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Transcrição:

Gestão do conhecimento na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): análise a partir das estratégias de gestão corporativas Title: Knowledge Management at the Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa): an Analysis from the Perspective of the Corporate Management Strategies Alessandra Rodrigues da Silva (Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil) rodriguesal@gmail.com Marcelo Moreira Campos (Embrapa, Distrito Federal, Brasil) marcelo.campos@embrapa.br Resumo: Este artigo analisa a carteira de projetos de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sob a ótica da gestão do conhecimento, a fim de identificar como o tema está posicionado em relação à estratégia de gestão corporativa, consolidada no V Plano Diretor da Embrapa (V PDE). A Embrapa é uma empresa pública de renome mundial, cuja missão é viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira. Possui 41 centros de pesquisa localizados em todas as regiões do Brasil e laboratórios no exterior, além da sede da Empresa, em Brasília DF. O desenvolvimento deste estudo focou a análise nos projetos de pesquisa - instrumento base da gestão corporativa da Embrapa. Tais projetos são a base do modelo gerencial que organiza as atividades essenciais da Embrapa, denominado Sistema Embrapa de Gestão (SEG). Para se alcançarem os objetivos propostos, foram utilizadas as abordagens quantitativas e qualitativas e a metodologia clássica de recuperação de informação, seguindo-se o percurso metodológico do mapeamento à análise do uso da expressão gestão do conhecimento e suas variáveis, nos projetos de pesquisa do SEG, bem como a relação desta análise com as diretrizes do V PDE. A partir dos resultados obtidos foi verificada certa confusão conceitual em relação ao uso das expressões gestão do conhecimento e gestão da informação, uma vez que alguns projetos de pesquisa utilizam ambas, sem qualquer parâmetro de diferenciação. Independentemente dessa verificação, os resultados evidenciaram a incidência e a importância do tema na carteira de projetos de pesquisa da Embrapa, bem como o aumento progressivo no número de projetos de pesquisa relacionados ao tema, desde a implementação do V PDE. Abstract: This paper analyses the portfolio of research projects of the Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa) from the perspective of knowledge management, in order to identify how this theme is addressed in corporate management strategies, as consolidated in the V Embrapa Master Plan (V EMP). Embrapa is a globally renowned Brazilian government corporation, whose mission is to provide research, development and innovation (RD&I) solutions for sustainable agriculture to benefit Brazilian society. Embrapa is comprised of 41 research centers located in every region of Brazil, as well as laboratories established abroad, besides the corporate headquarters located in Brasilia, the capital of the country. The development of this study focused its analysis on the primary activity of Embrapa s corporate management: research projects. Research projects are the basis of a management model that organizes the essential activities of Embrapa, referred to as the Embrapa Management System (EMS). To achieve the intended purpose, quantitative and qualitative research was performed as well as using the classical methodology of information retrieval, tracing the methodological route from the mapping to the subsequent analysis of the use of the term knowledge management 3279

and its variables in the research projects of the EMS, as well as the correlation of this analysis with the guidelines of the V EMP. Upon reviewing the results, some conceptual confusion was encountered regarding the use of the terms 'knowledge management' and 'information management', since some research projects address both issues without clearly differentiating between them. Nevertheless, the results highlighted the incidence and importance of the theme in Embrapa s portfolio of research projects, as well as a progressive increase in the number of research projects related to the topic since the implementation of the V EMP. Palavras-chave: Gestão do conhecimento, Embrapa, estratégias de gestão, gestão corporativa. Keywords: Knowledge Management, Embrapa, Management Strategies, Corporate Management. 3280

