EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS

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ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS Atualização e padronização de leis e normas são fundamentais para elevar a segurança contra incêndio no Brasil BETO SOARES/ESTÚDIO BOOM 26 Emergência

ode um empreendedor, ao instalar um sistema de proteção contra in- Pcêndio em uma edificação, ter a sua disposição uma série de regulamentos técnicos e, mesmo assim, enfrentar dúvidas sobre que parâmetros utilizar? No Brasil, pode. Essa é realidade nacional da segurança contra incêndio, estabelecida por uma série de códigos estaduais, regulamentos municipais, normas técnicas, norma regulamentadora e instruções técnicas dos corpos de bombeiros. Apesar da variedade de legislações, investir em diferentes regiões do Brasil esbarra na falta de padronização dos critérios de dimensionamento e das tabelas de exigências. Os conflitos entre os textos normativos resultam na instalação de sistemas distintos de proteção, como extintores, hidrantes, sinalização e iluminação de emergência, detecção e alarme de incêndio. Assim, uma construtora poderá implantar projetos de segurança contra incêndio diferentes em edificações similares, apesar de atender a legislações oficiais, o que é visto como inadmissível pelo engenheiro José Carlos Tomina, superintendente do CB-24 (Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio), da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). O fogo é o mesmo em qualquer localidade, enfatiza. Por e- xemplo: se for aceito como correto que os shoppings centers devem ser protegidos por sistemas de chuveiros automáticos, tanto faz se o empreendimento for construído no Sul ou no Norte do País, já que os seus ocupantes estarão expostos aos mesmos riscos, exemplifica. Thiago Palácio John, capitão do CBMDF (Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal), mestre e doutorando em Gerenciamento de Incêndios e Emergências, reforça que a maioria das normas de proteção contra incêndio é baseada em fatos científicos e em experimentos, os quais devem ser válidos para qualquer estado ou município. A jurisdição, nesse caso, é irrelevante, salienta. Segundo o presidente da Ligabom (Liga Nacional dos Corpos de Bombeiros) e comandante do CBMPE (Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco), coronel Carlos Eduardo Poças Amorim Casa Nova, há entraves legais que prejudicam a padronização das exigências. Explica ele que, na área de segurança contra incêndio, os estados, por meio dos corpos de bombeiros, têm autonomia de legislação e um regulamento federal não pode impor o que eles devem seguir. Mesmo assim, um esboço do que pode vir a ser o código nacional de proteção contra incêndio será, enfim, regulamentado. Talvez em 2010, ainda. Vamos fazer um código com as condições básicas de segurança, mas cada estado terá suas diferenças, adianta. O código nacional é uma evolução natural de um setor em constante aprimoramento. Na última década, mais estados estabeleceram leis e normas de proteção contra incêndio, enquanto outros revisaram seus regulamentos técnicos. Há quem adote como modelo o regulamento do estado de São Paulo, considerado como um dos mais completos e exigentes do Brasil. O código paulista também utiliza normas técnicas elaboradas pelo CB-24/ABNT. O comitê possui um conjunto de mais de 60 normas que definem critérios de requisitos e dimensionamento de itens de segurança contra incêndio. Jorge Alexandre Alves, especialista em combate a incêndios e emergências e diretor da Fire & Rescue College Brasil, destaca entre as normas brasileiras a NBR 15219 (Plano de emergência contra incêndio), a NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 (Bombeiro Profissional Civil) como textos referência para o melhor dimensionamento de recursos e preparação para resposta a incêndios. Historicamente, a evolução dos regulamentos de proteção contra incêndio é motivada por tragédias. De grandes incêndios saíram ideias de aperfeiçoamento dos critérios de segurança e, a partir deles, aumentaram as exigências e reduziram as ocorrências. Marco Aurélio Rocha, técnico em emergência com materiais perigosos, bombeiro profissional civil e especialista em incêndio