A NEUROCISTICERCOSE HUMANA, SUAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E SEUS POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS.

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Transcrição:

1 A NEUROCISTICERCOSE HUMANA, SUAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E SEUS POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS. RESUMO A neurocisticercose é considerada a mais importante infecção do sistema nervoso central e consiste sério problema de saúde pública em vários continentes, principalmente na Ásia, África e América Latina, em países subdesenvolvidos e em via de desenvolvimento. Esse trabalho basease em uma abordagem teórica sobre as manfestações clínicas e possíveis diagnónsticos da Neurocisticercose Humana. As manifestações clínicas da neurocisticercose estão na dependência de vários fatores: tipo morfológico (Cysticercus cellulosae ou Cysticercus racemosus), número, localização e fase de desenvolvimento do parasita, além das reações imunológicas locais e à distância do hospedeiro. Devido à riqueza de sintomas que pode causar, o diagnóstico da neurocisticercose depende da realização de exames de neuroimagem (tomografia computadorizada (TC) e/ou ressonância magnética (RM)), associados ao estudo completo do liquido cefaloraquidiano (LCR), com reações imunológicas específicas para esta doença. O presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento teórico científico utilizando exclusivamente a metodologia de pesquisa bibliográfica sobre a doença neurocisticercose humana, as diversas manifestações clínicas e os possíveis dignósticos. Palavras-chave: Neurocistecercose. Cisticercose. Diagnostico e Sintomas Cisticercose. INTRODUÇÃO A neurocisticercose é considerada uma importante infecção do sistema nervoso central e consiste sério problema de saúde pública em vários continentes, principalmente na Ásia, África e América Latina, em países subdesenvolvidos e em via de desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1994) ocorrem cerca de 50.000 óbitos por ano nesses países. No Brasil é endêmica nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás. A sintomatologia da neurocisticercose é variada, podendo ser assintomática e depende de vários fatores tais como: número, localização, fase evolutiva dos cistos e imunidade do hospedeiro, que determinam também a gravidade do quadro clínico apresentado pelo paciente. Adriana Mota Mattos Leal 1 Naomara Oliveira Monteiro de Almeida 1 Edimar Caetité Júnior 2 1 Biomedicas cursando Pos Graduação Lato Sensu em Analises Clinicas da Atualiza Cursos, Salvador-BA. 2 Orientador / Professor / MSc

2 Alguns métodos diagnósticos modernos estão sendo utilizados, tais como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, mas por seu alto custo são ainda inviáveis na maioria dos serviços de saúde pública. A razão da escolha do tema se prende ao fato da Neurocisticercose ser uma doença encontrada com elevada freqüência em países subdesenvolvidos como o Brasil, seguida de total inexistência de programas de controle. E esse estudo tende a compreender essa infecção do SNC e correlacionar os artigos científicos sobre os sinais, sintomas e detecção da patologia. O presente trabalho tem como tema uma abordagem teórica sobre as manfestações clínicas e possíveis diagnónsticos da Neurocisticercose Humana e com um objetivo de fazer levantamento teórico científico das considerações gerais sobre a doença neurocisticercose humana, descrevendo as diversas manifestações clínicas e citando os possíveis dignósticos. O procedimento metodológico utilizado para dar embasamento a este artigo foi exclusivamente o da pesquisa bibliográfica, onde obteve como fundamento o levantamento de informações de material já publicado de maneira especial os livros e artigos científicos sobre a doença Neurocisticercose Humana, as diversas manifestações clínicas e os possíveis diagnósticos. A NEUROCISTICERCOSE HUMANA A cisticercose humana causada pela forma larvária metacestóide da Taenia sp, em 90% dos casos acomete o sistema nervoso central (SNC), localização essa, importante por sua frequência e gravidade. Essa infecção é conhecida como neurocisticercose (NCC) e caracteriza-se por um polimorfismo clínico e laboratorial, o que leva as dificuldades para o seu diagnóstico (AGAPEJEV, 2003). Incide em ambos os sexos, com discreto predomínio em homens entre os 21 e 40 anos, mas ocorrendo em qualquer faixa etária. A manifestação dos sintomas é resultante da interação parasita-hospedeiro e da intensidade na resposta reacional inflamatória ao redor do parasita e longe dele (reação à distância). Na NCC as reações à distância estão associadas às situações graves e incapacitantes (AGAPEJEV; SOUZA; FALEIROS, 2007). Apesar das dificuldades de ordem biológica, estatística e técnicas inerentes a uma investigação epidemiológica (TAKAYANAGHI; JARDIM, 1983), relatos fracionários diversos

