Acórdão 10a Turma OBRIGAÇÃO DE FAZER. EMISSÃO DE PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO PPP. PRESCRIÇÃO. A pretensão do trabalhador relativa à emissão e entrega, pelo empregador, do documento PPP Perfil Profissiográfico Previdenciário (anteriormente denominado DSS 8030), embora possua cunho condenatório, porquanto se constitui numa obrigação de fazer e de dar, encontra-se excluída do prazo prescricional, mesmo após o transcurso do prazo de dois anos entre a resilição do contrato de trabalho e o ajuizamento da ação. Aplicável à hipótese o disposto no 1º do artigo 11 da CLT, que excetua da regra contida no caput as ações que tenham por objeto anotações para fins de prova junto à Previdência Social. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário nº TRT-RO-0128800-93.2009.5.01.0061, em que são partes: SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE DADOS -SERPRO, como Recorrente, e JORGE LUIZ PERRELI DA SILVA, como Recorrido. VOTO: I - R E L A T Ó R I O 4082 1
Trata-se de Recurso Ordinário interposto pelo empregador às folhas 172/183 em face da r. decisão proferida às folhas 167/170, pela Juíza do Trabalho Alda Pereira dos Santos Botelho, em exercício na 61ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedente em parte o pedido inicial, condenando-a a entregar ao trabalhador o Perfil Profissiográfico - PPS. Contestação às folhas 113/121. Decisão que acolheu a preliminar de incompetência da Justiça Federal e determinou a remessa dos autos para a Justiça do Trabalho folha 152/153. Atas de audiência às folhas 164 e 166. A empresa requer a reforma da sentença. Inicialmente, aponta o descabimento do recolhimento referente ao depósito recursal; aponta a incidência da prescrição da pretensão; sustenta o descabimento da determinação de elaboração do PPP ao autor; requer a inversão dos ônus sucumbenciais. Comprovado o recolhimento das custas à folha 184. Oferecidas contrarrazões pelo trabalhador às folhas 1187/189, pela manutenção da sentença. Os autos não foram remetidos à Douta Procuradoria do Trabalho por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar no. 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Reg. nº 27/08-GAB., de 15.01.2008. É o relatório. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O 1. CONHECIMENTO Inicialmente, sustenta a autora a inexigibilidade do recolhimento do depósito recursal, tendo em vista a inexistência de condenação em pecúnia, consoante entendimento 4082 2
exarado na Súmula 161, do C. TST. Assiste-lhe razão. A sentença condenou a empresa à entrega do PPP (documento que substituiu o antigo formulário DSS 8030) com as informações completas sobre o período de 1985/1991 e 1991/1992, nos moldes do contido no verso dos documentos de fls. 14/15, em 15 (quinze) dias, sob pena de aplicação de multa diária de R$100,00, reversíveis ao autor. (folha 169). constar Na parte dispositiva, à folha 170, o julgador fez Custas de R$1,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos, pela reclamada, calculadas sobre R$532,00 (quinhentos e trinta e dois reais), provisoriamente arbitrado à condenação para fins de custas. Condenação sem conteúdo econômico. Verifica-se que há somente imposição de obrigação de fazer (emissão do documento denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário). A cominação em penalidade pecuniária para o caso de descumprimento da sentença refere-se às astreintes (artigo 461 do CPC) e não se confunde com condenação em valor pecuniário. Tanto que o julgador a quo fez constar do dispositivo que a condenação ao pagamento de custas não tem efeito econômico. Aplicável, assim, o entendimento jurisprudencial consagrado na Súmula 161, do C. TST: Se não há condenação a pagamento em pecúnia, descabe o depósito de que tratam os 1º e 2º do art. 899 da CLT (ex-prejulgado nº 39). Neste sentido a seguinte ementa, colhida de julgado proferido pela mais alta Corte Trabalhista: (...) CONDENAÇÃO EM PECÚNIA. ASTREINTES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DENECESSIDADE DO DEPÓSITO. O depósito 4082 3
recursal é requisito extrínseco para o conhecimento do recurso quando houver condenação em pecúnia, o que, todavia, não é o caso dos autos, considerando do que se depreende do v. acórdão regional, que não existe obrigação de pagar na r. sentença, mas sim, obrigação de não fazer, sob pena de multa diária (fixação de astreintes). Na essência, a obrigação é de fazer. As astreintes objetivam a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, não se confundindo com o objeto principal da condenação. Neste passo, inexistindo qualquer fundamento legal a amparar a exigência de depósito recursal no caso em apreço, a decretação da deserção importou em afronta ao artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal. Recurso de revista conhecido e provido. (PROC. Nº TST-RR-589/2001-002-22-00.8, 2ª Turma, Ministro Redator Designado RENATO DE LACERDA PAIVA, publicado em 04/03/2009). Conheço, portanto, do recurso interposto, por preenchidos os pressupostos de admissibilidade. 