Formigas arbóreas e de serapilheira



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v. 3, n. 5 Dezembro/Janeiro - 2010/2011 ISSN 1983-3687 Distribuição Gratuita INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - MG DIRETORIA DE BIODIVERSIDADE GERÊNCIA DE PROJETOS E PESQUISAS Formigas arbóreas e de serapilheira

EPEDIENTE MG.BIOTA Boletim de divulgação científica da Diretoria de Biodiversidade/IEF que publica bimestralmente trabalhos originais de contribuição científica para divulgar o conhecimento da biota mineira e áreas afins. O Boletim tem como política editorial manter a conduta ética em relação a seus colaboradores. Equipe Cecília de Paula Cândido (estagiária) Danilo Rocha Dayanna Fagundes Silva (estagiária) Denize Fontes Nogueira Eugênia da Graças Oliveira Filipe Gusmão da Costa Gilberto Nunes de Paiva Ismênia Fortunato de Sousa (estagiária) Ivan Seixas Barbosa Janaína A. Batista Aguiar José Medina da Fonseca Júnia Maria Louzada Maria Margaret de Moura Caldeira (Coordenação) Mateus Garcia de Campos Priscila Moreira Andrade Valéria Mussi Dias (Coordenação) Colaboradores deste número Benjamim Salles Duarte Cinthia Borges da Costa Milanez Maria Izabela Rodrigues Morais Sérvio Pontes Ribeiro PUBLICAÇÃO TÉCNICA INFORMATIVA MG.BIOTA Edição: Bimestral Tiragem: 5.000 exemplares Diagramação: Rodrigo Michel Senra / Imprensa Oficial Normalização: Silvana dealmeida Biblioteca SISEMA Corpo Editorial e Revisão: Denize Fontes Nogueira, Janaína A. Batista Aguiar, Maria Margaret de Moura Caldeira, Priscila Moreira Andrade, Valéria Mussi Dias Arte da Capa: Leonardo P. Pacheco / Imprensa Oficial Fotos: Marcos Toledo Seniuk, Flávio Siqueira de Castro, Reuber Lana Antoniazzi Júnior, Roberth Fagundes, Glênia Lourenço Silva, Nádia Barbosa do Espírito Santo. Foto Capa: Nádia Barbosa do Espírito Santo Imagem: C.rufipes sobre nectar Foto Contra-capa: Evandro Rodney Imagem: Parque Estadual Serra do Cabral Impressão: Endereço: Rodovia Prefeito Américo Gianeti, s/nº Prédio Minas Bairro Serra Verde Belo Horizonte Minas Gerais Brasil CEP: 31.630-900 E-mail: projetospesquisas.ief@meioambiente.mg.gov.br Site: www.ief.mg.gov.br FICHA CATALOGRÁFICA MG.Biota: Boletim Técnico Científico da Diretoria de Biodiversidade do IEF MG. v.3, n.5 (2010) Belo Horizonte: Instituto Estadual de Florestas, 2010/2011. v.; il. Bimestral ISSN: 1983-3687 1. Biosfera Estudo Periódico. 2. Biosfera Conservação. I. Instituto Estadual de Florestas. Diretoria de Biodiversidade. CDU: 502 Catalogação na Publicação Silvana de Almeida CRB. 1018-6 Instruções para colaboradores MG.Biota Aos autores, Os autores deverão entregar os seus artigos diretamente à Gerência de Projetos e Pesquisas (GPROP), acompanhada de uma declaração de seu autor ou responsável, nos seguintes termos: Transfiro para o Instituto Estadual de Florestas por meio da Diretoria de Biodiversidade, todos os direitos sobre a contribuição (citar Título), caso seja aceita para publicação no MG.Biota, publicado pela Gerência de Projetos e Pesquisas. Declaro que esta contribuição é original e de minha responsabilidade, que não está sendo submetida a outro editor para publicação e que os direitos autorais sobre ela não foram anteriormente cedidos à outra pessoa física ou jurídica. A declaração deverá conter: Local e data, nome completo, CPF, documento de identidade e endereço completo. Os pesquisadores-autores devem preparar os originais de seus trabalhos, conforme as orientações que se seguem: NBR 6022 (ABNT, 2003). 1. Os textos deverão ser inéditos e redigidos em língua portuguesa: 2. Os artigos terão no máximo 25 laudas, em formato A4 (210x297mm) impresso em uma só face, sem rasuras, fonte Arial, tamanho 12, espaço entre linhas de 1,5 e espaço duplo entre as seções do texto. 3. Os originais deverão ser entregues em duas vias impressas e uma via em CD-ROM (digitados em Word for Windows), com a seguinte formatação: a) Título centralizado, em negrito e apenas com a primeira letra em maiúsculo; b) Nome completo do(s) autor(es), seguido do nome da instituição e titulação na nota de rodapé; c) Resumo bilíngüe em português e inglês com no máximo 120 palavras cada; d) Introdução; e) Texto digitado em fonte Arial, tamanho 12; f ) Espaço entre linhas de 1,5 e espaço duplo entre as seções do texto, assim como entre o texto e as citações longas, as ilustrações, as tabelas, os gráficos; g) As ilustrações (figuras, tabelas, desenhos, gráficos, mapas, fotografias, etc.) devem ser enviadas no formato TIFF ou EPS, com resolução mínima de 300 DPIs em arquivo separado. Deve-se indicar a disposição preferencial de inserção das ilustrações no texto, utilizando para isso, no local desejado, a indicação da figura e o seu número, porém a comissão editorial se reserva do direito de uma recolocação para permitir uma melhor diagramação; h) Uso de itálico para termos estrangeiros; i ) As citações no texto e as informações recolhidas de outros autores devem-se apresentar no decorrer do texto, segundo a norma: NBR 10520(ABNT, 2002); Citações textuais curtas, com 3 linhas ou menos, devem ser apresentadas no corpo do texto entre aspas e sem itálico; Citações textuais longas, com mais de 3 linhas, devem ser apresentadas Arial, tamanho 10, elas devem constituir um parágrafo próprio, recuado, sem necessidade de utilização de aspas; Notas explicativas devem ser apresentadas em rodapé, com fonte Arial, tamanho 10, enumeradas. j ) As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no fim do texto, devendo conter as obras citadas, em ordem alfabética, sem numeração, seguindo a norma: NBR 6023 (ABNT, 2002); k) Os autores devem se responsabilizar pela correção ortográfica e gramatical, bem como pela digitação do texto, que será publicado exatamente conforme enviado. Endereço para remessa: Instituto Estadual de Florestas - IEF Gerência de Projetos e Pesquisas GPROP Boletim MG.Biota Rodovia Prefeito Américo Gianeti, s/nº - Prédio Minas - Serra Verde Belo Horizonte/MG Cep: 31.630-900 email: projetospesquisas.ief@meioambiente.mg.gov.br Telefones: (31)3915-1324;3915-1338 MG. BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