estrutural e petroquímico, lembra que as primeiras legislações com parâmetros de prevenção de incêndio e de resposta a essas ocorrências foram criadas na década de 70: o Código de Segurança contra Incêndio e Pânico do Rio de Janeiro, em 1976, e a NR 23 (Norma Regulamentadora de Proteção Contra Incêndio, do Ministério do Trabalho e Emprego), que é de 1978. Segundo ele, os dois regulamentos carecem de atualização, o que também dificulta a a- plicabilidade dos códigos. Outro ponto que necessita de reparos, apontam especialistas, é a fiscalização dos regulamentos e a formação dos profissionais que elaboram as normatizações. Reportagem de Rafael Geyger Emergência 27

CRISTIANE REIMBERG ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO São Paulo é referência Regulamento paulista tem alto grau de exigência e alguns de seus requisitos são adotados por outros estados A data é 31 de agosto de 2001 e o Decreto tem o número 46.076. O cumprimento de suas exigências se restringe ao estado de São Paulo, mas bombeiros, projetistas e demais profissionais de segurança contra incêndio de outras regiões têm no regulamento uma referência para sua atuação. Para Sérgio Baptista de Araújo, tenente-coronel da reserva do CBMERJ (Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro) e diretor da Sygma Fire Protection Engineering, quando o assunto é legislação brasileira de incêndio, há de se fazer uma distinção de estado para estado. São Paulo, afirma, possui um código em sintonia com o que há de mais avançado no mundo. Como pontos positivos da legislação paulista, ele cita a estruturação e a definição de todas as ocupações e as classificações de risco de forma pormenorizada, a apresentação de todos os processos administrativos para a formatação de projetos e a regularização das edificações e a atualização tecnológica pelas ITs (Instruções Técnicas), inserindo novos conceitos e sistemas à medida que elas são incorporadas ao mercado. Segundo o major Nilton Miranda, chefe da Divisão de Legislação e Análise do DSCI/CBPMESP (Departamento de Segurança Contra Incêndios do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de JOSÉ GOMERCINDO - SECS/PR Legislação de São Paulo permite restringir ocorrências a locais em que a intervenção dos bombeiros possa ser feita de maneira eficiente e eficaz Casa Nova: segurança num mesmo padrão São Paulo), a legislação tem a capacidade de restringir as ocorrências a locais em que a intervenção dos bombeiros possa ser feita de maneira eficiente e eficaz. O CBPMESP atende a 500 mil ocorrências por ano, aproximadamente. Em torno de 11%, ou 55 mil atendimentos, são de incêndios. O Decreto 46.076/01 foi um case de sucesso, pois colocou a legislação de segurança contra incêndios de São Paulo alinhada com especificações internacionalmente reconhecidas. Sua aplicação demonstra que os profissionais já absorveram seus objetivos e um passo a ser vencido é equalizar e difundir o conhecimento sobre esse tema a todos os profissionais que atuam nesta área, a- credita. Explica o major que o regulamento paulista prevê o controle de materiais de acabamento e revestimento, a possibilidade de utilização de mangotinhos, a adoção de simbologia de padrão internacional para apresentação de projetos, a mudança da classificação das ocupações com base na carga de incêndio e a exigência do sistema de controle de fumaça. Miranda lembra que a lei contempla soluções de ordem técnica que se utilizam de sistemas, cujo avanço tecnológico exige um acompanhamento constante. Também conceitos e formas de construção evoluem rapidamente e os textos não conseguem contemplar toda a gama de variações apresentadas. Constantemente, novas tecnologias são apresentadas como solução e temos que estudar, sempre focados nos objetivos da legislação, para que isso se converta em segurança para as pessoas que utilizam as edificações, diz. Como exemplos dessa precaução, ele cita a necessidade de incluir o uso da tubulação de chuveiros automáticos em CPVC, possivelmente também para os hidrantes, além do uso de cortinas e vidros cortafogo como elementos de compartimentação. Ajustes nas exigências, revisão e criação de ITs são outras medidas para manter atual a legislação contra incêndio. Dentro dessa perspectiva, contemplar as instalações elétricas é uma necessidade, baseada nas estatísticas que as apontam como causa de princípios de incêndio. Ocupações destinadas a hangares, hospitais, estabelecimentos prisionais e subsolos ocupados, dentre outras, também necessitam de aprimoramento na regulamentação, adianta o major. Com a aplicação da legislação nós aprendemos muito, refere, lembrando que a experiência obtida pelos bombeiros no campo operacional se une aos aspectos conceituais na revisão da legislação. CAPACIDADE Na opinião do presidente da Ligabom e comandante do CBMPE, coronel Car- 28 Emergência

