Análise ergonômica do trabalho de motociclistas profissionais da cidade de Viçosa-MG



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Transcrição:

Análise ergonômica do trabalho de motociclistas profissionais da cidade de Viçosa-MG José de Fátima Juvêncio Professor do Departamento de Educação Física - (UFV) - josefati@ufv.br Resumo: A ergonomia tem sido utilizada, pelas ferramentas de que dispõe, para auxiliar os pesquisadores e outros usuários para a prevenção e falhas e possíveis danos ao ser humano trabalhador. Os motociclistas profissionais constituem uma categoria relativamente nova para o enfoque ergonômico. A profissão tem sido abordada apenas em revistas apenas sob o ponto de vista de acidentes de transito. Os objetivos nesta pesquisa foram: conhecer os indicadores do perfil profissional dos sujeitos da amostra (fatores humanos);e analisar, através da análise ergonômica do trabalho (AET), o trabalho do motociclista prestador de serviço na cidade de Viçosa. Esta pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso, descritivo longitudinal, de abordagem quantitativa e qualitativa, e numa perspectiva exploratória buscando ampliar a informação sobre algumas variáveis a respeito dos sujeitos amostrados. A amostra do estudo foi formada por 38 sujeitos, selecionados aleatoriamente. A abordagem ergonômica denotou aspectos comuns entre os profissionais que utilizam o ambiente laboral do transito como sua área, onde todos os perigos foram mencionados, e, em comparação com os resultados do questionário de Fatores Humanos nada foi realçado em significância.a população profissional focalizada nesta pesquisa precisa ter melhor atendimento medico e ser melhor orientada em relação ao desempenho das tarefas de transportar mercadorias em suas motocicletas. Palavras-chaves: motociclista profissional; ergonomia e análise ergonômica do trabalho. 1. Introdução à temática da pesquisa Já há algum tempo as questões com gerenciamento do meio ambiente, seres humanos, trabalho, saúde ocupacional e segurança têm sido alvo de pesquisas e estudos visando à implementação tanto da qualidade dos serviços prestados nas diversas áreas de atuação, como também, sem deixar de merecer crédito, a saúde e a segurança do trabalhador e sua circunvizinhança. A ergonomia tem sido utilizada, pelas ferramentas de que dispõe, para auxiliar os pesquisadores e outros usuários para a prevenção e detecção de falhas e possíveis danos ao ser humano trabalhador. Dentro deste aspecto alguns detalhes do cotidiano podem passar despercebidos, mas que vêm pontuar ações administrativas em todas as localidades onde existe uma população habitada. Assim é o caso do serviço prestado por motociclistas (denominados popularmente de motoboys ) na cidade de Viçosa Minas Gerais. 1

A problemática que envolve tal atividade laboral já foi estudada por alguns ângulos de observação e por diferentes segmentos da comunidade brasileira. No estudo de Diniz (2003) percebe-se que: os motociclistas profissionais constituem uma categoria relativamente nova. Em pesquisa realizada, notou-se que a profissão, até o momento, tem sido abordada apenas em revistas semanais e jornais. Nas revistas especializadas em motofrete, as abordagens versam sistematicamente sobre os problemas relativos à inexistência de regulamentação da categoria em algumas cidades, sobre os valores monetários para frete e sobre o piso salarial estabelecido em acordos coletivos (DINIZ, 2003). No entanto, em cidades com menos de 100.000 (cem mil) habitantes, como é o caso de Viçosa MG, alguns estudos ficam limitados à ocorrência de acidentes e seu desenvolvimento no âmbito administrativo municipal. Muitos jovens e adultos (na sua maioria desempregada) podem sonhar com uma alternativa laboral com uso da motocicleta. Esta percepção em Viçosa já está ao nível de senso comum, não é necessário pesquisar para notar que esta população existe e precisa de trabalho. Corroborando com esta afirmativa Pochmann (1999), em seu estudo afirma que: no Brasil, o desassalariamento crescente da população economicamente ativa e a expansão do trabalho informal têm ocorrido paralelamente à ausência de estimulo à industrialização, à inexistência de políticas macroeconômicas para reinserção internacional do País e ao enfraquecimento do estatuto do trabalho (POCHAMANN, 1999). Novamente Diniz (2003) afirma, ainda, que dessa forma, os desempregados e os jovens inexperientes que compõem o mercado informal da economia encontram nas demandas crescentes de serviços que estabeleçam a conexão fornecedor-cliente, uma alternativa para a restrição do emprego noutras áreas. Mediante o que foi escrito acima o presente estudo pretende conhecer os indicadores do perfil profissional dos sujeitos da amostra (fatores humanos) e analisar, através da análise ergonômica do trabalho (AET), o trabalho do motociclista prestador de serviço na cidade de Viçosa. 