PROGRAMA MULHERES MIL NO INSTITUTO FEDERAL DO NORTE DE MINAS: ANÁLISE DE RELATOS DE EGRESSAS DE SALINAS (MG)



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Transcrição:

PROGRAMA MULHERES MIL NO INSTITUTO FEDERAL DO NORTE DE MINAS: ANÁLISE DE RELATOS DE EGRESSAS DE SALINAS (MG) Gabriela Mendes Silva Janice Cordeiro Moreira Rafael Batista Madureira Instituto Federal do Norte de Minas Gerais Câmpus Salinas

RESUMO: Esta pesquisa tem a finalidade de analisar o impacto do programa Mulheres Mil na vida das egressas da última turma de 2013 do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais Campus Salinas (IFNMG-Sal). Através da análise de um levantamento de dados pessoais, da realização de pesquisa bibliográfica e documental e na realização de entrevista semiestruturada, esse estudo visou conhecer a realidade atual das cursistas, bem como verificar as mudanças que o programa lhes proporcionou em relação à sua situação profissional, renda e condições sociais. Adotamos o método qualitativo de análise dos dados e buscamos investigar categorias como o impacto do programa em suas vidas (empregabilidade, empreendedorismo e vida social) e experiências vividas durante o curso. Buscamos, a partir dos relatos das egressas, verificar se é realidade na região a oferta de cursos profissionalizantes que atendam à demanda do mundo de trabalho da localidade, meta do governo para o programa. Considerando os objetivos do programa, surgiram tais questionamentos: Os cursos ofertados atendem a demanda local? Quais os impactos causados pelo programa na vida dessas egressas? De acordo com Brasil, 2013, o programa Mulheres Mil faz parte da política pública educacional do Brasil e visa promover a igualdade de gênero, a equidade, o acesso à Educação Profissional e o combate à violência doméstica oferecendo qualificação profissional a mulheres em vulnerabilidade social, verificar se essa ação do MEC é condizente com a realidade do IFNMG-Sal é um objetivo importante da pesquisa. O Mulheres Mil, desde 2011, oferta cursos profissionalizantes e, por ser um programa recente, esta pesquisa se justifica por objetivar verificar a adequação dos cursos ministrados às demandas da região onde está inserida a instituição de ensino que os oferecem. A metodologia utilizada nessa pesquisa possui natureza qualitativa de uma pesquisa descritiva que abrangeu 10,4 % da população das egressas do ano de 2013 dos cursos profissionalizantes de Artesanato de Fibra da Bananeira e Secretária do Lar, oferecidos pelo programa Mulheres Mil do IFNMG-Sal. O procedimento foi desenvolvido em três etapas sendo elas: o levantamento, a entrevista e a pesquisa bibliográfica e documental, sendo as três imprescindíveis para coleta e análise de dados, pois tiveram a finalidade de conhecer a realidade e compará-la com os documentos referentes ao tema. O levantamento teve a função de obter informações gerais do grupo das mulheres participantes, tais como: nome, contato, curso escolhido; a entrevista de investigar seus anseios, bem como, a empregabilidade do curso, suas críticas em relação ao curso escolhido e o impacto do programa em suas vidas e, por fim, a pesquisa documental e bibliográfica nos permite comparar e verificar se a proposta

