EVERTON GIACHINI TOSETTO HABITATS DE DESOVA DE PEIXES MIGRADORES NO TRECHO A JUSANTE DAS CATARATAS DO IGUAÇU, PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU

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Transcrição:

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CONSERVAÇÃO E MANEJO DE RECURSOS NATURAIS NÍVEL MESTRADO EVERTON GIACHINI TOSETTO HABITATS DE DESOVA DE PEIXES MIGRADORES NO TRECHO A JUSANTE DAS CATARATAS DO IGUAÇU, PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU CASCAVEL-PR Agosto/213

EVERTON GIACHINI TOSETTO HABITATS DE DESOVA DE PEIXES MIGRADORES NO TRECHO A JUSANTE DAS CATARATAS DO IGUAÇU, PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU Dissertação apresentado ao Programa de Pósgraduação Stricto Sensu em Conservação e Manejo de Recursos Naturais Nível Mestrado, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Conservação e Manejo de Recursos Naturais Área de Concentração: Conservação e Manejo de Recursos Naturais Orientador: Prof. Dr. Sérgio Makrakis CASCAVEL-PR Agosto/213

FOLHA DE APROVAÇÃO Everton Giachini Tosetto Habitats de desova de peixes migradores no trecho a jusante das Cataratas do Iguaçu, Parque Nacional do Iguaçu Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Conservação e Manejo de Recursos Naturais Nível de Mestrado, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Conservação e Manejo de Recursos Naturais, pela comissão Examinadora composta pelos membros: Prof. Dr. Sérgio Makrakis Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Presidente) Profa. Dra. Elaine Antoniassi Luiz Kashiwaqui Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul Profa. Dra. Maristela Cavicchioli Makrakis Universidade Estadual do Oeste do Paraná Aprovada em: Cascavel, 2 de Agosto de 213

AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Universidade Estadual do Oeste do Paraná por ter permitido a realização deste trabalho e ao meu orientador Prof. Dr. Sérgio Makrakis por todo o apoio. Agradeço também às sugestões dadas pela Dra. Maristela Cavicchioli Makrakis e pela Ma. Lucileine de Assumpção e pela ajuda nas análises dada pela Dra. Elaine Antoniassi Luiz Kashiwaqui. Agradeço finalmente ao trabalho de todos os membros do Grupo de Pesquisa em Tecnologia de Produção e Conservação de Recursos Pesqueiros e Hídricos (Getech) da Unioeste, ao suporte financeiro e na execução das coletas fornecido pela equipe do Macuco Safari e também pelo apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade no Parque Nacional do Iguaçu.

SUMÁRIO Lista de figuras iv Lista de tabelas v Resumo vi Abstract vii Introdução 1 Revisão bibliográfica 4 Peixes migradores do médio rio Paraná entre as barragens de Itaipu e Yacyretá 4 Habitats de reprodução de peixes migradores no Brasil 5 Objetivos 7 Objetivo Geral 7 Objetivos específicos 7 Materiais e métodos 7 Área de estudo e amostragem 7 Coleta e análise laboratorial de peixes 11 Coleta de dados abióticos 12 Análise de dados 12 Resultados 12 Características físico-químicas dos pontos de amostragem 12 Características morfológicas dos pontos de amostragem 16 Estruturação dos habitats da área de estudo 16 Composição de espécies de peixes migradores 17 Reprodução das espécies de peixes migradores 18 Habitats de desova de Rhaphiodon vulpinus 19 Habitats de desova de Prochilodus lineatus 2 Habitats de desova de Salminus brasiliensis 21 Habitats de desova de Leporinus elongatus 21 Habitats de desova de Pimelodus ornatus 22 Relação entre a reprodução dos peixes migradores e as variáveis abióticas 23 Discussão 24 Conclusões 27 Referências.bibliográficas 27

LISTA DE FIGURAS Fig. 1 Localização dos pontos de amostragem no rio Iguaçu 8 Fig. 2 JUSCAT 9 Fig. 3 JUSMAC 9 Fig. 4 MOSJ 1 Fig. 5 JUSCA 1 Fig. 6 IGUAFOZ 11 Fig. 7 Temperatura da água (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA 13 Fig. 8 Oxigênio dissolvido (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA 13 Fig. 9 ph (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA 14 Fig. 1 Condutividade elétrica (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA 15 Fig. 11 Turbidez (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA 15 Fig. 12 Dendrograma da análise de Cluster 16 Fig. 13 Número de indivíduos capturados por ponto de amostragem 18 Fig. 14 Abundância relativa dos estágios de maturação gonadal das espécies migradoras 18 Fig. 15 Abundância das categorias de maturação gonadal nos pontos de amostragem 19 Fig. 16 Abundância das categorias de maturação gonadal de R. vulpinus 2 Fig. 17 Abundância das categorias de maturação gonadal de P. linetaus 2 Fig. 18 Abundância das categorias de maturação gonadal de Salminus brasiliensis 21 Fig. 19 Abundância das categorias de maturação gonadal de L. elongatus 22 Fig. 2 Abundância das categorias de maturação gonadal de P. ornatus 22 Fig. 21 Análise de Correlação Canônica (CCA) relacionando a reprodução dos peixes migradores (Lelong = L. elongatus, Pcorrus = P. corruscans, Plinea = P. lineatus, Pmacul = P. maculatus, Pornat = P. ornatus, Rvulpi = R. vulpinus e Sbrasi = S. brasiliensis),com as variáveis abióticas 23

LISTA DE TABELAS Tabela 1 Características morfológicas dos pontos de amostragem. 16 Tabela 2 Composição de peixes migradores na área de estudo 17

Resumo Devido a fragmentação do médio rio Paraná pelas represas de Itaipu e Yacyretá, a sobrevivência das espécies de peixes que realizam migrações reprodutivas depende do sucesso na busca por rotas alternativas para a reprodução. Assim esse trabalho buscou verificar se o trecho do rio Iguaçu entre as Cataratas do Iguaçu e a sua foz, situada a jusante de Itaipu está sendo usado com área de reprodução dessas espécies e também descrever as características desses habitats. Os resultados evidenciaram que a reprodução de sete espécies de peixes migradores, Raphiodon vulpinus, Prochilodus lineatus, Salminus brasiliensis, Leporinus elongatus, Pimelodus ornatus, Pimelodus maculatus e Pseudopimelodus corruscans, ocorre no trecho do rio Iguaçu localizado entre as Cataratas do Iguaçu e a confluência com o rio Paraná, principalmente nos habitats localizados no interior do Parque Nacional do Iguaçu, que apresentam características propícias para a desova e o transporte de ovos e larvas, como altas concentrações de oxigênio dissolvido, corredeiras e correntezas, ampla vegetação ripária e substratos que garantem boas condições de abrigo. Palavras chaves: Peixes migradores, Reprodução, Rio Iguaçu, Cataratas do Iguaçu