los Eduardo Casa Nova, São Paulo possui uma realidade específica de grande capacidade econômica, o que lhe permite um maior grau de exigência nos sistemas de segurança contra incêndio. Para obter sistemas com um grau de segurança maior, no entanto, as exigências paulistas levam a modelos mais caros e sofisticados. Por isso, Casa Nova entende que não é possível adotar parâmetros semelhantes em estados de menor poderio econômico. As construtoras vão criticar, assim como o consumidor que comprar um apartamento e que irá reclamar do seu preço, entende. No Código vai para o papel Texto que padroniza a proteção contra incêndio será apresentado em versão básica pela Ligabom entanto, acredita que futuramente a união é o caminho. Um dia isso terá que se unificar, pois segurança deve existir na indústria, no comércio e nas residências num padrão mínimo e igual para qualquer edificação construída em qualquer estado do Brasil, completa. Sobre essa questão, o superintendente do CB-24, José Carlos Tomina, defende que não se deve utilizar o viés financeiro para justificar o estabelecimento de diferentes níveis de segurança para vidas humanas. Constitucionalmente, não há cidadãos de primeira ou de segunda classe, afirma. Especialistas reivindicam a criação de um código nacional de proteção contra incêndio, os corpos de bombeiros o desejam e os projetistas clamam por ele, mas nem a vontade de todas as partes coloca em prática uma proposta que motiva debates na área de segurança contra incêndio há muito tempo. Escuto sobre o código nacional há pelo menos 15 anos, lembra Sérgio Baptista de Araújo, tenente-coronel da reserva do CBMERJ e diretor da Sygma Fire. A sua elaboração, contudo, permanece na fase de estudos. Há três anos, a Ligabom deu importante passo na construção do regulamento nacional ao constituir uma câmara técnica para elaborar um projeto básico. Integram o grupo oficiais bombeiros de diferentes regiões do Brasil, com experiência na área de Engenharia de Proteção e Combate a Incêndio, incluindo engenheiros de Segurança e projetistas, com conhecimento sobre as normas brasileiras e internacionais. O presidente da entidade, coronel Carlos Eduardo Casa Nova, diz que foi feito um levantamento sobre a forma correta de formatar o código e concluiuse que um texto básico é a opção viável. A expectativa é ter o regulamento padrão ainda em 2010. Nós não vamos conseguir unificar todas as 27 legislações numa só lei, detalhando sistemas e as tabelas de exigências, para que todos exijam a mesma coisa em todo o lugar. Será algo novo, com considerações básicas para que todo estado adote como norma, sem entrar em detalhes, dizendo o que vai ser exigido e como deve ser instalado, diz. Conforme Casa Nova, a Ligabom discute, juntamente com a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) e o Gabinete da Presidência da República, a forma legal de aprovação do código em âmbito nacional. O entrave está no aspecto constitucional: a segurança pública requer legislação estadual (por isso, cada estado tem seu regulamento). Para a Senasp, informa o assessor de Assuntos de Bombeiros da Secretaria, major Roberto do Canto Wilkoszynski, a Ligabom é o órgão que possui legitimidade e representatividade para postular o código e sua publicação. À Senasp, caberá respeitar a postura adotada pelos Corpos de Bombeiros Militares sobre esse assunto, declara. Uma das possibilidades aventadas pela Liga é encaminhar o código por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil, aproveitando-se de uma brecha legal que permite a aprovação de lei nacional na área de Defesa Civil. Outra forma, seria cada estado republicar seu regulamento, adotando o que for definido como padrão. Essa segunda opção, no entanto, é a mais improvável, avalia o coronel Casa Nova. Isso porque estados com maior nível de exigência, como São Paulo, não Emergência 29