2. Material e método 2.1 Caracterização do estudo e considerações gerais Esta pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso, descritivo longitudinal, de abordagem quantitativa e qualitativa, e numa perspectiva exploratória buscando ampliar a informação sobre algumas variáveis a respeito dos motociclistas prestadores de serviço com relação ao seu trabalho e sua saúde ocupacional. Conforme Barbetta (1998), quando os possíveis resultados de uma variável são atributos ou qualidades, a variável é dita qualitativa. As perguntas extraídas do questionário utilizado na presente pesquisa apresentam esta característica, pois seus dados são 2

categorizados, indicando certas qualidades / atributos. O presente estudo foi realizado na cidade de Viçosa, distante 240 km da capital mineira (Belo Horizonte), com representação total de trinta e oito sujeitos, todos do sexo masculino. A jornada de trabalho dos sujeitos amostrados é muito variada, em decorrência do produto que entrega, podendo ser de 08h00min horas até as 18h00min horas, como também em regime de 24 horas ( all time ). Estes horários também variam nos dias da semana, tanto indo de segunda-feira até sexta-feira, como todos os dias independentemente. Os trabalhadores da amostra efetuam tarefas que envolvem pressão temporal (cumprimento de prazos), requisição mental e processo de tomada de decisão, além de uma qualificação especial ao lidar com trânsito na cidade. Ainda, fazia parte das tarefas dos trabalhadores o atendimento individualizado ao cliente e, por conseguinte, o gerenciamento de informações para as ações diárias. Neste item o fator relacionamento com o cliente merece uma atenção discriminada. De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações (BRASIL, MTE, CBO, 2006), os profissionais motociclistas têm o código número 5191-10 e a denominação de Motociclista no transporte de documentos e pequenos volumes Motoboy e desempenham as seguintes funções: Coletam e entregam documentos, valores, mercadorias e encomendas. Realizam serviços de pagamento e cobrança, roteirizam entregas e coletas. Localizam e conferem destinatários e endereços, emitem e coletam recibos do material transportado. Preenchem protocolos, conduzem e consertam veículos. 2.2 População e amostra A amostra do estudo será formada por motociclistas prestadores de serviços, na cidade de Viçosa, num total de 38 (trinta e oito) sujeitos, selecionados aleatoriamente numa população estimada de 180 (cento e oitenta) profissionais que atendiam as exigências para fazer parte na amostra. Esta amostra foi calculada (anexo 2) tendo por base enquête sumária sobre idade e tempo na profissão onde se aplicou fórmula desenvolvida por Costa Neto (1997) em que: sendo: t 2. s e n i = 2 2 n i = o número de sujeitos; t = coeficiente tabelado (distribuição de Student); s = a variância; 3

2.4 Procedimentos e = precisão estatística desejada (5% de erro máximo). Para caracterização do perfil dos participantes foi utilizado um questionário devidamente testado e validado em outros estudos conduzidos por este orientador. Foi elaborado com questões fechadas, mescladas, com o propósito de delinear os fatores humanos e funcionais gerais. 3. Resultados e discussão 3.1. Perfil profissional dos participantes do estudo No primeiro objetivo da pesquisa (conhecer os indicadores do perfil profissional dos sujeitos da amostra - fatores humanos) foi possível apurar a idade em anos (25,07 ± 6,92) e o tempo em meses (33,47 ± 31,46). Estes dados revelam uma categoria bastante jovem empregada nesta profissão ao mesmo tempo em que denota a variabilidade de se estar empregado, mostrando a dificuldade de emprego na cidade de Viçosa e a concorrência para este tipo de trabalho. A grande variabilidade de tempo na profissão reflete a situação do trabalho formal no País e, sem surpresas, também o é no município pesquisado. Resultados semelhantes foram encontrados na pesquisa da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET, 1992) onde 65,59% dos entrevistados tinham entre 21 e 30 anos. Nessa pesquisa em São Paulo os solteiros representavam a maioria, ou seja, 73,09% e na pesquisa em Viçosa os números são idênticos, ou seja, foram encontrados 78,94% solteiros e 21,06% casados. Com relação à escolaridade, 28,94% (11 