Lógica dos Conectivos: demonstrações indiretas

Documentos relacionados
Lógica dos Conectivos: demonstrações indiretas

IME, UFF 10 de dezembro de 2013

6 Demonstrações indiretas 29. Petrucio Viana

Lógica Texto 11. Texto 11. Tautologias. 1 Comportamento de um enunciado 2. 2 Classificação dos enunciados Exercícios...

Método das Tabelas para Validade Petrucio Viana

Lógica Computacional DCC/FCUP 2017/18

Aula 2, 2014/2 Sintaxe da Lógica dos Conectivos

IME, UFF 4 de novembro de 2013

Renata de Freitas e Petrucio Viana. IME - UFF 27 de agosto de 2014

Lógica dos Quantificadores: sintaxe

Método das Tabelas para Validade

ESCOLA ONLINE DE CIÊNCIAS FORMAIS CURSO DE INTRODUÇÃO À LÓGICA MATEMÁTICA (2) METALÓGICA DO CÁLCULO PROPOSICIONAL AULA 06 FORMAS NORMAIS

IME, UFF 3 de junho de 2014

Equivalência em LC. Renata de Freitas e Petrucio Viana. IME - UFF 27 de março de 2015

Lógica dos Conectivos: árvores de refutação

Lógica Computacional

Enunciados Quantificados Equivalentes

IME, UFF 7 de novembro de 2013

Fundamentos da Computação 1. Introdução a Argumentos

Para provar uma implicação se p, então q, é suficiente fazer o seguinte:

Dedução Natural LÓGICA APLICADA A COMPUTAÇÃO. Professor: Rosalvo Ferreira de Oliveira Neto

Lógica Computacional Aulas 8 e 9

Enunciados Quantificados Equivalentes

4 Simbolização de enunciados 24

Introdução à Lógica Matemática

Apresentação do curso

Cálculo proposicional

Apresentação do curso

Introdução ao pensamento matemático

Lógica Computacional

n. 16 DEMONSTRAÇÃO CONDICIONAL E DEMONSTRAÇÃO INDIRETA ou DEMONSTRAÇÃO POR ABSURDO DEMONSTRAÇÃO CONDICIONAL

Simbolização de Enunciados com Conectivos

ESCOLA ONLINE DE CIÊNCIAS FORMAIS CURSO DE INTRODUÇÃO À LÓGICA MATEMÁTICA (2) METALÓGICA DO CÁLCULO PROPOSICIONAL

Dedução Natural e Sistema Axiomático Pa(Capítulo 6)

Lógica Proposicional Métodos de Validação de Fórmulas. José Gustavo de Souza Paiva. Introdução

Introdução à Lógica Computacional. Circuitos: Maps de Karnaugh Lógica Proposicional: Prova por Refutação

Lógica Proposicional e Dedução Natural 1/48. Douglas O. Cardoso docardoso.github.io

Introdu c ao ` a L ogica Matem atica Ricardo Bianconi

Lógica Computacional

Lógica Computacional

Expressões e enunciados

Métodos de Verificação

Lógica Computacional

Lógica dos Quantificadores: refutação

Demonstrações. Terminologia Métodos

Capítulo O objeto deste livro

Lógica Computacional

Lógica Formal. Matemática Discreta. Prof Marcelo Maraschin de Souza

3.3 Cálculo proposicional clássico

Matemática Régis Cortes. Lógica matemática

Fórmulas da lógica proposicional

UNIP Ciência da Computação Prof. Gerson Pastre de Oliveira

Lógica. Professor Mauro Cesar Scheer

Bases Matemáticas. Como o Conhecimento Matemático é Construído. Aula 2 Métodos de Demonstração. Rodrigo Hausen. Definições Axiomas.