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO abririam mão do seu padrão de proteção e não exigiriam menos do que já requerem há anos. REFERÊNCIA O caminho escolhido pela câmara técnica da Ligabom é semelhante ao sugerido pelo superintendente do CB-24, José Carlos Tomina. Ele acredita que o código nacional poderá funcionar como uma referência mínima para a construção das leis estaduais ou municipais, ficando a critério de cada autoridade local exigir mais, se entender necessário. Tomina coordena o projeto Brasil Sem Chamas, encomendado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, que deve ter seu relatório final publicado em junho, propondo, inclusive, a elaboração do regulamento nacional para solucionar a falta de padronização existente. Para Jorge Alexandre Alves, especialista em combate a incêndios e emergências e diretor da Fire & Rescue, de posse das diretrizes mínimas estabelecidas por um texto nacional, os municípios devem propor um maior nível de detalhamento em seus códigos para atender de forma específica suas peculiaridades. Dentre todas as esferas de governo, é o município que tem a obrigação de saber quais são os riscos locais específicos e qual planejamento de investimentos deve ser feito para o cumprimento das medidas de prevenção e controle de incêndios a curto, médio e longo prazo, como já fazem com seus planos diretores e códigos de obras e construções, pondera. CONTEÚDO Para o major Canto, da Senasp, apesar das diferenças existentes, as legislações estaduais têm conteúdo rico e seguem linha semelhante. Por isso, acredita, a maturação dessas iniciativas pode formar a base e dar suporte técnico para um futuro regulamento nacional. Essa construção ocorrerá de maneira gradual, baseada na doutrina das iniciativas que deram bons re-sultados nos estados e municípios, refere. Na opinião de José Carlos Tomina, uma forma bastante adequada para a elaboração de um regulamento único passa pela criação de uma norma brasileira. Ao justificar esse entendimento, ele destaca o processo democrático de desenvolvimento das normas pelo CB-24, que requer as participações equilibradas de todos os interessados. Marco Aurélio Rocha, técnico em e- mergências, bombeiro profissional civil e especialista em incêndio estrutural e petroquímico, tem entendimento semelhante. Segundo ele, um código de segurança contra incêndio deve ser criado por câmaras técnicas regionais com vivência e conhecimento das reais necessidades de cada estado. Também deve haver perfeito entrosamento entre as entidades públicas e privadas, assim como é feito pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, por meio de seus comitês regionais e nacional, diz. Pela Ligabom, o coronel Casa Nova reforça a existência de uma câmara de oficiais bombeiros estudando o novo código, mas diz que não vê dificuldades em ter um melhor aproveitamento das normas da Associação Brasileira de Nor- CONFLITOS LEGAIS E NORMATIVOS Além da falta de uniformidade na aplicação de critérios técnicos nos municípios do Rio Grande do Sul, haja vista o grande número de legislações (estaduais e municipais), regulamentos (seguradoras ou critérios particulares), normas e instruções técnicas, não há um regramento único para a condução dos processos junto aos órgãos competentes. Na capital, Porto Alegre, a proteção contra incêndio deve obedecer ao prescrito no Código de Proteção Contra Incêndio, que, por sua vez, em algumas situações, apresenta parâmetros bastante divergentes em relação às normas técnicas da ABNT. Vigora um convênio firmado entre Prefeitura Municipal e Corpo de Bombeiros, que avalia os planos de proteção contra incêndio. Previamente a isso, é preciso que a Prefeitura aceite um documento chamado Memorial Descritivo da Proteção Contra Incêndio a Executar. Ele aponta as exigências de acordo com as características das ocupações da edificação. É inegável a facilidade advinda do fato de Porto Alegre possuir, em um único código, as diretrizes necessárias para que os profissionais do setor possam embasar