sujeitos) haviam concluído o ensino fundamental e 71,06% (vinte e sete motoboys) terminaram o ensino médio. Nenhum cursou o ensino superior na presente pesquisa. A grande maioria (34) tem predominância manual destra, contra apenas 4 motociclistas que são canhotos. Este detalhe parece não ter relação direta com o desenvolvimento da profissão, porém os canhotos comentaram da dificuldade em aprender a conduzir a motocicleta que tem os comandos direcionados para pessoas destras. No quesito remuneração salarial, 21 sujeitos consideram sua renda total como razoável (55,26%), 11 como sendo boa (28,96%), seis como sendo insatisfatória (15,78%) e nenhum como sendo ótima. Talvez este dado possa estar relacionado ou possa explicar porque 12 motoboys fazem hora extra no intuito de compensar e/ou complementar sua renda mensal total. Do total da amostra 57,90% fazem intervalo para almoço ou outra forma de descanso, enquanto apenas dezesseis sujeitos (42,10%) alegaram não ter este tempo disponível. Tal fato pode comprometer a saúde do profissional, porém a pesquisa não evidenciou este detalhamento no seu desenvolvimento. Um fato que chamou a atenção dos pesquisadores reside no uso adequado dos equipamentos de proteção individual que os motoboys utilizam. Todos declararam usar e demonstraram sua utilidade relatando casos de possível acidente onde este EPI ajudou a minimizar os danos causados ao seu organismo. No estudo de Diniz (2003), além de ser 4

observado o uso do capacete, o mesmo também faz menção ao veiculo de trabalho, como segue: A manutenção deficiente das motocicletas e as improvisações dos equipamentos de segurança agravam os riscos de acidentes de trabalho. As estratégias coletivas de defesa utilizadas pelos motociclistas para evitar as multas e as demais condições apresentadas demonstram que as relações de trabalho precisam ser melhoradas (DINIZ, 2003). A análise das filmagens permitiu observar que há motociclistas que não usam jaquetas, calças de couro e botinas. Ao serem confrontados com as cenas do filme, eles justificam: É por causa do clima mesmo. Num calor desse, como você vai andar de jaqueta e de bota? O depoimento indica a necessidade de se desenvolver uma pesquisa para a criação de vestimentas que protejam o motociclista e sejam compatíveis com o clima tropical. Indagados sobre a saúde, 35 motociclistas declararam que atualmente não tem algum problema de saúde e, apenas, três responderam afirmativamente. Destes 35 sujeitos, 18 sentem alguma dor localizada, e do total da amostra 60,53% declararam que passam a maior parte do tempo de seu trabalho em sua moto, o que pode explicar, em parte, esta dor localizada. No entanto, 42,10% nunca visitam o médico para avaliações preventivas, 34,21% visitam uma vez por ano, 21,05% raramente o fazem e 2,64% uma vez a cada seis meses. Os sujeitos desta amostra responderam não fazer uso do tabaco em sua grande maioria (trinta e quatro profissionais) correspondendo a 89,47% do total. Os outros 10,53% o fazem em uso restrito, não ultrapassando a média de três cigarros ao dia. Com relação à bebida alcoólica 11 não bebem, 12 bebem somente em ocasiões especiais, 14 fazem uso da bebida aos sábados, domingos e/ou feriados e nenhum ingere diariamente. Parece que as respostas sobre ingestão de bebida alcoólica vão ao encontro do desempenho da profissão e o receio, senão temor, de ser multado dirigindo embriagado. O fator segurança no transito parece ser perseguido com esta atitude, embora nenhum tenha esboçado explicitamente tal idéia. Já com relação à ingestão de café durante o trabalho todos fazem uso desta bebida, porém em proporções assim descrita: uma xícara 11; menos de três xícaras 19; entre três e seis xícaras 08. Em decorrência, talvez diretamente, a média de horas de sono por dia ficou em 7,44 horas, com pouca (1,44 hs) variação entre os respondentes. Vinte e dois (22) sujeitos afirmaram que nunca sofreram acidente nesta profissão, representando 57,89% dos pesquisados, contra 42,11% (16 sujeitos) que já se acidentaram na função de motoboy. Destes 16 motoboys acidentados informaram que as principais partes do corpo atingidas foram: 5 nas mãos, 7 nos braços, 1 na cabeça, 1 no abdômen, 2 nos pés e pernas. De posse destes dados, e, certamente, em parte devido a estes acidentes, a maioria acha o trabalho perigoso (25), 11 informam mais ou menos e, apenas 2 não concordam que o trabalho seja perigoso. Questionados sobre os acidentes 68,42% creditam a causa na organização do transito, 21,05% na pressão para que o trabalho seja rápido ou produtivo e 5,26% acham que a causa é a fadiga. Um outro dado obtido pelo 5