Abstract Due to the fragmentation of the middle Paraná River by the Itaipu and Yacyretá dams, the survival of migratory fish species depends on the success in the search of alternative routes for reproduction. Thus this study aimed to verify whether the stretch of the Iguaçu river between the Iguaçu Falls and the mouth, located downstream of Itaipu is being used as an area of reproduction of these species and also describe the characteristics of these habitats. The results showed that the reproduction of seven species of migratory fish, Raphiodon vulpinus, Prochilodus lineatus, Salminus brasiliensis, Leporinus elongatus, Pimelodus ornatus, Pimelodus maculatus and Pseudopimelodus corruscans, occurs in the stretch of the Iguaçu River located between the Iguaçu Falls and the confluence with the Paraná River. mainly in habitats located within the Iguaçu National Park, which have suitable characteristics for spawning and transport of eggs and larvae for development regions, such as high concentrations of dissolved oxygen, rapids and riffles, wide riparian vegetation and substrates that ensure good cover conditions. Keywords: Migratory fish, Reproduction, Iguaçu river, Iguaçu falls

1 Introdução Uma grande variedade de espécies de peixes realiza algum tipo de migração ao longo de sua vida. Muitas destas espécies, pelos maiores tamanhos, apresentam uma grande importância econômica para a pesca (Carolsfeld et al., 23). Os movimentos migratórios também tem importantes funções ecológicas nas comunidades aquáticas, proporcionando o transporte de energia e nutrientes ao longo de regiões com diferentes condições tróficas (Allan et al., 25). Embora as estratégias migratórias para a América do Sul mudem de acordo com a bacia e a espécie, um padrão geral seria a migração ascendente até as regiões de desova, definida no Brasil como piracema, seguida pela dispersão descendente de ovos, larvas e adultos esgotados até as áreas de desenvolvimento inicial, alimentação e refúgio, nas planícies de inundação. Esse padrão é encontrado principalmente nas bacias dos rios São Francisco, Paraguai, alto e baixo Paraná (Carolsfeld et al., 23). Para a bacia do alto rio Paraná, as áreas de desova da maioria dos peixes migradores ocorre na parte alta dos grandes tributários, embora algumas foram encontradas reproduzindose exclusivamente no rio Paraná. Após a desova, ovos e larvas se dispersam até as lagoas marginais na parte baixa dos tributários e do próprio canal principal, principalmente na planície de inundação do alto rio Paraná. As áreas de alimentação ocorrem no canal principal, canais secundários e rios meândricos e de corredeiras (Agostinho et al., 23). Padrões alternativos e muitas vezes bem mais complexos podem ser encontrados na bacia do rio Amazonas, alto e médio Uruguai e no seguimento do médio rio Paraná compreendido atualmente entre a barragem de Itaipu e o reservatório de Yacyretá na região da cidade de Posadas na Argentina (Carolsfeld et al., 23). As porções alta e média do rio Uruguai são bem canalizadas com margens íngremes, tributários quebrados por cachoeiras e apenas uma pequena área de várzea, limitando os peixes migradores ao canal principal do rio e à porção baixa dos tributários. A ausência de grandes planícies de inundação parece ter adaptado estes peixes a usarem a região de confluência dos tributários com o rio principal como áreas de desenvolvimento inicial. As águas destes locais adquirem características lênticas nos períodos de cheia do rio Uruguai, apresentando alta temperatura e transparência, que levam a uma grande produção planctônica e condições favoráveis ao desenvolvimento (Zaniboni-Filho & Schulz, 23).

2 A barreira histórica dividindo o alto e médio rio Paraná costumava ser as Sete Quedas de Guaíra, as águas do trecho a jusante, tido como o limite norte para a distribuição de espécies de peixe na bacia, apresentavam grande turbulência, e corriam, até a região da cidade de Posadas, na Argentina, assim como ocorre no rio Uruguai, por um cânion estreito formado por rochas basálticas com margens íngremes, separado dos tributários por quedas próximas a sua confluência com o rio Paraná, variando de 1 a mais de 1 metros de altura, como no caso das Cataratas do Iguaçu, o clima na região é subtropical, com apenas uma curta estação seca no inverno, entre julho e agosto. Com o alagamento das Sete Quedas pelo reservatório de Itaipu em 1983, este limite passou a ser a barragem da usina hidrelétrica, situada 15 km a jusante (Agostinho et al. 1993; Araya et al., 25; Resende, 23). A jusante de Posadas havia uma série de ilhas que tipicamente eram inundadas pelo menos uma vez por ano no verão, com o fechamento da represa de Yacyretá, em 1994, essa região foi inundada pelo reservatório de 7 km de comprimento (Araya et al., 25; Resende, 23). A exceção da porção baixa do rio Garupá, um tributário da área de transição do rio Paraná com o reservatório, que apresenta uma planície de inundação com lagoas e pântanos (Flores et al., 29), o trecho a montante não apresenta outras áreas com lagoas marginais e zonas litorâneas amplas que seriam adequadas ao desenvolvimento inicial das espécies de peixes migradores (Agostinho et al., 1993), o que poderia justificar, somado ao fato da represa ter sido fechada em um período em que estás espécies estavam a jusante nas áreas de alimentação, os relatos que sugerem que a produtividade pesqueira está bem menor do costumava ser antes da construção da hidrelétrica (Araya et al., 29; Resende, 23). Os impactos causados por barramentos como Itaipu e Yacyretá podem prejudicar de diversas maneiras as espécies de peixes migradores, entre elas estão a perda de habitats lóticos e planícies de inundação naturais e sua substituição pelo ecossistema lêntico do reservatório, com a reestruturação das comunidades, modificações das condições físico-químicas da água e eutrofização a montante (Agostinho et al., 1992; Jackson & Marmulla, 21), já no trecho a jusante da barragem ocorre a diminuição do fluxo de nutrientes, o controle dos pulsos de inundação e o bloqueio das rotas migratórias (Agostinho et al., 25; Godinho & Kynard, 29; Jackson & Marmulla, 21; Pelicice & Agostinho, 28). Em estudos realizados a jusante da barragem de Itaipu, apenas uma espécie migradora, Pimelodus maculatus, apresentou evidência de desova, já Brycon obignyanus, Prochilodus lineatus e Pterodoras granulosus tiveram ovários com ovócitos em diferentes fases de atresia

