fls. 3 Registro: 2015.0000367711 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0029261-67.2011.8.26.0602, da Comarca de Sorocaba, em que é apelante BANCO VOLKSWAGEN S/A, é apelado EXPRESSO RIBEIRO ÉDEM LTDA. ACORDAM, em 28ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DIMAS RUBENS FONSECA (Presidente sem voto), GILSON DELGADO MIRANDA E CELSO PIMENTEL., 26 de maio de 2015 CESAR LUIZ DE ALMEIDA RELATOR Assinatura Eletrônica
fls. 4 VOTO Nº 1959 APELAÇÃO CÍVEL Nº 0029261-67.2011.8.26.0602 APELANTE: BANCO VOLKSWAGEN S/A APELADO: EXPRESSO RIBEIRO ÉDEM LTDA COMARCA: SOROCABA JUÍZA: ADRIANA FACCINI RODRIGUES EMENTA ARRENDAMENTO MERCANTIL REVISIONAL PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL AFASTADA - LEGALIDADE DA COBRANÇA DE TARIFA DE CADASTRO - SENTENÇA QUE CONDENOU O REQUERIDO A RESTITUIR AO REQUERENTE O VALOR COBRADO A TÍTULO DE TARIFA DE CADASTRO REFORMADA - RECURSO PROVIDO. Cuida-se de recurso de apelação (fls. 158/162) interposto contra a r. sentença a fls. 136/138 que julgou parcialmente procedente a ação revisional para declarar a nulidade da cláusula contratual que prevê a cobrança de taxa de cadastro de R$600,00, condenando o requerido a devolver os valores cobrados a este título e descartando o pedido de declaração de nulidade e devolução dos juros e demais encargos. Impôs ao requerido o pagamento das custas processuais e honorários de advogado, arbitrados em 10% do valor da devolução. O requerido apela sustentando a inépcia da inicial ante a impossibilidade de revisão de título de crédito. Alega a legalidade da cobrança da tarifa de cadastro, ante o julgamento de recurso de recurso especial sob o rito dos repetitivos e a Resolução nº 3.919/2010. Espera a reforma da sentença para que a ação seja julgada improcedente, ou pelo menos que seja afastada a condenação dele no pagamento dos encargos da sucumbência, pois o requerente teve a quase totalidade dos pedidos indeferidos. Comprovado o recolhimento do preparo (fls. 163/165), o recurso do requerido foi recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo (fls. 173). A apelação interposta pelo requerente (fls. 143/154) não foi recebida (fls. 173), uma vez que o peticionário não assinou a referida petição mesmo após a sua intimação. Contrarrazões a fls. 176/182.
fls. 5 É o relatório. Desde logo, deixo consignado que o recurso comporta provimento. De início, afasta-se a alegação de impossibilidade jurídica do pedido, pois a revisão contratual do pactuado extrajudicialmente entre as partes é direito constitucionalmente assegurado (artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal), sendo que o princípio do pacta sunt servanda não representa óbice à pretensão. Quanto à tarifa de cadastro, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça, sob o rito dos recursos repetitivos, já decidiu sobre a legalidade da sua cobrança no início do relacionamento entre o banco e o cliente, a saber: Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - 1ª Tese: Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto. - 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. - 3ª Tese: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. (REsp 1.251.331/RS, relatora Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, julgado em 28/08/2013). Tendo em vista que, no caso fluente, não há informação sobre prévio relacionamento entre o requerente e o requerido que demonstre que a cobrança foi efetivada, a tarifa de cadastro é devida. Neste sentido, também, já decidiu esta Colenda 28ª Câmara de Direito Privado, a saber:
fls. 6 ARRENDAMENTO MERCANTIL. Revisional. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Prescrição não verificada. Possibilidade de devolução do VRG antecipado em razão da resolução do contrato de arrendamento, condicionada à retomada do bem pelo arrendador, observando-se a fórmula de cálculo estabelecida no REsp n. 1.099.212, julgado pelo STJ pela sistemática dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC). Legalidade da cobrança de Tarifa de Cadastro (TC) e ilegalidade da cobrança de Tarifa de Emissão de Carnê (TEC). Julgamento do STJ com base no art. 543-C do CPC. Ilegalidade da cobrança de despesas com gravame eletrônico, serviços de terceiros, promotora de venda e seguro de proteção financeira. Inteligência dos arts. 39, I e 51, XII, ambos do CDC. Recurso provido em parte. (apelação nº 0043328-37.2011.8.26.0602, 28ª Câmara de Direito Privado,, Relator Desembargador GILSON DELGADO MIRANDA, j. 24/03/2014, v.u.) sic 1. Com efeito vinculante, o Superior Tribunal de Justiça redefiniu que, nas "ações de reintegração de posse motivadas por inadimplemento de arrendamento mercantil financeiro, quando o produto da soma do VRG quitado com o valor da venda do bem for maior que o total pactuado como VGR", "será direito do arrendatário receber a diferença, cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos contratuais". Esta passa a ser a solução, a se apurar em liquidação. 2. Porque, com efeito vinculante, o Superior Tribunal de Justiça definiu a admissibilidade da tarifa de cadastro, cumpre-se a determinação e se retifica o anterior julgamento. (apelação nº 0028379-55.2011.8.26.0554, 28ª Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador CELSO PIMENTEL, j. 20/08/2014, v.u.) sic Dessa forma, de rigor o provimento do recurso, para que a ação seja julgada improcedente, declarando-se a legalidade da cobrança da tarifa de cadastro e afastando-se a condenação do requerido na sua devolução. Em consequência, deverá o requerente arcar com as custas processuais e honorários de advogado, que ora arbitro em R$1.000,00. Pelas razões expostas, pelo meu voto, dá-se provimento ao recurso, para declarar a legalidade da cobrança da tarifa de cadastro, afastando a condenação do requerido na sua devolução. Em consequência, deverá o requerente arcar com as custas processuais e honorários de advogado ora arbitrados em R$1.000,00.
fls. 7 CESAR LUIZ DE ALMEIDA Relator