UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEAS



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Lev Semenovich Vygotsky, nasce em 17 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, em Bielarus. Morre em 11 de junho de 1934.

Transcrição:

1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEAS FERNANDO FIRMINO DA SILVA JORNALISMO MÓVEL DIGITAL: USO DAS TECNOLOGIAS MÓVEIS DIGITAIS E A RECONFIGURAÇÃO DAS ROTINAS DE PRODUÇÃO DA REPORTAGEM DE CAMPO Salvador 2013

2 FERNANDO FIRMINO DA SILVA JORNALISMO MÓVEL DIGITAL: USO DAS TECNOLOGIAS MÓVEIS DIGITAIS E A RECONFIGURAÇÃO DAS ROTINAS DE PRODUÇÃO DA REPORTAGEM DE CAMPO Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Comunicação. Orientador: Prof. Dr. André Luiz Martins Lemos. Salvador 2013

3 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UEPB!!!!!!!!!!!!! S586j Silva, Fernando Firmino da. Jornalismo móvel digital : uso das tecnologias móveis digitais e a reconfiguração das rotinas de produção da reportagem de campo. [manuscrito] / Fernando Firmino da Silva. 2013. 408 f. : il. color. Digitado. Tese (Doutorado Comunicação) Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas, 2013. Orientação: Prof. Dr. André Luiz Martins Lemos, Departamento de Comunicação. 1. Tecnologias móveis. 2. Jornalismo móvel. 3. Comunicação. I. Título. 21. ed. CDD 070

! 4

5!! À Adriana, minha esposa, por ter dividido comigo a aventura de caminhos inimagináveis. Heitor, meu filho, por me fazer sorrir e voltar a olhar para o futuro. Tereza e Firmino, meus pais, por terem me ensinado dignidade e perseverança. Aos meus irmãos e irmãs pela compreensão por minha ausência com a vida nômade. Avani Lopes (in memorian), amiga e professora, pelo incentivo e fé.

6 AGRADECIMENTOS A presente tese é resultado da inquietação pelo objeto em estudo em torno das tecnologias móveis digitais e suas manifestações na comunicação, mais especificamente no campo jornalístico. Como quase toda tese, o período de pesquisa foi marcado por descobertas, por aflições, alegrias e tristezas, naturais de um percurso cansativo, mas estimulante. Até chegar a esse momento de exposição dos resultados para a comunidade acadêmica uma série de sentimentos confluiram tendo em vista que uma tese é cheia de inconclusões, dúvidas que ainda pairam e que indicam a necessidade de outras explorações pelo fenômeno em curso. As alegrias e tristezas marcaram esse rico período doutoral, de forma que servirão como processo de maturidade que contribuirão para a vida acadêmica e pessoal deste pesquisador, que viveu intervalos de certezas e de inseguranças. Neste horizonte, é importante salientar que nenhuma pesquisa emerge apenas da capacidade individual, de resultados únicos. Portanto, devo reconhecer a contribuição efetiva (para parafrasear Bruno Latour) de diversos actantes movendo o processo de feitura da tese. Agradeço, de uma forma especial, ao meu orientador André Lemos pela confiança no meu trabalho ao longo dessa construção compreendendo os momentos difíceis além do possível, incentivando permanentemente e compartilhando seu conhecimento como professor e pesquisador. Uma orientação que me permitiu uma oportunidade única de vivenciar um rico aprendizado. Obrigado pela orientação movida por efetivas conexões que permitiu a mobilidade necessária para o movimento em direção ao desenvolvimento desta tese. Os momentos de interação e debates no Grupo de Pesquisa em Cibercidades foram enriquecedores e decisivos para esse trabalho acadêmico, permeado de intervenções pertinentes oriundas das discussões estabelecidas no Grupo. Sou extremamente grato por essa oportunidade. Muito obrigado, André, por tudo e, principalmente, por não abandonar o velejador à deriva. Ao professor Marcos Palacios, que desde o início do doutorado abriu espaço no seu Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online e nos convênios vinculados ao mesmo de forma acolhedora e atenciosa possibilitando uma efetiva interação e um espaço para o contato com referências do jornalismo digital fundamentais para a tese. Marcos Palacios foi um interlocutor essencial nas questões do jornalismo digital e das especificidades da área com indicações pertinentes de referências. Aos professores da banca examinadora, pelas contribuições que vão nortear a nossa carreira acadêmica além do trabalho agora exposto. Aos professores Claudio Paiva (UFPB) e Roberto Faustino (UEPB) pela imensa ajuda nas discussões do projeto de pesquisa, nas intervenções teóricas e conceituais e pela amizade desfrutada antes, durante e de forma contínua a esse doutoramento. É uma convivência nutrida por admiração por ambos como amigos e professores. Ao amigo professor José Afonso Jr. (UFPE) pela ajuda e discussões pertinentes no Recife, em Salvador e nos eventos. Além da imprescindível intermediação de contatos junto ao Sistema Jornal do Commercio de Comunicação visando autorização para a pesquisa de campo na redação do JC Online. Muito obrigado.