3 e ausência de folículos pós-ovulatórios, indicando que a desova não ocorreu, esses resultados demonstram que a inundação do trecho entre a cidade de Foz do Iguaçu e as Sete Quedas de Guaíra impactaram a reprodução dos peixes migradores de uma forma maior que o esperado (Agostinho et al., 1993). Na tentativa de mitigar os impactos causados pela barragem de Itaipu às espécies de peixes migradoras, em 22 foi construído o Canal da Piracema, um sistema de transposição seminatural ligando o médio rio Paraná ao reservatório. A instalação do canal foi bastante controversa, pois juntou duas províncias ictiofaunísticas distintas que anteriormente eram separadas pelas Sete quedas de Guaíra. Porém estudos realizados no canal demonstraram uma redução abrupta do número de espécies, inclusive as migradoras, da jusante para montante, indicando que ele está funcionando de maneira muito seletiva (Makrakis et al., 27; Fontes Júnior et al., 212), esses resultados também são encontrados em outros sistemas de transposição no Brasil (Agostinho et al., 27; Pompeu et al., 212). Além dos problemas relacionados à seletividade, os sistemas de transposição podem prejudicar a comunidade de peixes migradores pelo retardamento na passagem (Agostinho et al., 27; Fontes Júnior et al., 212) por ter o potencial de intensificar a predação dos indivíduos ascendentes (Agostinho et al., 27; Agostinho et al., 212), pela possibilidade de muitas vezes funcionarem como armadilhas ecológicas, onde os peixes são transferidos de locais com habitats de alimentação, refúgio e desova adequados para ambientes com baixa qualidade, como o reservatório a montante (Pelicice & Agostinho, 28; Pompeu et al., 212) e pela ausência virtual da passagem a jusante de ovos, larvas e adultos migrantes (Agostinho et al., 27; Pompeu et al., 212). Sendo que a manutenção de populações viáveis é o único conceito ecologicamente racional para a eficiência apropriada de sistemas de transposição de peixes na América do Sul (Pompeu et al., 212) a conjunção desses fatores podem torná-los ineficientes ou até mesmo ecologicamente indesejáveis (Agostinho et al., 27) Na ausência de um sistema de transposição que funcione adequadamente, o grau do impacto causado pelo barramento vai depender da possibilidade dos peixes desovarem a jusante da represa ou até mesmo encontrar novas áreas mais abaixo. Em estudos realizados no alto rio Paraná, a jusante da represa de Porto Primavera, ao não conseguir seguir pelo canal principal do rio, algumas espécies de peixes migradores conseguiram encontrar rotas alternativas nos tributários, principalmente os próximos a represa (Antonio et al., 27). Neste contexto, a existência de áreas de desova de peixes migradores na bacia do

4 médio rio Paraná entre Itaipu e Posadas deve ser verificada. Uma possível rota migratória alternativa para os peixes deste trecho é o rio Iguaçu, que tem sua confluência com o rio Paraná poucos quilômetros a jusante da barragem de Itaipu e apresenta-se bastante integro devido ao Parque Nacional do Iguaçu. Um pouco acima porém, estão Cataratas do Iguaçu, uma barreira natural para a migração de peixes (Garavello et al., 1997). No entanto, nesta Unidade de Conservação Nacional estudos relacionados a composição da ictiofauna, abordando aspectos do comportamento migratório e reprodutivo das espécies e caracterizando áreas de reprodução são inexistentes. Assim um estudo adequado para conhecimento das áreas de desova dos peixes migradores no trecho do rio Iguaçu entre as Cataratas e a sua foz se torna necessário. Revisão bibliográfica Peixes migradores do médio rio Paraná entre as barragens de Itaipu e Yacyretá A maioria das espécies de peixes economicamente importantes da bacia do rio ParanáParaguai realiza migrações, estas espécies estão distribuídas nas ordens Characiformes e Siluriformes. Porém para o trecho entre as barragens de Itaipu e Yacyretá, as informações sobre os padrões de migração ainda são escassas (Resende, 23). No trecho do rio Paraná que veio a se tornar o reservatório de Yacyreta, P. Lineatus, Leporinus obtusidens, Salminus brasiliensis e P. granulosus foram capturados durante todo o ano, porém as maiores densidades ocorreram entre agosto e outubro, o período das migrações de desova. Também foram encontradas larvas de P. lineatus e L. obtusidens entre janeiro e fevereiro (Oldani et al., 1992). No trabalho de Roa & Permingeat (1999) as seguintes espécies de peixes migradores foram encontradas no reservatório de Yacyretá e na área de transição com o rio Paraná: B. orbignyanus, L. obtusidens, P. lineatus, Rhaphiodon vulpinus, S. brasiliensis, Schizodon borellii, Hemisorubim platyrhynchos, Zungaro jahu, Pseudoplatystoma corruncans, Pseudoplatystoma reticulatum, P. granulosus, Rhinepelis aspera e Sorubim lima. Sendo que P. lineatus, L. obtusidens e S. borellii apresentaram alta frequência no reservatório e L. obtusidens na área de transição. Araya et al. (25) coloca que logo após a formação do reservatório de Yacyretá a