INS TI TU TO ESTA DUAL DE FLO RES TAS MG DIRE TO RIA DE BIO DI VER SI DA DE GERÊN CIA DE PRO JE TOS E PES QUI SAS MG.BIOTA Belo Horizonte v.3, n.5 dez./jan. 2010/2011

SUMÁ RIO Editorial... 3 Apresentação... 4 As comunidades de formigas de serapilheira nas florestas semidecíduas do Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais Flávio Siqueira de Castro, Alexandre Bahia Gontijo, Wesley Duarte da Rocha e Sérvio Pontes Ribeiro... 5 Análise preliminar de mosaico de formigas arbóreas: métodos comparativos para investigação de insetos de dossel Glênia Lourenço Silva, Ana Carolina Resende Maia, Nádia Barbosa do Espírito Santo, Roberth Fagundes, Cinthia Borges da Costa e Sérvio Pontes Ribeiro... 25 Em Destaque: Invasões biológicas de dossel Linepithema humile Mayr 1868 (Hymenoptera, Formicidae): um desastre silencioso Nádia Barbosa Espírito Santo e Sérvio Pontes Ribeiro... 43 2 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

EDITORIAL Há milhões de anos que as formigas vivem e se multiplicam nos ecossistemas do planeta Terra. São bilhões de seres vivos, na multiplicidade de suas espécies, que exigem estudos, pesquisas e observações para entendê-las e compreender, cientificamente, suas formas de organização no contexto de biodiversidade num mundo em permanente mudança. Organizadas, disciplinadas, criativas, instigantes, essas formigas dinamicamente ativas sobre o solo e debaixo dele sinalizam ainda vasto e complexo campo de novos conhecimentos e práticas científicas, inclusive nas tentativas de controlá-las, à medida que também causam impactos econômicos e até podem ser vetores de doenças nos aglomerados urbanos. Entretanto, nos domínios da natureza, reconhecidamente complexos, todos os seres vivos têm seus papéis definidos na sustentabilidade dos recursos naturais e elas fazem parte indissociável dos processos evolutivos e são também indicadores de biodiversidade. Ao abordar As comunidades de formigas de serapilheira nas florestas semidecíduas do Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, convergência de talentos multidisciplinares, está-se configurando mais uma valiosa contribuição do boletim MG.Biota à ciência, a tecnologia, à sociedade, à natureza e ao mundo científico. O conhecimento humano não tem fronteira num largo horizonte de tempo. Não se pode amar e preservar o que não se conhece. José Medina da Fonseca Engenheiro Florestal MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011 3