7 Aos colegas do Programa e dos Grupos de Pesquisa, Macello Medeiros, Adelino Mont Alverne, Beatriz Ribas, Thiago Falcão, Luiz Adolfo Andrade, Débora Lopez e Marcelo Freire, Mônica Paz, Renata Baldanza, André Holanda, Leonardo Branco, Diego Brotas, Paulo Victor, Luciana Ferreira, Rodrigo Cunha, entre tantos outros. Aos queridos professores do programa, Graciela Natansohn, Malu Fonte, Jeder Janotti, Othon Jambeiro, Wilson Gomes, Itânia Gomes, José Carlos Ribeiro, Lia Seixas, Suzana Barbosa, Giovandro Ferreira, Marcos Palacios. Às queridas professoras Suzana Barbosa e Lia Seixas do Laboratório de Jornalismo Convergente da UFBA e demais colegas pelo espaço de discussões e de experimentações. Ao coordenador do Poscom, Edson Dalmonte, pela atenção dispensada durante todo o processo. À professora Carmem Jacob, pela forma sempre atenciosa no atendimento e as contribuições à pesquisa durante a disciplina de Seminários Avançados. Um momento ímpar de discussões dos projetos e reconstrução de suas estratégias, além da compreensão e incentivo durante o período enquanto coordenadora do Poscom. À secretária do curso Michelle, pela atenção e pronto atendimento às solicitações de forma gentil e eficiente e aos demais funcionários da FACOM/UFBA. Aos grupos de comunicação que permitiram o acesso às redações e às equipes jornalísticas para a realização da pesquisa, respectivamente JC Online, A Tarde Online e Extra Online. Em particular, aos repórteres, editores, fotógrafos, executivos e demais profissionais, com os quais interagi ou entrevistei para a tese. Muito obrigado pelos momentos sempre atenciosos e colaborativos. À querida professora e amiga Socorro Palitó, pelas primeiras oportunidades na vida docente. Sem dúvida um divisor de águas na minha vida profissional. À querida professora e amiga Águeda Cabral pelos caminhos cruzados nos projetos e na vida acadêmica. Juntos desde o mestrado nas aventuras do mundo acadêmico e das parcerias. Uma grande amiga. Ao amigo e professor Leonardo Alves pelo incentivo e a confiança. Sempre um pensamento positivo. Os momentos de interação pessoal e profissional e de apoios em momentos difíceis me ajudaram a caminhar pelas trilhas. Aos professores do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, Arão de Azevedo, Leonardo Alves, Águeda Miranda Cabral, Luiz Custódio, Orlando Ângelo, Robéria Nádia, Cássia Lobão, Ingrid Fechine, Luiz Adriano, Cássia Lobão, Patricia Rios, Goretti Sampaio, Gisele Sampaio, Moisés Silva, Salette Vidal, Fátima Luna, Luiz Aguiar, Rômulo Azevedo, Agda Aquino, Carlos Azevedo, Antônio Simões, Verônica Oliveira, Michele Wadja, Ada Guedes, Adriana Alves e demais companheiros de trabalho. À Universidade Estadual da Paraíba pelo apoio incondicional e permanente à minha qualificação no doutorado através da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