está sendo atingida. A seleção das mulheres foi feita mediante o agrupamento das mesmas por data de nascimento em um intervalo de dez em dez anos e a retirada aleatória de uma mulher de cada grupo etário, sendo cinco de cada curso oferecido. Dessa maneira acreditamos que as entrevistas não iriam se concentrar em determinada faixa etária e conseguiríamos melhor aproveitamento dos relatos de mulheres com diferentes idades. Foram abordadas dez mulheres com idade entre 26 e 56 anos, residentes na cidade de Salinas, de renda familiar de até um salário mínimo. A maioria possui ensino fundamental completo ou incompleto. As egressas do curso de artesanato relataram que não estão trabalhando na área do curso por ser uma área de difícil atuação na cidade e pela falta de materiais, o que, inclusive, foi apresentado como dificuldade no curso. Relataram que precisam de uma melhor orientação, pois não sabem como iniciar a produção e não veem o artesanato como uma profissão promissora. Sobre o curso de secretária do lar, estão atuando as que já atuavam na área, as que não iniciaram relataram que não conseguem emprego fixo na cidade, pois a maioria dos empregadores não cumprem todos os direitos que elas têm. Segundo os relatos, a maior dificuldade do curso foi o transporte, pois o IFNMG-Sal fica longe do centro da cidade e a única condução é paga e, muitas vezes, não possuíam condições financeiras para ir às aulas. A maior contribuição do curso para a vida das egressas foi aprender um pouco mais, conhecer outras pessoas, fazer novas amizades, ocuparem o tempo ocioso e a ajuda financeira recebida em forma de bolsa pelo governo. Diante dos relatos, percebeu-se, que a maioria das egressas buscou o curso por ser gratuito e pela ajuda financeira oferecida. A idade avançada, apesar de ser um fator limitante para algumas, não é justificativa pela não atuação na área do curso, pois, mesmo as mais jovens não o estão fazendo. Assim, percebe-se que o principal atrativo não é a natureza da atividade em si, mas a ajuda financeira recebida no decorrer das aulas, o que não garante que a cursista irá aplicar os conhecimentos recebidos para atuação no mercado profissional até porque alegaram falta de oportunidade de atuação. PALAVRAS-CHAVE: Mulheres Mil ; Educação Profissional; Políticas Públicas. 1. INTRODUÇÃO Segundo a LDB (lei nº 11.741, de 16 de julho de 2008 art. 39 2 o ) a Educação Profissional e Tecnológica deverá abranger os cursos de formação inicial e continuada, qualificação profissional, nível médio, graduação e pós-graduação. Ademais a lei no Art. 42. diz que As instituições de Educação Profissional e Tecnológica, além dos seus cursos

regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade. Sendo assim, o ensino profissionalizante visa também elevar a escolaridade sem necessidade de um pré requisito atendendo a toda comunidade sem exceção. Uma das modalidades de Educação Profissional é o programa Mulheres Mil, este foi desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC) e faz parte das prioridades do governo federal que visa promover a igualdade de gênero, a equidade, o acesso à Educação Profissional e o combate à violência doméstica, oferecendo qualificação profissional a mulheres em vulnerabilidade social. O programa foi estruturado e implantado através de uma parceria entre o Brasil e o Canadá. Essa parceria se deu através de adaptações feitas com base nas metodologias das faculdades comunitárias canadenses de ensino e de inserção no mercado de trabalho, que existem desde a década de 1960, à realidade das mulheres brasileiras. (BRASIL, 2008) O programa Mulheres Mil desde 2011 oferece cursos profissionalizantes diversos, dependendo da necessidade e aplicabilidade dos cursos na região. Esta pesquisa se justifica pelo fato de o referido programa ser recente e ainda estar passando por adaptações, além de verificar a adequação e as contribuições geradas pelas instituições que os ofertam. Segundo Lins e Tunin (2013) a Rede Federal de Ensino atualmente abrange todo o território nacional, expandindo a Educação Profissional na última década. O Programa Mulheres Mil tem sido implantado quase que exclusivamente pelos Institutos Federais Brasil afora com o objetivo de ofertar cursos profissionalizantes que atendam à demanda do mundo de trabalho das localidades atendidas e pelas suas unidades de ensino. Considerando os objetivos do programa, surgiram tais questionamentos: Os cursos ofertados atendem a demanda local? Quais os impactos causados pelo programa na vida dessas egressas? Diante do exposto, verificar se a meta do MEC referente ao programa Mulheres Mil está de fato sendo alcançado no IFNMG-Sal é um dos principais objetivos da pesquisa, especificamente esse estudo visou conhecer a realidade atual das participantes, bem como verificar as mudanças que o programa lhes proporcionou em relação à sua situação profissional, renda e condições sociais. Detalhadamente a pesquisa buscou investigar a funcionalidade do programa Mulheres Mil oferecido em 2013 pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais Câmpus Salinas,