APRESENTAÇÃO O maior laboratório vivo do mundo é a natureza e a ciência, no que lhe compete, avança para entendê-la e até revelar os seus mistérios. Os seres vivos, que habitam os continentes e as águas, sinergicamente, estimulam os cientistas e pesquisadores, na convergência solidária dos saberes, para gerar novos conhecimentos e induzir também novas formas de convivência inteligente com os recursos naturais, finitos. Pequenos e grandes seres, incluindo-se o homem, molduram os ecossistemas e exercem singulares papéis na dinâmica da vida. Ao abordar recorrentes temas ligados à biodiversidade, nos vasto e complexo território mineiro, o boletim MG.Biota continua contribuindo para uma leitura mais consistente do mundo que nos rodeia. Pode-se aceitar que não há limite definido para gerar novos conhecimentos científicos e tecnológicos, pois a curiosidade humana, indagativa e até prospectiva, ultrapassa fronteiras e limitações físicas, sabendo-se minimamente que os conhecimentos são acumulativos num horizonte de tempo. Além disso, a ciência contribuirá efetivamente para o entendimento da sociedade de que esse planeta é a casa comum de todos os seres vivos na sua multifuncionalidade associativa entre os fatores naturais, muito além das formigas. Há milhões de anos que se formata a biodiversidade nos continentes e águas à revelia da espécie humana, esse é um dado importante. Entretanto, por razões lógicas, ela será um divisor de águas entre a sustentabilidade e a devastação dos recursos naturais. Seria o fim desse planeta? Presumivelmente não, pois a vida não se extingue por decreto. Proveitosa leitura. Benjamin Salles Duarte Engenheiro Agrônomo 4 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

As comunidades de formigas de serapilheira nas florestas semidecíduas do Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais Flávio Siqueira de Castro 1, Alexandre Bahia Gontijo 2, Wesley Duarte da Rocha 3 e Sérvio Pontes Ribeiro 4 Resumo As formigas são importantes componentes dos ecossistemas florestais, não só por serem altamente abundantes, constituindo grande parte da biomassa animal, mas porque têm um papel crucial na dinâmica e estruturação das comunidades na maioria dos ecossistemas terrestres. Este estudo apresenta resultados de um levantamento da fauna de formigas que ocorrem na serapilheira de uma área de Mata Atlântica do Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil (PERD). As coletas foram realizadas entre janeiro de 2005 e dezembro de 2007, segundo o Protocolo de Formigas de Serapilheira, parte integrante do Programa TEAM. O PERD possui 11 das 14 subfamílias de Formicidae conhecidas para a região neotropical. Essas comunidades de formigas são encontradas em diferentes pontos do parque, cada um com sua peculiaridade biogeográfica. Palavras chave: Formigas de folhedo, conservação da Mata Atlântica, PERD. Abstract Important components of forest ecosystems, the ants, not only because they are highly abundant, constituting much of the animal biomass, have a crucial role in the dynamics and structure of communities in most terrestrial ecosystems. This paper presents results of an inventory of the fauna of ants in the leaf litter of the Atlantic forest of Parque Estadual do Rio Doce-MG (PERD). Collections were performed between January 2005 and December 2007, according to the Litter-Ant Protocol, part of the TEAM Program. The PERD has 11 of the 14 subfamilies of Formicidae known for the neotropical region. These communities of ants are found in different parts of the park, each with its peculiar biogeographical. Keywords: Litter-dwelling ants, conservation of the Mata Atlântica, PERD. 1 Biólogo, Mestrado em Ecologia de Biomas Tropicais. Laboratório de Ecologia Evolutiva de Insetos de Dossel e Sucessão Natural, DEBIO/ICEB, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto-MG, CEP 35400-00. 2 Biólogo, Mestrado em Ecologia de Biomas Tropicais. Laboratório de Ecologia Evolutiva de Insetos de Dossel e Sucessão Natural, DEBIO/ICEB, Universidade Federal de Ouro Preto,Ouro Preto-MG, CEP 35400-000. 3 Biólogo, Mestre em Zoologia. Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-BA, CEP 45662-000, Laboratório de Mirmecologia, Convênio UESC/CEPEC, Centro de Pesquisas do Cacau, CP 7, CEP 45600-000. Itabuna-BA. 4 Biólogo, Doutor em Ecologia pelo Imperial College at Siwood Park, University of London. Laboratório de Ecologia Evolutiva de Insetos de Dossel e Sucessão Natural, DEBIO/ICEB, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto-MG, CEP 35400-00. MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011 5