questionário diz respeito da decisão de escolha desta profissão, onde vinte sujeitos responderam por falta de outras oportunidades ; doze porque gosta deste tipo de trabalho ; e seis por outros motivos. 3.2 Condições de trabalho dos participantes do estudo O segundo objetivo visou analisar as condições de trabalho desta população economicamente ativa no município de Viçosa-MG através da Análise Ergonômica do Trabalho AET, seguindo protocolo específico desta ferramenta metodológica e de acordo com Santos e Fialho (1997). 3.2.1. Análise da demanda A demanda estudada teve sua origem: na intenção dos autores desta pesquisa em investigar o trabalho dos motoboys durante sua jornada de trabalho, nas condições de trabalho da cidade de Viçosa (menos de 100.000 habitantes), na reclamação geral dos trabalhadores sobre dores nas costas. Trata-se, então, de uma demanda mista, onde no primeiro momento é induzida pelos investigadores, que em função do estudo estiveram a campo, buscando dados para sua confecção. E, também, é uma demanda oriunda dos trabalhadores na medida em que estes se queixam das fortes dores nas costas advindas desta tarefa. 3.2.1.1 Reformulação da demanda Nesta fase existiu a possibilidade de um pré-diagnóstico e alguns indicadores observáveis tornaram-se claros. Após o segundo contato com sujeitos da amostra, onde se aplicou o questionário e fez-se a entrevista, pôde-se, então, reformular a demanda, delimitando-a como principal problema real que os mesmos se queixam: dores nas costas. Assim, a possível dor localizada nas costas pode estar relacionada com a postura adotada pelo motoboy durante a realização das tarefas. 3.2.2 Análise da tarefa A livre organização da tarefa a ser feita é apenas uma organização do modo operatório e peculiar aos sujeitos, em algumas empresas, pois na condição de empregado sua forma concebida de desempenhar a tarefa é a que ele adota e está sendo seguida, porém com ajustes temporais. Neste caso leva-se em consideração a atitude individual e a necessidade da personalidade, onde a ordem dos movimentos e das ações já está memorizada e são repetidas em cada entrega a ser feita, até que um fenômeno externo ocorra (por exemplo, acidentes, desvio de rotas, ou a observação de um ergonomista). Neste estudo de caso os sujeitos iniciam a tarefa fazendo um pré-arranjo de suas rotas e dos pedidos a serem atendidos. Estas ações têm sua origem na encomenda do cliente, onde fatores de altura, peso e tipo de mercadoria a serem entregues são levados em consideração. Em seguida faz o chekup da motocicleta e inicia sua jornada. Nesta fase a postura adotada afasta o tronco do guidão da motocicleta, propicia uma média inclinação do tronco à frente, fazendo com que os músculos da parte inferior das costas também tenham participação efetiva no desenrolar da tarefa. Não existe um sistema de produção definido como existente em linhas de produção do trabalho formal, 6

porém de acordo com a demanda dos clientes ao fazerem o pedido do produto e, principalmente, o prazo para esta entrega. De fato não existe, também, domínio sobre tempos ociosos e do modo de realizar as ações para esta tarefa. O operador age conforme seu padrão rotineiro. Como citada anteriormente a regulação de se ter uma produção maior ou menor é de total responsabilidade do operador, e de acordo com os pedidos que são realizados. Esta regulação influi diretamente na saúde do mesmo. 3.2.2.1 Dados referentes ao homem Os dados dizem respeito às características físicas dos sujeitos com profissionais do sexo masculino e apresentaram um IMC = 27,81 kg/m 2 ; mínimo = 18,58 kg/m 2 para resultados gerais de (24,06 ± 2,00), na sua maioria destra. Outros dados retirados da aplicação do questionário forneceram mais detalhes como já foi explicitado anteriormente. Fato que chama a atenção diz respeito os motoboys considerarem o trabalho perigoso, e nesta ocupação por opção própria estão desamparados pela legislação previdenciária (os informais). 