com o propósito de conhecer os benefícios e as dificuldades enfrentadas no decorrer do curso e após a conclusão deste, através de um estudo com as egressas participantes desta data e de bibliografias e documentos oficiais referentes ao tema. Considera-se que investigar como se encontram as egressas em termos de emprego, renda e vida social vai além do estudo do perfil, busca conhecer o seu trajeto durante o curso e as experiências vividas adquirindo, dessa forma, informações necessárias para uma contribuição efetiva no processo de melhoria do programa. Para tanto este artigo argumenta-se acerca dos resultados de um levantamento de dados das egressas participantes do programa e de uma entrevista realizada com uma amostra destas, relacionando com as obras existentes (documentos oficiais e artigos) a fim de confrontar dados referentes ao objetivo do programa e a real situação dos sujeitos investigados. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1.Histórico da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil e programa Mulheres Mil Quando se fala sobre o desenvolvimento da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil, empregou-se a linha do tempo confeccionada por Brasil (2009) que retrata a história da mesma desde 1909 quando o presidente Nilo Peçanha cria 19 Escolas de Aprendizes e Artífices até em 2009 com o centenário da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Neste tópico utiliza-se essa linha do tempo como guia para fazer um breve histórico entre estas datas e a combinação de Educação Profissional e gênero. Em 1927 o Congresso Nacional sancionou o Projeto Fidélis que previa obrigatoriedade do Ensino Profissional no Brasil, porém foi a constituição de 1937 a primeira a tratar de ensino técnico, profissional e industrial, deixando sobre responsabilidade do Estado o ensino pré-vocacional e profissional das classes menos favorecidas. O estado deveria, então, criar institutos que oferecessem esse ensino e subsidiar a iniciativa dos municípios e redes privadas que queiram inserir essa modalidade. Nesta data foi estabelecido o Ensino Profissional para todos os ramos e graus. (BRASIL, 2009) Com a reforma Capanema os cursos profissionalizantes passaram a ser considerados de nível médio. Segundo (MANFREDI, 2003, apud PAMPLONA; OTRANTO, 2006, p. 2) os ramos da Educação Profissional foram designados para os seguintes setores da produção: primário, para o ensino agrícola; secundário para o ensino industrial; terciário para o ensino comercial e o ensino normal para a formação de professores.

Em 1942 o Decreto 4.127, de 25 de fevereiro transforma os Liceus Industriais em Escolas Industriais e Técnicas, passando a oferecer a formação profissional em nível equivalente ao do secundário. No ano de 1959, estas são transformadas em autarquias com o nome de Escolas Técnicas Federais, no qual ganham autonomia e intensificam a formação de técnicos. Em 1994 as Escolas Técnicas Federais foram transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica CEFET s, que ganharam espaço físico adequado como laboratórios, recursos humanos e financeiros e ainda atribuiu a formação de engenheiro de operação e tecnólogos. (BRASIL, 2009) Com a LDB de 1996 a Educação Profissional passou a ter um capítulo próprio, segundo Brasil (2009, p. 5) que: superando enfoques de assistencialismo e de preconceito social contido nas primeiras legislações de Educação Profissional do país, fazendo uma intervenção social crítica e qualificada para tornar-se um mecanismo para favorecer a inclusão social e democratização dos bens sociais de uma sociedade. A partir disso a Educação Profissional defendia a inclusão social e considerava competências fora do sistema escolar, ou seja, as potencialidades de trabalho. No governo Lula volta à articulação do nível Médio ao ensino profissionalizante que antes era desvinculado com base na LDB/96, de acordo com Penna (2012, p. 22) o decreto 5.154 de julho de 2004 aprovados pelo então presidente Lula, retomou-se a oferta do ensino técnico de forma integrada ao médio, como definido abaixo: 1o A articulação entre a Educação Profissional técnica de nível médio e o ensino médio dar-se-á de forma: I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para cada aluno; II - concomitante, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental ou esteja cursando o ensino médio, na qual a complementaridade entre a Educação Profissional técnica de nível médio e o ensino médio pressupõe a existência de matrículas distintas para cada curso (...) III - subsequente, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino médio. Os Institutos Federais foram criados em 2008, a Lei 11.892 que criou 38 Institutos Federais foi parte de uma evolução das Escolas de Artífices em 2009 em comemoração aos cem anos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e surgiram como a proposta de expandir essa rede. Por sua vez, essa ampliação contextualiza-se dentro do movimento tomado pelo Governo Federal principalmente na última década com a finalidade