3 levam à conclusão de que a neurocisticercose humana tem distribuição geográfica mundial, sendo freqüente na Asia, Europa, África e, principalmente, na América Latina (SPINA- FRANÇA,1969). México, Peru, Chile e Brasil têm sido apontados como os países latinoamericanos onde é maior a incidência de pacientes internados por NCC (SCHENONE, RAMIREZ, ROJAS, 1973), a forma mais comum e grave da doença que reflete, aproximadamente, a morbidade da cisticercose humana (MACHADO; PIALARISSI; VAZ, 1988). No Brasil, alguns estudos sobre neurocisticercose realizados em serviços especializados em Neurologia de São Paulo (CANELAS, 1962), têm fornecido subsídios relevantes à investigação de aspectos epidemiológicos da neurocisticercose. Carecem estes estudos, pelas dificuldades encontradas de informações sobre as demais formas da cisticercose humana, as quais permitiriam um dimensionamento mais adequado do problema sanitário. Por outro lado, a atualização contínua destes estudos é contribuição necessária à vigilância epidemiológica, uma das principais medidas que visam à erradicação da cisticercose humana (MACHADO; PIALARISSI; VAZ, 1988). A falta de saneamento básico e educação sanitária são fatores que contribuem para a transmissão da cisticercose em zonas urbanas. Estudos têm demonstrado a presença da Taenia solium viável e ovos de Taenia saginata no lodo de esgoto, mesmo após o seu tratamento (GRAZZIOTIN et al, 2010). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas da neurocisticercose estão na dependência de vários fatores: tipo morfológico (Cysticercus cellulosae ou Cysticercus racemosus), número, localização e fase de desenvolvimento do parasito, além das reações imunológicas locais e à distância do hospedeiro. Da conjunção destes vários fatores resulta quadro pleomórfico, com uma multiplicidade de sinais e sintomas neurológicos inexistindo quadro patognomônico (TAKAYANAGHI, 2001). Os sintomas mais comuns da NCC são as convulsões, a cefaléia, os distúrbios psíquicos, a hipertensão intracraniana, hidrocefalia, entre outros. Podem ocorrer de formas isoladas ou associadas, determinando diferentes formas de apresentação clínica (TRELLES; LAZARTE,

4 1940). As classificações da neurocisticercose são múltiplas, variando de acordo com critérios topográficos, clínicos e laboratoriais (TAKAYANAGHI; LEITE, 2001). Embora a NCC possa ser também assintomática em mais da metade de seus portadores, a Hidrocefalia (HDC), conhecido como marcador de mau prognóstico, é uma presença comum nas manifestações graves. Comporta-se de forma oposta às calcificações do ponto de vista prognóstico, mas constitui como estágios evolutivos finais da NCC, constituindo expressões da variabilidade na resposta imunológica. Quando essa resposta é mediada no espaço subaracnóideo, há persistência de exsudato inflamatório que induz à formação de meningoencefalite que, com o passar do tempo, leva à formação de fibrose e provoca a obstrução da circulação do Liquido Cefalorraquidiano, desencadeando a formação de hidrocefalia obstrutiva (AGAPEJEV; SOUZA; FALEIROS, 2007). DIAGNÓSTICO Devido à riqueza de sintomas que pode causar, o diagnóstico da neurocisticercose depende da realização de exames de neuroimagem (Tomografia Computadorizada (TC) e/ou Ressonância Magnética (RM)), associados ao estudo completo do liquido cefaloraquidiano (LCR), com reações imunológicas específicas para esta doença. Como estes exames são de alto custo, muitas regiões não só do Brasil, mas também dos outros países envolvidos, têm dificuldade de realizá-los, o que com certeza diminui a frequência do diagnóstico e influencia na determinação da prevalência desta doença. Esta situação, comum a várias cidades do Nordeste brasileiro, torna relevante a descrição de casos desta doença ocorridos e confirmados laboratorialmente nos Estados, a fim de alertar tanto a comunidade médica como as autoridades sanitárias para o problema (CHAGAS; OLIVEIRA, 2003). As reações sorológicas ainda continuam sendo o auxílio no diagnóstico da neurocisticercose e diferentes testes imunodiagnósticos vêm sendo utilizados na pesquisa de anticorpos específicos da neurocisticercose tais como: imunoeletroforese, imunofluorescência indireta, hemaglutinação passiva, e testes imunoenzimáticos (COSTA, 1983). Na neurocisticercose, o exame do líquido cefalorraquidiano é realizado rotineiramente para o diagnóstico, e suas altereações, segundo Lange (1940), caracteriza a síndrome liquórica da neurocisticercose.