8 À Direção do Centro de Ciências Sociais Aplicadas CCSA da Universidade Estadual da Paraíba. Ao Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba (coordenação e chefia) e todos os demais professores, servidores técnicos-administrativos e alunos, especialmente os participantes do Projeto Repórter Junino. Ao CNPq pelo apoio imprescindível com bolsa de pesquisa que permitiu a tranquilidade necessária e o fomento para o desenvolvimento de todas as etapas dessa pesquisa. Ao amigo e parceiro Demétrio de Azeredo Sóster (UNISC) em Santa Cruz do Sul). Ao amigo Macello Medeiros pelas inúmeras conversas e compartilhamento de ideias em viagens, em encontros sociais e durante os debates no Grupo de Pesquisa em Cibercidade. Agradeço, igualmente, as associações acadêmico-científicas como SBPjor, Intercom, Compós e ABCiber pelas oportunidades de discussão de trabalhos que contribuiram com essa tese. Ao amigo, Walter Teixeira Lima Junior, e todos os demais colegas da Rede Jortec Rede de Pesquisa Aplicada Jornalismo e Tecnologias Digitais. Aos amigos e ouvintes da Rádio Vale do Capibaribe AM, rádio Cariri AM e Campina Grande FM. Ao Instituto dos Cegos de Campina Grande PB por me fazer ver que a visão vai além do enxergar. Agradecimento especial aos meus pais pela presença na minha existência: minha mãe Tereza, que costurou as dificuldades com o pé no chão e sua fé em dias melhores, num tempo em que olhar para o futuro era apenas viver o presente; ao meu pai Firmino, que aos 98 anos, continua trilhando a vida com seu olhar particular como fazia pelas linhas férreas onde trabalhou seguindo o seu caminho de trilhos. Ao Renato Russo pela companhia musical nas madrugadas solitárias: Quando tudo está perdido/sempre existe um caminho/quando tudo está perdido/sempre existe uma luz.

These converging mobile technologies appear to be transforming many aspects of economics and social life that are in some sense on the move or away from home. In a mobile world there are extensive and intricate connections between physical travel and modes of communication and these form new fluidities and are often difficult to stabilize. Physical changes appear to be de-materializing connections, as people, machines, images, information, power, Money, ideas and dangers are on the move, making and remaking connections at often rapid speed around the world (JOHN URRY, 2007) 9

10 SILVA, Fernando Firmino da. Jornalismo móvel digital: o uso das tecnologias móveis digitais e a reconfiguração das rotinas de produção da reportagem de campo. 2013. 408 f. (Tese Doutorado). Faculdade de Comunicação Social. Universidade Federal da Bahia UFBA. Salvador, 2013. RESUMO Investiga-se na tese as implicações das tecnologias móveis digitais conectadas na prática jornalística com abordagem sobre a reportagem de campo. O problema de pesquisa, em torno das rotinas produtivas, compreende exploração do conceito de jornalismo móvel digital em combinação com convergência jornalística e mobilidade. Com a produção jornalística capitaneada por meio do território informacional baseado nas tecnologias sem fio (3G, 4G, Wi-Fi, Bluetooth, WiMax) e nos dispositivos móveis digitais como smartphones, tablets, celulares, notebooks, câmeras digitais, entre outros equipamentos portáteis, novas configurações emergem no agenciamento da apuração, produção e distribuição de conteúdos. No contexto, as redações integradas com perspectiva multiplataforma se utilizam da prática do jornalismo móvel no sentido de potencializar a mobilidade, a portabilidade e a ubiquidade. Para compreender essa conjuntura remetida às rotinas de produção no jornalismo empreendese uma reflexão teórico-conceitual e um trabalho de campo explorando três estudos de caso empíricos: Extra Online, JC Online e A Tarde Online. Com abordagem centrada em método qualitativo para estudos de caso, a pesquisa elegeu como técnicas de coleta de dados a observação participante de caráter etnográfico e a realização de entrevistas qualitativas de característica semiestruturada para observar e analisar nesses meios as apropriações das tecnologias móveis no fazer jornalístico. Durante 60 dias (20 em cada caso) foram observadas as rotinas de produção dentro das redações através dos fluxos de produção internos e, em campo, com os repórteres em ação, além da realização de 30 entrevistas com repórteres, editores e diretores dos três casos. Com essa iniciativa, pode-se inferir as características norteadoras do trabalho jornalístico com a adoção de tecnologias móveis digitais perpassando o processo de produção permitindo, assim, definir e mapear as mudanças em curso e suas reais implicações e apropriações. Os resultados da pesquisa indicam alterações nas rotinas produtivas em termos de acúmulo de funções, novas demandas por atualizações contínuas do campo e níveis de comprometimento da produção da notícia em condições de mobilidade e, ao mesmo tempo, aspectos potencializadores do jornalismo móvel com processos de reconfiguração da reportagem de campo. Palavras-Chave: tecnologias móveis, mobilidade, rotinas produtivas, comunicação, jornalismo, cibercultura, convergência, redação integrada, jornalismo móvel.