5 distribuição etária de L. obtusidens indicou uma população estável, possivelmente devido a alta carga de nutrientes provenientes da decomposição da matéria orgânica inundada, assemelhando-se a lagoas de planícies de inundação. Na porção baixa do rio Garupá, um tributário da área de transição do rio Paraná com o reservatório de Yacyretá, três espécies migradoras foram capturadas, L. obtusidens, R. vulpinus e P. maculatus. Essa área apresenta uma desenvolvida planície de inundação com lagoas e pântanos, onde alevinos e juvenis destas espécies transitam entre os habitats em busca de refúgio e alimento (Flores et al., 29). As espécies migradoras B. orbignyanus, S. borellii, H. platyrhynchos, L. obtusidens, P. granulosus, R. vulpinus, P. maculatus, P. corruscans e P. lineatus foram encontradas no trecho abaixo da barragem de Itaipu (Agostinho et al., 1993). No rio Bela Vista, o seguimento inicial do Canal da Piracema, situado logo a jusante da barragem de Itaipu, Makrakis et al. (27) encontrou as seguintes espécies migradoras: Brycon hilarii, B. orbignyanus, H. platyrhynchos, Leporinus elongatus, Leporinus macrocephalus, L. obtusidens, P. corruscans, P. reticulatum, P. granulosus, P. lineatus, P. maculatus, Piaractus mesopotamicus, Pimelodus ornatus, Pinirampus pirinampu, R. vulpinus e Salminus brasiliensis. Ao descrever a diversidade e distribuição das espécies de peixe da província de Missiones, na Argentina, López et al. (25) cita as seguintes espécies de peixes migradores para o canal principal do médio rio Paraná: P. lineatus, L. obtusidens, S. borellii, S. brasiliensis, B. orbignyanus, P. mesopotamicus, R. vulpinus, P. maculatus, P. corruscans, P. reticulatum, S. lima e Zungaro jahu. Para os tributários o autor cita P. lineatus e S. borellii, e para o rio Iguaçu, P. lineatus, S. brasiliensis, Salminus hilarii, B. orbignyanus, P. maculatus, P. corruscans, Steindachneridion scriptum e Z. zungaro jahu. Habitats de reprodução de peixes migradores no Brasil No rio São Francisco, Godinho & Kynard (26) identificaram que a principal área de reprodução de Prochilodus argenteus foi a região de Pontal, 32 quilômetros a jusante da represa de Três Marias, o trecho apresenta declividade alta, corredeiras e águas correntes, substratos rochosos e velocidades rápidas. No mesmo rio, P. corruscans, teve a principal área de reprodução nas Corredeiras de Pirapora, 129 quilômetros a jusante de Três Marias, o trecho

6 também apresenta gradiente acentuado, corredeiras, substrato rochoso e escoamento rápido (Godinho et al., 27). No rio Uruguai, S. scriptum desovou nos 6 quilômetros entre a represa de Machadinho e a foz do rio Ligeiro, nos períodos reprodutivos entre 21 e 21, o rio apresentou 25 metros de largura, 6 metros de profundidade, temperatura da água média de 22,15 C, concentração de oxigênio dissolvido média de 7,27 mg/l, ph médio de 7,32, transparência (Secchi) média de 116 centímetros e vazão média de 71 m³/s. Próximo a este trecho, S. brasiliensis e P. lineatus desovaram no rio Ligeiro que no mesmo período teve 6 metros de largura, 2,5 metros de profundidade, temperatura média de 23,99 C, concentração de oxigênio dissolvido média de 7,64 mg/l, ph médio de 7,52, transparência (Secchi) média de 73 centímetros e vazão média de 94 m³/s (Reynalte-Tataje et al., 212). Na bacia do alto rio Paraná, Baungartner et al. (24) coloca as regiões altas e médias das bacias dos rios Ivaí e Amambaí como habitats de reprodução de espécies migradoras, onde as mais abundantes foram L. elongatus, L. friderici, P. maculatus e P. granulosus. As altas densidades de ovos nessas áreas estiveram associadas a presença de barreiras geográficas, como cascatas e corredeiras, que segundo os autores, são ambientes adequados de desova para as espécies migradoras por garantirem condições adequadas de oxigênio dissolvido e transporte para as áreas de desenvolvimento inicial. Também na bacia do alto rio Paraná, Silva et al. (211) apontam que as correntezas do canal principal do rio Aguapeí, um tributário do reservatório de Porto Primavera, que apresenta padrão meândrico, pouco largura e profundidade, valores elevados de condutividade elétrica e turbidez e margens cobertas por vegetação arbustiva e arbórea, foi utilizado para a desova das espécies migradoras, P. lineatus, H. platyrhynchos, P corruscans, P. maculatus e S. lima. O autor também coloca que as correntezas proporcionam a deriva da prole rio abaixo para as áreas de desenvolvimento inicial. Na região rio Cuiabazinho bacia do pantanal mato-grossense, ovos das espécies de peixes migradores P. lineatus, S. basiliensis, H. platyrhunchos, Pseudoplatystoma spp. e Z. jahu foram encontrados na parte baixa da cabeceira da bacia, o gradiente de distribuição sugere que os indivíduos migrantes não chegaram as partes superiores por já encontrarem condições adequadas para a desova e transporte de ovos para as regiões de desenvolvimento. A maior abundância de ovos aconteceu nas áreas com os menores valores de oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, e transparência, maiores larguras e profundidades

7 intermediarias. A já conhecida necessidade de valores altos de oxigênio dissolvido para o desenvolvimento dos ovos não pareceu ser um fator limitante, já que todas as áreas apresentaram altas concentrações (Ziober et al., 212). Objetivos Objetivo geral Verificar se as espécies de peixes migradores utilizam o trecho do rio Iguaçu entre as Cataratas do Iguaçu e a sua foz no rio Paraná como área de reprodução e quais os habitats mais adequados para a desova. Objetivos específicos Descrever algumas características estruturais (hidrológicas e geomorfológicas) e físico-químicas dos diferentes ambientes presentes na área de estudo Identificar a composição de espécies de peixes migradores da área de estudo. Avaliar quais espécies de peixes migradores utilizam a região como área de desova. Identificar os habitats de desova das espécies migradoras na área de estudo. Relacionar as características estruturais e físico-químicas com a reprodução das espécies de peixes migradores. Materiais e Métodos Área de estudo e amostragem A área de estudo compreendeu o seguimento de aproximadamente 24 quilômetros do rio Iguaçu situado entre as Cataratas do Iguaçu e a sua confluência com o rio Paraná. Assim como o restante da bacia do médio rio Paraná entre a Barragem de Itaipu e a cidade de Posadas na Argentina, o rio Iguaçu neste trecho escoa por um cânion estreito com margens íngremes, sem a presença de áreas alagáveis e lagoas marginais. A porção superior, mais próxima às Cataratas caracteriza-se por uma série de corredeiras e correntezas com velocidade

8 de fluxo elevada e encontra-se bastante preservada, por estar situada dentro de uma Unidade de Conservação Nacional. Já na parte inferior, as águas são mais calmas e muitas vezes represadas pelo canal principal do rio Paraná, a região está mais susceptível a impactos, devido à urbanização intensa em ambas as margens, às atividades industriais e a lavagem de areia no rio. As amostragens foram realizadas em 5 trechos ao longo do curso do rio (Fig. 1): Fig. 1 Localização dos pontos de amostragem no rio Iguaçu

9 JUSCAT: Trecho mais próximo as Cataratas, está localizado nas coordenadas 25 39'1,48''S e 54 27'15,''O (Fig. 2). Fig. 2 JUSCAT JUSMAC: Trecho situado a jusante do caís do Macuco Safári, localizado nas coordenadas 25 38'38,33''S e 54 27'42,5''O (Fig. 3). Fig. 3 JUSMAC