3.2.2.2 Dados referentes às entradas São consideradas entradas a mão-de-obra, ferramentas, máquinas, equipamentos e materiais. De fato as entradas que esta situação de trabalho possui diz respeito ao homem, as condições determinadas e aos resultados esperados. Pode-se afirmar que estes são os componentes que se trata o sistema homem-tarefa aqui descrito. É onde a entrevista e o questionário puderam aferir os dados necessários para a análise da tarefa. Guérin et al. (2001) afirma que no seu aspecto mais geral, essa maneira espontânea de falar do trabalho da e na empresa revela o que é uma tarefa... é um resultado antecipado fixado dentro de condições determinadas. Assim também ocorre na ocupação de motoboys na cidade de Viçosa. Entradas relativas ao homem cabem dizer de sua experiência anterior, o aprendizado para o conhecimento tácito, a pratica na condução da motocicleta, sua capacidade fisiológica para o trabalho e as conseqüentes variáveis de que um ser vivo possui, e suas outras capacidades (mental, psicológica, espiritual). Nesse estudo de caso os operadores possuem suficiente tempo na ocupação, estão sempre em contato com tecnologias novas e diferentes formas de manipular os materiais, através de intercâmbios freqüentes com outros profissionais da cidade e de outras localidades. Sua idade e conformação física agem como facilitadores para a tarefa, e suas outras capacidades, embora não mensuradas, apontam para uma forte e evidente qualificação profissional. Para as condições determinadas tem-se material próprio, ferramentas e máquinas adequadas para o manuseio da motocicleta. A mercadoria é entregue de acordo com os pedidos dos clientes e os prazos estipulados. A sala de espera, ou local onde recebem a tarefa, está relativamente adequada, no que diz respeito ao conforto térmico (ventilação forçada por aparelhos), conforto lumínico (lâmpadas fluorescentes laterais ao objeto de trabalho e na altura especifica para esta fase de confecção da prancha), conforto acústico propiciado pelos protetores auditivos (para o trabalhador) e a sede está isolada, pela distância, de outras residências próximas no local. O ambiente só oferece riscos de umidade e mofo se não forem tomadas medidas preventivas. Não existem riscos provenientes de 7

substâncias altamente tóxicas, porém existe uma grande poluição advinda do resultado da tarefa (gases expelidos pela motocicleta e outros veículos) exigindo atenção constante de autoridades. Com relação aos resultados esperados na tarefa tem-se, baseado em outras atividades, um desenho mental ideal, porém, de acordo com o pedido do cliente, a variação de rota e ação será seguida para atender especificamente este cliente. O cuidado com a qualidade do produto se faz nesta tarefa, onde a mercadoria deve chegar ao cliente como ele encomendou. Com estas informações externas ao ambiente de trabalho (entradas) a situação de trabalho para esta tarefa configura-se como artificial e como tal baseia-se, sobretudo no conhecimento tácito do operador. Nesse sentido o trabalho do motoboy é algo dificilmente visível e exprimível... é altamente pessoal e difícil de formalizar... conclusões, insights e palpites subjetivos incluem-se nessa categoria de conhecimento (NONAKA, 1997). O operador aprendeu a tarefa em centros formadores de condução e com amigos já empregados. Foi melhorando sua técnica de acordo com a quantidade de produtos a serem entregues, de tal maneira que após alguns erros e acertos, possui hoje um mecanismo mental, visual, criativo, e físico de como fazer a entrega. 3.2.2.3 Dados referentes às saídas Por ser uma tarefa eminentemente artificial, o resultado da tarefa de deverá resultar numa entrega competente da mercadoria, sem riscos para esta ou para o operador. Por isso não se pode ter erros na rota traçada e nem no desempenho de conduzir a motocicleta. Por isso alguns profissionais consideram a tarefa a mais importante no processo das entregas rápidas no município. Foi seguido, na íntegra, o Guia de Observação Análise da Tarefa (SANTOS & FIALHO, 1996) e utilizadas as técnicas de: 1. observação direta, ou aberta (pesquisador); 2. observação indireta, ou armada (filmagem digital), 3. entrevista dirigida (do tipo semi-estruturada); 4. checklist, elaborado e desenvolvido pelo Laboratório de Ergonomia e Estudos de Informática, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, da Universidade Federal de Santa Catarina. 3.2.2.4 Guia de Observação Análise da Tarefa a) Identificação e definição do posto de trabalho analisado - denominação do posto de trabalho: prestação de serviços com motociclista profissional motoboy ; empresa: informal. Denominação omitida para garantir o sigilo da investigação e resguardar o profissional, de acordo com parâmetros éticos propostos; localização: bairro residencial no município ; serviço ao qual o posto está subordinado: nenhum; - posto de trabalho a montante: nenhum; posto de trabalho a justante: local da entrega; b) Tarefas e operações a serem executadas no posto de trabalho 8

