REFLEXOS DA MUDANÇA NA ESTRUTURA PRODUTIVA DEVIDO À AÇÃO DO ESTADO: O CASO DO PARANÁ NO COMÉRCIO INTERNACIONAL



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Transcrição:

REFLEXOS DA MUDANÇA NA ESTRUTURA PRODUTIVA DEVIDO À AÇÃO DO ESTADO: O CASO DO PARANÁ NO COMÉRCIO INTERNACIONAL RESUMO: Objetiva-se verificar os reflexos que a ação incentivadora voltada à instalação de montadoras, realizada pelo Governo do Paraná, tem causado nas exportações paranaenses. Para tanto, far-se-á uma revisão bibliográfica sobre o assunto em questão. Enfatiza-se as mudanças que vêm ocorrendo na pauta exportadora do Paraná, tendo como destaque o sucesso de produtos não agrícolas. PALAVRAS-CHAVE: Economia internacional, política comercial, economia paranaense ABSTRACT: The objective is to check the reflections on action-oriented incentive for the installation of automakers, held by the Government of Paraná, has caused exports Paraná. For both, there will be a literature review on the subject in question. It emphasizes the changes that have occurred in the export of Paraná, with the highlight the success of non-agricultural products. KEY-WORDS: International economy, commercial policy, Economy Paraná 1 INTRODUÇÃO Durante o século XX, o Brasil sofreu consideráveis mudanças em sua pauta exportadora. A partir dos anos da década de 1930 e tendo seu auge no Plano de Metas do Governo de Juscelino Kubitschek, as políticas voltadas ao desenvolvimento industrial geraram reflexos negativos ao setor agrícola, que ficou, durante um considerável período de tempo, de fora dos principais objetivos do governo federal. O apoio à industrialização como forma de desenvolvimento, levou à implementação de políticas comercias que priorizavam exportações industriais em detrimento das exportações agrícolas, que tinham seus fluxos canalizados para o mercado interno. À exceção dos produtos voltados exclusivamente para o mercado externo, a agricultura brasileira enfrentou problemas de perdas em função dessas políticas comercias Na realidade, o potencial de crescimento do setor agrícola foi limitado pelas políticas de apoio ao processo de industrialização. Com relação ao Paraná, a partir da década de noventa, sua economia ingressou numa rota expansiva, refletindo numa elevação de sua produção e numa gradual recuperação da sua participação na geração da renda interna do país. Segundo Lourenço e Leão (1995, p. 109): [...] essa marcha ascendente da estrutura produtiva do Estado derivou da ação conjugada de fatores de natureza conjuntural e estrutural/incipiente. Dentre os aspectos conjunturais, destaca-se a reação das cotações das commodities, particularmente dos produtos agrícolas, no mercado externo, decorrente de duas quebras consecutivas da safra americana (1993 e 1994). Entretanto, apesar do grande volume de exportações, o Estado do Paraná tem seu desempenho comercial agrícola comprometido. As políticas comerciais protecionistas, realizadas, principalmente, por países desenvolvidos, trazem inúmeros problemas, tanto de ordem financeira como social. Segundo Kenen (1998,