Aula 7: Dedução Natural 2

Lógica Computacional

IME, UFF 5 de novembro de 2013

Enunciados Atômicos, Conectivos e Enunciados Moleculares

Lógica Texto 7. Texto 7. 1 Negação de enunciados atômicos Exercício resolvido Negação de enunciados moleculares 5

Unidade 1 - Elementos de Lógica e Linguagem Matemáticas. Exemplo. O significado das palavras. Matemática Básica linguagem do cotidiano

MATEMÁTICA 3 MÓDULO 1. Lógica. Professor Renato Madeira

Introdução aos Métodos de Prova

Unidade II. A notação de que a proposição P (p, q, r,...) implica a proposição Q (p, q, r,...) por:

Lógica. Fernando Fontes. Universidade do Minho. Fernando Fontes (Universidade do Minho) Lógica 1 / 65

Simplificação de Enunciados com um Quantificador Petrucio Viana

Universidade Aberta do Brasil - UFPB Virtual Curso de Licenciatura em Matemática

NHI Lógica Básica (Lógica Clássica de Primeira Ordem)

Lógica dos Conectivos: validade de argumentos

Aula 1 Aula 2. Ana Carolina Boero. Página:

Vimos que a todo o argumento corresponde uma estrutura. Por exemplo ao argumento. Se a Lua é cúbica, então os humanos voam.

Negação. Matemática Básica. Negação. Negação. Humberto José Bortolossi. Parte 3. Regras do Jogo. Regras do Jogo

Técnicas de Demonstração. Raquel de Souza Francisco Bravo 17 de novembro de 2016

INE5403 FUNDAMENTOS DE MATEMÁTICA DISCRETA

Lógica Computacional

INE5403 FUNDAMENTOS DE MATEMÁTICA DISCRETA

Lógica Matemática UNIDADE II. Professora: M. Sc. Juciara do Nascimento César

Lógica Computacional

Dedução Natural para Lógica Proposicional

Introdução aos Métodos de Prova

01/09/2014. Capítulo 1. A linguagem da Lógica Proposicional

Aula 6: Dedução Natural

Aula Orientação do espaço. Observação 1

Gabarito da Primeira Lista de Exercícios

Matemática discreta e Lógica Matemática

Matemática discreta e Lógica Matemática

Afirmações Matemáticas

Lógica Computacional

Alfabeto da Lógica Proposicional

Elementos de Lógica Matemática. Uma Breve Iniciação

Gabarito da Avaliação 3 de Lógica Computacional 1

Lógica Computacional

IME, UFF 7 de novembro de 2013

UMA PROVA DE CONSISTÊNCIA

3.4 Fundamentos de lógica paraconsistente

n. 6 Equivalências Lógicas logicamente equivalente a uma proposição Q (p, q, r, ), se as tabelas-verdade destas duas proposições são idênticas.

Bases Matemáticas. Aula 1 Elementos de Lógica e Linguagem Matemática. Prof. Rodrigo Hausen. 24 de junho de 2014

Lógica. Cálculo Proposicional. Introdução

Lógica para Computação Primeiro Semestre, Aula 10: Resolução. Prof. Ricardo Dutra da Silva

Aula 1 Aula 2 Aula 3. Ana Carolina Boero. Página:

Transcrição:

Lógica dos Conectivos: demonstrações indiretas Renata de Freitas e Petrucio Viana IME, UFF 18 de junho de 2015

Sumário Olhe para as premissas Olhe para a conclusão Estratégias indiretas Principais exemplos Exercícios

Parte 1 Olhe para as premissas

Um problema de validade Considere o seguinte argumento (1): p q q r r s s t p t (1) é válido ou não?

Uma demonstração A resposta é sim... Uma demonstração da validade de (1) é a seguinte: Demonstração: P 1. p q P 2. q r P 3. r s P 4. s t 1, 2 5. p r 3, 5 6. p s 4, 6 7. p t Nesta demonstração, o único passo lógico utilizado foi: ϕ ψ ψ θ ϕ θ

Demonstrações diretas De maneira geral, podemos dizer que a demonstração anterior foi construída pela execução dos seguintes passos: 1. análise das premissas; 2. aplicação de passos lógicos às premissas para a obtenção de fórmulas intermediárias; 3. aplicação de passos lógicos às premissas e às fórmulas intermediárias, para a obtenção da conclusão. Por esta razão este tipo de demonstração é chamada de demonstração direta.

Estratégia geral das demonstrações diretas Em linhas gerais, a estratégia geral das demonstrações diretas é: parta das premissas e analisando as premissas, através de passos lógicos, chegue na conclusão.