c) Consequências - resultado do trabalho: efetiva entrega da encomenda, em condições de qualidade e funcionabilidade; - conseqüência dos erros eventuais sobre o produto: recompor o pedido, refazer a rota; - conseqüências dos erros sobre o responsável do posto: prejuízo financeiro, perda de credibilidade perante os consumidores; d) Acesso ao posto de trabalho - modo normal de acesso profissional ao posto: escolha do próprio trabalhador, acesso às ruas, vielas, avenidas da cidade de Viçosa; - modo normal de formação do pessoal recém admitido: treinamento, experiência e indicação profissional; - formação do operador atual do posto de trabalho: aprendizado com outros profissionais da área, habilitação oficial do CONTRAN. e) Métodos de trabalho - tarefa prescrita para o posto: detalhamento e concordância com o pedido do cliente; - forma de apresentação da tarefa: parte escrita (quando do pedido) e parte oral (quando consultado o cliente); - qual é o grau de precisão da apresentação da tarefa: parte explicita (endereço, quantidade, especificidade) e parte implícita (idealizada pelo operador); - por quais métodos de trabalho a tarefa é apresentada: após concordância com o cliente o operador anota quesitos necessários para a tarefa e, posteriormente, verificando o endereço de entrega, inicia a sua ação de entrega. - qual a margem de iniciativa ao titular do posto: condicional com patrão e cliente. f) Controle - quem controla: o próprio operador no transito e pelo patrão na distribuição de cotas entre os funcionários; - quando: durante todo o processo; - onde: no posto de trabalho; - como: verificando rotas, endereços, dimensões; - poder para sanção: condicional ao pedido. g) Condições físicas e fisiológicas do trabalho - características do espaço e dos locais de trabalho: ambiente externo com riscos de segurança a vida do operador, ambiente interno adequado para a tarefa, mediamente 9

confortável nos aspectos de temperatura e luminosidade, e pouco confortável no aspecto acústico, com picos de até 96 db (A) quando se utiliza a motocicleta, distâncias pré-concebidas em função da mercadoria e rota, falta de componentes danosos ao ser humano (umidade, mofo), com presença de poluição (resíduos advindos da tarefa) durante todo o processo, locais destinados às ferramentas e mercadorias de um lado da sala e local destinado; - horários: livre, controlado pelo patrão na sua auto-regulação baseada na demanda de pedidos durante as épocas especificas (no verão, uma maior quantidade). Preferencialmente o operador trabalha mais no período da manhã; - riscos devidos às condições físicas de trabalho: cortes e ferimentos advindos de possíveis acidentes, existência de perigo de choque elétrico, perigo de incêndio, corte provocado por queda de máquinas; - ritmo de trabalho: médio a intenso, dependendo da demanda de pedidos e da época em que estes são formulados; - posturas de trabalho: danosas a coluna vertebral durante todo o processo, uma vez que o operador trabalha sobre a motocicleta, podendo ocasionar lombalgias (dor lombar localizada na região inferior da coluna, situada em uma área entre o ultimo arco costal e a prega glútea); - fadiga: inexistente na maioria da tarefa do operador, pois o mesmo controla seu tempo de trabalho e de repouso, predominando uma atividade aeróbica; - outros fatores fisiológicos: a exposição aos resíduos do transito na cidade pode ocasionar problemas ao trato respiratório do operador, assim como possíveis ocorrências de dermatites ou outras formas de doenças de pele. O ruído durante a tarefa é minimizado pelo uso adequado do capacete, porém suscetível de provocar cefaléias, tonturas e zumbidos temporários. h) Condições psicossociais do trabalho - relações interpessoais: não existe nesta tarefa, porem apenas nas fases seguintes para entrega da mercadoria; - estilo de comando da chefia: direcional; - grau de flexibilidade dos métodos e horários de trabalho: condicional; - relações com outras equipes: não há; - relações com os superiores: durante a recepção da tarefa e da rota; - relações com os colegas: sua relação com outro colega é amigável, cordial e franca, mas sempre lembrando de uma possível hierarquia de comando; - relação com os subordinados: não há; 10

