AS CONTROVÉRSIAS DA TERCEIRIZAÇÃO 1

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Transcrição:

AS CONTROVÉRSIAS DA TERCEIRIZAÇÃO 1 Gabriel Pistóia 2 Daner dos Santos 3 RESUMO O Direito do Trabalho existe a fim de que se exerça a proteção ao trabalhador, e que se rechace o abuso que o poder econômico capitalista pode exercer sobre o hipossuficiente. Um dos pontos mais controversos do sistema jurídico trabalhista está voltado ao instituto da terceirização. Há décadas se discute um projeto a fim de regulamentá-la, pois atualmente é exercida somente sob a exegese do Poder Judiciário, com fulcro na Súmula 331 do TST. No presente feito, abordar-se-á o modo pelo qual se dá a terceirização atual, e ao que se propõe o Projeto de Lei 4330/ 2004. Palavras- chave: Direito do Trabalho. Terceirização. Súmula 331 TST. PL 4330/ 2004. INTRODUÇÃO Karl Marx já esclarecia que o trabalho é o meio pelo qual o homem satisfaz suas necessidades básicas. Por conta disto, o Direito do Trabalho é um dos ramos mais importantes e significativos da ordem jurídica, afinal dispõe acerca das relações de trabalho e emprego, as quais são o cerne de qualquer sociedade. Atualmente, encontra-se em voga o tema da terceirização, a qual é objeto de pretensão regulamentar, materializada no Projeto de Lei 4330/2004. A partir disso, o presente trabalho dispõe acerca do tema terceirização, a que importa destacar as atividades meio e fim de uma empresa tomadora de serviços. O tema é de relevância significativa ao meio social, tal que possui efeitos sensíveis a qualquer trabalhador. Portanto, torna-se imprescindível o debate acerca de um tema de tamanha importância e imprescindível ao desenvolvimento social. 1 Projeto desenvolvido para fins acadêmicos, de modo que promova um debate sadio sobre o tema em questão. 2 Aluno de Graduação em Direito, pela Faculdade de Direito de Santa Maria FADISMA, cursando atualmente o 5º Semestre. Endereço eletrônico: pistoiagabriel@gmail.com; 3 Aluno de Graduação em Direito, pela Faculdade de Direito de Santa Maria FADISMA, cursando atualmente o 5º Semestre. Aluno de Graduação em Ciências Sociais, pela Universidade Federal de Santa Maria UFSM, cursando atualmente o 3º Semestre. Endereço eletrônico: danersantos@yahoo.com.br.

1. A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL Diante de um mercado tão competitivo e mordaz, verifica-se a necessidade das empresas em buscar meios para criar e sustentar vantagens a fim de reduzir os gastos e potencializar os lucros. Na problemática do ramo trabalhista e empresarial, percebe-se que as empresas estão cada vez mais preocupadas e focadas em investir apenas nas suas atividades principais, ao passo que, a realização de qualquer atividade-meio, ou seja, paralela ao que representa a empresa, acaba sofrendo os efeitos da terceirização. Os reflexos desta prática vêm despertando a atenção de boa por parte dos juristas, sociólogos, empresários e cidadãos. Diante desta realidade o ilustre doutrinador Rogerio Geraldo Da Silva conclui: A terceirização pode e deve ser defendida como um meio de desverticalização, fixação de esforços gerenciais no produto principal, busca de melhoria contínua da qualidade, produtividade e competitividade, que, é claro, considerada a redução de custos. 4 Fixada nestes pilares, passou a ser interessante realizar a terceirização daqueles serviços que poderiam perfeitamente ser realizados por pessoas alheias a relação de trabalho originária. Além de a terceirização ser uma prática usual, o Tribunal Superior do Trabalho redigiu Súmula delimitando e direcionando as peculiaridades e principalmente as atividades passiveis de serem terceirizadas. Estamos diante da Súmula 331 do TST, a qual se extrai a ideia de que as empresas que realizarem a prestação de serviços especializados, quais sejam, vigilância, conservação e limpeza e ligados a atividade-meio, devem ser realmente especializada naquele tipo de serviço e tem que ter capacitação específica, não sendo possível alocação de mão-deobra, ela deve ser especializada. Contudo, a prática da terceirização ainda gera preocupação e inúmeros problemas no ponto de vista político, econômico e social. O que precisa ser esclarecido é que neste contexto 4 DA SILVA, Rogerio Geraldo. A terceirização no Brasil e a Sumula 331 do TST. Revista Âmbito Jurídico.