Outra solução Parta das premissas e chegue na conclusão. Ou, alternativamente...

Parte 2 Olhe para a conclusão

Olhe para a conclusão Uma outra demonstração da validade de (1) pode ser obtida, baseada na seguinte ideia: Esqueça as premissas e note que a conclusão de (1) é uma implicação: Σ p t Para mostrar que a implicação p t segue de um conjunto de premissas, basta mostrar que quando assumimos que as premissas são V, a verdade não decresce, quando passamos de p para t.

Mostrar que a verdade não decresce, quando passamos de p para t, é mostrar que, quando assumimos que p é V, temos que t é V. Assim, para mostrar a validade do argumento (1), basta mostrar que o seguinte argumento, (2), é válido: p p q q r r s s t t A esta altura, não temos nenhuma dificuldade em construir uma demonstração direta da validade de (2).

Demonstração P 1. p q P 2. q r P 3. r s P 4. s t P 5. p 1, 5 6. q 2, 6 7. r 3, 7 8. s 4, 8 9. t Nesta demonstração, o único passo lógico utilizado foi: ϕ ψ ϕ ψ

Observe que... Queríamos demonstrar p t a partir de Σ. Mas, na verdade, demonstramos t a partir de Σ {p}. Para demonstrar a validade de um argumento dado, demonstramos a validade de um outro argumento inventado. O argumento inventado tem uma premissa a mais e uma conclusão mais simples.

Outro problema de validade Considere o argumento (3): ( p) r ( t) ( s) r s (p q) (s t) (3) é válido ou não?

Olhe para a conclusão Para demonstrar Σ (p q) (s t) basta demonstrar Σ p q s t

Olhe para a conclusão, novamente Esqueça as premissas e note que agora a conclusão é uma conjunção: Σ s t Quando podemos considerar que a conjunção s t é consequência de um conjunto de premissas? Por exemplo, quando assumindo que todas as premissas são V, podemos garantir que ambas s e t são V.

Olhe para a conclusão, novamente Para demonstrar Σ p q s t basta demonstrar e Σ p q s Σ p q t

Demonstrações P 1. ( p) r P 2. ( t) ( s) P 3. r s P 4. p q 4 5. p 1, 5 6. r 3, 6 7. s P 1. ( p) r P 2. ( t) ( s) P 3. r s P 4. p q 4 5. p 1, 5 6. r 3, 6 7. s 2, 7 8. t

Observação Queríamos demonstrar (p q) (s t) a partir de Σ. Na verdade, demonstramos ambas s e t a partir de Σ {p q}. Para demonstrar a validade de um argumento dado, demonstramos a validade de dois outros argumentos inventados. Os argumentos inventados têm, cada um, uma premissa a mais e uma conclusão mais simples.

Ainda outro problema de validade Considere o argumento (4) t ( q) ( t) r (s q) (r s) (4) é válido ou não?

Olhe para a conclusão Para demonstrar Σ (s q) (r ( s)) basta demonstrar Σ s q r s

Olhe para a conclusão, novamente Esqueça as premissas e note que agora a conclusão é uma disjunção: Σ r s Quando podemos considerar que a disjunção r s é consequência de um conjunto de premissas? Por exemplo, quando assumindo que todas as premissas são V, podemos garantir que r é V.

Demonstração P 1. t ( q) P 2. ( t) r P 3. s q 3 4. q 1, 3 5. t 2, 5 8. r

Observação Queríamos demonstrar (s q) (r s) a partir de Σ. Na verdade, demonstramos r a partir de Σ {s q}. Para demonstrar a validade de um argumento dado, demonstramos a validade de um outro argumento inventado. O argumento inventado tem uma premissa a mais e uma conclusão mais simples.

Parte 3 Estratégias indiretas

Estratégias diretas Nos esboços de demonstrações acima, aplicamos passos lógicos, como: ϕ ϕ ψ ψ, ϕ ψ ϕ, ( ϕ) ( ψ) ψ ϕ que afirmam diretamente que certos argumentos são válidos.