11 SILVA, Fernando Firmino da. Digital Mobile Journalism: the use of digital mobile technologies and the reconfiguration of field reporting production routines. 2013. 408 pp. (Doctorate thesis). Faculty of Social Communication. Federal University of Bahia UFBA. Salvador, 2013. ABSTRACT The implications of connected digital mobile technologies in journalistic practice, with an approach towards field reporting, are investigated in this thesis. The research subject, which is productive routines, comprises exploring the concept of digital mobile journalism, combined with journalistic convergence and mobility. With journalistic production, captained by informational territory, based on wireless technologies (3G, 4G, Wi-Fi, Bluetooth and WiMax) and digital mobile devices, such as smartphones, tablets, mobile phones, notebooks, digital cameras and other handheld equipment, new configurations emerge to handle newsgathering, production and content distribution. Integrated newsroom, with a multi-platform perspective, make use of mobile journalism in the sense of empowering mobility, portability and ubiquity within this context. A theoretical-conceptual reflection and field work exploring three empirical case studies: Extra Online, JC Online and A Tarde Online were undertaken in order to understand the situation related to production routines in journalism. With an approach centred on the qualitative method for case studies, the research used participative observation of an ethnographic nature and qualitative, semi-structured interviews as data collection techniques, in order to observe and analyze appropriations of mobile technologies in journalistic practice in these environments. The newsrooms production routines were observed for a 60 day period (20 for each case), via the internal production flow, with reporters working in the field, and through 30 interviews with reporters, editors and directors for the three cases. The guiding characteristics of journalistic work with the adoption of digital mobile technologies spanning the production process could be inferred with this initiative, therefore enabling a definition and mapping of the changes taking place and their real implications and appropriations. The research results indicate alterations in productive routines, in terms of accumulated functions, new demands for continuous field updates and levels of commitment to produce news using this mobile capacity and, at the same time, the magnifying aspects of mobile journalism with the reconfiguration processes in field reporting. Keywords: mobile technologies, mobility, productive routines. communication, journalism, cyberculture, convergence, integrated newsroom, mobile journalism.

12 LISTAS DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Internet e o jornalismo digital no centro do processo de convergência 62 Figura 2 Modelo de convergência na indústria da informação 67 Figura 3 Modelo de redação no século XXI 69 Figura 4 Modelos de redações convergentes 71 Figura 5 Redação integrada The Daily Telegraph 74 Figura 6 Redação integrada de O Globo inaugurada em nov. de 2009 75 Figura 7 Evolução das atividades realizadas por jornalistas da imprensa 80 Figura 8 Kit para a prática de jornalismo móvel dos correspondentes da Reuters 102 Quadro 1 Nomenclatura para jornalismo em mobilidade 107 Quadro 2 Cinco fases do desenvolvimento do jornalismo móvel contemporâneo 109 Figura 9 Mobile Journalist Toolkit usado em pesquisa experimental 113 Figura 10 Plataforma NewsMate para o trabalho remoto do jornalista móvel 115 Figura 11 Repórter se comunicando com redação com tecnologia do PDA 116 Figura 12 Kit de jornalista móvel NewsGear 117 Figura 13 Projeto Locast de Porto Alegre: transmissão ao vivo e geolocalização 119 Quadro 3 Potencialidades e aplicações vinculadas ao jornalismo móvel 126 Figura 14 Equipe Bambuser comparando transmissão por celular e microondas 128 Quadro 4 Fluxo de produção no jornalismo móvel com tecnologias móveis 129 Figura 15 Três dimensões para o ecossistema do jornalismo móvel 130 Figura 16 Repórteres sem redação física baseados na mobilidade e portabilidade 131 Figura 17 CNN utilizava videofone no Afeganistão e no Iraque para transmissão 133 Figura 18 Repórter da TV Globo News ao vivo por celular 135 Figura 19 Repórteres do telejornalismo da Globo utilizando smartphone 135 Figura 20 Smartphones na produção da notícia e estudos acadêmicos 138 Figura 21 Foursquare e a geolocalização para o jornalismo 139 Figura 22 A primeira imagem do acidente do avião no Rio Hudson via iphone 141 Figura 23 LocastPOA alia produção jornalística instatânea com geolocalização 143 Figura 24 Mapa visualiza os repórteres cidadãos que contribuem com o projeto 150 Figura 25 Transmissão ao vivo em rede no jornalismo da TV Band através de 3G 155 Figura 26 Notícia Celular da TV Jornal com smartphone 3G 156 Figura 27 Zero Hora transmitindo ao vivo de smartphone Android e 3G 157 Figura 28 Transmissão ao vivo na RTP com aplicação Qik 158

