CENTRO DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS E RESPOSTA EM VIGILÂNCIA EM SAÚDE Nota Técnica nº 13 LEISHIMANIOSE VICERAL Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Departamento de Epidemiologia/ Diretoria de Vigilância em Saúde Secretaria Municipal de Saúde 1
PREFEITURA DE GOIÂNIA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA CENTRO DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS E RESPOSTA EM VIGILÂNCIA EM SAÚDE. NOTA TÉCNICA nº. 013/2011/CIEVS/DE/DVS/SMS Assunto: Orienta sobre as ações de vigilância, prevenção e controle de Leishmaniose Visceral Canina (LVC) na Região Leste de Goiânia-GO e que deverão ser instituídas em localidades com transmissão animal. LEISHIMANIOSE VICERAL A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose transmitida ao homem pela picada de fêmeas do inseto vetor (flebotomíneo) infectado, tendo como reservatórios animais silvestres e o cão. É uma doença de evolução crônica, com acometimento sistêmico e, se não tratada, pode levar ao óbito até 90% dos casos humanos (BRASIL, 2010). Embora classificada inicialmente como doença de caráter eminentemente rural, os desmatamentos e os processos migratórios somados ao crescimento urbano desordenado, têm sido apontados como os principais determinantes para a expansão e alteração do perfil epidemiológico da LV no Brasil, facilitando a periurbanização e urbanização do vetor em municípios de médio e grande porte. Na década de 90, 89% dos casos se concentravam na região Nordeste e estavam distribuídos em quatro regiões brasileiras. Na última década, 53% dos casos foram registrados na região Nordeste, sendo que, a partir de 2009, a doença passou a ocorrer em todas as regiões do país, observando-se assim uma mudança no perfil predominantemente rural, com concentração de casos no Nordeste, para expansão e urbanização em outras regiões. É importante ressaltar que a principal condição de transmissibilidade nesses novos ambientes está Fonte: SVS/MS relacionada à adaptação do vetor Lutzomyia longipalpis ao peridomicílio, favorecida por fatores Figura 1. Estratificação dos casos de leishmaniose visceral no Brasil, segundo média de casos. Brasil, ainda desconhecidos e pela presença do cão doméstico. 2005-2007 1
No Brasil, a leishmaniose visceral (LV) é considerada um problema de saúde pública, tendo em vista sua magnitude e expansão geográfica. A doença está distribuída em 21 das 27 unidades federadas e, nos últimos dez anos, a média anual foi de 3.379 casos correspondendo a uma incidência de 1,9 casos por 100.000 habitantes. A letalidade aumentou de 3,4% em 1994, para 5,5% em 2008, o que representou um incremento de 1,8%. A letalidade média nos últimos 4 (quatro) anos foi de 6,3%. A doença é mais freqüente em menores de 10 anos (58%) e o sexo masculino é proporcionalmente o mais afetado (61%) (BRASIL, 2008). O estado de Goiás notificou entre 2001 a 2008 um total de 456 casos com taxa de positividade de 38,3%, uma média anual de 57 casos e letalidade de 12% para o período (DATASUS, 2011). Atualmente, existe a confirmação de casos caninos e/ou humanos em aproximadamente 20% dos municípios de Goiás. O município de Goiânia, até o ano de 2011, era considerado área indene para LV humana e canina. Na última década 85 casos suspeitos de LV em humanos foram notificados no SINAN e 37 foram confirmados por laboratório, sendo todos os casos importados de outras unidades federadas. Em 2011, 5 casos entraram com hipótese diagnóstica de LV, com índice de positividade de 80% e um óbito (SINAN NET, 2011). No entanto, no mês de março de 2011 foram encaminhadas ao Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental (DVSA) duas amostras sorológicas de animais, da Região Leste do município, para realização de sorologia para Leishmaniose Visceral Canina (LVC). A partir da suspeita, foi iniciada a investigação epidemiológica com coleta de amostras para confirmação diagnóstica nos Laboratórios de Referência do Ministério da Saúde (FIOCRUZ e IPTSP-UFG), as quais confirmaram positividade para LVC. Concomitantemente à investigação dos casos caninos foram realizadas visitas técnicas ao local para vigilância entomológica, sendo constatada pela primeira vez no município a presença do vetor Lutzomyia longipalpis, principal vetor da Leishmaniose Visceral Americana. Embora a região não tenha comprovado transmissão de doenças envolvendo estes vetores, a atenção a eles deve ser dada, pois o local reúne condições favoráveis à disseminação de doenças infecto-parasitária, destacando-se as espécies Lutzomyia longipalpis, com 35,69% dos espécimes capturados e Lutzomyia whimanit, com 64,31% dos espécimes. A partir dessa constatação, de acordo com o Programa Nacional de Vigilância e Controle da LV, o município de Goiânia passa a ser considerado área com transmissão de leishmaniose visceral canina, devendo ser desencadeadas todas as ações preconizadas no Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose (Ministério da Saúde), visando principalmente a prevenção da ocorrência de casos e óbitos humanos, bem como a disseminação desta doença de forma endêmica no nosso município. Para o enfrentamento dessa nova situação epidemiológica a área técnica responsável na SMS fez as seguintes recomendações: 2