Introdução Classificados em uma única família (Hymenoptera, Apocrita, Formicidae), as formigas são organismos eussociais, caracterizados pelo cuidado cooperativo da prole, sobreposição geracional de operárias dentro da colônia e um sistema altamente desenvolvido de castas (WILSON, 1971). Estas castas são formadas por grupos especializados de membros da colônia com adaptações para tarefas distintas. A casta das operárias, por exemplo, é responsável pela maior parte do trabalho realizado pela colônia no dia-a-dia. Isto inclui localizar e coletar alimentos, cuidar dos jovens e defender o ninho (HÖLLDOBLER; WIL- SON, 1990). Na região Neotropical (Américas Central e do Sul, ao sul do México até a Argentina), o número de espécies descritas está em torno de 2800, em 112 gêneros e 14 subfamílias. O Brasil, juntamente com a Colômbia, está entre os países com a maior riqueza de espécies de formigas da região Neotropical, possuindo cerca de 2000 espécies descritas, 92 gêneros e as 14 subfamílias com ocorrência na região (BRANDÃO, 1991; FERNÁNDEZ; SEN- DOYA, 2004). São encontrados em praticamente todos os estratos das florestas (BRÜHL et al., 1998), ocupando um número significativo de nichos e desempenhando um papel crucial na estruturação das comunidades em ecossistemas tropicais (BRÜHL et al., 1998). Influenciam ecologicamente na dinâmica dos ambientes em diferentes guildas tróficas, como por exemplo: predadoras de invertebrados, desfoliadoras, coletoras de pólen e néctar, além de participarem da ciclagem de nutrientes atuando como decompositoras (ROSA da SILVA; BRANDÃO, 1999). Importantes na formação do solo, formigas epigéicas (forrageiam sobre o solo) e, principalmente, as formigas de serapilheira (folhedo) e de solo, são responsáveis pelos processos de mineralização do solo, devido a sua extensiva atividade escavatória (bioturbação, revolvimento dos perfis do solo por animais) (GUNADI; VERHOEF, 1993), promovendo modificações físicas nos ambientes (FOLGARAIT, 1998) e vasta circulação de nutrientes vitais para o funcionamento dos ecossistemas (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990). Além disso, as assembléias de formigas respondem positivamente aos padrões de sucessão ecológica (FOWLER, 1998; VASCON- CELOS et al., 2008), sendo também responsáveis pela dispersão e predação das espécies vegetais através da atividade de coleta de sementes (GUIMARÃES JR. et al., 2002; KALIF et al., 2002; PIZO; OLIVEI- RA, 2000). Devido a essa variedade de relações e serviços ecológicos prestados pelas assembléias de formigas, inúmeros protocolos de avaliação e monitoramento de comunidades de formigas foram propostos (ANDERSEN et al., 2002, 2004; MAJER, 1983), utilizando esses organismos como bioindicadores de qualidade ambiental, principalmente em áreas de reabilitação de 6 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

minerações (ANDERSEN et al., 2003; COSTA, 2008) e no acompanhamento a longo prazo de mudanças nos ecossistemas (BATRA, 2006; CORBARA et al., 2006; LONGINO; COLWELL, 1997) A diversidade e predominância da fauna de formiga associada à serapilheira têm sido muito estudadas (LONGINO, 1994; MAJER et al., 1997; MAJER; DELA- BIE, 1999), representando cerca de 50% delas associadas a serapilheira em florestas tropicais (DELABIE; FOWLER, 1995). Segundo Silva & Silvestre (2004), a composição faunística da serapilheira por outros invertebrados, e a maior diversidade de sítios para nidificação e micro habitats podem favorecer a manutenção da fauna de formiga. Apesar do grande número de táxons, abundância e de sua importância funcional, a caracterização biogeográfica da entomofauna é pouco pesquisada e conhecida em inventários de biodiversidade tropical. A distribuição dos insetos e demais invertebrados é bem menos conhecida que a dos vertebrados. Especificamente para esses taxóns, a informação disponível está, em geral, menos sistematizada (DINIZ, 1998). Especialmente nas florestas tropicais, as formigas são um importante componente biológico da serapilheira (WARD, 2000), sendo ecologicamente importantes na maioria dos ecossistemas terrestres (LEPONCE et al., 2004). Segundo Brühl et al. (1999), o entendimento da dinâmica dessas comunidades em ambientes florestais tropicais é pré-requisito para a compreensão dos mecanismos responsáveis pela composição das comunidades nessas florestas. Além disso, estudos de comunidades de formigas de solo em Mata Atlântica são escassos em Minas Gerais, sendo mais expressivos os trabalhos realizados em áreas do Cerrado e matas em áreas urbanas (CASTRO et al., dados não publicados). Esse estudo tem o objetivo de apresentar resultados parciais de uma série de amostragem segundo o Protocolo de Formigas de Serapilheira TEAM Rio Doce, focados em dados de composição e riqueza referentes ao inventário de comunidades de formigas em diferentes localidades do PERD. Material e métodos Área de Estudo Dentre os inúmeros biomas encontrados no Brasil, a formação florestal chamada Mata Atlântica é provavelmente uma das mais ricas em biodiversidade, podendo abrigar milhares de espécies ainda desconhecidas para a ciência. Em suas diversas fitofisionomias estendidas ao longo da faixa litorânea, permeando para o interior do país, apresenta limites com vários outros biomas, caracterizando incontáveis configurações de ambientes e ecossistemas, que por muitas vezes se apresentam de forma extremamente restrita e peculiar. No entanto é também o bioma mais ameaçado, MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011 7