1 MOSJ: Trecho situado a montante da foz do rio São João no rio Iguaçu, está localizado nas coordenadas 25 37'53,51''S e 54 28'31,27''O (Fig. 4). Fig. 4 MOSJ JUSCA: Trecho situado a jusante da foz do rio Carimã no rio Iguaçu, está localizado nas coordenadas 25 35'17,99''S e 54 33'49,73''O (Fig. 5). Fig. 5 JUSCA

11 IGUAFOZ: Trecho situado próximo a confluência do rio Iguaçu com o rio Paraná, está localizado nas coordenadas 25 35'32,8''S e 54 35'18,38''O (Fig. 6). Fig. 6 IGUAFOZ Coleta e análise laboratorial de peixes Em cada ponto de amostragem, as coletas de peixes foram realizadas mensalmente por um período de 24 meses, entre outubro de 21 e setembro de 212, com redes de espera de 1 metros com malhas simples variando de 2,4 a 18 cm entre nós opostos e feiticeiras de 6, 7 e 8 cm entre nós opostos e espinhel com 2 anzóis de 9/. Os aparelhos foram instalados as 16: horas e revistados a cada 6 horas até as 1: horas do dia seguinte. Após a identificação e biometria, parte dos peixes migradores foram marcados e soltos próximos ao local de captura e os restantes foram transportados ao laboratório do Parque Nacional do Iguaçu e dissecados, onde a determinação do estágio de maturação gonadal foi realizada a através da observação macroscópica das gônadas, conforme a metodologia proposta por Vazzoler (1996), os peixes foram então classificados em: Estágios não reprodutivos: Pertencem a esta categoria indivíduos imaturos, em repouso e em processo de recuperação gonadal. Maturação: Nesta categoria foram incluídos indivíduos em início de maturação e em maturação avançada. Reprodução: Nesta categoria foram incluídos indivíduos maduros e semi-esgotados.

12 Esgotados: Nesta categoria foram incluídos indivíduos esgotados. Coleta de dados abióticos Para cada ponto de amostragem, concomitantemente às coletas de peixes, foram registrados os seguintes dados abióticos: temperatura da água ( C), condutividade elétrica (μs/cm), turbidez (NTU), oxigênio dissolvido(mg/l) e ph, obtidos por sonda multiparamétrica marca YSI modelo Pro Plus. Ao final das coletas também foi observado para cada ponto o substrato predominante, o tipo de mesohabitat (Harding et al., 29), a presença de áreas de remanso, a vegetação ripária e a ocupação do solo na região. Análise de dados As diferenças entre os valores médios das variáveis físico-químicas obtidas nos 5 pontos de amostragens foram verificadas através da Análise de Variância Unifatorial (Oneway ANOVA), utilizando o software Statistica 8. (Statsoft, 27). A estruturação dos habitats encontrados na área de estudo com base nas características morfológicas e físico químicas foi verificada através da análise de agrupamento de Cluster, utilizando o software PC-ORD 5.33 (McCune & Mefford, 26). As espécies que estiveram desovando na área de estudo foram definidas pela presença de indivíduos incluídos na categoria de maturação gonadal Reprodução. Os habitats de desova das espécies mais representativas foram definidos pelo número de indivíduos na categoria Reprodução nos diferentes pontos na área de estudo. As características estruturais e físico-químicas foram relacionadas com a reprodução das espécies de peixes migradores através da Análise de Correlação Canônica (CCA), utilizando o software PC-ORD 5.33 (McCune & Mefford, 26). Resultados Características físico-químicas dos pontos de amostragem Embora as médias da temperatura da água não tenham demonstrado alterações significativas, os pontos localizados fora dos limites do Parque Nacional do Iguaçu

13 apresentaram águas ligeiramente mais quentes que os de dentro (Fig. 7). Fig. 7 Temperatura da água (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA Os maiores níveis de oxigênio dissolvidos ocorreram no ponto JUSCAT, níveis pouco menores ocorreram nos 3 pontos seguintes e os menores ocorreram no ponto IGUAFOZ, as médias entre os pontos, porém, não apresentaram alterações significativas (Figura 8). Fig. 8 Oxigênio dissolvido (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA

14 As médias dos valores de ph entre os pontos de amostragem não apresentaram alterações significativas, os valores porém, a exceção do ponto JUSCA que recebe uma alta carga de poluentes devido a foz do riacho urbano Carimã, decaíram ao longo do curso do rio (Fig. 9). Fig. 9 ph (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA Os menores valores de Condutividade elétrica ocorreram no ponto JUSCAT e os maiores no ponto JUSMAC, as médias entre os pontos não apresentaram alterações significativas (Fig. 1).

15 Fig. 1 Condutividade elétrica (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA Os menores e maiores valores de turbidez ocorreram respectivamente nos pontos JUSCA e JUSMAC, sem alterações significativas entre as médias (Fig. 11). Fig. 11 Turbidez (média±se) dos pontos de amostragem e resultados da ANOVA

16 Características morfológicas dos pontos de amostragem O tipo substrato, a forma de escoamento, a presença de áreas de e remanso, a vegetação ripária e a ocupação do solo nos pontos de amostragem estão descritas na tabela 1. Tabela 1 Características morfológicas dos pontos de amostragem. Local Substrato predominante Tipo de mesobaitat Áreas de remanso Vegetação ripária Ocupação do solo JUSCAT Rocha matriz / Grandes blocos Corredeiras Presentes 13 m Parque nacional JUSMAC Rocha matriz / Grandes blocos Correntezas Presentes 117 m Parque nacional MOSJ Rocha matriz / Grandes blocos Correntezas Presentes 48 m Parque nacional JUSCA Lama / Areia Águas correntes Presentes 14 m Área urbana IGUAFOZ Lama / Areia Águas correntes Presentes 8 m Área urbana Estruturação dos habitats da área de estudo Embora não tenham sido encontradas diferenças significativas nas médias das variáveis físico-químicas entre os pontos, a análise de agrupamento de Cluster dividiu os pontos de amostragem em dois grupos de habitats distintos um para os ambientes localizados dentro do Parque Nacional do Iguaçu e outro para os de fora. Em cada grupo, os anos de amostragem também foram separados (Fig. 12). 1,1E-4 Distance (Objective Function) 2,7E-3 5,4E-3 8E-3 1,1E-2 Information Remaining (%) 1 75 5 25 JCAT1 JMAC1 MOSJ1 JCAT2 JMAC2 MOSJ2 JCA1 IFOZ1 JCA2 IFOZ2 Fig. 12 Dendrograma da análise de Cluster