5 Neuroimagem é fortemente aplicada no diagnóstico de NCC, permitindo a visualização do parasito em suas diferentes etapas (MACHADO et al, 1990). Exame do Líquido Cefalorraquidiano (LCR) pode ser uma valiosa ferramenta de diagnóstico, fornecendo informações importantes sobre o processo inflamatório (LIVRAMENTO; MACHADO; SPINA- FRANÇA, 1986). Mas recentemente, uma metodologia capaz de detectar antígenos anti-taenia foi desenvolvido, utilizando anticorpos purificados altamente contra antígenos de Taenia, mostrando alta sensibilidade e especificidade (PARDINI et al, 2001). O diagnóstico correto, por si só não é suficiente para determinar a gravidade, ao esquema terapêutico adequado e prognóstico. É necessário saber se a doença está ativa, de acordo com critérios de imagem (cistos sem realce) e/ou com critérios clínicos e imunológicos. Enquanto os procedimentos diagnósticos são bastante desenvolvidos, os critérios de atividade da doença são pobres, e baseados quase exclusivamente na neuroimagem. Além de anti-taenia anticorpos específicos que podem persistir por longo tempo no LCR, a detecção de antígenos de Taenia pode estar relacionada à fase aguda da atividade inflamatória. Essa atividade inflamatória está intimamente relacionada com a NCC e sua atividade clínica (ABRAHAM et al, 2004). O tratamento para a NCC pode ser cirúrgico ou clínico. O tratamento de primeira escolha é o medicamentoso e inclui drogas antiparasitárias e medicação sintomática. Praziquantel e albendazol são drogas com ação antiparasitárias contra o Cysticercus Cellulosae da Taenia solium comumente utilizadas, com eficácia de 60 a 85%, principalmente sobre cistos parenquimatosos, sendo que o albendazol é o tratamento de escolha pela sua maior eficácia e menor efeito colateral (COLLI; CARLOTTI JR, 2003). Estudos recentes apontam que a escolha do medicamento antiparasitário deve ser influenciada mais pelos custos e efeitos colaterais, uma vez que diversas análises mostram eficácia de tratamento semelhante entre o albendazol e o praziquantel. Porém cistos localizados nos ventrículos cerebrais ou cisternas basais cerebrais não respondem bem ao tratamento clínico, sendo necessária remoção cirúrgica na maioria dos casos, podendo ser realizada por endoscopia (BRANDÃO et al, 2010).