1 Introdução A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada em 1973 e vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), tem possibilitado, ao longo de seus 41 anos de existência, a consolidação de um ciclo virtuoso de pesquisa e inovação da agropecuária brasileira (Embrapa, 2014: 6), bem como a liderança do país em pesquisas sobre a agricultura tropical. A Embrapa atua nacionalmente por meio de 46 Unidades Descentralizadas (dados atualizados até dezembro de 2014) e 15 Unidades Centrais, estrategicamente localizadas nas diferentes regiões do país e, em âmbito internacional, está presente em todos os continentes. O gerenciamento de todo este universo e a consequente intensificação das pesquisas que a Empresa promove e realiza constituem tarefas complexas e peculiares, o que a leva a rever periodicamente sua Missão, Visão de Futuro, Objetivos e Diretrizes Estratégicas, em consonância com as prioridades e orientações governamentais (Embrapa, 2008: 3-4). Nesse contexto, desde a década de 1980, é elaborado o Plano Diretor da Embrapa (PDE), documento norteador das ações da Empresa, atualmente em sua quinta edição. 1 O V PDE (Embrapa, 2008), documento construído de maneira colaborativa, apresenta os objetivos e as diretrizes estratégicas em médio e longo prazos da Embrapa. Aliada ao PDE e à representação daquilo que é demandado, proposto, aprovado e executado como arena central de gestão da Empresa, tem-se a carteira de projetos de pesquisa da Embrapa, vinculada ao Sistema Embrapa de Gestão (SEG). O SEG é o modelo gerencial que organiza as atividades da Embrapa, integrando os diferentes níveis de gestão (estratégico, tático e operacional), e promove os meios operacionais para o alcance dos objetivos e das diretrizes estratégicas da Empresa. Dessa forma, os projetos de pesquisa constituem elemento-chave para a atuação da Embrapa, pois concretizam o que é efetivamente definido como estratégia de gestão, ou seja, aquilo que a organização escolhe como mecanismo ou elemento para o alcance dos objetivos a que se propõe. Neste cenário, tem-se a gestão do conhecimento (GC) como processo fundamental à Embrapa, que auxilia sobremaneira a gestão estratégica e, conforme indicado por Choo (2006), a criação de significado, a geração de conhecimento e a redução de incertezas na tomada de decisão. A GC objetiva favorecer ou criar condições para que a organização possa sempre utilizar a melhor informação e conhecimentos disponíveis (Alvarenga Neto, 2008: 38). Para Choo (2006: 27), a informação é um componente intrínseco de quase tudo que uma organização faz e a informação organizada e disponível é elemento base para a eficácia do processo de GC, principalmente em uma organização de pesquisa como a Embrapa. A GC é um dos pré-requisitos para que uma organização sobreviva na contemporaneidade, já que, conforme exposto por Tapscott (1997), a nova economia mundial é essencialmente baseada no conhecimento, em produtos e serviços com valor potencial intensivos em conhecimento. Recorda-se que, ao se trabalhar com o conhecimento, parte-se do entendimento de Alvarenga Neto (2008: 19), de que o conhecimento representa a soma 1 O sexto Plano Diretor da Embrapa está disponível, com acesso restrito aos Empregados, em versão de trabalho. A versão final deverá ser publicada ainda no ano de 2015. Optou-se, por essa razão, por abordar somente o V PDE, publicado em 2008, e disponível online para toda a sociedade. 3281

das experiências de uma pessoa e/ou organização e só existe na mente humana, isto é, ao se abordar a GC, trabalha-se com os rastros que o conhecimento deixa em seu processo formativo, já que o alcance ao conhecimento em si é inviável, por sua natureza constitutiva ser a combinação de elementos individuais, cognitivos e sociais. A partir destas considerações, o objetivo deste trabalho é analisar a carteira de projetos de pesquisa da Embrapa sob a ótica da GC, a fim de identificar como a temática está posicionada em relação à estratégia de gestão da Empresa consolidada no V PDE. Para tanto, o estudo valeu-se de abordagem quantitativa e qualitativa a partir da pesquisa descritiva e analítica, com o mapeamento da expressão GC e de suas variáveis, na carteira de projetos de pesquisa do SEG, no período de 2002 a 2014. 2 A Embrapa e a gestão do conhecimento A Embrapa desenvolve pesquisas relacionadas aos mais diferentes biomas brasileiros e conta com a colaboração de quase dez mil empregados, dos quais 2.444 são pesquisadores 84% com doutorado ou pós-doutorado. 2 A estrutura organizacional da Empresa é composta por 41 centros de pesquisa, 5 centros de serviço, 15 Unidades Administrativas Centrais, bem como a Diretoria Executiva e o Conselho de Administração (Figura 1): Figura 1 - Estrutura organizacional da Embrapa Fonte: <www.embrapa.br/organograma>. Recuperado em 05 janeiro, 2015. 2 Recuperado em 04 janeiro, 2015, de https://www.embrapa.br/pesquisa-e-desenvolvimento. 3282