seus memoriais, planos e instalações de todos os sistemas de proteção contra incêndio, diferentemente dos demais municípios do Estado, onde é necessário recorrer a normas técnicas da ABNT para cada sistema. Por outro lado, o Código de Porto Alegre é de 1998 e não é revisado sistematicamente, deixando de a- companhar a evolução tecnológica. Há certa resistência quanto à aplicação de novas tecnologias, muitas delas já contempladas em edições atualizadas das normas ABNT. Podemos citar a não aceitação do uso de sinalização de balizamento e de segurança pelo emprego de placas fotoluminescentes, conforme disposto na NBR 13434/2004 (Sinalização de Segurança Contra Incêndio e Pânico). A maioria dos municípios do Rio Grande do Sul adota as prescrições expressas no Decreto Estadual, que remete às normas da ABNT, ficando a cargo do Corpo de Bombeiros do respectivo município a avaliação das exigências de sistemas e de sua aplicação. Há, ainda, significativos conflitos entre as próprias normas técnicas. É possível citar a NBR 10898/1999 (Sistema de Iluminação de Emergência), que, no item 4.8.9, diz que os eletrodutos utilizados para condutores da iluminação de emergência não podem ser utilizados para outros fins, salvo instalação de detecção e alarme de incêndio ou de comunicação, conforme a NBR 5410, contanto que as tensões de alimentação estejam abaixo de 30Vcc e os circuitos devidamente protegidos contra curtos-circuitos. Por Alexandre Rava Campos* Por sua vez, a NBR 9441/1998 (Execução de sistemas de detecção e alarme de incêndio) é taxativa ao afirmar, no item 5.4.1, que quando existente, toda tubulação integrante de um sistema de detecção e alarme de incêndio deve atender exclusivamente a este sistema. Com isso, os profissionais ficam a mercê da interpretação daqueles que forem avaliar os planos de proteção contra incêndio (normalmente bombeiros). Sob o ponto de vista técnico, são inúmeras as discrepâncias entre as legislações, normas técnicas e regulamentos da área de seguros, sem falar nas normas internacionais. Por exemplo, é requerida em Porto Alegre a vazão de 200 litros por minuto no risco pequeno. Em contrapartida, a NBR 13714 (Sistemas de Hidrantes e Mangotinhos) estabelece como requisito para o risco pequeno vazões entre 80 a 100 litros por minuto. É importante destacar que muitas leis municipais e estaduais preconizam pressões mínimas, vazões mínimas e diâmetros mínimos para os requintes dos esguichos dos hidrantes e mangotinhos sem determinar as relações entre eles, gerando dúvidas e interpretações distintas para a mesma legislação, e, principalmente, comprometendo a segurança nas edificações. *Engenheiro civil e de Segurança do Trabalho, diretor-secretário do CB-24/ABNT e conselheiro da ASTEC (Associação Técnica Sul Brasileira de Proteção Contra Incêndio). Colaborou Tiago Kolhrausch, arquiteto. 30 Emergência

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO atender aos requisitos estabelecidos na NR 23. As residências e instalações comerciais e industriais também obedecem aos códigos estaduais, muitas vezes, regulamentados por instruções técnicas. Há, ainda, municípios com seus próprios códigos e exigências. Por fim, as normas técnicas da ABNT complementam o sistema, servindo de referência para alguns desses regulamentos. Seus parâmetros, contudo, só se tornam obrigatórios quando citados em lei. Relata o coronel Carlos Eduardo Casa Nova, presidente da Ligabom e comandante do CBMPE, que construtoras das regiões Sul e Sudeste, por vezes, reclamam quando vão executar obras em oumas Técnicas. É preciso que haja integração dos oficiais de cada estado com a Associação Brasileira de Normas Técnicas para legislar em conjunto. Alguns estados já adotam as normas, mas isso não quer dizer que não podemos evoluir mais, afirma. FOCO EXCLUSIVO Para o capitão do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal Thiago Palácio John, atualmente cursando nos Estados Unidos o doutorado em Gerenciamento de Incêndios e Emergências, falta ao Brasil uma entidade representativa, governamental ou não, com foco exclusivo em segurança contra incêndio e com força política para implementar e fiscalizar a aplicação de um código nacional. Ele lembra que os EUA têm a FEMA (Federal Emergency