2. MÉRITO 2.1- DA PRESCRIÇÃO A empregadora ressalta a incidência da prescrição, decorridos quase oito anos entre a extinção contratual e o ajuizamento da ação. A sentença rejeitou a prescrição sob o fundamento de que O fornecimento de uma declaração exigida legalmente é uma obrigação contínua do empregador/ex-empregador. Se a declaração deve ser fornecida a qualquer momento, sempre que o interessado requer a expedição do documento e a ele é negado ou dado de forma incorreta surge a pretensão autoral (folha 168). Correta a sentença. A pretensão do trabalhador, como no caso dos autos, relativa à entrega do documento PPP Perfil Profissiográfico Previdenciário (anteriormente denominado DSS 8030), embora possua cunho condenatório, porquanto se constitui numa obrigação de fazer e de dar, encontra-se excluída do prazo 4082 4
prescricional suscitado pela recorrente, mesmo após o transcurso do prazo de dois anos entre a resilição do contrato de trabalho e o ajuizamento da ação. Isto porque, o disposto no 1º do artigo 11 da CLT excetua as ações que objetivam anotações para fins de prova junto ao órgão previdenciário, ao dispor que Art. 11. O direito de ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve: (...) 1º O disposto neste artigo não se aplica às ações que tenham por objeto anotações para fins de prova junto à Previdência Social. Nego provimento. 2.2-DO DESCABIMENTO DA CONDENAÇÃO À ELABORAÇÃO DO PPP Alega a recorrente que descabida a determinação da entrega do PPP - Perfil Profissiográfico Previdenciário, sob o argumento de que entregou, a tempo e modo, o DSS-8030 (denominação anterior do PPP), consoante folha 151, ao fim do contrato de trabalho; alega, ainda, que as informações ali constantes são idôneas, sob as penas da lei; ressalta que cumpriu fielmente a legislação, nos termos do artigo 58, 4º, da Lei 8213/91. Diz que não se trata de fato inconteste, como entende a sentença, mas de fato não provado, no sentido de que a declaração entregue contém incorreções. Na sentença, o julgador entendeu que restou claro que a DSS 8030 entregue ao autor encontra-se incompleta, em face dos elementos dos autos (folha 168). Na inicial, o autor alegou que o PPP, anteriormente denominado DSS-8030 (folha 13)que lhe foi entregue pela empresa, não faz menção aos períodos de 1985 a 1991, bem como de 1991 a 1992, estando, portanto, incompleto em relação às atividades exercidas em condições especiais (folhas 02/03). Em defesa, a empregadora diz que consta do documento entregue ao obreiro as atividades prestadas; referese à conclusão do laudo (folha 119 e 151). 4082 5
Com efeito, não merece reforma a sentença. O formulário do INSS (DSS-8030)é o documento que deve ser emitido pela empresa e serve como prova do trabalhador junto ao INSS de exposição a agentes nocivos prejudiciais à saúde ou integridade física do trabalhador para efeitos de requerimento de benefícios por incapacidade (atualmente, o formulário denomina-se Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP). Portanto, a determinação de seu fornecimento faz-se imprescindível para o empregado, em determinadas situações, exercitar o direito constitucionalmente garantido a aposentadoria, nos termos do artigo 7º, XXIV, da Constituição Federal. No caso dos autos, verifica-se que, de fato, não há impugnação específica, em contestação, quanto aos períodos referidos na inicial de 1985/1991 e de 1991/1992, na defesa (folha 119), acarretando, para a recorrente os efeitos do disposto no artigo 302, do CPC. Assim, diversamente do que alega, trata-se, sim, de fato inconteste. Assim, correta a sentença que concluiu pela determinação à empresa da emissão do PPP, que substituiu o antigo DSS-8030, com as informações completas, nos moldes do verso dos documentos de fls. 14/15.... Verifica-se que informações contidas no documento do autor (folha 13) e nos de folhas 14 e 15 referem-se a empregados que desempenhavam idênticas atividades. Diferem, tão somente, em relação ao que consta no verso destes últimos, informações que não constam no DSS-3080 do autor. E tal diferença não encontra justificativa plausível, tendo em vista que o cargo exercido, as atividades executadas e demais aspectos são idênticos para autor e o empregado referido às folhas 14/15. Ademais, as informações para a elaboração do novo documento são simples e estão em poder da empresa, exempregadora, que poderá, facilmente, emitir o correto PPP. Nego provimento. 4082 6
Mantida a decisão a quo, não há que se falar em inversão dos ônus sucumbenciais. III - D I S P O S I T I V O ACORDAM os Desembargadores que compõem a 10ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, em conhecer do recurso ordinário interposto pela empresa e, no mérito, por unanimidade, em negar-lhe provimento, nos termos do voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 08 de dezembro de 2010. MC/maa Marcos Cavalcante Desembargador Relator 4082 7