com praticamente todo seu domínio devastado, cerca de 95% (MITTERMEIER et al., 1999, MORELLATO; HADDAD, 2000), levando em conta sua ocorrência nas áreas de maior concentração populacional do país. Tal fato torna seu estudo um fator crucial para a conservação e compreensão da biodiversidade como um todo. Na região do médio Rio Doce, estado de Minas Gerais, a Mata Atlântica apresenta uma fitofisionomia caracterizada como Floresta Estacional Semidecidual Submontana marcada por uma percentagem média de árvores decíduas, ou seja, que perdem totalmente a folhagem durante um período do ano (RIZZINI, 1997; VELOSO et al., 1991). Nessa região localiza-se o Parque Estadual do Rio Doce (PERD), a maior floresta continua preservada no estado de Minas Gerais, com aproximadamente 36.000 ha de área de mata, permeada por pelo menos 40 lagoas naturais, perenes ou sazonais, abrangendo parte dos municípios de Timóteo, Marliéria e Dionísio entre as coordenadas 19º 48 18 19º 29 24 S e 42 o 38 30 42 o 28 18 W (IEF, 1994). Gilhuis (1986) definiu o PERD como um mosaico vegetacional com diversos tipos de fitofisionomias (FIG. 1) FIGURA 1 Mapa de localização dos plots (IMA) do Projeto TEAM Rio Doce, sobrepostos sobre o mapa de Vegetação de GILHUIS (1986). Adaptado e modificado de HIRSCH, 1995, 2003; IBGE, 2003 apud HIRSCH; DIAS, 2007. 8 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

O PERD, maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Estado de Minas Gerais, é considerado como um dos maiores fragmentos de mata do país (MORELLATO; HADDAD, 2000). Protegido por leis estaduais como unidade de conservação no status de Parque Estadual há 65 anos, foi a primeira unidade de conservação criada no estado (IEF, 2009). Apesar disso, o PERD sofre diversas ameaças à sua integridade: caça e pesca ilegais, incêndios criminosos (estes amplamente combatidos pelos guarda-parques do IEF e Polícia Militar Ambiental) e especulações imobiliárias e fundiárias em suas zonas de entorno e amortecimento. O Protocolo de Formigas de Serapilheira, Programa TEAM Rio Doce O Protocolo de Formigas de Serapilheira, parte integrante do Programa TEAM Rio Doce (Programa de Ecologia, Avaliação e Monitoramento de Florestas Tropicais - Conservation International), foi estabelecido e executado entre janeiro de 2005 e dezembro de 2007, em seis áreas (IMA Estação de Monitoramento Integrado) de 100 ha no PERD (Parque Estadual do Rio Doce - IEF), localizados ao sul (Lagoa Gambá-Gambazinho LG), sudeste (Trilha do Aníbal - Ponte Queimada - TA), na região central (Garapa Torta - GT, Trilha da Lagoa Preta LP e Trilha da Lagoa Central - TLC) e ao noroeste (Trilha do Macuco Lagoa Juquita - TM) na unidade de conservação (Figura 1). Foram realizadas coletas sistemáticas ao longo dos anos, no começo e ao final de cada período climático do ano, duas na estação chuvosa (entre outubro a março) e duas na seca (abril a setembro). Através de uma rede de estações de campo, nas quais são monitorados grupos da fauna (formigas, borboletas, mamíferos e aves), a vegetação e as condições edáfi- co-climáticas (solo e clima). O projeto TEAM tem o objetivo de monitorar mudanças em larga-escala na biodiversidade das florestas tropicais, permitindo comparações de todos os dados, nas diferentes estações de campo, proporcionando um sistema de alerta do status da biodiversidade, que possa servir de guia na identificação, planejamento e implementação de programas de conservação eficazes (TEAM Initiative web site, 2007). Amostragem As coletas foram realizadas nos anos de 2005 (quatro campanhas de campo, 960 m 2 de área amostrada), 2006 (três campanhas de campo, 500 m2 de área amostrada) e 2007 (três campanhas de campo, 440 m 2 de área amostrada). As campanhas de campo foram realizadas ao longo dos três anos em quatro epócas por ano, em períodos iniciais e intermediários das estações chuvosa e seca. Em cada uma das seis áreas foram montados quatro transectos lineares de 100 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011 9