13 Figura 29 Unidade móvel da The Star com tecnologias móveis 159 Figura 30 Urblog, blog móvel da revista Época 160 Figura 31 Primeira transmissão do Jornal NH online com Qik e 3G 161 Figura 32 Primeira série de reportagem brasileira gravada num celular 162 Figura 33 Projeto de jornalismo móvel da Reuters com smartphone em entrevista 163 Tabela 1 Brasil lidera em tráfego de dados oriundos de tablets 166 Figura 34 Pesquisa revela que usuários de celular utilizam mais conexão 3G e 4G 166 Figura 35 Consumo de notícias em tablets e smartphones 167 Figura 36 Sistemas de mobilidade e as dimensões no jornalismo 171 Figura 37 Relacionamento entre a mobilidade virtual e mobilidade física 172 Figura 38 Esquema para conceituar mobilidade 178 Figura 39 Transições nos conceitos de mobilidade 183 Figura 40 Evolução das conexões de telefonia móvel até o 3G 186 Gráfico 1 Quase 7 bilhões de habilitações de telefone móvel no mundo 190 Figura 41 Arqueologia das tecnologias móveis e a prática do jornalismo móvel 195 Quadro 4 Programação da pesquisa de campo na visita às redações 201 Quadro 5 Modelo de protocolo para análise de tecnologias móveis nas redações 206 Figura 42 Menu do JC Online e a linkagem para os outros meios do SJCC 233 Figura 43 Home do JC Online do Recife do dia 03/11/2010 233 Figura 44 Home do NE10 do Recife do dia 20/03/2011 234 Figura 45 Menu do A Tarde Online 236 Figura 46 Home do A Tarde Online de Salvador dia 03/11/2010 236 Figura 47 Home do Extra Online do Rio de Janeiro do dia 03/11/2010 238 Figura 48 Home do Extra Online do Rio de Janeiro do dia 15/01/2011 239 Figura 49 Redação integrada do JC Online do Recife 241 Figura 50 Redação integrada do A Tarde Online de Salvador 242 Figura 51 Redação integrada do Extra Online do Rio de Janeiro 243 Quadro 6 Grau de integração nas redações em aspectos multidimensionais 243 Quadro 7 Interação entre redações e o fluxo de produção para multiplataformas 247 Figura 52 Gerenciador do processo de apuração e de distribuição de conteúdos 249 Figura 53 Redação integrada: estrutura física redacional e para o fluxo de produção 250 Figura 54 Relacionamento entre redação móvel e física na estrutura 258 Figura 55 Padrões de comportamento no uso de tecnologias móveis por jornalistas 259 Quadro 8 Classificação de atividades, tecnologias e política de remuneração 260