- relações sociais de trabalho: consideração = alta; status = não há; vantagem do posto = não há; remuneração = considerada boa pelo operador; possibilidade de promoção = não se aplica. 3.2.3 Análise das atividades Neste estudo de caso o trabalhador vive uma realidade onde seu aprendizado sobre a ocupação aconteceu (e acontece), sobretudo na prática. Inicia-se a análise da atividade em termos gestuais, ressaltando que este tipo de análise foi selecionado tendo como referencial os objetivos do estudo multicasos. Desta forma, e segundo Bezerra (1998) trata-se da análise dos comportamentos de trabalho que o motoboy desenvolve durante a tarefa analisada. Os gestos para realizar a tarefa são, na sua maioria, artificiais e aprendidos em auto-escola ou centros de formação de condutores (CFC). De uma forma geral os deslocamentos são moderados, pois não existe nenhuma distancia superior a 50 km. O sujeito executa movimentos de preensão manual com ambas as mãos e está em constante ajuste de sua postura sobre a motocicleta. Os movimentos gerais são de adução dos braços e antebraços, com grande envolvimento dos músculos do ombro. Dependendo da postura adotada, em certos momentos do trajeto, a musculatura da parte das costas (principalmente da musculatura paravertebral) do operador também é muito utilizada. Considerando a tarefa desde o ponto inicial até o final o sujeito executa variada quantidade de gestos motores, tais como: elevação lateral dos braços, supinação e pronação das mãos, contrações do antebraço sobre o braço, extensão do braço direito, torsões laterais do tronco, semi-agachamentos, inclinações à frente, apoios diversos sobre a prancha, manutenção do equilíbrio com oscilação da posição dos membros inferiores e utilização da musculatura abdominal. Neste sentido pôde-se perceber que o sujeito, analisado neste estudo de caso, obedece a sinais de fadiga localizada no membro superior (alternância de gestos), verifica constantemente a qualidade do produto na proporção que este vai se moldando, tem liberdade para atender eventos externos (caso ocorram) e dispõe de responsabilidade para executar a tarefa em ritmos variados (ora lentamente, ora com certa velocidade). 4. Diagnóstico Nesta fase da análise é apresentado (de forma sintética) o levantamento realizado pelas fases anteriores. Levou-se, também, em consideração um pré-diagnóstico já concebido pelo pesquisador, o qual serve para construir o planejamento das observações sistemáticas... em certos casos, essas observações apenas trarão uma confirmação e uma demonstração dos elementos que o ergonomista tinha enunciado em seu pré-diagnostico (GUÉRIN, 2001). Por outro lado, também, necessário se faz esclarecer que se trata de uma tarefa artificial e por ser assim não envolve grandes mudanças ou, que o diagnóstico e possível intervenção ergonômica, pretendam solucionar todos os problemas detectados. Nessa ocupação, o trabalhador necessita de mais informação sobre as possíveis situações de risco físico e ergonômico presentes e, sobretudo, oferecer possibilidades de correção e minimização no manuseio da motocicleta e sua condução no transito desta cidade. Não se trata de um trabalho intermitente, porém os ciclos não são homogêneos, alternando-se tempo de trabalho e tempo de repouso sem uma definição pré-estabelecida. Na fase da tarefa os dois braços são utilizados 11

num movimento de preensão e na fase agonista dos músculos, como na fase decorrente de antagonismo detectou grande sobrecarga. Detectou-se, também, que na maioria das rotas o sujeito utiliza apenas um sentido, não realizando nenhuma mudança ou atividade ao retornar. Esta atitude pode caracterizar perda de tempo se a demanda de pedidos for muito alta. Com relação aos materiais e ferramental pôdese observar que os mesmos não possuem o desgaste comum de outras maquinas, o que facilita, em parte o trabalho. As condições ambientais estão, em parte, satisfatórias para a tarefa, onde existem exaustores ligados continuamente e um ventilador na posição vertical para auxiliar na regulação do conforto térmico (caso seja necessário) durante os dias mais quentes na sala de recepção das tarefas. O ruído não incomoda o operador que utiliza capacete durante a tarefa, porém este fato não previne a perda auditiva induzida por ruído no transito local. Os sujeitos, em geral, não utilizam luvas, pois afirmam que iriam prejudicar sua sensibilidade, facilitando assim a possibilidade de acidentes. Não é uma tarefa muito extenuante, porém exigente do ponto de vista cognitivo, com grande utilização da memória de longo termo. Foi, também, observado e anotado um excesso de utilização do braço direito, denotando significativa carga de trabalho sobre as estruturas anatômicas deste membro. 