p. 198), os governos têm muitos instrumentos de política comercial e muitas utilidades para eles. Alguns são usados para aumentar a receita ou influenciar os termos de troca. Outros são usados para limitar a importação ou encorajar a exportação". Neste sentido, este trabalho visa verificar o desempenho do Paraná no comércio internacional nesse início de século XXI. Para atingir tal objetivo, o trabalho está organizado, além desta introdução, em três partes. A segunda caracteriza-se pela explanação do método utilizado. A terceira seção abordará os resultados obtidos, além da explanação a respeito dos mesmos. Sendo assim, o trabalho finaliza-se com a apresentação de algumas considerações. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Segundo Gil (2000, p. 31), [...] método significa caminho para se chegar a um fim. Neste sentido, método científico pode ser entendido como [...] o caminho para se chegar à verdade em ciência ou como o conjunto de procedimentos que ordenam o pensamento e esclarecem acerca dos meios adequados para se chegar ao conhecimento (GIL, 2000, p. 31). Além disso, Carvalho et al. (2000, p. 3) coloca que: [...] método, em ciência, não se reduz a uma apresentação dos passos de uma pesquisa. Não é, portanto, apenas a descrição dos procedimentos, dos caminhos traçados pelo pesquisador para a obtenção de determinados resultados. Quando se fala em método, busca-se explicitar quais são os motivos pelos quais o pesquisador escolheu determinados caminhos e não outros. São estes motivos que determinam a escolha de certa forma de fazer ciência. Levando em consideração a abordagem de Gil (2000) e Carvalho et al. (2000), o trabalho utiliza o método de pesquisa bibliográfica, o que é reflexo da necessidade de levantamento do histórico da estrutura produtiva do Paraná e da obtenção de dados secundários ligados à exportações recentes. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES No início do século XX, a população paranaense concentrava-se na região leste do Estado, tendo como principal atividade a ervateira, responsável por fortes mudanças econômicas no Paraná. Esta atividade espalhou-se para o interior, fazendo com que os colonos dividissem sua agricultura de subsistência com a colheita de folhas de erva-mate, aumentando sua renda. No início da década de trinta, o café surge como a principal atividade econômica do Paraná, refletindo na ocupação e colonização do norte do Estado. A expansão cafeeira no norte foi o marco inicial à ocupação de outras regiões do Paraná, como o oeste e sudoeste, que devido à fertilidade de seu solo, criou uma corrida de posse, elevando consideravelmente as taxas de crescimento demográfico. Junto com aumento da população, teve-se a conseqüente elevação da área cultivada. Segundo Rodrigues (1994, p.1): Em paralelo com o processo de ocupação da Região Norte, de caráter bastante dinâmico, ocorriam transformações relevantes no Oeste e no Sudoeste, onde a estrutura de produção baseada no regime latifundista de baixas produtividades (erva-mate e pecuária) cedia lugar a frentes de imigrantes gaúchos e catarinenses, que se estabeleciam em pequenas propriedades. A força da economia cafeeira, no Norte, desviou por duas ou três décadas a atenção de uma quase revolução agrária e agrícola que se processava nessas regiões, abrangendo um grande contingente