Referente aos humanos: Sensibilização da rede de assistência para detecção precoce de casos humanos suspeitos, definindo a autoctonia; Sensibilização da população por meio de medidas educativas voltadas à prevenção da doença. Estruturação da rede de saúde para diagnóstico clínico, laboratorial e tratamento precoce dos casos humanos suspeitos; Alertar e capacitar profissionais de saúde para detecção, diagnóstico e tratamento adequado e precoce dos casos; Realizar busca ativa de casos suspeitos; Sensibilização para o monitoramento e investigação de todos os possíveis óbitos suspeitos; Monitoramento da tendência da endemia e indicação de medidas de prevenção e controle de acordo com a situação epidemiológica; Elaboração de nota técnica sobre o agravo para os profissionais de saúde e folderes educativos para a população em geral. Referente ao reservatório (Cão): Inquérito sorológico canino censitário na região do foco; Recomendação imediata do uso de coleiras específicas nos cães (coleiras com Deltametrina); Implantação da notificação compulsória de casos caninos suspeitos atendidos em clínicas veterinárias particulares/privadas do município; Realização de eutanásia em 100% dos cães sororreagentes e/ou com sinais clínicos compatíveis com LV; Realização de inquérito canino amostral, a fim de avaliar a prevalência canina; Referente ao vetor: Realização de levantamento entomológico; Programação de dois ciclos de tratamento com inseticida de ação residual nos imóveis que estão dentro das áreas de transmissão intensa e moderada. O primeiro deve ser realizado no início do período favorável ao aumento da densidade do vetor e o segundo de três a quatro meses após o início do ciclo anterior. Ações de Educação em Saúde: Divulgação à população sobre a ocorrência da LV na região, alertando sobre os sinais 3
clínicos e os serviços para diagnóstico e tratamento; Capacitação das equipes, englobando conhecimento técnico, e a prática profissional em relação à doença e aos doentes; Adoção de medidas preventivas considerando o conhecimento da doença, atitudes e práticas da população, relacionada às condições de vida e trabalho das pessoas; Desenvolvimento de atividades de educação em saúde junto à comunidade; Estabelecimento de parcerias buscando a integração interinstitucional. ATENÇÃO: PROFISSIONAIS DE SAÚDE Definição de Caso humano suspeito Todo indivíduo proveniente de área com ocorrência de transmissão, com febre e esplenomegalia ou todo indivíduo de área sem ocorrência de transmissão, com febre e esplenomegalia, desde que descartados os diagnósticos diferenciais mais frequentes na região. De acordo com a Portaria SVS/MS Nº. 104 de 25 de janeiro de 2011, todo caso de LV é de notificação obrigatória às autoridades locais de saúde. Deve-se realizar a investigação epidemiológica em até 48 horas após a notificação, avaliando a necessidade de adoção de medidas de controle pertinentes. A investigação deverá ser encerrada até 60 dias após a notificação. A unidade de saúde notificadora deve utilizar a ficha de notificação/investigação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação Sinan encaminhando-a para ser processada. As condutas de investigação epidemiológica dos casos suspeitos e óbitos estão descritas no Guia de Vigilância Epidemiológica, 7ª Ed, Caderno 11 e pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve_7ed_web_atual_lv.pdf A notificação de caso humano suspeito de LV deverá ser imediata e feita por profissional ou serviço de saúde ao Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde através dos seguintes contatos: I. Disque-Notifica Horário comercial (7h às 18h): (62) 35243389/ Fax: (62)352463331 (Deve conter a seguinte informação: Aos cuidados do CIEVS ) Horário não comercial, finais de semana e feriados: (62)84021922 II. E-Notifica cievsgoiânia@gmail.com III. Formulário eletrônico (FormSUS) : http://formsus.datasus.gov.br/site/formulario.php?id_aplicacao=6416 4