m de extensão por campanha de campo (FIG. 2). Em um intervalo de 10 metros, ao longo do transecto (FIG. 3a), 1 m 2 de área de serapilheira foi amostrada (FIG. 3b), sendo esta peneirada e levada para laboratório e posterior separação em extrator de Mini-Winkler (BATRA, 2006; DELABIE et al., 2000). O extrator Mini-Winkler é um aparato de captura não atrativa de espécies de formigas de serapilheira. O aparato consiste em um saco em forma de losango, em cor clara (geralmente branco ou azul claro), com um pote coletor contendo álcool 95% na sua parte inferior. A serapilheira peneirada foi passada para sacos de malha (com perfurações 4 mm de diâmetro) (FIG. 4a e 4b) e, posteriormente, colocada nos Mini-Winkler, pendurando-os em uma corda (FIG. 4c), onde permaneceram por 24 horas. Durante esse tempo, os insetos de serapilheira (especialmente formigas e cupins) tendem a sair do saco perfurado como um comportamento em resposta aos distúrbios causados ao seu habitat (grande agitação do material e luz), e caem, eventualmente, no pote coletor (BESTELMEYER et al., 2000). A colocação do pote coletor na parte inferior e a cor clara do tecido do aparato devese a este comportamento. Após esse período, todo o material colocado dentro dos Mini- Winkler foi retirado, revolvido e retornado para o aparato para permanecer por mais 24 horas. Ao final das 48 horas, os potes coletores foram retirados e etiquetados. FIGURA 2 Disposição dos transectos (linhas azuis) para coleta de formigas e cupins em uma parcela de 100 ha. A linha pontilhada indica as divisões entre quatro quadrantes do IMA, onde foi colocado aleatoriamente um transecto. As linhas amarelas indicam as trilhas permanentes que estão paralelas umas das outras a uma distância de 200 metros. 10 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

FIGURA 3 Transecto linear do Protocolo de Formigas de Serapilheira do projeto TEAM Rio Doce (a) e coleta de 1 m² de serapilheira (b). Fotos: Marcos Toledo Seniuk Fotos: Marcos Toledo Seniuk, 2005 FIGURA 4 Processamento das amostras de serapilheira peneirada (a) coletadas pelo projeto TEAM Rio Doce; saco de malha perfurada (4 mm diâmetro) (b); Extrator de Mini-Winkler (c). A identificação dos espécimes em gênero e morfo-espécies foi realizada no Laboratório de Ecologia Evolutiva de Insetos de Dossel e Sucessão Natural, DEBIO/ICEB//UFOP e posteriormente enviados para confirmação e identificação em espécies para o Laboratório de Mirmecologia do CEPEC/CEPLAC, Ilhéus, BA. Resultados Foram identificados 7048 indivíduos de 51 gêneros, pertencentes a 11 subfamílias: Amblyoponinae, Cerapachyinae, Dolichoderinae, Ecitoninae, Ectatomminae, Formicinae, Heteroponerinae, Myrmicinae, Ponerinae, Proceratiinae e Pseudomyrmecinae (TAB. 1) MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011 11

TABELA 1 Subfamílias e gêneros de formigas encontradas nos Plots do Projeto TEAM Rio Doce em relação ao Brasil (BRA) e a região Neotropical (NEO). Número de táxons descritos entre parênteses (NEO - BRA). (segundo BRANDÃO, 1991; FERNÁNDEZ; SENDOYA, 2004) (Continua...) SubFamílias Tribos Gêneros LG LP TA TLC TM Amblyoponinae (1-1) (3-2) Amblyoponini Amblyopone Prionopelta Cerapachyinae (3-3) (4-4) Cerapachyini Cerapachys Dolichoderinae (1-1) (10-6) Dolichoderini Azteca Dolichoderus Linepithema Ecitoninae (2-2) (5-5) Ecitonini Eciton Labidus Neivamyrmex Nomamyrmex Ectatomminae (2-2) (3-3) Ectatommini Ectatomma Gnamptogenys Typhlomyrmex Formicinae (5-4) (15-6) Camponotini Camponotus Lasiini Acropyga Plagiolepidini Brachymyrmex Myrmelachista Nylanderia Heteroponerinae (1-1) (2-2) Heteroponera Myrmicinae (17-15) (59-44) Adelomyrmecini Cryptomyrmex Attini Acromyrmex Apterostigma Cyphomyrmex Mycocepurus Myrmicocrypta Sericomyrmex Trachymyrmex Blepharidattini Wasmannia Cephalotini Cephalotes Crematogastrini Crematogaster Dacetini Acanthognathus Basiceros Strumigenys Formicoxenini Nesomyrmex Myrmicini Hylomyrma Pheidolini Pheidole Pheidologetonini Carebara Solenopsidini Carebarella 12 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