No âmbito da cooperação internacional, a Embrapa possui laboratórios de pesquisa, denominados Labex (Laboratórios no Exterior), na América do Norte, Europa e Ásia, bem como projetos na África, na América Central e na América do Sul. Ainda neste âmbito, possui acordos bilaterais com instituições estrangeiras, relacionados à pesquisa agrícola, com o objetivo de desenvolver pesquisas e ampliar a transferência de tecnologia. A Embrapa tem como missão viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira (Embrapa, 2008: 18). Nesse sentido, processos, ações e atividades relacionados à GC são essenciais para a consolidação da missão a que se propõe, como o desenvolvimento de projetos de pesquisa, que instrumentalizam a criação e geração do conhecimento organizacional. Conforme explica Fresneda (2003), é importante frisar que uma característica particular e marcante das organizações de P&D [portanto, da Embrapa] é que os recursos informação / conhecimento são, ao mesmo tempo, os insumos (matériaprima) essenciais para a sua operação e na composição básica de seus produtos finais, i.e., inovações tecnológicas e avanços da fronteira científica. A expressão gestão do conhecimento foi cunhada há mais de trinta anos por Karl Wiig, em conferência na Suíça, sob responsabilidade das Nações Unidas (Beckman, 1999). Apesar disso, não existe definição única e precisa sobre GC na literatura, mas na maioria das existentes observa-se a presença de processos sistemáticos relacionados a busca, captura, identificação, compreensão, combinação, uso, compartilhamento e preservação do conhecimento, bem como de outros elementos a ele vinculados, como a experiência e expertise (Alvarenga Neto, 2008; Beckman, 1999; Choo, 2006). Os processos descritos vinculam à GC a criação de valor nas organizações e, consequentemente, a potencialização das capacidades, da performance, da inovação e da tomada de decisão. A GC inclui o gerenciamento do contexto e das condições (Choo, 2006) nas quais o conhecimento é criado (Nonaka & Takeuchi, 1995), compartilhado e utilizado (Alvarenga Neto & Vieira, 2011). A ação de gerenciar, sob a ótica do conhecimento, é visualizada de forma distinta, pois não remete à noção de controle, comumente percebida em outros usos, mas sim ao ato de motivar, estimular, contribuir e aprender para que ações relacionadas ao conhecimento se tornem efetivas e habituais nas organizações. Como mencionam Torres e Pierozzi Júnior (2010): Nesse sentido, verifica-se que o espaço social serve como veículo para a prática necessária de consolidação das atividades e, consequentemente, a geração de conhecimentos. A aprendizagem é, portanto, imprescindível tanto para nos adaptarmos em nosso ambiente imediato, que é a cultura da nossa sociedade, quanto para transformá-la. O que é real é o trabalho com a gestão para o conhecimento, conforme Alvarenga Neto (2008), o cuidado em se promover o tratamento sistemático do ativo conhecimento (Embrapa, 2003) para que esse não seja tratado ao acaso, desvinculado de um olhar estratégico na Organização. Com essa proposta e atenta às mudanças econômicas e sociais contemporâneas, a Embrapa desenvolve ações 3 de GC desde o final da década de 1990 e início dos anos 2000. 3 Já que ao considerar iniciativas anteriores, elas poderiam não conter a expressão GC, mas possuíam alguns princípios que a caracteriza. 3283

Em 2002, foi realizado mapeamento das iniciativas de GC na Empresa, com o objetivo de identificar e descrever as principais ações de GC, bem como iniciar o processo interno de discussão e elaboração de um modelo de GC da Embrapa (Embrapa, 2003). Tal estudo foi estruturado em quatro categorias de agrupamento das iniciativas de GC (apoio ao negócio, apoio à gestão, gestão de pessoas e tecnologia da informação), sendo que, para cada iniciativa, foi considerado seu ciclo de vida em quatro fases (planejamento, construção, implantação e operação) (Embrapa, 2003). Ao todo, foram identificadas 15 iniciativas relacionadas à GC vinculadas às quatro categorias de agrupamento propostas e a diferentes fases do ciclo de vida (Embrapa, 2003: 8): 1. Agência Embrapa de Produtos e Serviços de Informação; 2. Comunidades de Prática; 3. Data Warehouse; 4. Inteligência competitiva; 5. Gestão da Propriedade Intelectual; 6. Gestão de Pessoas por Competências; 7. Educação Corporativa; 8. Banco de boas práticas; 9. Modelo de Gestão Estratégia; 10. Gestão por Processos; 11. Gestão de Relacionamentos com o Público; 12. Intranet; 13. Site Corporativo; 14. Portal; 15. Listas de Discussão. As iniciativas descritas estavam vinculadas a estrutura das Unidades da Embrapa que, apesar de diferente daquela exposta na Figura 1, representante do atual momento, também envolvia uma complexidade de fatores consideráveis, pois a Empresa já surgiu com Unidades ao longo do país e relacionada a vários biomas. Se hoje essa lista fosse atualizada, inúmeras outras iniciativas seriam identificadas, pois, por exemplo, ao se analisar as publicações da Embrapa indexadas na Base de Dados da Pesquisa Agropecuária 4 sob a expressão GC e, publicadas pela Empresa, o número se torna expressivo a partir da década de 2000, o que reflete a existências de estudos e práticas relacionadas a tal. Não é intenção propor essa atualização ou mesmo observar cada uma das iniciativas identificadas no estudo (Embrapa, 2003), mas destaca-se que, atualmente, além da introdução de outras, várias daquelas descritas no documento foram continuadas, atualizadas e expandidas, dá-se como exemplo: Agência Embrapa de Produtos e Serviços de Informação que, atualmente, é intitulada Agência Embrapa de Informação Tecnológica (AGEITEC) disponibilizando ao público árvores do conhecimento relacionadas a culturas diversas; O programa de educação corporativa que investe no desenvolvimento de pesquisadores e analistas e possibilita a instituição um corpo qualificado como descrito alhures; 4 Recuperado em 20 fevereiro, 2015, de http://www.bdpa.cnptia.embrapa.br/consulta. 3284