de proporcionar o acesso e a permanência da população à educação em seus diversos níveis e categorias de ensino. (PENNA, 2012) Atualmente existem três níveis de Educação Profissional (tecnólogo, técnico e básico), sendo o tecnólogo voltado para concluintes do Ensino Médio que queiram cursar o ensino superior; o técnico voltado para estudantes e concluintes do Ensino Médio e básico voltado para estudantes e pessoas em qualquer nível de escolaridade. Diante disso, existem programas que ofertam cursos profissionalizantes sem pré-requisitos de escolaridade e promovem a inclusão de gênero e social, nesse sentido, o programa Mulheres Mil se encaixa nas características supracitadas, promovendo empregabilidade e aumentando a escolaridade em cursos de formação profissional. Com a expansão da Rede Federal e com suas finalidades de acesso e permanência, surgiram cursos e programas que contribuem para isso, o programa Mulheres Mil faz parte dessa expansão e foi implantado em diversas instituições de ensino. De acordo com o Decreto nº 4.877, de novembro de 2003 Art. 3º: O Programa Mulheres Mil deverá ser ofertado por instituições de Educação Profissional e tecnológica, permitindo-se a parceria com instituições de ensino regular. 1º O Programa Mulheres Mil deverá ser ofertado, prioritariamente, pelas instituições públicas dos sistemas de ensino federais, estaduais e municipais. 2º O Programa Mulheres Mil poderá ser ofertado pelas entidades privadas nacionais de serviço social, aprendizagem e formação profissional vinculadas ao sistema sindical ( Sistema S ) e entidades privadas sem fins lucrativos, sendo as últimas, de comprovada experiência em Educação Profissional e tecnológica. Apesar de este decreto relatar que o programa deve ser ofertado pelas instituições públicas prioritariamente, este também é ofertado, em minoria de acordo (LINS; TUNIN, 2013), por algumas instituições privadas. Os Institutos Federais são os que mais ofertam o programa. Do ponto de vista institucional, alguns objetivos vêm sendo alcançados com o programa. De 2005 a 2011, houve uma intensa troca de conhecimento entre docentes e gestores brasileiros e canadenses, através de missões técnicas, cursos, workshops e reuniões de trabalho. Mais do que parcerias de cooperação internacional, Brasil e Canadá tem como objetivo alcançar, na Educação Profissional e tecnológica, uma relação de respeito, confiança e cumplicidade, com subsídios mútuos e com diversos planos para um futuro próximo (BRAGA; SANTOS, 2012) O programa Mulheres Mil tem como meta para os anos entre 2011 e 2014 formar 100 mil mulheres que vivem em comunidades que apresenta baixo índice de desenvolvimento

humano fazendo com que mulheres tenham ingresso à Educação Profissional, emprego e renda. (BRASIL, 2011). 2.2.Políticas públicas, gênero e programas Mulheres Mil A Constituição Federal de 1937 esclarece no Art. 129 a respeito do ensino técnico, profissional e industrial para a classe menos favorecida, dispondo que: O ensino pré-vocacional profissional destinado às classes menos favorecidas é em matéria de educação o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais. Os cursos profissionalizantes por, formar trabalhadores, hoje fazem parte das políticas públicas em educação no Brasil e tem como principal compromisso reduzir os índices de desigualdade social, promover o avanço sócio econômico e uma educação pública e de qualidade, segundo (BRASIL,2004) a Educação Profissional está alicerçada na integração ao mundo do trabalho, interação com outras políticas públicas, recuperação do poder normativo da LDB, reestruturação do sistema público e valorização dessa modalidade de ensino juntamente com a tecnológica. As mulheres, desde os primórdios aos dias atuais, apresentam dificuldade em se inserir no cenário profissional. Fatos impressionantes relacionados à opressão das mulheres foram registrados durante anos, restando-lhes até então a prática doméstica (VAZ; LAIMER, 2010, p. 01). Nesse mesmo viés (ARRUDA 1998 apud BRAGA; SANTOS 2011) reforça que geralmente o trabalho feminino é considerado leve e insignificante, e ao longo da história elas são as responsáveis por cuidar do lar sem remuneração em nome do amor maternal e da natureza, uma sina de todas as mulheres. Samara (1997) apud Braga; Santos (2011) enfatiza que: Para as feministas mais radicais, o espaço doméstico é o lugar por excelência onde se instala a cultura da opressão feminina. E disso não escapam também a vida em família e a interferência da comunidade. Ao que tudo indica, o odioso papel de dona de casa e o culto a feminilidade estão associados e presentes nas maneiras pelas quais as mulheres julgavam a si mesmas e eram julgadas pelos maridos, vizinhos e pela sociedade. O movimento feminista do fim do século XIX até depois da primeira guerra mundial, com a industrialização e urbanização, alteraram a vida das mulheres que até então eram submissas aos pais, irmãos e maridos e passaram a trabalhar e estudar fora de casa, aumentando o grau de escolaridade dessas mulheres que passaram a ser remuneradas.