14 Figura 56 Estúdio de edição para a demanda do Repórter 3G 264 Quadro 9 Repórteres do Extra e a rotina de produção com tecnologias móveis 265 Figura 57 Narrativa em tempo real com Cover it Live 268 Figura 58 Repórter fazendo captura de imagens e vídeos na rua 269 Figura 59 Transmissão ao vivo do Complexo do Alemão por Twitcam 271 Figura 60 Chamada no Twitter para transmissão do Complexo do Alemão 271 Figura 61 Repórter utiliza notebook para apurar e digitar matérias em movimento 274 Figura 62 Transmissão ao vivo pelo 12 Seconds com notícias de greve no Rio 277 Figura 63 Entrevista pelo celular via Kyte em cobertura esportiva 280 Figura 64 Transmissões por celular no JC Online 281 Figura 65 Projeto Notícia Celular da TV Jornal com telefone móvel 3G 283 Figura 66 Cobertura ao vivo com smartphone 3G e aplicativos Qik e Cover it Live 284 Quadro 10 Repórteres do JC Online e a rotina de produção com tecnologias móveis 285 Figura 67 Repórter usa smartphone para a captura de videos e imagens 286 Figura 68 Transmissão ao vivo por celular da Parada da Diversidade 287 Figura 69 JC Online com a transmissão ao vivo por celular e Kyte da Regata 289 Figura 70 Entrevista em regata com transmissão ao vivo por celular via Kyte 290 Figura 71 Mobilidade e localização com QR Code no A Tarde 292 Figura 72 Cobertura do Carnaval ao vivo por celular e acionamento QR Code 293 Figura 73 Webtv nas matérias de vídeo para o portal A Tarde Online 295 Figura 74 As fotos são enviadas pelos notebooks através de FTP e conexão 3G 297 Quadro 11 Repórteres do A Tarde e a rotina de produção com tecnologias móveis 298 Figura 75 Repórter e fotógrafo com câmera e notebook na transmissão de futebol 299 Quadro 12 Cobertura por celular do carnaval do Rio, Recife e Salvador 301 Figura 76 Plataforma de distribuição JC Mobile 303 Figura 77 Plataforma de transmissão ao vivo no JC Online 305 Figura 78 Transmissão ao vivo de celular no Mobi A Tarde 307 Figura 79 Interface da plataforma LiveCast para coberturas ao vivo 308 Figura 80 Em 2010, o Mobi também transmitiu ao vivo 310 Figura 81 Cobertura por celular do Carnaval do Rio pelo Extra com BCyou 311 Figura 82 Plataforma das transmissões para a audiência 312 Figura 83 Repórteres de O Globo Online utilizando Tablet PC nas reportagens 313

15 LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANATEL APP BAND CAR CMS EDGE GJOL GPC GPRS GJOL GSM SMS HD LTE PDA 1G 2G 3G 4G RAC TICS WI-FI UIT MOJO UEPB UFBA UIT SJCC WIMAX WAP Agência Nacional de Telecomunicações Aplicativo Rede Bandeirantes de Televisão Computer Assisted Reporting Content Management System Enhanced Data rates for GSM Evolution Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online Grupo de Pesquisa em Cibercidades General Packet Radio Service Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online Global System for Mobile Communication Short Message Service Hign Definition Long Term Evolution Personal Digital Assistant Tecnologia de Primeira Geração Tecnologia de Terceira Geração Tecnologia de Terceira Geração Tecnologia de Quarta Geração Reportagem Assistida por Computador Tecnologias da Informação e Comunicação Wireless Fidelity. União Internacional de Telecomunicações Mobile Journalism Universidade Estadual da Paraíba Universidade Federal da Bahia União Internacional de Telecomunicações Sistema Jornal do Commercio de Communicação Worldwide Interopelability For Microwave Access Wireless Application Protocol

16 SUMÁRIO PRÉVIA - UM DIA NAS REDAÇÕES: REPÓRTERES EM MOBILIDADE 19 Um dia no Extra Online 20 Um dia no JC Online 25 Um dia no A Tarde Online 28 INTRODUÇÃO 31 I Apresentação 32 II Objeto de estudo 37 III Hipóteses e objetivos de pesquisa 46 IV Referencial teórico 47 V Métodos de pesquisa e metodologia 48 VI Estrutura da tese 49 PARTE 1 CONVERGÊNCIA JORNALÍSTICA E ROTINAS DE PRODUÇÃO 51 1 CONCEITO FLUÍDO DE CONVERGÊNCIA: UMA DEFINIÇÃO MULTIDIMENSIONAL 52 1.1 Convergência: (in)definição polissêmica e o sentido para o jornalismo 52 1.2 Jornalismo digital e convergência 60 1.3 Do conceito aos modelos de convergência 65 1.3.1 Redações integradas 72 1.4. A cultura da produção nas redações convergentes 76 2 ROTINAS PRODUTIVAS NO JORNALISMO 84 2.1 A produção da notícia no contexto histórico: o newsmaking 84 2.2 Tradição e transição nos estudos sobre produção da notícia 87 2.2.1 A (des)centralização da redação: entre o estável e a flexibilidade líquida 91 2.2.2 Rotinas jornalísticas nas redações online e móveis 92 2.3 Conclusões 98 PARTE 2 - O JORNALISMO MÓVEL DIGITAL 99 3 JORNALISMO E MOBILIDADE 100 3.1 Jornalismo móvel e jornalismo móvel digital: definição e operacionalização 100 3.2 Estudos e pesquisas sobre o uso de tecnologias móveis no jornalismo 110 3.3 Os mojos e a reportagem de campo 123 3.4 Jornalismo locativo, hiperlocal e geolocalizado 137 3.5 Jornalismo participativo móvel: funções pós-massivas 143 3.5.1 Produção do público no mainstream 150 3.6 Mapeamento de experiências de jornalismo móvel 153 a) Band 154