Estratégias indiretas Aplicamos, também, estratégias aparentemente corretas, como: (i) Para demonstrar Σ ϕ ψ, basta demonstrar Σ ϕ ψ, (ii) Para demonstrar Σ ϕ ψ, basta demonstrar ambos Σ ϕ e Σ ψ, (iii) Para demonstrar Σ ϕ ψ, basta demonstrar Σ ϕ, que afirmam indiretamente que certos argumentos são válidos.

Estratégias indiretas Um passo lógico (ou uma regra de inferência correta) afirma que um certo argumento (ou argumentos que possuem a mesma forma) é válido (são válidos). Uma estratégia indireta é uma regra de outro tipo. Ela não afirma que um certo argumento (ou argumentos que possuem a mesma forma) é válido (são válidos).

Estratégias indiretas Mas, sim, que a validade de certos argumentos A 1, A 2,..., A n (ou de argumentos que possuem a mesma forma) acarreta a validade de outro argumento A (ou de argumentos que possuem a mesma forma). Além disto, para que a estratégia faça sentido, A 1, A 2,..., A n devem ser mais simples (sob um determinado critério de simplicidade) que A.

Estratégias corretas Seja Se A 1, A 2,..., A n, então A uma estratégia indireta de demonstração. Dizemos que Se A 1, A 2,..., A n, então A é correta se a validade simultânea de A 1, A 2,..., A n acarreta a validade de A.

Parte 4 Principais exemplos

Método da suposição Para demonstrar uma implicação, basta supor o antecedente e demonstrar o consequente. Se Σ ϕ ψ, então Σ ϕ ψ. Esta estratégia indireta também é chamada de Introdução do.

Exempĺıcio 1 Apresente uma demonstração indireta da validade do argumento a seguir, usando o Método da suposição. a b c a b c d a d

Método da conjunção Para demonstrar uma conjunção, basta demonstrar cada componente. Se Σ ϕ e Σ ψ, então Σ ϕ ψ. Esta estratégia indireta também é chamada de Introdução do.

Exempĺıcio 2 Apresente uma demonstração indireta da validade do argumento a seguir, usando o Método da conjunção. a b d c b c a d

Método da disjunção Para demonstrar uma disjunção, basta demonstrar ao menos um dos componentes. Se Σ ϕ, então Σ ϕ ψ. Se Σ ψ, então Σ ϕ ψ. Estas duas estratégias indiretas também são chamadas de Introdução do.

Exempĺıcio 3 Apresente uma demonstração indireta da validade do argumento a seguir, usando o Método da disjunção. (a e) f a b c b a d c c d

Método da bi-implicação Para demonstrar uma bi-implicação, basta demonstrar duas implicações associadas: uma que demonstra que o primeiro componente acarreta o segundo componente e a outra que demonstra, reciprocamente, que o segundo componente acarreta o primeiro componente. Se Σ ϕ ψ e Σ ψ ϕ, então Σ ϕ ψ. Esta estratégia indireta também é chamada de Introdução do.

Exempĺıcio 4 Apresente uma demonstração indireta da validade do argumento a seguir, usando o Método da bi-implicação. a c c d b d b ( a d) a b

Método de redução ao absurdo Para demonstrar uma negação, basta supor a sentença negada e demonstrar uma contradição. Se Σ ϕ ψ ( ψ), então Σ ϕ. Esta estratégia indireta também é chamada de Introdução do ou Redução ao Absurdo Intuicionista.

Exempĺıcio 5 Apresente uma demonstração indireta da validade do argumento a seguir, usando o Método da redução ao absurdo. a b c a b d d c c

Variante do Método de redução ao absurdo Para demonstrar uma fórmula qualquer, basta supor a sua negação e demonstrar uma contradição. Se Σ ϕ ψ ( ψ), então Σ ϕ. Esta estratégia indireta também é chamada de Redução ao Absurdo Clássica.

Exempĺıcio 6 Apresente uma demonstração indireta da validade do argumento a seguir, usando a variante do Método de redução ao absurdo. a (b c) c d e d a b e

Parte 5 Exercícios: finalmente, algo com que me preocupar!

Exercícios 1. Ler o texto da Aula 9. 2. Resolver os exercícios da Lista 9.