seguem os vastos números de desemprego, redução salarial, perda de benefícios, sonegação de encargos sociais e entre outras consequências. Portanto, diante de tantas divergências jurisprudenciais e doutrinarias, bem como, a necessidade de se estabelecer uma legislação coerente é que há hoje, em fase de tramitação no congresso nacional, a proposta de lei que visa determinar a miudes a prática e exercício regular da terceirização, possibilitando e discutindo hipótese da terceirização atingir a própria atividade fim das empresas. 2. DO PLC 30/2015 Proceder-se-á a análise do Projeto de Lei da Câmara (PLC) número 30, de 2015 (anteriormente conhecido como PL 4330/2004), mais precisamente em seu inciso I, do artigo 2º, que dispõe: Art. 2º Para os fins desta Lei, consideram se: I - terceirização: a transferência feita pela contratante da execução de parcela de qualquer de suas atividades à contratada para que esta a realize na forma prevista nesta Lei; 5 (Grifos nossos) O embrião legislativo de autoria do empresário e ex- Deputado Federal Sandro Mabel, atualmente tramita no Senado Federal, após ser aprovado pela Câmara dos Deputados, e aguarda inclusão na pauta do dia. O inciso aludido procede à definição de terceirização, para os fins da Lei, o que permite a terceirização de qualquer atividade da empresa, (leia-se atividade- meio e atividade- fim). Importante ressaltar o que Sérgio Pinto Martins, ilustre jurista, define como terceirização: Consiste a terceirização na possibilidade de contratar terceiro para realização de atividades que não constituem o objeto principal da empresa (2003, p. 23) 6. Bem como Maurício Godinho Delgado, nobre jurista, nos define terceirização: Para o Direito do Trabalho terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia a relação econômica de trabalho da relação justrabalhista que lhe seria correspondente. Por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo produtivo do 5 BRASIL. Projeto de Lei 4330/ 2004. Dispõe sobre os contratos de terceirização e as relações de trabalho dela decorrentes. Disponível em: http://www.senado.leg.br/atividade/materia/consulta.asp?str_tipo=plc&txt_num=30&txt_ano=2015 &Tipo_Cons=6&IND_COMPL=&FlagTot=1. 6 MARTINS, Sérgio Pinto. A Terceirização e o Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas S.A., 2003. P. 23.

tomador de serviços sem que se estendam a este os laços justrabalhistas, que se preservam fixados com uma entidade interveniente 7 Uma vez definido o conceito de terceirização, passar-se-á para a segregação de atividades meio, e fim. Para Sérgio Pinto Martins (2003), entende-se como atividade- meio de uma empresa, todas aquelas funções acessórias ao seu funcionamento, ou seja, as quais podem ser desempenhadas por terceiros, para que se possibilite uma concentração maior em sua atividade- fim. Por esta última, o mesmo autor nos estabelece que o fim de uma empresa, é aquela atividade a qual ela se propõe a realizar serviços, ou seja, é a função inerente ao desenvolvimento econômico da empresa, isto é, a atividade fim de uma escola é a promoção da educação. Sérgio Pinto Martins (2003 p. 25) nos estabelece uma divisão de possibilidades de terceirização em três estágios, quais sejam: inicial, onde se terceiriza as atividades acessórias de uma empresa, ou seja, a atividade meio, como limpeza e vigilância; intermediário, onde se terceiriza atividades indiretamente ligadas a atividade- fim da empresa, como por exemplo, a manutenção de máquinas; e avançado, onde se terceiriza atividades diretamente ligadas ao fim a que a empresa se destina. Quanto à terceirização avançada, ou da atividade- fim, Martins (2003 p. 41) afirma, ipsis litteris, que: Só deveria haver transferência para terceiros de atividades subsidiárias, atividades- meio da empresa, como, v.g., manutenção, limpeza, conservação, vigilância, publicidade, alimentação de empregados, contabilidade, etc. Com a terceirização da atividade- fim do empreendimento, a empresa não estaria prestando serviços, mas fazendo arrendamento do negócio. 8 (Grifo nosso) Doravante este fator contrário a terceirização da atividade- fim, há também, como nos elucida Ricardo Antunes (2013), exímio sociólogo do trabalho, e professor titular da Universidade de Campinas (UNICAMP), a diminuição da atuação sindical; o solapamento de direitos trabalhistas; o objetivo de maximização dos lucros, em detrimento dos direitos sociais e individuais do trabalhador; a precarização; e o aumento da desigualdade social. 9 7 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTR, 2002. P. 417. 8 MARTINS, 2003, p. 41. 9 ANTUNES, Ricardo; DRUCK, Graça. A terceirização como Regra? Revista TST. Brasília, v. 79, nº 4, out/dez 2013.