A gestão por processos que possibilitou e possibilita a economia de recursos financeiros em diversas esferas da organização; e O Portal Embrapa, lançado no aniversário de 40 anos da Empresa (2014), reflete o desenvolvimento e investimento conferido a essa instância ao longo dos anos e possibilita uma visão holística do que a instituição realiza e oferece à sociedade a partir da unificação dos sites das Unidades da Embrapa. O estudo elaborado identifica que no âmbito da Embrapa a estrutura do ciclo de vida das iniciativas de GC e as categorias propostas relacionam-se com aspectos levantados por Angeloni (2008), em seu estudo sobre GC em empresas públicas, quais sejam: o contexto tecnológico de GC, o compartilhamento do conhecimento, a cultura organizacional e a gestão de competências, o que demonstra que por mais que se percebesse à época a ausência de processos corporativos integrados relacionados à GC (Embrapa, 2003), a Empresa já caminhava sob a ótica ampla e necessária da valorização de seu maior ativo. Resultado do amadurecimento sobre o entendimento de GC, a Embrapa consolidou seu modelo de GC em 2011. Este começou a ser desenvolvido em 2009, por um grupo de especialistas da Empresa com o auxílio de consultor externo. Porém, como relatam Alvarenga Neto e Vieira (2011), fez-se necessário o empenho de toda a organização, incluindo os níveis estratégico e tático, para a proposição de um modelo de GC simples e conciso (Figura 2). Neste ponto, vale ressaltar que a participação dos empregados da Embrapa seu capital humano, considerado o principal ativo de uma organização de P&D (Fresneda, 2003) foi fundamental para a consolidação de um modelo de GC relacionado à realidade da Empresa. Figura 2 - Modelo de gestão do conhecimento da Embrapa Fonte: Alvarenga Neto & Vieira, 2011 (original em inglês). Alvarenga Neto e Vieira (2011) explicitam que, a partir da experiência de proposição do modelo de GC na Embrapa e de acordo com seus estudos sobre o tema nos últimos anos, é possível perceber que há uma forte evidência qualitativa de GC para gestão de condições 3285

