TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Santos, em que é apelante FELIPE CHIARELLO DE SOUZA PINTO, é apelado TAM LINHAS AÉREAS S.A. ACORDAM, em 22ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MATHEUS FONTES (Presidente sem voto), SÉRGIO RUI E ALBERTO GOSSON., 8 de fevereiro de ROBERTO MAC CRACKEN RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Apelante: Felipe Chiarello de Souza Pinto Apelado: Tam Linhas Aéreas S.a Comarca: Santos Voto nº AÇÃO INDENIZATÓRIA. OVERBOOKING. VALOR DA INDENIZAÇÃO. 1. O planejamento de uma viagem a outro país, frustrado por conduta deliberada da companhia aérea, certamente gera danos morais cuja reparação impõe a majoração para R$20.000,00 (vinte mil reais). 2. Os honorários advocatícios são majorados para 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, inclusive considerando o trabalho realizado em grau de recurso. Recurso de apelação provido. Trata-se de recurso de apelação interposto em face da r. sentença de fls. 68/72 dos autos, que julgou procedente o pedido inicial, condenando a ré a pagar ao autor a quantia de R$ 748,80 (setecentos e quarenta e oito reais e oitenta centavos), a título de danos materiais, e de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de danos morais. Os honorários advocatícios foram arbitrados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação. O autor recorre, requerendo, em síntese, a majoração do valor da indenização por danos morais e a majoração dos honorários advocatícios. 87. Contrarrazões não apresentadas, conforme certificado às fls. Recurso regularmente processado. Do essencial, é o relatório, ao qual se acresce, para todos os Apelação nº Voto nº m 2

3 fins próprios, o da r. sentença, ora recorrida. Da síntese fática extrai o denominado overbooking: a companhia aérea vendeu a passagem aérea ao autor e, somente no dia do embarque, 23/02/2017, informa que o serviço não seria prestado por ausência de assento disponível. O autor somente embarcou no dia seguinte. O overbooking configura-se quando a companhia aérea vende mais bilhetes que o número total de assentos do voo por presumir que um determinado percentual dos passageiros não se apresentará no balcão de check in. Trata-se de uma patente prática abusiva, na medida em que o transportador aéreo, com o fim de reduzir prejuízos operacionais, repassa indevidamente ao consumidor um ônus ínsito ao risco da sua atividade. Consigne-se que, na situação retratada nos autos, o autor comprou o bilhete de passagem aérea e, de forma efetiva, compareceu ao aeroporto no dia e horário da viagem marcada, e após despachar as bagagens, já na área de embarque, foi informado que poderia embarcar. Não há como negar que o fato em si e sua repercussão causou ao autor, como causaria a qualquer pessoa, um abalo psíquico, atingindo gravemente a sua tranquilidade. O mal causado ao autor foi evidente, causando-lhe desconforto e aborrecimentos que não se enquadram no cotidiano do cidadão comum. Nesse sentido, segue julgado: AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. OVERBOOKING. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL PRESUMIDO. Apelação nº Voto nº m 3

4 PRECEDENTES. DANOS MATERIAIS. OCORRÊNCIA. REEXAME MATÉRIA FÁTICA. INVIABILIDADE. SÚMULA 07/STJ. INCIDÊNCIA. VALOR. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. FIXAÇÃO COM BASE NO CRITÉRIO DA RAZOABILIDADE. 1.O dano moral decorrente de atraso de voo, prescinde de prova, sendo que a responsabilidade de seu causador opera-se, in re ipsa, por força do simples fato da sua violação em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos suportados pelo passageiro.(resp /SP, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), DJe 23/11/2009) 2. A reapreciação por esta Corte das provas que lastrearam o acórdão hostilizado é vedada nesta sede especial, segundo o enunciado nº 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. 3. O valor da indenização por danos morais deve ser fixado com moderação considerando a realidade de cada caso, sendo cabível a intervenção da Corte quando exagerado ou ínfimo, fugindo de qualquer parâmetro razoável, o que não ocorre neste feito. 4.O agravo regimental não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a conclusão alvitrada, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 5.AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (AgRg no Ag /BA, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/10/2011, DJe 07/11/2011 o destaque não consta no original). Assim, o planejamento de uma viagem a outro país, frustrado por conduta deliberada da companhia aérea, certamente gera danos morais cuja reparação impõe a majoração para R$ ,00 (vinte mil reais). Apelação nº Voto nº m 4

5 De destaque que a quantificação dos danos morais deve ter como pressuposto a punição do infrator, de modo a inibir a prática de novos atos lesivos e, de outro lado, proporcionar à vítima uma compensação, satisfatória, pelo dano suportado, sendo a quantia fixada, com base nos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, de acordo com prudente arbítrio do Julgador, evitando-se o enriquecimento sem causa, sem, entretanto fixar um valor irrisório. Registre-se que a condenação merece ser imposta levando-se em conta todos os atos e fatos, bem como eventuais condutas do autor do dano visando a sua respectiva reparação ou sua minimização, pois, desta forma, não ensejará a possibilidade de enriquecimento sem causa de uma das partes em detrimento da outra, sem perder seu caráter punitivo, bem como em efetiva observância aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, ou seja, a finalidade da condenação é compensar o lesado pelo constrangimento indevido suportado e, por outro lado, desestimular o responsável pela ofensa a praticar atos semelhantes no futuro. Nesse sentido:... - O valor da indenização deve ser fixado sem excessos, evitando-se enriquecimento sem causa da parte atingida pelo ato ilícito. Recurso especial provido em parte O valor indenizatório do dano moral foi fixado pelo Tribunal com base na verificação das circunstâncias do caso e atendendo os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Destarte, há de ser mantido o quantum reparatório, eis que fixado em parâmetro razoável, assegurando aos lesados justo ressarcimento, em incorrer em enriquecimento sem causa A fixação do valor da indenização a título de danos 1 STJ REsp nº /MG. 2 STJ - REsp /MG. Apelação nº Voto nº m 5

6 morais deve ter por base os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, levando-se em consideração, ainda, a finalidade de compensar o ofendido pelo constrangimento indevido que lhe foi imposto e, por outro lado, desestimular o responsável pela ofensa a praticar atos semelhantes no futuro. (TJMG Apelação nº /001(1) Rel. Des. Elpídio Donizetti Data de publicação do Acórdão) Por seu turno, os honorários advocatícios devem ser majorados para 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, com alicerce nos parâmetros dispostos nos incisos do 2º do artigo 85 do Código de Processo Civil, inclusive considerando o trabalho realizado pela D. Patrona em grau de recurso, conforme previsto no 11 do mencionado artigo 85. Ante o exposto, nos exatos termos acima lançados, dá-se provimento ao presente recurso para majorar a indenização por danos morais para R$ ,00 (vinte mil reais) acrescidos de correção monetária desde a data do primeiro arbitramento, nos termos da Súmula 362 do STJ, e de juros de mora também desde o arbitramento, conforme fixado na r. sentença. Ainda, os honorários advocatícios são majorados para 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação fixada no presente acórdão. Roberto Mac Cracken Relator Apelação nº Voto nº m 6