CONCLUSÕES FINAIS O fenômeno da terceirização surgiu para especializar os serviços empresariais, possibilitando maior qualidade aliado com redução de custos. No entanto, a falta de regulamentação do instituto tem permitido que empresas sejam criadas com o único intuito de reduzir o custo, através da fuga do pagamento de encargos sociais aos empregados, respaldando-se na responsabilidade subsidiária para fins de reclamatórias trabalhistas. Por mais que seja eficaz a terceirização como manejo administrativo, e catalisador de serviços, é certo que quanto mais se terceiriza, mais os direitos dos trabalhadores são suprimidos, e os princípios basilares do Direito do Trabalho são desrespeitados por empresários, os quais se sobrepõem aos trabalhadores, que por sua vez são submetidos às condições precárias por temerem o desemprego, e a competitividade do mercado de trabalho. O único instrumento regulamentador da questão é a Súmula 331 do TST, que passou a considerar a legalidade da terceirização de mão-de-obra, desde que esta não atinja a atividadefim da empresa. O impasse surge porque não há consenso doutrinário sobre o que seriam tais atividades, dificultando a aplicação da regra, e estimulando a contratação de empresas prestadoras, apenas para reduzir custos a despeito dos trabalhadores. Certo é que o legislador não pode permanecer inerte diante dessa situação. E mesmo assim o que se verifica é que os projetos de lei tramitam no Congresso Nacional há vários anos sem que nenhuma mudança significativa ocorresse em termos de legislação. E a inércia do legislativo infelizmente teve que ser suprida pelo Judiciário, que lida com a questão baseado no princípio geral do Direito do Trabalho, qual seja a hipossuficiência do trabalhador. Percebe-se que apesar da pressão do desemprego, e da busca incessante da iniciativa privada pelo lucro a qualquer custo, a fiscalização do trabalho e a justiça do trabalho estão empenhadas numa luta para preservar os direitos dos trabalhadores. Porém é preciso lembrar que o Poder Judiciário deve ser provocado pelos empregados para que se possa coibir o abuso da ausência de regulamentação para utilizar a terceirização na forma ilícita. O que está em debate não é a regulamentação da terceirização em si, mas sim a maneira pela qual se impõe, qual seja, de maneira torpe e injusta.

REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo; DRUCK, Graça. A terceirização como Regra? Revista TST. Brasília, v. 79, nº 4, out/dez 2013. BRASIL. Projeto de Lei 4330/ 2004. Dispõe sobre os contratos de terceirização e as relações de trabalho dela decorrentes. Disponível em: http://www.senado.leg.br/atividade/materia/consulta.asp?str_tipo=plc&txt_num=30 &TXT_ANO=2015&Tipo_Cons=6&IND_COMPL=&FlagTot=1. DA SILVA, Rogerio Geraldo. A terceirização no Brasil e a Súmula 331 do TST. Revista Âmbito Jurídico. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTR, 2002. P. 417. MARTINS, Sérgio Pinto. A Terceirização e o Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas S.A., 2003. SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: Marx, Durkheim, e Weber. 2ª Ed. Petrópolis. Vozes, 2010.