Management Agency) e a USFA (United States Fire Administration), duas agências governamentais que regulamentam as atividades relacionadas a incêndio e gerenciamento de emergências, além da NFPA (National Fire Protection Association), que é independente e responsável pela elaboração das normas de proteção e combate a incêndio. O Brasil ainda não possui uma agência reguladora representativa o bastante para reger esse processo. A própria Associação Brasileira de Normas Técnicas não é uma entidade exclusiva e abrange Sistema desarticulado Conflitos originados na falta de padronização entre leis e normas de incêndio dificultam a sua aplicação Se uma empresa possuir unidades em Santa Catarina, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, deverá atender a três critérios distintos ao instalar um extintor e ao definir a área protegida pela unidade extintora. Esse é um típico conflito gerado pela falta de padronização de leis e normas de segurança contra incêndio no Brasil, mas ele não se restringe a essas localidades. Os diferentes parâmetros exigidos nos estados e em alguns municípios brasileiros quanto à altura máxima do extintor e a área de proteção (veja Box na página 36) são dois exemplos de um sistema desarticulado. Legalmente, locais de trabalho devem diversos outros setores, diferentemente da National Fire Protection Association americana, que dedica-se exclusivamente à área de proteção contra incêndio, afirma. 32 Emergência

tras regiões. O motivo: as exigências são diferentes, assim como as formas de aprovação de projetos. Isso leva a uma dificuldade muito grande, acarreta custos e gera demora, avalia Casa Nova. De acordo com Marco Aurélio Rocha, técnico em emergências, bombeiro civil e especialista em incêndio estrutural e petroquímico, uma lei ou norma de instância inferior pode ser mais rígida sem que esteja ferindo a esfera superior. Isso se aplica a códigos municipais mais exigentes do que os adotados por seu estado ou pela NR 23. Hierarquicamente, a menor lei pode ser mais rigorosa, mas nunca mais branda, ilustra. DESATUALIZAÇÃO Se, no conjunto, as leis e normas sofrem com a falta de padronização, individualmente, o problema é a desatualização. A NR 23 é a referência em âmbito federal quanto à prevenção de incêndios. Criada em 1978, ela se encontra desatualizada e fora dos novos contextos de segurança contra incêndio, avalia Marco Rocha. Suas últimas alterações em nada acrescentaram para a melhoria e adequação à realidade em que vive a sociedade, diz. Outro regulamento bastante antigo, o código do Rio de Janeiro, o primeiro do Brasil, completa 34 anos em 2010. Para Sérgio Baptista de Araújo, tenente-coronel da reserva do CBMERJ e diretor da Sygma Fire, o texto é positivo em muitos aspectos e funcionou bem nas décadas de 70 e 80, sendo a referência de toda a legislação brasileira em todos os estados. Seus requisitos enfatizam a supressão de incêndio, mas ignoram itens preventivos importantes, como detecção dos incêndios, sistemas de controle de fumaça e iluminação de emergência, indica Baptista. Saio de Paraty/RJ, onde resido, ando 70 quilômetros e chego a Ubatuba/SP. Lá, qualquer restaurante tem iluminação de emergência, vários extintores e sinalização fotoluminescente. Se qualquer município fluminense ficar duas horas sem energia elétrica, não há iluminação de emergência em restaurantes, hotéis e supermercados, porque não é obrigatória pelo Código, da mesma forma que não é obrigatória a detecção de fumaça em quartos de hotéis e de hospitais. Isso é algo a ser revisto, reclama. Ele lembra que, nas três décadas de vigência do código, as tipologias cons- trutivas mudaram, surgiram novos tipos de empreendimentos, como as construções em aço e novos materiais de uso na arquitetura. Apesar disso, lamenta, prédios são aprovados sem possuírem um sistema de controle de fumaça. Há a escada enclausurada, mas até chegar lá, as pessoas vão andar nos corredores por 30, 40, 50 metros no meio da fumaça?, questiona. Sérgio Baptista também revela preocupação com a proteção contra incêndio existente para o Brasil receber grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Segundo ele, grande parte dos hotéis no Rio de Janeiro seriam contraindicados por não atenderem dispositivos de uso internacional, como a NFPA 101 - Life Safety Code e a diretiva europeia Fire Safety in Hotels - Recommendation 86/666/EEC. Não se pode recomendar um hotel que não tenha padrões de aceitabilidade, um sistema de alarme, de detecção, sinalização e portas adequadas. Há hotéis no Rio de Janeiro com 20 andares e com escada única, o que é exigido pela NFPA 101 desde seus primeiros itens, redigidos em 1913. O código precisa ser reformulado urgentemente, acrescenta. Emergência 33