populacional em pequenas unidades (média de 20 ha), utilizando a tração animal e o trabalho familiar em sistemas de produção com base na policultura (milho, feijão, soja, trigo e suínos). A partir daí, o processo de substituição das áreas cultivadas por café se intensifica. O aumento da produção agrícola se dá pelo melhor aproveitamento dessas áreas, isto é, a utilização mais intensa da terra, através da plantação de culturas intercalares ao café ou de culturas em rodízios, como trigo-soja, permitindo duas colheitas ao ano. A partir da década de 70, a agricultura passa por um processo de modernização e constata-se ainda a ampliação do parque agroindustrial, formando a base para a estrutura produtiva paranaense atual. No que se refere aos anos oitenta, não é desconhecido que foi um período marcado por crises e instabilidade econômica, resultando em limitação ao crescimento produtivo brasileiro e paranaense. Apesar deste contexto, o início desta década não causou prejuízos mais graves à economia do Paraná. Segundo Rolim (1995), isso aconteceu devido ao desempenho favorável da agropecuária e de alguns ramos industriais como o de alimentos e a indústria química, não obstante a profunda crise da indústria da construção civil. Deve-se destacar que mesmo havendo a diminuição de crédito e subsídios, a agricultura do Paraná não sofreu perdas consideráveis. As culturas responsáveis pela maior geração de valor continuaram as mesmas. Além disso, nota-se o crescimento da participação da cultura da cana-de-açúcar e de outras atividades, como aves e ovos, elevando a diversificação da pauta da agropecuária paranaense (Moretto et al. 2002). A partir da década de 1960, portanto, a agricultura paranaense inicia um processo constante de transformação, impulsionada pelas medidas adotadas pelo governo federal. Logo, Iaschombek e Santos (1999, p. 11), resumem perfeitamente esta evolução: A agricultura paranaense passou por inúmeras transformações, a partir da segunda metade da década de 60 até os dias atuais, em decorrência do cenário de políticas públicas adotadas no âmbito nacional. Pode-se distinguir, até 1985, três fases distintas do processo de desenvolvimento da agricultura do Estado, a saber: (I) tradicional: que se estende até 1970, onde prevalecia a mão-de-obra em relação à mecanização; (II) modernização: década de 70 e inicio dos anos 80, marcada pela expansão da modernização agrícola, juntamente com a introdução do cultivo da soja e do trigo em grande escala, tornando-se o mais importante ciclo econômico do Estado; (III) pós-modernização: a partir da década de 80, onde a atividade agrícola passou a representar um risco maior, dada a elevação dos custos de produção e o enfraquecimento dos instrumentos de política agrícola. No entanto, fatos ocorridos, no decorrer da segunda metade da década de 1980, mostram que o desenvolvimento da agricultura paranaense foi marcado por mais uma fase, ocasionada pelo aumento da competitividade internacional. Neste sentido Iaschombek e Santos (1999, p. 12), colocam que: Após o enfraquecimento dos instrumentos de política agrícola nos anos 80, pode-se apontar o início do que se poderia chamar de quarta fase do processo de desenvolvimento da agricultura, que se caracteriza por uma maior exposição à concorrência. Esta fase é marcada, inicialmente, pelo acordo bilateral entre Brasil e Argentina, assinado em 1986 e estendido para Paraguai e Uruguai, em 1991, através da assinatura do Tratado de Assunção para formação do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). A década de noventa inicia-se com um fato que alteraria o cenário

competitivo agrícola: a abertura comercial. Esta decisão tomada pelo governo, naturalmente, elevou o grau de exposição dos produtos nacionais à concorrência internacional, gerando a necessidade de uma reestruturação no sistema produtivo. Segundo Volaco et al. (1991) nos anos noventa, os efeitos da conjuntura recessiva no Paraná foram mais significativos, devido ao predomínio da agropecuária e da agroindústria na estrutura produtiva, resultando numa retração de 6,6% do PIB. Neste período aconteceram fortes mudanças na estrutura produtiva paranaense. No setor do agronegócio, segundo Maia (2002) apud Braun et al. (2002, p. 271): [...] na década de 90, após a configuração do processo de abertura econômica, a agroindustrialização se acelerou em todo país, como parte de um processo de reestruturação produtiva que ocorreu na indústria brasileira. No Paraná, essa dinâmica se repete. A partir de 1994, aumentaram as decisões de investimentos no Estado, levando a instalação de novas empresas, ampliações e modernizações, e o Paraná deixou de ser caracterizado pela exportação de produtos básicos. Além disso, o Paraná deixou de ser um Estado apenas exportador agrícola, reflexo dos incentivos que o governo deu à instalação de indústrias com alto padrão tecnológico. Assim, segundo Rodrigues (2002) et al., apud Braun et al. (2002, p. 272): O Paraná apresentou nos últimos anos mudança no padrão de mudança da estrutura produtiva. Os setores vinculados à indústria de transformação ligada ao processamento alimentar perderam importância relativa na economia paranaense, tanto no que ser refere às ligações com os demais setores, quanto na geração dos valores de produção e adicionado. Os anos 90 foram caracterizados por um forte processo de desconcentração industrial acelerado principalmente por políticas de atração de indústrias com mais densidade tecnológica por meio de incentivos fiscais. Nesse contexto, o Paraná teve alteração na estrutura produtiva, tornando-se mais diversificada e complexa. A respeito dessa diversificação da estrutura produtiva do Paraná, a Tabela 1 mostra a composição da pauta exportadora paranaense para o período de 1996 a 2006. Tabela 1 - Composição das exportações, segundo grupos de produtos - Paraná - 1996-2006 Grupo de produtos Participação (%) 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 Material de transporte e 3,04 4,71 5,27 6,05 19,69 21,42 21,41 19,05 17,00 24,87 21,02 componentes Complexo soja 47,31 49,51 47,58 42,39 34,34 31,27 34,25 34,60 31,35 22,89 19,73 Madeiras e manufaturas de 6,22 6,39 7,35 11,75 10,86 9,28 10,53 10,60 12,42 11,00 10,56 madeira Carnes 5,89 4,30 5,13 8,15 6,47 8,23 8,37 9,19 10,29 12,97 9,79 Máquinas, aparelhos e instrumentos 6,82 6,09 5,70 4,93 4,26 3,28 2,71 3,78 4,72 5,48 5,69 mecânicos Açúcar 2,00 3,07 4,25 4,07 3,16 3,41 2,70 2,59 1,86 2,42 4,36 Cereais 0,71 0,78 0,09 0,21 0,07 6,82 4,13 4,30 5,17 0,78 3,98 Produtos químicos 1,84 1,60 1,88 2,39 2,54 2,08 2,04 2,44 2,19 2,44 2,96 Papel e celulose 4,24 3,07 3,24 3,58 3,36 2,63 2,32 2,50 2,29 2,50 2,96 Derivados de petróleo 1,59 1,37 0,74 1,28 1,99 1,52 2,10 1,17 1,10 1,72 2,90 Outros grupos de produtos 20,33 19,10 18,76 15,18 13,27 10,07 9,44 9,79 11,59 12,93 16,05 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Ipardes (2007, p. 8)