doença. A possibilidade de sucesso no controle da cisticercose está na dependência da adoção de 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A situação atual da teníase/cisticercose pode ser creditada a vários fatores, como o aprimoramento das condições de saneamento ambiental, o desenvolvimento socioeconômico e cultural da população e a fiscalização da qualidade da carne. Trata-se de um processo natural de desenvolvimento, sem qualquer intervenção dirigida especificamente contra a parasitose. A comunidade científica vem alertando as autoridades governamentais sobre a gravidade da cisticercose humana, reivindicando medidas mais eficazes de profilaxia. Assim, o comitê de prevenção da cisticercose da Academia Brasileira de Neurologia vem desenvolvendo atividades na tentativa de sensibilizar os mais diversos segmentos da comunidade sobre a gravidade da medidas dirigidas à prevenção do complexo teníase/cisticercose e aplicadas de forma simultânea e integrada. ABSTRACT THE HUMAN NEUROCYSTICERCOSIS, THE VARIOUS CLINICAL MANIFESTATIONS AND POSSIBLE DIAGNOSIS. Neurocysticercosis is considered the most important infection of the central nervous system and is serious public health problem in several continents, mainly in Asia, Africa and Latin America in developing countries and the developing world. This work builds on noted in a theoretical approach to the manifestations and possible diagnónsticos Clinics of Human Neurocysticercosis. The clinical manifestations of neurocysticercosis are dependent on several factors: morphological type (Cysticercus cellulosae or Cysticercus racemosus), number, location and stage of parasite development, in addition to immune reactions of the local and remote host. Due to the richness of which can cause symptoms, the diagnosis of neurocysticercosis depends on the performance of neuroimaging (computed tomography (CT) and / or magnetic resonance imaging (MRI)), associated with the complete study of the cerebrospinal fluid (CSF), with immune responses specific for this disease. This study aimed to survey using only theoretical scientific research methodology of the literature on human disease neurocysticercosis, the various clinical manifestations and possible diagnosis. Key Words: Neurocysticercosis. Cysticercosis. Diagnosis and Symptoms Cysticercosis.

7 REFERÊNCIAS ABRAHAM, R.; PARDINI, A. X.; VAZ, A. J.; LIVRAMENTO, A. L; MACHADO, L. R. Detecção de antígenos de Taenia no líquido cefalorraquidiano de pacientes com neurocisticercose e sua relação com a atividade clínica da doença. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo. v. 62, n. 3, 2004. AGAPEJEV, S. Aspectos clínico-epidemiológicos da neurocisticercose no Brasil: análise crítica. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo. v. 61, p.822-828, 2003. AGAPEJEV, S; SOUZA, A. F. P.; FALEIROS, A. T. S.; Aspectos Clínicos e Evolutivos da Hidrocefalia na Neurocisticercose. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo. v. 65, 2007. BRANDÃO, R. A. C. S.; NUNES, T. W.; TÓTOLA, P. V. F.; FONSECA, V. S.; SOUZA, W. C. Neurocisticercose Gigante: Diagnóstico e Tratamento. Revista da Associação Médica Brasileira. São Paulo. v. 56, n. 4, 2010. CANELAS, H. M. Neurocisticercose: incidência, diagnóstico e formas clínicas. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo. v. 20, p. 1-30, 1962. CHAGAS, M. G. L.; OLIVEIRA, A. D.; Manifestações Clínicas da Neurocisticercose na Região do semi-árido do Nordeste Brasileiro. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo. v. 61, 2003. COLLI B. O.; CARLOTTI JR. C. G. Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da cisticercose do sistema nervoso central. Temas Atuais Neurocirurgia. São Paulo. v. 1, p. 4-28, 2003. COSTA, J. M. Teste imunoenzimático (ELISA) no diagnóstico da neurocisticercose. Instituto de Ciências Biomédicas da USP. São Paulo, 1983. GRAZZIOTIN, A. L.; FONTOURA, M. C.; SANTOS, M. B. F.; MONEGO, F.; LINE, G.; KOLINSKI, V. H. Z.; BORDIGNON, R. H.; BIONDO, A. W.; ANTONIUK, A.; Perfil epidemiológico padrão de pacientes com neurocisticercose diagnosticada por tomografia computadorizada em Curitiba, Brasil. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo. v. 68, n. 2, 2010. LANGE, O. Síndrome liquórica da cisticercose encéfalo-meningéia. Revista Neurológica Psiquiátrica. São Paulo. v. 6, p. 35-48, 1940. LIVRAMENTO, J. A.; MACHADO, L. R.; SPINA-FRANÇA, A. Sinalização do líquido cefalorraquidiano em doenças inflamatórias crônicas do Sistema Nervoso Central. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo. v. 44, p. 351-358, 1986.

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