRIO Inconformada com a r. sentença de fls. 110/114, que julgou procedente o pedido, a reclamada interpõe recurso ordinário. Embargos de declaração opostos a fls. 116/118 pela reclamada, os quais foram rejeitados, conforme decisão a fls. 120/121. Pretende a reclamada a reforma da sentença a quo no tocante ao restabelecimento do plano de saúde sob o argumento de que inexiste previsão legal que obrigue a sua manutenção na hipótese de suspensão contratual em virtude de o reclamante encontrar-se em gozo de auxílio-doença. Custas a fl. 133 e depósito recursal a fl. 134. 3331 1
Contrarrazões do reclamante a fls. 147/150. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO CONHECIMENTO recurso. Preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade, conheço do MÉRITO DO RESTABELECIMENTO DO PLANO DE SAÚDE Requer a reclamada a reforma do julgado quanto à reintegração do reclamante ao plano de saúde. Alega a recorrente que, por liberalidade, costuma fornecer aos seus empregados plano médico somente pelo período de afastamento que não ultrapasse o lapso de 2 anos. Aduz que, por inexistente previsão legal que determine a inclusão do reclamante em plano médico-hospitalar, indevida tal condenação bem como a aplicação de multa diária deferidas na sentença recorrida. Razão não lhe assiste. É incontroverso que o autor era beneficiário do plano de saúde médico, 3331 2
o qual era concedido a todos os empregados da ré, e que, em dezembro/2005, entrou em gozo de auxílio-doença, tendo a reclamada cancelado o referido plano. Todavia, nos termos do art. 476 da CLT, considera-se como licença não remunerada o período em que o empregado se encontra em gozo de auxíliodoença, implicando a suspensão de seu contrato de trabalho. Não se pode admitir que o benefício seja cancelado exatamente no momento em que o empregado se encontra convalescente. Trata-se de direito adquirido do empregado ao longo do tempo, devendo ser mantido mesmo durante seu afastamento para gozo do auxílio-doença previdenciário. O fato de o reclamante encontrar-se enfermo no momento do cancelamento do benefício atrai, por si só, a incidência dos princípios-norma constitucionais que transcendem as disposições da lei ordinária, tais como: dignidade da pessoa, direito social à saúde e valor social do trabalho. Ademais, se a ré costuma arcar com o custeio integral do plano de saúde dos seus empregados até 2 anos após seu afastamento para gozo de auxílio-doença, conforme confessado em seu recurso, por sua própria conta e liberalidade, o fornecimento do benefício aderiu ao contrato de trabalho do reclamante. A alteração dessa concessão, mediante o cancelamento repentino do plano de saúde, acarretou inequivocamente prejuízo ao empregado, nos termos do art. 468 da CLT. Invoca o recorrente os termos da Lei 9656/98, que dispõem acerca de planos e seguros privados de assistência à saúde. Sustenta que, mesmo afastado 3331 3
por doença, o reclamante poderia optar em continuar com o plano médico desde que arcasse com o ônus das mensalidades. Ressalte-se que o referido artigo se aplica às hipóteses de rescisão do contrato de trabalho sem justa causa, o que não é o caso dos autos. Ademais, jamais a lei geral pode sobrepor-se à especial (CLT). Assim, nesse aspecto, nada a reparar na decisão de 1º grau, devendo a reclamada reincluir e manter o reclamante no plano de saúde, sob pena de pagamento da multa diária já fixada. Nego provimento. DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS Sustenta a recorrente que não houve má-fé de sua parte ao opor os embargos declaratórios a fls.116/118 porque pretendia fosse esclarecido item apontado na sentença recorrida. Requer a reclamada a reforma da sentença ''que manteve a condenação da recorrente ao pagamento da indenização no importe de 10% sobre o valor da condenação e multa de 1%''. Sem razão. Ao contrário do que aduz a recorrente, a multa de 1% sobre o valor da causa foi corretamente aplicada pelo Juízo a quo, pois os embargos de declaração versaram sobre matéria abordada na sentença, inexistindo as omissões/obscuridades apontadas. 3331 4
É clara a sentença de 1º grau ao dispor que o reclamante deverá ser reincluído no Plano de Saúde; a condenação de sua manutenção no referido plano é consequência lógica da reinclusão. Quanto à alegada multa de 10% mencionada pelo recorrente, não se constata sua aplicação à reclamada na sentença a fls.110/114 tampouco na decisão de embargos a fls. 120/121. Assim, mantém-se a multa de 1% sobre o valor da causa aplicada à reclamada por procrastinatórios seus embargos, conforme previsto a fl.121. Nego provimento. CONCLUSÃO Nego provimento ao recurso. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 5ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, NEGAR provimento ao recurso, nos termos do voto da desembargadora relatora. Rio de Janeiro, 12 de abril de 2011. aoj Desembargadora Federal do Trabalho Mirian Lippi Pacheco Relatora 3331 5