17 Composição de espécies de peixes migradores Foram coletados 541 exemplares de peixes migradores distribuídos em 17 espécies, 7 famílias e 2 ordens. As espécies mais abundantes foram R. vulpinus (3,2 %), P. lineatus (18,9 %) e S. brasiliensis (18%) (Tabela 2). Tabela 2 Composição de peixes migradores na área de estudo Espécie JUSCAT JUSMAC MOSJ JUSCA IGUAFOZ Total Rhaphiodon vulpinus 27 26 35 49 56 193 Prochilodus lineatus 36 54 16 8 7 121 Salminus brasiliensis 54 35 19 5 2 115 Pterodoras granulosus 22 7 12 4 5 5 Pimelodus ornatus 17 11 1 3 4 45 Zungaro jahu 14 2 2 2 2 Pimelodus maculatus 1 1 4 4 7 17 Leporinus elongatus 4 4 3 4 1 16 Sorubim lima 3 1 2 5 4 15 Steindachneridion scriptum 7 6 2 15 Brycon orbignyanus 8 1 9 Pseudoplatystoma corruscans 1 1 2 2 6 Hemisorubim platyrhynchos 2 1 1 1 5 Pseudoplatystoma reticulatum 2 3 5 Pinirampus pirinampu 1 3 4 Brycon hilarii 1 1 2 Rhinelepis aspera 1 1 2 A maior abundância de peies migradores ocorreu nos pontos localizados dentro dos limites do Parque Nacional Iguaçu, onde 71,7 % dos indivíduos foram capturados. O ponto mais representativo foi JUSCAT (3,8%), o número de indivíduos decaiu então, ao longo do curso do rio, até o ponto JUSCA, seguido de um pequeno aumento no ponto IGUAFOZ, que ocorreu principalmente devido à alta abundância de R. vulpinus ali (Fig. 13; Tabela 2).

18 2 18 16 14 12 1 8 6 4 2 JUSCAT JUSMAC MOSJ JUSCA IGUAFOZ Fig. 13 Número de indivíduos capturados por ponto de amostragem Reprodução das espécies de peixes migradores No trecho estudado, 7 espécies migradoras foram encontradas em estágio de reprodução, R. vulpinus, P. lineatus, S. brasiliensis, L. elongatus, P. ornatus, P. maculatus e P. corruscans, o que indica que a área estudada é usada para a desova destas espécies. B. Orbignyaus, Z. Jahu, S. lima, H. platyrhinchos e P. reticulatum foram encontrados em estágio de maturação, mas a reprodução não foi constatada. P. granulosus e P. pirinampu só foram encontrados em estágios não reprodutivos (Fig. 14). 1% 9% 8% 7% 6% 5% 4% 3% 2% 1% % Esgotado Não Reprodutivo Maturação R. vulpinus P. lineatus S. brasiliensis L. elongatus P. ornatus P. m aculatus P. corruscans B. orbignyanus P. granulosus Z. jahu P. pirinam pu S. lim a H. platyrhynchos P. reticulatum Reprodução Fig. 14 Abundância relativa dos estágios de maturação gonadal das espécies migradoras

19 No período amostrado, a reprodução ocorreu principalmente nos pontos localizados na área do Parque Nacional do Iguaçu, decaindo nos pontos a jusante (Fig. 15) 14 12 1 8 Esgotado 6 Não Reprodutivo 4 Maturação 2 Reprodução IGUAFOZ JUSCA MOSJ JUSMAC JUSCAT Fig. 15 Abundância das categorias de maturação gonadal nos pontos de amostragem Habitats de desova de Rhaphiodon vulpinus Os principais habitats de desova de R. vulpinus no período amostrado foram os pontos JUSCAT e MOSJ, ambos situados no Parque Nacional do Iguaçu, mas indivíduos em reprodução também foram encontrados nos pontos JUSMAC e JUSCA, este fora do parque, o que demonstra que apesar de haver uma preferência por ambientes mais íntegros com substratos rígidos e águas rápidas e turbulentas, a espécie apresenta versatilidade na escolha das áreas de desova (Fig. 16). Indivíduos em estágios não reprodutivos (inclusive esgotados) foram encontrados em grande número nos pontos fora do parque indicando que estas áreas podem servir para outras etapas do ciclo de vida da espécie (Fig. 16).

2 6 5 4 Esgotado 3 Não Reprodutivo 2 Maturação 1 Reprodução IGUAFOZ JUSCA MOSJ JUSMAC JUSCAT Fig. 16 Abundância das categorias de maturação gonadal de R. vulpinus Habitats de desova de Prochilodus lineatus A reprodução de P. lineatus ocorreu principalmente no ponto JUSCAT e JUSMAC, os mais próximos às quedas. Somente um indivíduo em reprodução foi capturado fora dos limites do Parque Nacional do Iguaçu, no ponto JUSCA. A maioria dos peixes amostrados em outros estágios de maturação gonadal também ocorreram nos pontos situados dentro do parque, o que demonstra a preferência desta espécie por esses ambientes (Fig. 17). 45 4 35 3 25 Esgotado 2 Não Reprodutivo 15 Maturação 1 Reprodução 5 IGUAFOZ JUSCA MOSJ JUSMAC JUSCAT Fig. 17 Abundância das categorias de maturação gonadal de P. linetaus

21 Habitats de desova de Salminus brasiliensis Os habitats de desova de S. brasiliensis ocorreram exclusivamente nos pontos localizados dentro da área do Parque Nacional do Iguaçu, onde também foi capturada a maioria dos indivíduos em outros estágios, decaindo conforme o gradiente do rio, isso demonstra que esses ambientes íntegros, com substratos rígidos, boas condições de oxigenação e águas rápidas e turbulentas são essenciais não só para a reprodução, mas para todo o ciclo de vida desta espécie (Fig. 18). 45 4 35 3 25 Esgotado 2 Não Reprodutivo 15 Maturação 1 Reprodução 5 IGUAFOZ JUSCA MOSJ JUSMAC JUSCAT Fig. 18 Abundância das categorias de maturação gonadal de Salminus brasiliensis Habitats de desova de Leporinus elongatus A desova de L. elongatus também ocorreu exclusivamente nos ambientes dentro do Parque Nacional do Iguaçu, o que indica a preferência das características desses habitats para a reprodução desta espécie (Fig. 19)