17 b) TV Jornal 155 c) RBS 156 d) RTP 157 e) Jornal The Star 158 f) The USAY Today 160 g) Revista Época 160 h) Revista Variaty 160 I) Jornal NH 161 j) TV Record 162 k) Agência Reuters 163 3.7 Jornalismo em tablets e smartphones: emissão e difusão 164 4 MOBILIDADE 169 4.1. Paradigma da mobilidade contemporânea 169 4.2 Noção multidimensional de mobilidade 177 4.3. Comunicação ubíqua 184 4.4 As tecnologias da mobilidade 187 4.8 Conclusões 196 PARTE 3 DESENHO DA PESQUISA E METÓDOS 198 5 DISCUSSÃO METODOLÓGICA 199 5.2 Seleção dos casos estudados 203 5.3 Protocolo de coleta de dados em campo 206 5.4 Observação participante e entrevistas 209 5.5 Estratégia de métodos móveis e de experimentações 215 5.6 Abordagem teórico-metodológica do newsmaking na pesquisa 218 5.7 Categorização temática e análise dos dados 224 5.8 Conclusões 227 PARTE 4 RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÃO 228 6 DESCRIÇÃO DOS CASOS E A CONVERGÊNCIA MULTIPLATAFORMA 229 6.1 JC Online 231 6.1.1 Estrutura e fluxos de produção 232 6.2 A Tarde Online 235 6.2.1 Estrutura e fluxo de produção 235 6.3 Extra Online 237 6.3.1 Estrutura e fluxo de produção 237 6.4 Convergência: as redações integradas e o fluxo de trabalho 239 6.4.1 Entre a interação, integração e a polivalência 244 6.4.2 Redefinição de perfis profissionais e política de remuneração 248 7 ROTINAS E MOBILIDADE: A RECONFIGURAÇÃO DA REPORTAGEM DE CAMPO 254 7.1 Da apuração à distribuição em tempo real: rotinas redimensionadas 258

18 7.1.1 Os repórteres são 3G no Extra: a rua é a redação 262 7.1.2 Os repórteres live streaming no JC Online: smartphones ao vivo 279 7.1.3 Os repórteres multitarefa no A Tarde Online: conteúdo multiplataforma 291 7.2 Ao vivo direto do celular: três experiências dos estudos no Carnaval do Rio, Salvador e Recife 300 7.2.1 Experiência JC Online cobertura do Carnaval Recife/Olinda 302 7.2.2 Experiência A Tarde Online cobertura do Carnaval de Salvador 306 7.2.3 Experiência Extra Online - cobertura do Carnaval do Rio de Janeiro 310 CONCLUSÕES 314 REFERÊNCIAS 329 GLOSSÁRIO 357 APÊNDICES 362 ANEXOS 406 TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA COMUTAÇÃO 408