5. Caderno de Encargos e Recomendações Ergonômicas Para confecção do caderno de encargos e recomendações ergonômicas foi considerado o ambiente laboral em geral, com especificidade sobre os aspectos nocivos ao trabalhador referente a riscos físicos (ruído) e riscos ergonômicos (exigência de postura inadequada) presentes no desempenho da tarefa. Também foram anotadas recomendações sobre organização do trabalho. Como foram observados e medidos picos de até 96 db (A) durante algumas etapas da tarefa sugeriu-se ao operador o uso constante de protetor auditivo, desde o inicio da tarefa até o final. Estes momentos já são possíveis de detecção pelo motoboy, restando apenas adquirir o hábito de utilização permanente. Foi observado que os trabalhadores fazem uso, esporadicamente, uma espécie de colete protetor para a coluna. Porém este acessório não é suficiente para proteção da parte baixa da coluna e sua compressividade já está comprometida. Foi, então, sugerido a troca por outro tipo de colete, onde existem diversas formas e marcas no mercado nacional, para que a compressão na altura da cintura seja mais contundente, e possa, de fato oferecer uma parcela de ajuda na prevenção de lesões desta região anatômica. Alvarez (1996) afirma que apesar de incertezas científicas sobre efetividade, utilizar coletes de proteção para as costas como esperança de se prevenir altos custos e possibilidade de incapacidade em empregados está ficando comum no posto de trabalho. Esta mudança seria uma prevenção a mais para a saúde do trabalhador, uma vez que as posturas inadequadas adotadas são necessárias a execução da tarefa, da manutenção do equilíbrio e de acordo com o tamanho da mercadoria a ser entregue. Também, foi sugerida uma consulta médica especializada para o conhecimento pleno da realidade das estruturas anatômicas que oferecem dor e concorrem com a diminuição da qualidade de vida relacionada à saúde do motoboy. Somente após esta consulta e com o devido diagnóstico médico é que alguma intervenção deverá ser realizada. Enquanto isto não ocorre foi sugerido ao trabalhador 12

alguns exercícios de alongamento, oriundos da ginástica laboral, para serem realizados antes e depois da tarefa com cada prancha produzida. Sugeriu-se, também, no aspecto global, uma pequena mudança na forma de conduzir sua motocicleta, momento onde a extensão dos braços se faz mais nitidamente e com frequência. 6. Conclusões e recomendações A abordagem ergonômica denotou aspectos comuns entre os profissionais que utilizam o ambiente laboral do transito como sua área, onde todos os perigos foram mencionados, e, em comparação com os resultados do questionário de Fatores Humanos nada foi realçado em significância. A população profissional focalizada nesta pesquisa precisa ter melhor atendimento medico e ser melhor orientada em relação ao desempenho das tarefas de transportar mercadorias em suas motocicletas. Além disto, faz-se necessário, como recomendações, participação em cursos de atualização sobre legislação, condução, direção no transito; participação em reuniões periódicas no município para traçar rotas mais econômicas para o patrão e para a saúde global dos motoboys; discussão de referencial salarial para atendimento ao cumprimento das tarefas com mais competência e qualidade. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DE TRÁFEGO; FACULDADE CAPITAL. Acidentes de motociclistas. Jornal da ABRAMET, São Paulo, maio-junho, 1992. n.4, p.4-6. ALVAREZ, B. R. 1996. Qualidade de vida relacionada à saúde de trabalhadores. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996. AMELL T. K, KUMAR S., NARAYAN, Y., COURY, G. Effect of trunk rotation and arm position on gross upper extremity adduction strength and muscular activity. Ergonomics, v. 43, n. 4, p. 512-527, 2000. ARAÚJO, M.F. Qualidade de vida do trabalhador: uma abordagem qualitativa do ser humano através de novos paradigmas. Florianópolis: Ed. do Autor, 1999. BERNARD, B. P., FINE, L. Musculosketal disorders and workplace factors. Cincinnati, EUA: Department of Health and Human Services, NIOSH, 1997. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Classificação Brasileira de Ocupações. Disponível em: < www.mtecbo.gov.br>. Acesso 07 de novembro de 2008. CHAFFIN, D.B., ANDERSSON,G.B. Biomecânica Ocupacional. Belo Horizonte: Ergo, 2001. DINIZ, E. P. H. 2003. Entre as exigências de tempo e os constrangimentos do espaço: as condições acidentogênicas e as estratégias de regulação dos motociclistas profissionais.dissertação. (Departamento de Engenharia de Produção). Universidade Federal de Minas Gerais. POCHMANN, M. O trabalho sob fogo cruzado: exclusão, desemprego e precarização no final do século. São Paulo: Contexto, 1999. VIEIRA, A. A qualidade de vida no trabalho e o controle da qualidade total. Florianópolis-SC: Insular, 1996. WISNER, A. A inteligência no trabalho. Textos selecionados de Ergonomia. São Paulo: UNESP, FUNDACENTRO, 1994. 13