(Conclusão) SubFamílias Tribos Gêneros LG LP TA TLC TM Megalomyrmex Solenopsis Stegomyrmecini Stegomyrmex Stenammini Rogeria Ponerinae (3-3) (12-8) Ponerini Anochetus Hypoponera Leptogenys Odontomachus Pachycondyla Thaumatomyrmecini Thaumatomyrmex Proceratiinae (2-2) (3-3) Proceratiini Discothyrea Pseudomyrmecinae (1-1) (2-2) Pseudomyrmecini Pseudomyrmex Legenda: LG = Lagoa Gambá - Gambazinho, LP = Lagoa Preta, TA = Trilha do Aníbal Ponte Queimada, TLC = Trilha da Lagoa Central, TM = Trilha do Macuco Lagoa Juquita. Até o momento foram identificadas 196 morfoespécies de formigas, sendo que 98 espécies foram confirmadas por especialistas (Tabela 2). Três espécies novas foram encontradas nesta amostragem: Hylomyrma sp2 (não descrita) e Stegomyrmex olindae (FEITO- SA et al., 2008) na TM e Basiceros sp2 (não descrita) na LP. Outras espécies raras também foram coletadas: Wasmannia villosa, Thaumatomyrmex contumax e Cryptomyrmex longinodus, além dos gêneros Cerapachys, Typhlomyrmex e Myrmelachista (TAB. 1). Informações sobre algumas espécies de formigas de folhedo encontradas no Parque Estadual do Rio Doce FIGURA 5 Operária de Stegomyrmex olindae Feitosa, Brandão & Diniz, 2008. Foto: Flávio Siqueira de Castro, 2009 Stegomyrmex olindae Feitosa, Brandão & Diniz, 2008 (FIG. 5) Distribuição Geográfica: No Brasil nos estados de TO (espécie tipo), BA, MA, MT e MG (parátipo PERD). Biologia: São formigas cripticas que vivem em serapilheira, com ocorrência rara e encontrada em áreas de florestas primárias. Operárias, geralmente, andam solitárias e são consideradas predadoras de ovos de miriápodes como as centopéias e os piolhos-de-cobra (FEITOSA et al., 2008). MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011 13

TABELA 2 Espécies de formigas de serapilheira identificadas nos plots do Projeto TEAM Rio Doce (Continua...) SubFamília Espécies LG LP TA TLC TM Amblyoponinae Amblyopone cf. armigera Mayr, 1897 Cerapachyinae Dolichoderinae Ecitoninae Ectatomminae Formicinae Amblyopone lurilabes Lattke, 1991 Prionopelta antillana Forel, 1909 Cerapachys splendens Borgmeier, 1957 Dolichoderus imitator Emery, 1894 Dolichoderus lutosus Smith F., 1858 Linepithema iniquum (Mayr, 1870) Linepithema pulex Wild, 2007 Eciton burchelli (Westwood, 1842) Labidus coecus (Latreille, 1802) Labidus praedator (Smith F.,1858) Nomamyrmex hartigii (Westwood,1842) Ectatomma permagnum Forel, 1908 Ectatomma suzanae Almeida, 1986 Ectatomma tuberculatum (Olivier,1792) Gnamptogenys gracilis (Santischi, 1929) Gnamptogenys minuta (Emery,1896) Gnamptogenys porcata (Emery,1896) Acropyga goeldii Forel, 1893 Acropyga smithii Forel, 1893 Brachymyrmex australis Forel, 1901 Camponotus (Myrmothrix) atriceps (Smith F.,1858) Camponotus (Mymocladoecus) crassus (Mayr, 1862) Camponotus (Mymocladoecus) latangulus Roger, 1863 Camponotus (Mymocladoecus) rectangularis Emery, 1890 Camponotus (Myrmobrachys) trapezoideus Mayr, 1870 Camponotus (Myrmoclaedocus) bidens Mayr, 1870 Camponotus (Myrmophaenus) novogranadensis Mayr, 1870 Camponotus (Tanaemyrmex) balzani Emery, 1894 14 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

(Continua...) SubFamília Espécies LG LP TA TLC TM Camponotus (Tanaemyrmex) melanoticus Emery, 1894 Myrmicinae Camponotus (Tanaemyrmex) punctulatus andigenus Emery, 1903 Camponotus senex (Smith F.,1858) Cryptomyrmex longinodus Férnandez & Brandão, 2003 + Acromyrmex subterraneus brunneus Forel, 1912 Apterostigma gp. pilosum Mayr, 1865 Mycocepurus goeldii Forel, 1893 Mycocepurus smithii Forel, 1893 Myrmicocrypta squamosa Smith F., 1860 Basiceros prox. bruchi Santischi, 1922 Basiceros speciosa Brown & Kempf,1960 Nesomyrmex spininoidis Mayr, 1887 Nesomyrmex wilda Smith M.R., 1943 Basiceros cf. balzani (Emery, 1894) Basiceros iheringi (Emery,1888) Basiceros rugifera (Mayr, 1887) Basiceros stenognatha Brown & Kempf,1960 Basiceros sp2* Wasmannia auropunctata (Roger,1863) Wasmannia lutzi Forel, 1908 Wasmannia rochai Forel, 1912 Wasmannia villosa Emery,1894 + Cephalotes maculatus (Smith F.,1876) Cephalotes pusillus (Klug,1824) Crematogaster acuta (Fabricius,1804) Crematogaster cp. limata Smithi F., 1858 Crematogaster longispina Emery,1890 Crematogaster nigropilosa Mayr, 1887 Acanthognathus ocellatus Mayr, 1887 Acanthognathus prox. rudis Brown & Kempf, 1969 Acanthognathus stipulosus Brown & Kempf,1969 Strumigenys alberti (Forel, 1893) Strumigenys appretiata (Borgmeier,1954) Strumigenys brevicornis (Mann, 1922) Strumigenys crassicornis (Mayr,1887) Strumigenys eggersi (Emery,1890) MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011 15