que favoreçam a inovação, o compartilhamento e a aprendizagem na organização, consideração que corrobora o que foi descrito por Choo (2006). Apesar da estruturação do modelo de GC, as ações oficiais relacionadas à temática na Embrapa ainda estão, em muitos casos, em fase de implantação e discussão, assim como sua política de GC, o que não reduz os processos de criação e compartilhamento de conhecimentos, nem mesmo a importância da temática, mas contribui para que sejam organizados de forma fragmentada. Em verdade, acredita-se que a geração de conhecimento é intensa na Embrapa, como na maioria das instituições de pesquisa e que, certamente, a Empresa pode ser caracterizada como uma organização baseada em conhecimento. Conforme explica Garvin (1993), uma organização baseada em conhecimento é aquela que está sempre aprendendo e reconhece o conhecimento como recurso estratégico. 3 V Plano Diretor da Embrapa A Embrapa, desde a década de 1980, adotou a figura do Plano Diretor (PDE) como instrumento norteador para a tomada de decisão e para a institucionalização do planejamento a ser adotado em suas ações. No ano de 2007, a Embrapa iniciou um novo ciclo de planejamento estratégico, resultando na publicação do V PDE, que inovou ao propor ações estratégicas até o ano de 2023, data em que a instituição completará 50 anos. O V PDE foi elaborado de forma colaborativa, incluindo parceiros externos, e recebeu ampla divulgação. Com a elaboração baseada em estudos de cenários, o documento apresenta tendências identificadas e implicações estratégicas para a agricultura brasileira, oportunidades e ameaças para a Embrapa, além da descrição detalhada das orientações para a gestão da Empresa em médio prazo (2008-2011, considerados à época da elaboração do documento), e para a gestão da empresa em longo prazo (até 2023). Constam nesse documento os objetivos e as diretrizes estratégicas da Embrapa. O desmembramento dos objetivos estratégicos deu origem às estratégias associadas, que são as linhas de ação ou iniciativas relevantes, que indicam como a Embrapa procurará alcançar cada objetivo (Embrapa, 2008: 21). Ao se analisar o conteúdo do V PDE, constata-se que ações relacionadas à expressão conhecimento constituem prioridade em vários dos objetivos e das diretrizes estratégicas, o que é percebido pela ocorrência do termo no texto do documento (aparece mais de 40 vezes), sendo que uma dessas ocorrências é na seção sobre as principais ameaças para a Embrapa: gestão do conhecimento ineficaz (Embrapa, 2008: 15). Destaca-se a diretriz número 4, que explicita a importância da GC na Empresa: promover a gestão e a proteção do conhecimento (Embrapa, 2008: 25). Vinculada a essa diretriz, salienta-se a estratégia associada número 15, cujo texto é aprimorar o processo de mapeamento, organização, gestão e proteção da informação e do conhecimento gerado pela Embrapa e fortalecer as competências e os instrumentos necessários (Embrapa, 2008: 25). Dessa forma, ainda que nas estratégias de médio prazo (2008-2011) o V PDE apresente conteúdo vinculado a ações e práticas de GC, a temática torna-se explícita na esfera da gestão estratégica da Embrapa a longo prazo, isto é, no horizonte posterior a 2011. 3286

Além disso, pelo conteúdo das estratégias, percebe-se que há certa confusão terminológica acerca das expressões gestão do conhecimento e gestão da informação, ou mesmo um nível de gradação entre a efetivação destas práticas na instituição, já que na diretriz número 4 se fala em GC e, ao descrevê-la em nível de estratégia, a qualificação que se faz é de gestão da informação e do conhecimento. Esse fato corrobora o entendimento de que há uma interpretação confusa, há certo tempo, sobre os conceitos de gestão do conhecimento e gestão da informação, que os considera como sinônimos (Alvarenga Neto & Vieira, 2011: 85). Esses elementos serão retomados na análise dos dados. 4 O Sistema Embrapa de Gestão O Sistema Embrapa de Gestão (SEG) é o modelo gerencial da Embrapa, cuja estrutura sustenta as ações e atividades referentes à gestão da pesquisa na Empresa e cujos pilares são: Pesquisa e Desenvolvimento, Transferência de Tecnologia, Comunicação e Desenvolvimento Institucional. Além de oferecer suporte ao ciclo completo da gestão dos projetos de pesquisa (planejamento, execução, acompanhamento, avaliação e controle de resultados), este modelo permite uma visão sistêmica e integrada das ações da Empresa, em todos os níveis organizacionais estratégico, tático e operacional. Para Torres e Pierozzi (2010): Hoje, o atual modelo de pesquisa da Embrapa, intitulado Sistema Embrapa de Gestão (SEG), é orientado para o desenvolvimento do processo de inovação tecnológica e para a intensificação do desenvolvimento sustentável. No cerne do SEG, estão presentes a ideia de que os pesquisadores, para desempenhar suas atribuições, devem se articular institucionalmente para formar redes de pesquisa, com a finalidade de viabilizar soluções a partir de projetos de pesquisa integrados e, também a ideia da transversalidade. O SEG é operacionalizado por meio de seis instrumentos gerenciais, denominados macroprogramas, que permitem o alinhamento dos projetos de pesquisa da Empresa com os objetivos estratégicos estabelecidos no V PDE (Figura 3). Os macroprogramas possuem características específicas quanto a sua estrutura e ações institucionais. Contemplam as grandes áreas de atuação da Empresa e são gerenciados para a obtenção de resultados de impacto que levem ao cumprimento das metas da Empresa (Embrapa, 2002). Acrescentase que os macroprogramas não são estáticos, ao contrário, refletem em nível temático a gestão da Empresa e estão sujeitos à inserção/exclusão de elementos. Cita-se, como exemplo, o macroprograma 6 Agricultura Familiar, criado no ano de 2004 e que, posteriormente, foi declarado, na 66ª sessão da Assembleia das Nações Unidas, tema do ano de 2014: Ano Internacional da Agricultura Familiar. 5 Os 6 macroprogramas atuais são: Macroprograma 1 (MP1) - Grandes Desafios Nacionais; Macroprograma 2 (MP2) - Competitividade e Sustentabilidade; Macroprograma 3 (MP3) - Desenvolvimento Tecnológico Incremental; Macroprograma 4 (MP4) - Transferência de Tecnologia e Comunicação Empresarial; Macroprograma 5 (MP5) - Desenvolvimento Institucional; e Macroprograma 6 (MP6) - Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura Familiar e à Sustentabilidade do Meio Rural. 5 Recuperado em 02 janeiro, 2015, de http://www.fao.org/family-farming-2014/pt/. 3287