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO APLICABILIDADE Para Thiago Palácio John, capitão do CBMDF e mestre em Gerenciamento de Incêndios e Emergências, reside na aplicação das leis e normas uma deficiência da área de segurança contra incêndio no Brasil. Ele diz que há casos em que, justificadamente, as normas são inaplicáveis, como ocorre em uma favela, por exemplo. Lá, não existe planejamento urbano e, muito menos, a real possibilidade de aplicação de tal regulamentação, diz. Já para Jorge Alexandre Alves, especialista em combate a incêndios e emergências e diretor da Fire & Rescue, há problemas de acesso aos regulamentos técnicos. Como eles não consideram que apenas um número pequeno de municípios conta com postos de bombeiros, os requisitos exigidos tornam-se impraticáveis para a maioria dessas cidades. Além disso, falta divulgação e disponibilidade das legislações para consulta. Quem se interessar por conhecer e adquirir os materiais tem que se deslocar até o departamento técnico das corporações nas capitais de seu estado. Por parte dos bombeiros, a reivindicação é sobre a aprovação de projetos de proteção contra incêndio de prefeituras. Conforme o coronel Casa Nova, ainda há municípios que não exigem o aval dos corpos de bombeiros e, assim, as edificações são construídas à revelia. Quando tomamos conhecimento, temos que entrar com a fiscalização, com rigor e multa, e isso é complicado para o empreendedor, que fica com um padrão de segurança prejudicado, diz. Como evoluir mais Qualificação profissional é peça-chave para produção de melhores normas e adaptação de textos internacionais Investir no profissional, ofertando a ele uma formação específica e continuada, é uma medida que qualifica a criação e revisão de normas e a adaptação de textos estrangeiros. Para Sérgio Baptista de Araújo, tenente-coronel da reserva do CBMERJ e diretor da Sygma Fire, isso se refletirá na qualidade dos regulamentos elaborados. Quanto menor é a formação técnica no assunto por parte dos bombeiros, conhecimento de inglês técnico e o domínio sobre as normas, mais pobre é o código estadual, acredita. Um código é escrito a partir de estudos técnicos. Requer capacitação, conhecimento técnico, pessoas especializadas, conhecimento de língua estrangeira, participação e promoção de seminários e fóruns de discussão, salienta. Na opinião do major Nilton Miranda, chefe da Divisão de Legislação e Análise do DSCI/CBPMESP, a inclusão da matéria Segurança contra Incêndio nos cursos de formação e a capacitação de profissionais para atuação na área são fundamentais para a melhora nos sistemas das edificações. Isso passaria também pelo ensino superior e o desenvolvimento de dissertações e teses na área, chegando a um nível em que o tema seja naturalmente incluso nas concepções de edificações. Alexandre Itiu Seito, coordenador do GSI/NUTAU/USP (Grupo de Pesquisa em Segurança contra Incêndio do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), acredita que os regulamentos não são suficientes para prover a segurança. Segundo ele, é preciso haver um corpo técnico para aplicar adequadamente, por exemplo, os sistemas de detecção e combate a incêndio, assim como um corpo de fiscalizadores capaz de verificar o atendimento ao regulamento. Seito também defende a criação no Brasil do curso de graduação em Engenharia de Segurança contra Incêndio. Para elaborar projetos, é preciso ter engenheiros capacitados e com formação nessa área do conhecimento, diz. Sérgio Baptista lembra que a profissão de Engenheiro de Segurança contra Incêndio já existe na Inglaterra desde 1907. Ele conta ter trazido de Portugal para o Brasil a ideia de pós-graduação, mestrado e doutorado na área. Há cinco anos, o programa está pronto, o material está pronto, há interessados, mas 36 Emergência