Contudo as mulheres aumentaram o poder econômico e social e começaram a protestar contra a tirania e violência dos seus parceiros. (BLAY, 2003). Diante disso, as políticas públicas que promovam a equidade entre homens e mulheres, que aumente a escolaridade e profissionalize-as devem vir inseridas no conjunto de prioridades do governo visando que o emponderamento dessas mulheres é apresentado como um dos combates à violência doméstica e pobreza extrema. No documento do Ministério da Educação (2011) referente ao programa Mulheres Mil evidencia que hoje as mulheres assumem a chefia das famílias e que são responsáveis não só pelo sustento, mas também pelo desenvolvimento dos seus filhos o que pode repercutir nas gerações seguintes e na busca da igualdade social do país. O programa Mulheres Mil fundado em 2007 está inserido no grupo de prioridades do governo que tem inúmeras finalidades (MULHERES MIL, 2013) dentre elas: promover a equidade entre homem e mulher; ampliar a formação de jovens e adultos; aumentar a renda das participantes; a escolaridade; o índice de desenvolvimento humano; inserir as egressas no mundo do trabalho; melhorar as relações familiares; contribuir para o desenvolvimento sustentável; contribuir para a redução do analfabetismo, dentre outros, com uma metodologia de acesso, permanência e êxito apresentando caráter inter, trans e multidisciplinar. Um das estratégias para que o programa Mulheres Mil se efetivasse foi a criação de uma metodologia para implementação e permanência do programa. Brasil (2011) defende que: A metodologia do Sistema de Acesso, Permanência e Êxito do Mulheres Mil é o instrumento facilitador no processo de implantação e implementação de programas, projetos e ações que contemple o acolhimento, a educação, a qualificação e formação profissional e tecnológica, a estruturação de empreendimentos, o acesso ao mundo do trabalho, o desenvolvimento sustentável de comunidades e de pessoas desfavorecidas e não tradicionais. O sistema de Acesso, Permanência e Êxito foi concebido e estruturado com base nos conhecimentos desenvolvidos pelas faculdades comunitárias Canadenses e contempla a criação do Observatório do Mulheres Mil que possibilitará o acompanhamento e a avaliação continua dos resultados e impactos gerados nas mulheres participantes do programa (BRASIL, 2011). 3. METODOLOGIA A metodologia utilizada nesta pesquisa possui natureza qualitativa de uma pesquisa descritiva que abrangeu 10,4 % da população das egressas do programa Mulheres Mil do IFNMG-Sal no ano de 2013, dos cursos profissionalizantes de Artesanato de Fibra de Bananeira e Secretária do Lar.

A seleção das mulheres foi feita mediante o agrupamento das mesmas por data de nascimento em um intervalo de dez em dez anos e a retirada aleatória de uma mulher de cada grupo etário, sendo cinco de cada curso oferecido. Dessa maneira acreditou-se que as entrevistas não iriam se concentrar em determinada faixa etária e seria obtido melhor aproveitamento dos relatos de mulheres com diferentes idades. Os procedimentos para realização do estudo foram desenvolvidos com base nas seguintes etapas: Levantamento dos dados pessoais Este teve como objetivo obter informações gerais do grupo das mulheres participantes, tais como: nome completo, contato e curso. No processo de coleta de dados foi solicitado do IFNMG-Sal a lista de participantes do programa no ano de 2013 com todos os dados, estes serviria para identificar, selecionar e contatar as participantes. Entrevista gravada Para direcionamento da entrevista foi elaborado um questionário com questões abertas e fechadas, totalizando 15 questões que buscaram investigar dados acerca do programa, seus anseios, bem como, a empregabilidade do curso, suas críticas em relação ao curso escolhido e o impacto do programa em suas vidas, enfatiza-se que outras perguntas surgiram no decorrer da entrevista de acordo a fala das mulheres. Inicialmente foi realizado um contato com algumas participantes com base na seleção feita conforme o agrupamento citado acima, convidando as egressas a participar de uma entrevista gravada que foi realizada parte no IFNMG-Sal e parte nas residências das egressas, com a finalidade de coletar os dados desejados. Antes da gravação solicitou-se das entrevistadas a assinatura de um termo de aceite, no qual continha a permissão do uso dos dados por parte das entrevistadas e o anonimato por parte dos pesquisadores, seguindo uma cópia para ambas as partes. Após este processo iniciou se a gravação da entrevista e a transcrição dos dados para a análise. Pesquisa bibliográfica e documental - A realização desta ocorreu concomitante com as duas anteriores e permitiu-se comparar e verificar se a proposta do programa está sendo atingida. Foram entrevistadas dez mulheres com idade entre 26 e 56 anos, residentes na cidade de Salinas, de um total de 104 beneficiadas pelo programa, que serão referidas aqui no texto como E1, E2, E3...E10..