22 4,5 4 3,5 3 2,5 Esgotado 2 Não Reprodutivo 1,5 Maturação 1 Reprodução,5 IGUAFOZ JUSCA MOSJ JUSMAC JUSCAT Fig. 19 Abundância das categorias de maturação gonadal de L. elongatus Habitats de desova de Pimelodus ornatus Embora a reprodução de P. ornatus também tenha ocorrido no ponto IGUAFOZ, a maior parte dos indivíduos nesse estágio foram capturados nos ambientes localizados dentro do Parque Nacional do Iguaçu, assim como a totalidade dos peixes em maturação, indicando a importância desses habitats para a desova desta espécie (Fig. 2) 14 12 1 8 Esgotado 6 Não Reprodutivo 4 Maturação Reprodução 2 IGUAFOZ JUSCA MOSJ JUSMAC JUSCAT Fig. 2 Abundância das categorias de maturação gonadal de P. ornatus

23 Relação entre a reprodução dos peixes migradores e as variáveis abióticas Os dois primeiros eixos da CCA explicam 58,3% da variância dos dados (39,8% no eixo 1 e 18,4% no eixo 2). As amostras realizadas fora do Parque Nacional do Iguaçu situaram-se na extremidade negativa do eixo 1 (JUSCA no segundo ano de amostragem) e positiva do eixo 2 (JUSCA e IGUAFOZ no primeiro ano), por não ter apresentado indivíduos em reprodução o ponto IGUAFOZ não foi inserido na análise. Já os pontos de dentro parque Axis 2 apresentaram tendência em direção ao lado positivo do eixo 1 e ao centro do eixo 2 (Fig. 21). IFOZ1 2 JCA1 Pornat M OSJ1 JM AC2 JCAT 1 T urb Rvulpi Ocup M OSJ2-4 Pcorrus -2 Axis 1 OD CE T em p M eso Subs SbrasiVrip Lelong 2 Plinea JCAT 2 Pmacul JCA2 JM AC1-2 Fig. 21 Análise de Correlação Canônica (CCA) relacionando a reprodução dos peixes migradores (Lelong = L. elongatus, Pcorrus = P. corruscans, Plinea = P. lineatus, Pmacul = P. maculatus, Pornat = P. ornatus, Rvulpi = R. vulpinus e Sbrasi = S. brasiliensis), com as variáveis abióticas

24 A reprodução de S. brasiliensis, P. lineatus e L. elongatus esteve diretamente correlacionada a vegetação ripária, a substratos mais largos, meso-habitats mais turbulentos e maiores concentrações de oxigênio dissolvido e inversamente correlacionada a maiores ocupações do solo. Já R. vulpinus e P. ornatus apresentaram maior plasticidade de habitats de reprodução (Fig. 21). Discussão Entre os peixes migradores encontrados no rio Iguaçu no trecho entre as Cataratas e sua foz, R. vulpinus, B. hilarii, L. elongatus, P. ornatus, S. lima, H. platyrynchos, P. reticulatum, P. pirinampu, R. aspera e P. granulosus já haviam sido citados para outros pontos do trecho da bacia do médio rio Paraná entre as barragens de Itaipu e Yacyretá, mas são os primeiros relatos para o rio Iguaçu (Oldani et al., 1992; Agostinho et al., 1993; Roa & Permingeat, 1999; Araya et al., 25; Lopez et al., 25; Makrakis et al., 27; Flores et al., 29). S. brasiliensis, B. Orbignyanus, P. lineatus, P. maculatus, P. corruscans, Z. jahu e S. Scriptum, que já haviam sido encontrados no rio Iguaçu, foram novamente capturados neste estudo (Lopez et al., 25). Entre os peixes migradores já citados para o rio Iguaçu no trecho a jusante das Cataratas, somente S. hilarii não foi encontrado neste estudo (Lopez et al., 25). Outros peixes migradores já citados no restante da bacia do médio rio Paraná entre as barragens de Itaipu e Yacyretá que não foram capturados são L. obtusidens (reservatório de Yacyretá, canal principal do rio Paraná e rio Bela Vista, no seguimento inicial do Canal da Piracema), S. borelli (reservatório, canal principal e outros tributários), P. mesopotamicus (canal principal e rio Bela e Vista) e L. macrocephalus (rio Bela Vista) (Oldani et al., 1992; Agostinho et al., 1993; Roa & Permingeat, 1999; Araya et al., 25; Lopez et al., 25; Makrakis et al., 27; Flores et al., 29). Para o trecho do rio Paraná em questão, somente Agostinho et al. (1993) avaliaram a atividade reprodutiva de peixes migradores no trecho logo a jusante da barragem de Itaipu, local não muito distante da área de estudo deste trabalho, onde apenas uma espécie apresentou evidencia de desova (P. maculatus). No trecho de 24 quilômetros do rio Iguaçu entre as Cataratas do Iguaçu e a foz sete espécies, R. vulpinus, P. lineatus, S. brasiliensis, L. elongatus, P. ornatus, P. maculatus e P. corruscans, apresentaram sinais de reprodução o que demonstra

25 a importância deste ambiente para a conservação destas espécies. A ocorrência de algumas espécies (B. Orbignyanus, Z. Jahu, S. lima, H. platyrhynchos e P. reticulatum) em estágio de maturação, sem evidencias de reprodução demonstra que mais estudos são necessários para identificar as áreas de reprodução das mesmas. Embora algumas espécies tenham se reproduzido nos locais fora do parque, as principais áreas de desova dos peixes migradores no trecho estudado ocorreram nos pontos localizados dentro dos limites do Parque Nacional do Iguaçu. Algumas das características ambientais encontradas nesses habitats são colocadas como requisitos para a seleção das áreas de desova de peixes migradores em outras províncias ictiofaunísticas do Brasil. Rios com cascatas, corredeiras e correntezas e velocidades de água rápidas, como ocorre no rio Iguaçu no trecho localizado a jusante das cataratas, garantem a dispersão dos ovos e larvas dos peixes migradores para as regiões de desenvolvimento inicial localizadas a jusante. Condições semelhantes foram encontradas nas áreas de desova de espécies migradoras nos rios Ivaí, Amambaí (Baumgartner et al., 24) e Aguapeí (Silva et al., 211) na bacia do alto rio Paraná e também no rio São Francisco (Godinho & Kynard, 26; Godinho et al., 27). Águas turbulentas também proporcionam boas condições de oxigenação para o desenvolvimento dos ovos. No trecho estudado, apesar de não ter havido alterações significativas nos níveis de oxigênio dissolvido entre os pontos amostrados, os ambientes localizados dentro do Parque Nacional do Iguaçu, principalmente no ponto JUSCAT, onde ocorreu a maior parte da reprodução, apresentaram concentrações bastante altas, como também ocorreu nas áreas de desova de espécies migradoras em outros rios brasileiros como o Ivaí e Amambaí (Baumgartner et al., 24), Uruguai e Ligeiro (Reynalte-Tataje et al., 212) e Cuiabazinho (Ziober et al., 212). A composição dos substratos é um importante requisito ambiental das áreas de desova de algumas ordens de peixes migradores como Acipenseriformes, onde os ovos se aderem a substratos rígidos, e Salmoniformes, que escavam ninhos em cascalhos e seixos para a deposição dos ovos (Fox et al., 2; Isaak et al., 27), porém para os peixes migradores brasileiros, que liberam seus ovos nas correntes de água (Carolsfeld et al., 23), o assunto ainda é pouco discutido. Assim como no rio São Francisco onde substratos rochosos foram encontrados nas áreas de desova de P. argenteus e P. corruscans (Godinho & Kynard, 26; Godinho et al., 27), os substratos presentes nos habitats de desova de peixes migradores