(Conclusão) SubFamília Espécies LG LP TA TLC TM Strumigenys denticulata (Mayr, 1887) Ponerinae Proceratiinae Pseudomyrmecina e Strumigenys subdentata (Mayr, 1887) Strumigenys maynei (Forel, 1916) Strumigenys elongata Roger,1863 Strumigenys perparva (Brown, 1958) Strumigenys precava (Brown, 1954) Strumigenys schmalzi Emery, 1905 Strumigenys silvestrii Emery, 1906 Strumigenys sublonga Brown, 1958 Hylomyrma reitteri (Mayr,1887) Hylomyrma sp2* Carebara urichi (Wheeler, 1922) Megalomyrmex drifti Kempf, 1961 Megalomyrmex goeldii Forel, 1912 Megalomyrmex modestus Emery, 1896 Megalomyrmex silvestrii Wheeler W.M., 1909 Rogeria besucheti Kluger, 1994 Stegomyrmex olindae Feitosa, Brandão & Diniz, 2008* Anochetus diegensis Forel, 1912 Hypoponera distinguenda Emery, 1890 Leptogenys pusilla (Emery,1890) Odontomachus haematodus (Linnaeus,1758) Odontomachus meinerti Forel, 1905 Pachycondyla ferruginea Smithi F., 1858 Pachycondyla gilberti Kempf, 1960 Pachycondyla gp. harpax (Fabricius,1804) Pachycondyla venusta Forel, 1912 Pachycondyla verenae (Forel, 1922) Pachycondyla villosa inversa Smith F., 1858 Thaumatomyrmex contumax Kempf, 1975 + Discothyrea sexarticulata Borgmeier,1954 Pseudomyrmex gp. pallidus Smith F., 1855 Pseudomyrmex tenius (Fabricius, 1804) Legenda: LG = Lagoa Gambá - Gambazinho, LP = Lagoa Preta, TA = Trilha do Aníbal Ponte Queimada, TLC = Trilha da Lagoa Central, TM = Trilha do Macuco Lagoa Juquita *nova espécie e + raras 16 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011

FIGURA 6 Rainha de Wasmannia villosa Emery, 1894 Wasmannia villosa Emery, 1894 (FIG. 6) Distribuição Geográfica: No Brasil, RS (espécie tipo), SP, MG. Biologia: A mirmecologia tem conhecimento somente de rainhas dessa espécie, operárias nunca foram encontradas (LONGINO; FERNÁNDEZ, 2007). Gênero endêmico da região Neotropical, as Wasmannia são também chamadas de pequena formiga de fogo, devido à fama da espécie W. auropunctata, conhecida praga introduzida por todo o trópico (DELABIE, 1989; LONGINO; FERNÁNDEZ, 2007). Fotos: Flávio Siqueira de Castro, 2009 Foto: Flávio Siqueira de Castro, 2009 FIGURA 7 Operária de Strumigenys appretiata Borgmeier, 1954 Strumigenys appretiata Borgmeier, 1954 (FIG. 7). Distribuição Geográfica: Brasil, SC (espécie tipo), sul de MG. Biologia: O gênero Strumigenys pertence à tribo Dacetini, constituída por mirmicíneos dacetinis predadores. Pouco se conhece sobre sua biologia, mas acredita-se que sejam predadores de pequenos artrópodes, como colêmbolos (BROWN; KEMPF, 1960). MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011 17

Fotos: Flávio Siqueira de Castro, 2009 A FIGURA 8 Indivíduo de uma colônia de Thaumatomyrmex contumax Kempf, 1975. (A e B) 18 B Thaumatomyrmex contumax Kempf, 1975 (FIG. 8, A e B). Distribuição Geográfica: Brasil; PE (espécie tipo), BA, MG. Biologia: Thaumatomyrmex contumax é uma predadora de miliapodes da família Polyxenidae (BRANDÃO et al., 1991). Essas presas são cobertas por inúmeros pêlos rígidos e impalatáveis. As formigas utilizam suas mandíbulas para predarem esses miriápodes e os ferroam com um potente aguilhão introduzido na membrana entre os segmentos do corpo. Quando levadas ao ninho, as presas passam por uma limpeza, onde seus pêlos são retirados com o auxílio da mandíbula. Posteriormente são consumidos pelos adultos, e o que sobra é dividido entre as larvas (BRANDÃO et al., 1991). MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.3, n.5, dez./jan. 2010/2011