A análise da Tabela 1 resulta na observação de como as vendas de produtos não agrícolas, ao resto do mundo, têm crescido no Paraná. Em 1996, o grupo material de transporte representava somente 3,04% do total das vendas paranaenses no mercado internacional. Em 2006, o respectivo grupo passou a ser o primeiro nas exportações deste Estado, fazendo parte de cerca de 21% do total de vendas ao exterior. A Figura 1, que pega como base os dados da Tabela 1, mostra a evolução percentual da participação das vendas agrícolas e não agrícolas realizadas pelo respectivo Estado em análise. 80 70 60 Percentual 50 40 30 20 10 Agrícolas Não agrícolas 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Anos Figura 1 - Percentual de participação dos produtos agrícolas e não agrícolas nas exportações paranaenses (1996-2006) Fonte: Dados apresentados pela Tabela 1 As informações apresentadas pela Figura 1 dão a clareza de como a pauta exportadora paranaense está em processo de alteração, deixando de ser praticamente agrícola. Produtos não-agrícolas sofreram um aumento significativo em sua participação, passando a representar cerca de 30% em 2006, número bem maior do que aquele constatado em 1996 (13,29%). Cabe ressaltar que essas informações não são precisas, pois existem produtos agrícolas e não agrícolas que não foram especificados pela Tabela 1, e que fazem parte do item denominado: outros grupos de produtos. No entanto, os produtos especificados dão a possibilidade de percepção de como as vendas paranaenses ao resto do mundo estão sofrendo reflexos da mudança da estrutura produtiva do Estado. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho buscou apresentar aspectos ligados à estrutura produtiva do Paraná e, consequentemente, a composição de sua pauta exportadora. Através das informações levantadas, percebe-se que o Paraná, Estado esse que sempre teve nos produtos agrícolas os principais de seu ambiente exportador, começa a perceber os resultados da política de incentivo à entrada de montadoras, realizada pelo governo estadual, em meados da década de 1990. Os dados apresentados mostram a considerável evolução que o setor material de transporte sofreu, a ponto de ultrapassar o complexo soja, grupo esse que era o principal das vendas paranaense ao resto do mundo. Com isso, nota-se a importância da ação do Estado na economia, ação essa capaz de, além e gerar empregos e, consequentemente, renda, mudar a estrutura produtiva de um ambiente.

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