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O levantamento como parte da pesquisa foi feito mediante os dados de secretaria no qual se identificou a quantidade de mulheres inscritas no programa na versão de 2013, a idade, o nome, o curso e principalmente o contato (telefone) para que fosse possível abordá-las. Na entrevista com as mulheres beneficiadas pelo programa em 2013 foram identificados alguns pontos em comum com o relato de Brasil (2011) que fez um estudo com as mulheres que participaram das primeiras versões do programa no Norte e Nordeste do Brasil, dentre elas: o quadro econômico, social e nível de escolaridade. A maioria das mulheres entrevistadas são mães, (solteiras e casadas) e possuem uma renda familiar de até um salário mínimo mensal, segundo Brasil (2011) as mulheres beneficiárias apresentaram um quadro de total exclusão social, educacional e econômico, possuíam baixo nível de escolarização e baixa autoestima. Pelas entrevistas um fator que suscitou curiosidade foi que ao serem questionadas sobre o que o programa mudou em suas vidas, muitas mulheres citaram que agora elas tinham um pouco mais de conhecimento, que aprenderam coisas novas, mas a principal mudança identificada foi no âmbito social e emocional, na qual relataram que o programa lhes permitiu sair da rotina, conhecer novas pessoas, novos lugares e que isso melhorou a sua autoestima. As entrevistadas relataram que: E1 Nunca é tarde para voltar para escola. Ficar sozinha em casa, só de sair de casa é uma terapia, tira da depressão, pois quando vai pra escola faz mais amizade, pensa em outras coisas, conhece novas pessoas, levanta a autoestima. E2 O curso contribuiu até na família mesmo, ensinou muitas coisas, na minha casa, como conviver com a família. E4 Esse curso chegou numa hora boa. Numa hora que eu tava pedindo a Deus pra chegar porque eu tava ficava dentro de casa, já tava com começo de depressão e já tava pedindo a Deus para encaminhar uma coisa pra eu sair e distrair a mente. Até minha memória ficou melhor, além de aprender muita coisa que eu não sabia serviu também pra minha mente. E5 pra mim ficar mais aprendendo, aprendi muita coisa, conheci muita gente, fiquei mais atualizada com as coisas pra eu não ficar naquela rotina de ficar só dentro de casa cuidando de criança. [...] gostei muito a gente aprendeu, se divertiu [...] E6 Agora acabou, nós não tem pra onde nós vai No itinerário formativo, Brasil (2011) relata da previsão destes cursos promoverem habilidades empreendedoras e de empregabilidade permitindo-as inserirem-se no mundo de trabalho, porém das entrevistadas nesta pesquisa apenas quatro mulheres trabalham na área do

curso que realizou, sendo duas cursistas de artesanato e duas de secretárias do lar que relataram que como já atuavam antes, o curso não influenciou na sua profissão, mas contribuiu com novos saberes, conhecimentos atuais aos quais não conheciam. Ao justificarem a falta de atuação na área de formação do curso, seis mulheres responderam que não trabalharam pela falta de oportunidade na cidade onde moram e três reclamaram do pouco tempo de curso e, por esta razão, o pouco aprendizado, sendo essa parcela mulheres que cursaram artesanato e que não conseguiram desenvolver as peças sozinhas após o curso. E1 Ainda não atuei porque não tive oportunidade, porque em Salinas é difícil arrumar emprego para conseguir trabalho tem que sair de Salinas, pois aqui as patroas não pagam o que por lei é de direito. Lá fora tem chance de ganhar mais, principalmente depois do curso [...]. E3 Ainda não estou trabalhando porque estou esperando sair trabalho E4 Eu penso assim: se quando eu tava mais nova já era difícil para arrumar um serviço, agora que tô nessa idade é que eu não consigo mesmo. E6 Não trabalho com artesanato porque não tenho oportunidade porque se eu tivesse eu trabalhava E7 Dependia assim formasse grupo, né, para poder ter uma pessoa para ajudar a gente dava pra poder fazer, quinem no artesanato de caixinhas mesmo se tivesse alguém pra juntar um grupo dava pra poder ajudar Diante disto, nota-se na maioria das respostas que os cursos oferecidos não oportunizaram inseri-las no mercado de trabalho que é um dos objetivos do programa para amenizar os problemas sociais ao visar capacitação de trabalhadores para aturarem nos diversos setores. Dessa forma, a renda dessas mulheres só foi aumentada enquanto estavam cursando, pois, segundos relatos das mesmas receberam um auxílio de seiscentos reais no período do curso. Brasil (2011) apresenta peculiaridades encontradas nas 13 experiências do programa Mulheres Mil implantadas no Norte e Nordeste, essa parcela da população sofreu um processo de exclusão educacional e social e encontram-se à margem dos direitos. Das entrevistadas neste estudo, duas concluíram o Ensino Médio e as outras possuíam o Ensino Fundamental completo, incompleto e uma analfabeta. No relato das mulheres, a totalidade afirmou que os professores do IFNMG-Sal incentivaram-nas a continuar estudando ao falarem

