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Transcrição:

Nº 22.914/CS HABEAS CORPUS Nº 134.975 RIO DE JANEIRO IMPETRANTE: MARCELO DA SILVA TROVÃO PACIENTE: ANDERSON DE CASTRO SCHIAVINI IMPETRADO: SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR RELATOR: MINISTRA ROSA WEBER PENAL. MILITAR. DESERÇÃO. ATIPICIDADE. PENDÊNCIA DE AÇÃO JUDICIAL PRETENDENDO O RECONHECIMENTO DA INAPTIDÃO DO PACIENTE PARA O EXERCÍCIO DO SERVIÇO MILITAR. NÃO CONHECIMENTO DA IMPETRAÇÃO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. MÉRITO. IMPROCEDÊNCIA DAS ALEGAÇÕES. PENDÊNCIA DE AÇÃO RELATIVA A INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DA FUNÇÃO MILITAR QUE NÃO TEM REPERCUSSÃO NO CRIME DE DESERÇÃO PRATICADO PELO PACIENTE. DELITO PRATICADO NA CONDIÇÃO DE MILITAR DA ATIVA. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA NO ÂMBITO DO CRIME MILITAR, SE CONSTADA A INCAPACIDADE DO AGENTE. PARECER PELO NÃO CONHECIMENTO DO MANDAMUS E, SE CONHECIDO, PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de Anderson de Castro Schiavini contra acórdão do Superior Tribunal Militar que denegou a ordem nos autos do Habeas Corpus n.º 55-02.2016.7.00.0000/RJ. 2. O paciente, 1º Sargento do Exército, teve contra si um mandado de captura expedido pelo Comandante do 57º Batalhão de Infantaria Motorizada, pela suposta prática do crime de deserção. 3. A defesa impetrou habeas corpus perante o Superior Tribunal Militar, pretendendo a desconstituição do mandado de captura, sob a alegação de atipicidade do crime de deserção. Apontou-se a existência de questão

MPF/PGR Nº 24.914/CS 2 prejudicial heterogênea, qual seja, a ação ajuizada perante o Juízo da 26ª Vara Cível Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro buscando o reconhecimento da incapacidade definitiva do paciente para permanecer no Exército Brasileiro. 4. O STM denegou a ordem em acórdão assim ementado: HABEAS CORPUS PREVENTIVO. TRÂNSFUGA. PEDIDO DE DESCONSTITUIÇÃO DO MANDADO DE CAPTURA. CUMPRIMENTO DE ORDEM LEGAL E CONSTITUCIONAL. PRISÃO CAUTELAR. EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. MILITAR COM ESTABILIDADE. ESTADO DE SAÚDE DO FORAGIDO. IRRELEVANTE COMO CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. EVENTUAL INCAPACIDADE FÍSICA OU MENTAL. INEXISTÊNCIA DE ÓBICE À AÇÃO PENAL MILITAR. POTENCIAL APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA. APRECIAÇÃO ESGOTANTE DA PROVA. EXCEPCIONALIDADE DA VIA ELEITA. DENEGAÇÃO DA ORDEM. Em face de deserção, o Comandante deve imediatamente expedir o mandado de captura, cumprindo, assim, os arts. 5º, inciso LXI, da CF/88 e 243 do CPPM. Sendo exceção ao primado do juiz natural, os preceitos normativos insculpidos nos arts. 452 e 453, ambos do CPPM, autorizam a prisão cautelar do desertor capturado ou que se apresente voluntariamente. No caso de praça com estabilidade capturada ou que se apresente após desertar, a inaptidão para Serviço Militar, verificada em inspeção de saúde, não significa a falta de condição de procedibilidade à ação penal militar arts. 454, 3º e 4º, e 457, 3º, ambos do CPPM. Mesmo que haja decisão no âmbito da Justiça Federal comum, reconhecendo a inimputabilidade art. 48 do CPM -, a praça com estabilidade, ainda sim, pode ser impropriamente absolvida perante a JMU, com potencial aplicação de medida de segurança, o que vai além da simples incapacidade definitiva para o Serviço Militar. Alegações sobre o estado de saúde do Paciente e sobre a regularidade de seu afastamento acarretam matéria que exige apreciação esgotante da prova, desiderato não cabível na via estreita do Remédio Heroico. O habeas corpus mostra-se cabível em casos excepcionalíssimos: a manifesta atipicidade da conduta, a presença de causa extintiva de punibilidade ou a ausência de suporte probatório mínimo de autoria e materialidade delitivas. Decisão unânime.' 5. Daí a impetração do presente writ, por meio do qual o impetrante reitera a atipicidade do crime de deserção. Sustenta que o paciente padece