26 27 localizados dentro do Parque Nacional do Iguaçu são compostos principalmente por rocha matriz e grandes blocos. Apesar desta condição aparentemente não intervir na dispersão dos ovos, ela possivelmente pode fornecer condições adequadas para o abrigo e refúgio dos adultos em reprodução. O Brasil carece de estudos que correlacionem a desova de peixes migradores com a integridade dos ecossistemas e Unidades de Conservação, porém a vegetação ripária fornece continuamente matéria orgânica à biota aquática, cumprindo importante função nutricional. Galhos e troncos caídos no rio também aumentam a rugosidade do canal, criando zonas turbulentas e de remanso, favorecendo a deposição de sedimentos e criando habitats para a fauna aquática. A atenuação da radiação solar proporcionada pela vegetação auxilia também no equilíbrio térmico da água (Gregory et al., 1992; Beschta, 1991), esses fatores justificam a ocorrência da reprodução dos peixes migradores na área do Parque Nacional do Iguaçu. Embora as áreas de desova das espécies migradoras em algumas províncias ictiofaunísticas do Brasil normalmente ocorram nas regiões de cabeceira (Baumgartner et al., 24), a barreira geográfica para a migração ascendente imposta pelas Cataratas do Iguaçu à comunidade de peixes a jusante (Garavello et al., 1997) impede que as espécies migradoras do rio Paraná atinjam estas áreas no rio Iguaçu. No entanto, no rio Cuiabazinho, indivíduos migrantes se reproduziram ao encontrar condições adequadas para a desova e o transporte de ovos mesmo antes de alcançar as porções superiores da bacia (Ziober et al. 212). Em rios fragmentados por barramentos, como no caso do médio rio Paraná, a sobrevivência de populações viáveis das espécies de peixes migradores depende da capacidade dos mesmos encontrarem áreas alternativas adequadas para a desova nos trechos a jusante ou de um sistema de transposição adequado (Antonio et al., 27). Na barragem de Itaipu, o Canal da Piracema apresenta problemas em relação a seletividade na passagem (Fontes Júnior et al., 212; Makrakis et al., 27), e carece de estudos que avaliem os demais aspectos de sua funcionalidade, o que demonstra a necessidade da identificação e preservação das áreas naturais de desova, desenvolvimento, alimentação e refúgio no trecho a jusante. O trecho do médio rio Paraná entre as barragens de Itaipu e Yacyretá ainda carece de mais estudos para identificar a presença de habitats críticos para o ciclo de vida das espécies de peixes migradoras, porém, como os resultados deste trabalho evidenciaram, as características do trecho do rio Iguaçu a jusante das Cataratas do Iguaçu e a confirmação da reprodução destas espécies neste local começam a demonstrar que estes habitats estão

27 presentes na região. Conclusões Os resultados deste trabalho evidenciaram que a reprodução de sete espécies de peixes migradores, R. vulpinus, P. lineatus, S. brasiliensis, L. elongatus, P. ornatus, P. maculatus e P. corruscans, ocorre no trecho do rio Iguaçu localizado entre as Cataratas do Iguaçu e a confluência com o rio Paraná, principalmente nos habitats localizados dentro do Parque Nacional do Iguaçu, que apresentam características adequadas para a desova e o transporte de ovos e larvas para as regiões de desenvolvimento. Referências Bibliográficas AGOSTINHO, A.A.; AGOSTINHO, C.S.; PELICICE, F.M. & MARQUES, E.E., 212. Fish ladders: Safe fish passage or hotspot for predation?. Neotropical Ichthyology 1: 687-696. AGOSTINHO, A.A.; GOMES, L.C.; SUZUKI, H.I. & JÚLIO JR., H.F., 23. Migratory fishes of the upper Paraná river basin, Brazil. In: CAROLSFELD, J.; HARVEY, B.; BAER, A. & ROSS, C. (eds). Migratory fishes of South America: Biology, social importance and conservation status. World Fisheries Trust, Victoria: 19-98. AGOSTINHO, A.A.; JÚLIO-JR, H.F. & BORGHETTI, J.R., 1992. Considerações sobre os impactos dos represamentos na ictiofauna e medidas para sua atenuação. Um estudo de caso: reservatório de Itaipu. Revista Unimar 14: 89-17. AGOSTINHO, A.A.; MENDES, V.P. SUZUKI, H.I. & CANZI, C.,1993. Avaliação da atividade reprodutiva da comunidade de peixes dos primeiros quilômetros a jusante do reservatório de Itaipu. Revista Unimar 15: 175-189. AGOSTINHO, A. A.; PELICICE, F. M. & JÚLIO JR, H. F., 26. Biodiversidade e introdução de espécies de peixes: unidades de conservação. In: CAMPOS, J.B.; TOSSULINO, M.G.P. & MULLER, C.R.C. (eds). Unidades de Conservação: ações para valorização da biodiversidade. Instituto Ambiental da Paraná, Curitiba: 95-117. AGOSTINHO, A.A.; THOMAZ, S.M. & GOMES, L.C., 25. Conservação da biodiversidade em águas continentais do Brasil. Megadiversidade 1:7-78. AGOSTINHO, C.S.; AGOSTINHO, A.A.; PELICICE, F.; ALMEIDA, D.A. & MARQUES,

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