da importância dos estudos e das modalidades de ensino das quais elas podiam participar, relataram ainda que os professores foram pacientes muito educados e que isso ajudou a terminarem o curso apesar das dificuldades encontradas. Quando questionadas quanto às dificuldades enfrentadas durante e após o curso, todas reclamaram do fato de o programa ser oferecido no IFNMG-Sal, que se encontra num local de difícil acesso e necessitando-se do transporte coletivo o qual era pago. Relataram que muitas desistiram por não ter o dinheiro da passagem para ir às aulas todos os dias. Em relação ao curso de artesanato, as cursistas apontaram dificuldade de acesso aos materiais para confecção das peças pelo alto custo e por não serem encontrados na cidade de Salinas. E4 Sugestão para melhorar: no começo disse que ia ser aqui (na cidade), aí ia ser bom, é o negócio do ônibus, pois tem dia que a gente não tem o dinheiro para pagar a passagem, às vezes a gente não tem nem 1,25 do ônibus, aí não vai por isso. Se tivesse um ônibus disponível pra levar a gente prá gente não pagar aí era melhor porque aí a gente podia ir todo dia. E6 Se pudesse dar a passagem ajudava muito E7 Gostaria que o curso melhorasse. O prefeito ajudasse na passagem. Gasta no lanche, passagem. Tinha dia que chegava lá e não tinha aula, tinha q voltar, gastava 2 passagens a toa E8 Acho questão do lugar para acontecer esse curso se fosse dentro da cidade seria melhor e quanto as outras também cobravam, antes tinha lanche, mas no nosso não teve Diante do exposto percebe-se que o programa contribuiu fortemente na vida dessas mulheres, embora que financeiramente não tenha sido eficaz devido a não inserção delas no mercado de trabalho, social e emocionalmente contribuiu bastante em termos de autoestima elevada, interação com grupos, ocupação do tempo ocioso, dentre outros. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de apontarem diversos benefícios e fazerem elogios ao programa, as participantes enfatizam sugestões de melhoria relacionadas as dificuldades de acesso, adaptação e aplicabilidade dos cursos oferecidos, tais como mudança de local do curso, fornecimento de material para o melhor desenvolvimento, melhor organização dos horários entre outros. Diante dos relatos percebeu-se que os cursos ofertados não atendem a demanda local visto que a maioria das cursistas entrevistadas não está trabalhando na área e ainda reforça que suas colegas de curso também se encontram na mesma situação. Devido um dos objetivos do

