Agravo Regimental em Recurso Eleitoral nº 374-30.2012.6.13.0097 (Registro de Candidatura) Procedência: Antônio Dias - MG (97ª Zona Eleitoral - Coronel Fabriciano) Agravante: Adair Lima Agravado: Carlos Roberto Ferreira dos Santos Relator: Juiz Flávio Couto Bernardes Agravo Regimental. Recurso Eleitoral. Deferimento do pedido de registro de candidatura. Eleições 2012. Decisão monocrática. Negativa de seguimento do recurso. Condenação criminal transitada em julgado Crime de porte ilegal de armas. O cumprimento da pena implica restabelecimento dos direitos políticos. A prática de crime que não se encontra no rol da Lei da Ficha de Limpa não atrai a incidência de inelegibilidade. Inexistência no agravo de qualquer alegação inovadora, capaz de ensejar a modificação da decisão monocrática. Agravo regimental a que se nega provimento. Relatório e Voto Trata-se de agravo regimental interposto por Adair Lima em face da decisão monocrática que negou seguimento ao recurso por ele interposto contra a sentença que deferiu o requerimento de registro de candidatura de Carlos Roberto Ferreira dos Santos para o cargo de Vereador nas eleições municipais de 2012. A decisão hostilizada funda-se na inexistência de restrição ao exercício dos direitos políticos. Quanto à suposta inelegibilidade decorrente da prática de crime de porte ilegal de armas, ficou demonstrado que se trata de condenado que cumpriu integralmente a pena imposta e que o referido crime não se insere no rol descrito na Lei da Ficha Limpa como suscetível de incidência de inelegibilidade. Inconformado, o recorrente sustenta que é indubitável que as condutas perpetradas pelo candidato se amoldam em várias hipóteses de atos de improbidade administrativa previstas na Lei nº 8.429/92, dentre elas, os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições.
Afirma ser cabível a incidência de inelegibilidade, pois demonstrado o perfeito enquadramento da situação jurídica do candidato com as hipóteses previstas no art. 1º, I, e, da LC nº 64/90 (...). Acrescenta que os efeitos subjetivos da decisão condenatória criminal transitada em julgado permanecem. É o breve relatório. Voto O recurso é próprio e tempestivo (publicação da decisão monocrática em 22/08/2012 e interposição do recurso em 25/08/2012). Presentes os demais pressupostos de admissibilidade, dele conheço. Pretende o agravante demonstrar que o pretenso candidato não se encontra em pleno gozo dos seus direitos políticos. Entretanto, da análise dos argumentos por ele expendidos, depreendese que são despidos de elementos hábeis ao reconhecimento da existência de restrição à capacidade eleitoral, seja ativa, seja passiva. O cumprimento da pena implica restabelecimento dos direitos políticos. Por outro lado, tratandose de crime que não se insere no rol da Lei da Ficha Limpa, incabível a incidência de inelegibilidade descrita no art. 1º, I, e, da Lei Complementar nº 64/90. Assim, não vislumbrando no agravo qualquer alegação inovadora, capaz de ensejar a modificação da decisão já prolatada, trago-a ao conhecimento dos eminentes pares: Vistos, etc. (...) Decido O recurso é próprio e tempestivo. A sentença foi publicada em 04/08/2012 e o recurso interposto em 07/08/2012, observando-se, portanto, o tríduo legal. Presentes os demais pressupostos de admissibilidade do recurso, dele conheço. Ao requerer o registro de candidatura, incumbe ao interessado apresentar documentos hábeis a comprovar o preenchimento das condições de elegibilidade e, caso não incida hipótese de inelegibilidade, o seu requerimento será deferido, nos termos da Resolução TSE nº 23.373, de 14.12.2011. No caso em tela, o requerimento de registro de candidatura foi objeto de impugnação fundada na existência de condenação criminal pela prática do crime descrito no art. 14 da Lei nº 10.826/03.