MPF/PGR Nº 24.914/CS 3 de ansiedade generalizada e síndrome do pânico, de forma que a sua incapacidade definitiva para permanecer no serviço ativo do Exército Brasileiro está sub judice, em trâmite na 26ª Vara Cível Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, o que inviabiliza a lavratura do termo de deserção e a expedição do mandado de captura. Por fim, aponta a necessidade de ordem judicial fundamentada expedida pelo juiz natural para efetivar a prisão do paciente. 6. Preliminarmente tem-se que o mandamus não comporta conhecimento por ter sido manejado em substituição ao recurso ordinário cabível, conduta que tem sido repelida pela jurisprudência dessa Suprema Corte a fim de resguardar a expressa dicção do preceito insculpido no art. 102, II, a, CF, primando pela lógica recursal (HC nº 120.361/MG, Relª. Min. Rosa Weber, DJe de 19/3/2004, entre inúmeros outros). 7. No mérito, a pretensão é inviável. 8. Inicialmente, a existência da ação em trâmite perante o Juízo da 26ª Vara Cível Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, buscando a inaptidão definitiva para o Serviço Militar, não retira a tipicidade do crime de deserção, nem implica em ausência de condição de procedibilidade para a ação penal. 9. O que importa para efeito de atendimento da exigência legal é que o paciente, quando desertou, o fez na condição de militar da ativa. 10. Ademais, ainda que o paciente obtenha sucesso na ação em trâmite perante a Justiça Federal, o fato de ter desertado na condição de militar da ativa e praça estável implica repercussão diversas nas searas penal e administrativa.

MPF/PGR Nº 24.914/CS 4 11. Como destacado na decisão recorrida, se for constada a sua inimputabilidade art. 48 do CPM -, até mesmo ser impropriamente absolvido, o que iria além da simples incapacidade definitiva para o Serviço Militar, a incapacidade definitiva pode conduzir o militar estável à reforma administrativa, mas não à isenção do processo por deserção. ( ) Em outras palavras, mesmo quando considerados incapazes definitivos, os oficiais e praças estáveis, diferentemente dos efetivos variáveis (Cb e Sd não estáveis), ainda assim, respondem a processos por deserção art.s 454, 3º e 4º e 457, 3º, ambos do CPPM. 12. Nesse contexto, ainda que julgada procedente, a ação em trâmite perante a 26ª Vara Cível Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro não impede, por si só, a edição de um decreto condenatório perante à Justiça Militar da União. 13. Ainda que assim não fosse, circunstância que se admite somente por argumentar, em consulta à página eletrônica do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (www.trf2.jus.br) acerca do andamento processual da Ação nº 2015.51.51.154999-5, em trâmite na 26ª Vara da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, verificou-se que ainda não houve julgamento do feito, tendo a tutela antecipada sido indeferida. 14. Não há portanto, até o presente momento, qualquer decisão judicial reconhecendo a incapacidade definitiva do paciente para o Exercício do Serviço Militar, circunstância que, como já visto, poderia ensejar a aplicação de medida de segurança mas não a absolvição do paciente por atipicidade da conduta. 15. Por fim, não há ilegalidade quanto à expedição de mandado de

MPF/PGR Nº 24.914/CS 5 captura pelo Comandante do 57º Batalhão de Infantaria Motorizada. A deserção do paciente consumou-se em 7.2.2016. A Constituição Federal, em seu art. 5º, LXI, excepciona a necessidade de somente o juiz natural ordenar eventual prisão na hipótese de crime militar próprio, in verbis: Art. 5º (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; 16. Sem embargo, há regramento específico na legislação castrense, em plena vigência a reger a questão, qual seja, a expressa dicção do art. 243 do CPPM, in verbis: Art. 243. Qualquer pessoa poderá e os militares deverão prender quem for insubmisso ou desertor, ou seja encontrado em flagrante delito. 17. Ante o exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pelo não conhecimento do writ, e, se conhecido, pela denegação da ordem. Brasília, 21 de junho de 2016 CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES Subprocuradora-Geral da República