se esbarra na burocracia, lamenta Baptista. A Senasp projeta como ação futura a criação de cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado para profissionais de segurança pública, incluindo as áreas técnicas de bombeiros, adianta o major Roberto do Canto Wilkoszynski, assessor de Assuntos de Bombeiros da Secretaria. O tema segurança contra incêndio pode estar incluso nos conteúdos, mas não como formação específica. Para 2010, o curso de nível superior previsto é o de Tecnólogo em Segurança Pública, com duração de dois anos e com disciplinas da área de bombeiros. NORMAS TÉCNICAS No CB-24, a qualificação dos profissionais proporciona a elaboração de normas de referência técnica adequada, estabelecendo as características de sistemas, equipamentos ou dispositivos a serem utilizados na segurança contra incêndio. Sustenta José Carlos Tomina, superintendente do CB-24, que os textos produzidos no comitê impulsionam o desenvolvimento industrial, disseminam os avanços tecnológicos e permitem o compartilhamento de boas práticas. Consequentemente, colaboram com a melhoria contínua da qualidade de produtos e serviços e com a competitividade na área. Apesar do empenho dos especialistas, há mais de 40 normas que precisam ser revisadas ou elaboradas com maior prioridade, o que demanda investimentos de recursos públicos e privados no CB-24, informa Tomina. Para Alexandre Seito, é preciso uma maior participação de consumidores de produtos e serviços de segurança contra incêndio (fábricas, edifícios comerciais, shoppings) na elaboração das normas para contribuir ainda mais com as regulamentações estaduais e municipais. Sobre o aspecto da obrigatoriedade de uso da norma só quando citada em lei, Tomina lembra que o Código de Defesa do Consumidor (lei federal 8.078/ 1990) veda ao fornecedor dispor no mercado produtos ou serviços em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, quando essas não existirem, pela ABNT. O diretor da Fire & Rescue, Jorge Alexandre Alves, especialista em combate a incêndios e emergências, ressalta que, por serem desenvolvidas por especialistas, é recomendável que as agências regulamentadoras, os poderes legislativos e todas as esferas de governo utilizem as normas técnicas como referências quando da elaboração de regulamentações, portarias e leis de prevenção e combate a incêndios. INTERNACIONAIS O uso de referências internacionais também é um caminho para a evolução da legislação brasileira. Thiago Palácio John, capitão do CBMDF e mestre em Gerenciamento de Incêndios e Emergências, afirma que, quando um profissional estuda os comportamentos extremos do fogo ou a linguagem da fumaça, por exemplo, não há diferença na química ou na física da combustão, estando ele no Brasil ou nos EUA. Porém, salienta, nem toda norma de segurança pode ser aplicada sem se considerar uma adaptação. Jorge Alexandre lembra que já é prática no Brasil utilizar referências de textos estrangeiros para a elaboração de normas nacionais, mas considera muito importante que se conheça os regulamentos internacionais e se entenda a necessidade de modificar alguns conteúdos com sobriedade. Assim, a norma será construída de forma a preservar os critérios de estudos e ensaios já efetuados em laboratórios estrangeiros, que não encontram similar no Brasil, alterando apenas conceitos relacionados à geografia, cultura e recursos disponíveis. A melhor referência em legislações de proteção contra incêndios ainda é dos Estados Unidos, opina Jorge, ressaltando o papel da NFPA na proteção contra incêndio norte-americana, com a maior e mais atualizada quantidade de normas técnicas. Ele acredita que, dentre esses textos, as normas NFPA 1710 e NFPA 1720 deveriam ser utilizadas para o desenvolvimento de similares no Brasil, pois fornecem critérios mínimos para implantação, funcionamento e desempenho dos serviços de emergências públicos (profissionais e voluntários) nos municípios. Ambas são utilizadas como critérios de desempenho para as avaliações do ISO (Insurance Services Office), que audita e classifica as cidades quanto ao nível de proteção pública e é um dos critérios para o cálculo do valor de todos os tipos de seguros nos municípios. Emergência 37