Preliminar de cerceamento do direito de defesa, do contraditório e do devido processo legal Pugna o recorrente pelo reconhecimento do cerceamento do direito de defesa, do contraditório e do devido processo legal com a cassação da decisão para que retorne os autos ao Juízo a quo com a finalidade de oportunizar-lhe a produção de prova pleiteada. Da análise dos autos, verifica-se que, após regular instrução, o MM. Juiz Eleitoral julgou improcedente a impugnação e deferiu o requerimento de registro de candidatura, não merecendo prosperar o pedido de reconhecimento de existência de vícios no processo. Denota-se que a afirmação do recorrente é evasiva, pois, nesta oportunidade, sequer esclarece o fundamento pelo qual pretende ver reconhecidos os vícios apontados, tampouco o meio de prova que pretendia produzir e que teria sido cerceado em seu direito de ampla defesa. Ademais, ao examinar a impugnação, verifica-se que o impugnante juntou cópia de documentos com a finalidade de demonstrar a veracidade do alegado e foi silente quanto à pretensão de produzir outras provas que porventura entendia cabíveis. Outrossim, intimado para alegações finais, ainda que fosse admissível pugnar por produção de prova nessa fase, permaneceu silente quanto a este propósito. Com estas considerações, rejeito a preliminar. Mérito Da análise das razões recursais, verifica-se que o recorrente tece considerações pertinentes acerca da aplicação da Lei da Ficha Limpa e da necessidade de se impor uma interpretação que se coaduna com os princípios constitucionais. Como muito bem afirma o recorrente as normas que alteram ou impõem inelegibilidades não têm caráter penal, como também não configuram sanção. Constituem regras de proteção à coletividade, que estabelecem preceitos mínimos para o registro de candidaturas, tendo em mira a preservação dos valores republicanos. Isso porque as condições de elegibilidade bem como as hipóteses de incidência de inelegibilidade devem ser aferidas no ato de requerimento de registro de candidatura, não havendo que se cogitar de violação a dispositivo constitucional a aplicação de norma legal que tem como destinatário a legitimidade das eleições. Entretanto, ao fundamentar o seu apelo, utiliza-se de uma
descrição que não demonstra com clareza a situação fática hábil a ensejar a incidência de hipótese de inelegibilidade, vejamos: As ações civil, criminal, administrativa e eleitoral que condenaram o recorrido se amolda à previsão da Ficha Limpa, visto se tratar de condenação por órgão colegiado em decorrência de uso de verba pública para promoção de sua candidatura à reeleição, o que inviabiliza o deferimento do registro, nos termos do art. 1º da Lei Complementar nº 64/90. Verifica-se, ainda, que insiste em argumentar no sentido de ser imperiosa a aplicação das alíneas e e h do inciso I do art. 1º da Lei Complementar nº 64/90, no presente caso. Entretanto, notória a ausência de elementos suficientes para a compreensão da situação fática que pretende demonstrar ser ensejadora da incidência de inelegibilidade. Quanto à apontada prática do crime tipificado no art. 14 da Lei nº 10.826/2003, o que, segundo o recorrente, implica causa de inelegibilidade descrita na Lei 135/2010, razão não lhe assiste. De fato, consta nos autos comprovação de decisão transitada em julgado e o respectivo cumprimento da pena decorrente da prática de crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Ocorre que a suspensão dos direitos políticos prevista na norma constitucional perdura enquanto durar os efeitos da sentença penal condenatória e atinge a capacidade eleitoral ativa e passiva do eleitor, ou seja, ele não poderá votar e ser votado durante esse interregno. A inelegibilidade descrita na Lei nº 64/90, por sua vez, repercute exclusivamente na capacidade eleitoral passiva e com a nova redação inserida pela LC nº 135/2010 incide desde a condenação por órgão colegiado até o transcurso de 8(oito) anos após o cumprimento da pena. Todavia, como muito bem ponderou o sentenciante, o impugnado, ora recorrido, encontra-se em pleno exercício de seus direitos políticos, eis que a teor da certidão de antecedentes criminais juntada aos autos, o recorrido cumpriu a pena - fls.57/58. Quanto a análise acerca da data de decisão do órgão colegiado bem como da data do cumprimento da pena, para fins de verificar o termo inicial para a contagem do prazo de 8 (oito) anos de inelegibilidade, conclui-se que se torna prejudicada, eis que, no caso em tela, trata-se de condenação por crime que a Lei da Ficha Limpa não previu como hipótese de incidência de inelegibilidade. Destarte, evidencia-se o acerto da sentença hostilizada e a manifesta improcedência do presente apelo, o que dispensa sua
apreciação pela Corte, nos termos do art. 557 do CPC e do art. 69, XXV do Regimento Interno. Com tais considerações, nego seguimento ao recurso, mantendo a decisão que deferiu o requerimento de registro de candidatura. Com essas considerações, nego provimento ao agravo regimental, para MANTER A DECISÃO DE DEFERIMENTO DO REGISTRO DE CANDIDATURA de Carlos Roberto Ferreira dos Santos, para o cargo de Vereador. É como voto. Juiz Flávio Couto Bernardes Relator