PRÉVIA: UM DIA NAS REDAÇÕES 19

20 Como visibilidade do fenômeno em estudo iniciamos a tese discorrendo a narrativa comparativa e exploratória extraída dos três estudos de caso empíricos conduzidos durante o período de trabalho etnográfico, com a extração de um dia de acompanhamento da jornada de trabalho via observação direta - em torno da rotina produtiva dos repórteres de cada caso analisado. Com o relato de acompanhamento, poderemos inferir algumas modificações que emergiram com a adoção das tecnologias móveis digitais e a ampliação das condições de mobilidade física e informacional centradas nos repórteres de campo, na prática da produção da reportagem. Essa prévia aproximativa visa mobilizar, no conjunto da leitura da tese, a fluidez do percurso daqui em diante nos seus aspectos de construção teórico-conceitual e de descrição de experiências levantadas e observadas, que serão aprofundadas ao longo do trabalho, articulando a abordagem teórica e empírica do fenômeno em questão. Um dia na redação do Extra Online Vou para a redação do Extra às 10h00 da manhã, conforme combinado com chefe de reportagem no dia anterior, para acompanhamento da jornada de trabalho de uma repórter durante a manhã dentro do projeto Repórter 3G. Era uma quarta-feira. A repórter vai cobrir uma pauta em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sobre denúncias de fechamento de um posto de saúde, dentre outras matérias factuais que surgirem, tendo em vista que como o repórter fica mais tempo na rua, em mobilidade, pode identificar mais facilmente potenciais ocorrências que estejam em consonância com os critérios de noticiabilidade das notícias de interesse da redação ou da linha editorial adotada pelo veículo. A repórter escalada para o horário que eu ia acompanhar ainda não havia chegado para seu expediente. As escalas dos repórteres são variáveis. Na redação, naquele momento que cheguei, encontrava-se apenas o chefe de reportagem e uma outra repórter fazendo rondas por telefone nas delegacias, Corpo de Bombeiros e de outros serviços de plantão para checar as ocorrências durante a madrugada no Rio de Janeiro e na região metropolitana. Este trabalho de rádio-escuta e de rondas era um dos pontos-chaves para identificação de potenciais pautas. O Extra, devido a sua marca popular, cobre com ênfase a área policial e a de geral, de informações que impactam com o dia a dia da população (greve, congestionamentos, lixos, problemas das comunidades), algo como uma cobertura hiperlocal. Durante a pesquisa de campo, um dos repórteres explicava de forma pertinente a diferença entre o Extra e O Globo,

21 do mesmo grupo de comunicação: Olha, a gente quase não vai na zona sul, a não ser quando tem alguma coisa na delegacia do Leblon, Copacabana e por aí. Falamos por aqui que o Extra cobre a zona norte e a Baixada Fluminense e o Globo a zona sul. Essa demarcação de território de cobertura nos pareceu bem factível como política editorial e de público-alvo de cada uma das publicações. Durante o acompanhamento dos repórteres, o trabalho, de fato, concentrou-se nos setores mais periféricos do Rio de Janeiro e com temáticas voltadas mais especificamente para a área policial e/ou de problemas da comunidade e prestação de serviços. Esse pressuposto é sustentado também por alguns projetos do jornal que procuram se aproximar das questões centrais das comunidades como a criação de personagens como o chamado João Buracão (que extrapolou o Extra e foi utilizado como quadro também pelo programa Fantástico, da Rede Globo), Zé Lador e Zé Lixão, todos com uma forte identificação por parte da população, que solicita a presença desses bonecos como uma maneira de protestar contra a Prefeitura ou Governo do Estado. Tais explicações nos ajudam a compreender o contexto das coberturas e das rotinas dos repórteres e como as tecnologias móveis são incorporadas nas estratégias. Enquanto a repórter não chega, vou acompanhando algumas ações e interações na redação, até mesmo para se familiarizar com as rotinas e estratégias de fluxo de trabalho no local. Às 10h15, o chefe de reportagem começa a conversar por Skype com um outro editor que está fora da redação e eles discutem pautas em execução por repórteres que estão na rua. Não escuto a fala desse editor porque o chefe de reportagem está com fone de ouvido, mas não tive dificuldades de inferir sobre o diálogo e o assunto estabelecido. A discussão tratavase de uma reportagem em andamento em tempo real que dois repórteres da editoria de Geral estavam acompanhando de uma operação policial num morro do Rio referente ao confronto entre a polícia e a mílicia Águia de Mirra na zona norte, zona oeste e na Baixada Fluminense. O repórter estava em movimento no carro de reportagem com um notebook e atualizava as notícias em tempo real através da aplicação Cover it Live e o envio de fotos da operação registradas por celular. Em um determinado momento, o chefe de reportagem interage com o repórter externo por Skype com o notebook, dessa vez em viva voz: Nós estamos aqui no condomínio, vamos continuar vendo se a polícia prenderá alguns milicianos. Qualquer coisa atualizo aqui e mando fotos, ok?, fala o repórter por Skype para o chefe de reportagem, que pede para ele não voltar para a redação e continuar na cobertura no local e, depois, deslocar-se para a Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado) para acompanhar o caso de um PM que