programa ser promover a equidade e aumentar a renda de mulheres em vulnerabilidade social oferecendo a elas uma profissão, entende-se que essa profissão deveria condizer com a demanda local, sem isto o certificado ou seu conhecimento ficaria inutilizado visando que essas mulheres estão enraizadas na cidade onde moram sua família, logo por coerência necessita-se de que os cursos oferecidos sejam melhor direcionados para que mudem de forma econômica a vida dessas mulheres. Ainda, percebeu-se, que a maioria das egressas pesquisadas buscou o curso por ser gratuito e pela ajuda financeira oferecida, assim, infere-se que o principal atrativo não é a natureza da atividade em si, mas a ajuda financeira recebida no decorrer das aulas, o que não garante que a cursista irá aplicar os conhecimentos recebidos para atuação no mercado profissional até porque alegaram falta de oportunidade de atuação. Pelos resultados obtidos as mudanças mais colaborativas foram os conhecimentos adquiridos no decorrer do curso, cumprindo com o objetivo de estimular à inclusão educacional e social, possibilitando o acesso a educação e elevando a escolaridade além de incentivar a estudos posteriores, mas deixando a desejar no campo de empregabilidade e empreendedorismo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLAY, Eva Alterman. Violência contra a mulher e políticas públicas. Estudos avançados. nº17 (49), 2003. BRAGA, A. C. F.; SANTOS, M. O.. Projeto Mulheres Mil e Gênero: uma proposta de educação para a diversidade. Pedagogia campus Jataí, Jataí GO, ISSN: 1982-018, ed. 2, p. 1-12, 2011. BRASIL, Constituição (1937) Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil: promulgada em 10 de novembro de 1937.. Decreto nº 1.015, de 21 de julho de 2011. Ministério da Educação gabinete do ministro. Brasília, 22 de julho de 2011. Publicado no DOU nº 140, Seção 1, página 38.. Decreto-Lei nº 11.741, de 16 de julho de 2008. Altera dispositivos da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica. Brasília, 16 de julho de 2008; 187o da Independência e 120o da República.. Decreto-Lei nº 4.877, de 13 de novembro de 2003. Disciplina o processo de escolha de dirigentes no âmbito dos Centros Federais de Educação Tecnológica, Escolas Técnicas Federais e Escolas Agrotécnicas Federais. Brasília, 13 de novembro de 2003; 182º da Independência e 115º da República.. Decreto-Lei nº 5.154 de 23 de julho de 2004. Regulamenta o 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional, e dá outras providências. Brasília, 23 de julho de 2004; 183º da Independência e 116º da República.. Ministério da Educação. Centenário da Rede Federal de Educação `Profissional e Tecnológica, Brasília-DF, 2009. 7p. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/centenario/historico_educacao_profissional.pdf > acesso em 10 de agosto de 2014.. Ministério da Educação. Programa Nacional Mulheres Mil: Educação, Cidadania e Desenvolvimento Sustentável, Brasília-DF, 2011. 20p. Disponível em:< file:///c:/users/cliente/downloads/programa_mulheres_mil_110811%20(3).pdf > acesso em 5 de julho de 2014.. Ministério da Educação.Programa Mulheres Mil, Brasília-DF, 2013, 1p. Disponível em : < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12299:programamulheres-mil-&catid=267:programa-mulheres-mil-&itemid=602> acesso 6 de julho de 2014.. Proposta em discussão: Políticas Públicas para a Educação Profissional e Tecnológica Ministério da Educação. Brasília: SETEC/MEC, 2004. LINS, A. M. C.; TUNIN, A. S. M. As políticas públicas federais de inclusão: uma visão prática do programa Mulheres Mil. In: XI Congresso nacional de Educação (EDUCERE) Anais... Curitiba PR: EDUCERE, 2013, 12p., p. 3501-3512. PAMPLONA, R. M. e OTRANTO, C. R. A educação profissional e a dicotomia social na reforma Capanema.In: I Simpósio Pedagógico e Pesquisas em Educação (SIMPED) Anais... Resende RJ: SIMPED, 2006. 6p. p. 1-6. PENNA, O. F. Possibilidades dialógicas entre os cursos técnicos integrados e a implementação de cursos de licenciaturas no IFMG Campus Ouro Preto. Ouro Preto MG: IFMG, 2012. Disponível em: < http://geografiaifmg.files.wordpress.com/2013/11/olga-ferreira-e-penna.pdf >. Acesso em: 20 de julho de 2014. VAZ, C. F. M.; LAIMER, R. T. A inserção da mulher no mercado de trabalho e o surgimento da profissão secretária. Secretariado Executivo em Revista, Passo Fundo/RS, v. 6, p. 1-17, 2010. Apêndice A 1- Qual a sua idade? ( ) Acima de 38 anos ( ) Entre 24 e 26 anos ( ) Entre 27 e 30 anos ( ) Entre 31 e 34 anos Entrevista

( ) Entre 35 e 38 anos ( ) Entre 18 e 23 anos 2- Qual a sua renda familiar mensal? ( ) Até um salário mínimo ( ) De um a dois salários mínimos ( ) De três a quatro salários mínimos ( ) Acima de quatro salários mínimos 3- Caso possua filhos, quantos são? ( ) Um ( ) Dois ( ) Três ( ) Acima de três ( ) Não possuo filhos 4- Você mora em que cidade? 5- Qual o seu estado Civil ( ) Solteira ( ) Casada ( ) Divorciada/ Separada ( ) União Civil Estável ( ) Viúva ( ) outros. Qual? 6- Qual o seu grau de escolaridade? ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo ( ) Ensino Médio e técnico ( ) Outro. Qual? 7- Qual o curso que você realizou pelo programa Mulheres Mil? 8- Você trabalhava antes de iniciar o curso no Mulheres Mil? ( ) Sim. Se sim, qual sua profissão? ( ) Não 9- Atuava na área de formação do curso Mulheres Mil ( ) Sim

( ) Não 10- Qual sua profissão atualmente? 11- A formação no curso influenciou sua atuação profissional atual? ( ) Sim ( ) Não 12- Se a resposta acima for não, exponha o motivo da não atuação na área de formação do curso. 13- O curso atendeu às suas expectativas de formação profissional? ( ) Sim ( ) Não ( ) Em partes J u s t i f i q u e : 14- Qual o principal motivo que a levou a escolher o curso? 15- Sugestões e críticas para a melhoria do curso.