Sétima Câmara Cível Apelação Cível nº 2008.001.33979 Apelante: Ministério Público Apelada(1): Gol Transportes Aéreos S.A. Apelada(2): S.A. Viação Aérea Rio Grandense (em recuperação judicial) Apelada(3): TAM Linhas Aéreas Relatora: Des. Maria Henriqueta Lobo Revisor: Des. José Mota Filho Classificação regimental: 1 Ação civil pública. Danos materiais e morais. Venda de passagens aéreas fora do estabelecimento comercial, em especial pela Internet e por telefone. Desistência voluntária manifestada pelo consumidor. Alegada contrariedade ao disposto no artigo 49 da Lei nº 8.078/90, que conferiria ao consumidor o prazo de sete dias para desistir do serviço contratado. Direito de arrependimento. Afastamento. Ausência de vulnerabilidade do consumidor. A situação do comprador de passagem aérea no estabelecimento comercial da transportadora é idêntica à do comprador do mesmo produto pela internet, pelo menos no que se refere ao conhecimento do que está sendo adquirido. Desta forma, se um ou outro consumidor desiste da viagem, por conveniência pessoal, não há porque conferir-se a apenas àquele que comprou o bilhete pela internet e o fez até com mais
ACÓRDÃO comodidade e conforto o direito ao reembolso integral. Retenção lícita por parte da companhia aérea de 10% (dez por cento) do valor da passagem. Sentença de improcedência. Desprovimento do recurso de apelação e não conhecimento do agravo retido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 33.979/08, em que figura como apelante o Ministério Público e apeladas Gol Transportes Aéreos S.A., S.A. Viação Aérea Rio Grandense (em recuperação judicial) e TAM Linhas Aéreas. Acordam, por unanimidade de votos, os Desembargadores que compõem a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em negar provimento ao recurso de apelação, não conhecido o agravo retido. Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 2009. DES. MARIA HENRIQUETA LOBO PRESIDENTE E RELATORA
Sétima Câmara Cível Apelação Cível nº 2008.001.33979 Apelante: Ministério Público Apelada(1): Gol Transportes Aéreos S.A. Apelada(2): S.A. Viação Aérea Rio Grandense (em recuperação judicial) Apelada(3): TAM Linhas Aéreas Relatora: Des. Maria Henriqueta Lobo Revisor: Des. José Mota Filho VOTO Não se conhece, inicialmente, do agravo retido interposto pela ré, Tam Linhas Aéreas (fls. 380/384), eis que não reiterado expressamente seu pedido de apreciação em contra-razões, conforme estabelece o artigo 523, 1º, do Código de Processo Civil. A hipótese é de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro visando à abstenção das empresas aéreas rés, Gol Transportes Aéreos, Viação Aérea Rio Grandense e TAM Linhas Aéreas, da cobrança de taxa de serviço no percentual de 10% (dez por cento) sobre o preço da passagem aérea, em caso de desistência da contratação pelo passageiro, quando a compra do bilhete ocorrer fora do estabelecimento empresarial, especialmente pela internet e telefone. Alega o Parquet que as empresas rés não cumprem o disposto no artigo 49 da Lei nº 8.078/90 - que conferiria aos consumidores o prazo de 07 (sete) dias para o exercício do direito de arrependimento - deixando de reembolsá-los integral e monetariamente os valores pagos. A sentença (fls. 372/377) deu pela improcedência do pedido sob o fundamento de que seria inaplicável o artigo 49 da Lei nº 8.078/90 porque o consumidor, no momento da compra da passagem aérea na modalidade à distância, teria perfeito conhecimento do que está sendo adquirido, da mesma forma que em um estabelecimento comercial, revelando-se lícita a cláusula que autoriza a retenção de percentual do valor do bilhete em caso de desistência por parte do consumidor. Não merece qualquer reparo a sentença recorrida.
De fato, não há que se aplicar a toda e qualquer compra e venda realizada fora do estabelecimento comercial o prazo de reflexão ou de arrependimento previsto no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor. A intenção do legislador, ao criar tal dispositivo, foi proteger o consumidor contra técnicas agressivas de marketing publicitário, aquisição irrefletida, ou ainda, desconhecimento quanto ao produto ou serviço a ser adquirido. Na hipótese de venda de passagem aérea por meio de telefone ou internet, entretanto, o consumidor tem acesso a todas as informações relativas ao serviço a ser contratado, como valor da passagem, horário do vôo, data, serviço de bordo, conexão, etc., da mesma forma que teria se o mesmo se dirigisse pessoalmente ao estabelecimento comercial. Assim, não há que se falar em situação de vulnerabilidade do consumidor ou desequilíbrio na relação de consumo, a justificar a incidência do artigo 49 da Lei nº 8.078/90, já que em nada difere a aquisição da passagem aérea no próprio estabelecimento comercial da aquisição fora dele. Aliás, como bem enfatizado pela Procuradoria de Justiça: (...) o serviço vendido pela INTERNET transporte aéreo de pessoas não necessita, como é evidente, ser pessoalmente examinado ou experimentado pelo comprador. Assim sendo, parece-nos que, a menos que o bilhete recebido pelo consumidor, correspondente ao serviço que lhe será prestado, contenha especificações diversas das contratadas, tais como data da viagem, horário, classe, etc., não há como se estender a esse consumidor o direito de desistência com o reembolso total da quantia paga. A situação do comprador de passagem aérea no estabelecimento comercial da transportadora é idêntica à do comprador do mesmo produto pela INTERNET, pelo menos no que se refere ao conhecimento do que está sendo adquirido. Desta forma, se um ou outro consumidor desiste da viagem, por conveniência pessoal, não há porque conferir-se a apenas àquele que comprou o bilhete
pela INTERNET e o fez até com mais comodidade e conforto o direito ao reembolso integral. (fl. 456) Por outro lado, há que ser levado em consideração que o reembolso integral ao consumidor acarretaria um desequilíbrio financeiro das companhias aéreas, as quais suportariam todos os prejuízos decorrentes da desistência voluntária do consumidor, inviabilizando a reocupação dos assentos ociosos, em tempo hábil, por outros passageiros. Conforme ressaltado na sentença recorrida: Tal retenção afigura-se lícita diante das peculiaridades do sistema de transporte aéreo e do turismo de um modo geral, que se sujeitam a grande sazonalidade, mostrando-se até mesmo necessária, pois o exercício do arrependimento sem nenhuma penalidade, ainda que no prazo legal, pode prejudicar o sistema concorrencial, o planejamento dos orçamentos e promoções dos réus e até mesmo os outros consumidores, que tentam adquirir, principalmente as passagens de período de alta estação ou promocionais, e não o conseguem fazer em virtude do bloqueio anterior efetuado por consumidores que compram apenas para assegurar as melhores tarifas e depois desistem da viagem, sabendo que serão reembolsados integralmente. (fls. 376/377) Assim, de modo a manter o equilíbrio da relação de consumo em exame, impõe-se reconhecer a inaplicabilidade do direito de arrependimento previsto no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor, mantendo-se a sentença, na íntegra, que deu pela improcedência dos pedidos de reparação por dano moral e indenização por dano material, deduzidos na inicial. Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso de apelação, não conhecido o agravo retido. MARIA HENRIQUETA LOBO DESEMBARGADORA RELATORA Certificado por DES. MARIA HENRIQUETA LOBO A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br. Data: 04/02/2009 17:51:00Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 2008.001.33979 - Tot. Pag.: 5