Figura 3 - Sistema Embrapa de Gestão (SEG) Fonte: Embrapa, 2004a. A partir do ano de 2012, a Embrapa incluiu dois novos instrumentos de apoio à gestão de sua carteira de projetos de pesquisa: os portfólios e os arranjos de projetos. Organizados por temas estratégicos, os portfólios têm o objetivo de assegurar maior coordenação das ações de PD&I da Embrapa. Seguem uma estratégia top-down, ou seja, a Diretoria Executiva da Empresa sinaliza quais são os temas estratégicos que são alvos de projeto de PD&I para a agropecuária brasileira. Já os arranjos de projetos seguem uma estratégia bottom-up, ou seja, são concebidos preferencialmente a partir de uma visão conjunta das Unidades da Embrapa, sobre um determinado tema, em busca de solução de vários problemas. Na Embrapa, a gestão da pesquisa é um processo dinâmico e, nesse contexto, em abril de 2013, foi acrescentado ao SEG o Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa Agropensa, dedicado a produzir informações por meio de prospecção de tendências e difundir conhecimentos e informações em apoio à formulação de estratégias de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para a Embrapa e instituições parceiras (Embrapa, 2014). Destaca-se que o modelo de pesquisa proposto no SEG pressupõe a articulação interinstitucional, visando a formação de redes de pesquisa de natureza interdisciplinar e integradora para a promoção da eficiência no uso dos recursos e a produção de resultados abrangentes (Torres & Pierozzi, 2010). Tento em vista que o foco deste trabalho é a análise da carteira de projetos de pesquisa da Embrapa, vale ressaltar que as propostas de projetos são submetidas ao SEG a partir da publicação e divulgação de editais, denominados Chamadas documentos em que são descritos os elementos necessários à apresentação da proposta e o detalhamento dos períodos de submissão. 5 Metodologia Tendo como base as abordagens quantitativa e qualitativa e considerando-se a pesquisa descritiva e analítica como modelo para o alcance do objetivo proposto, a metodologia utilizada para realização da análise baseou-se no modelo básico de recuperação de 3288

informação, consistindo no mapeamento da ocorrência das expressões gestão do conhecimento, gestão de conhecimento e gestão da informação e do conhecimento, no campo palavras-chave da base de dados dos projetos de pesquisa da Embrapa. Para Baeza- Yates e Ribeiro-Neto (2013: 248), em um modelo básico de recuperação de informação, a recuperação baseada em palavras-chave é o principal tipo de tarefa de consulta. Neste trabalho, adotar-se-á a compreensão de ocorrência (do inglês token) como o fato de um elemento linguístico aparecer em um texto (Dubois et al., 2007: 441) e a compreensão de expressão como um termo de indexação, que pode ser uma ou um conjunto de palavraschave pré-selecionadas que tenha significado próprio, em sentido restrito, ou pode ser qualquer palavra que apareça no texto de um documento, em sentido mais geral (Baeza- Yates & Ribeiro-Neto, 2013: 21). As expressões gestão do conhecimento, gestão de conhecimento e gestão da informação e do conhecimento foram identificadas em busca genérica, realizada a priori com a expressão conhecimento, utilizando-se a ferramenta de Business Intelligence (BI) da Embrapa, em dezembro de 2014. Dessa busca inicial, foram recuperadas 30 expressões que continham o termo conhecimento e eleitas aquelas com significado mais associado à GC, ou seja, as três expressões citadas. A ferramenta de BI da Embrapa utiliza basicamente o modelo Booleano de recuperação de informação 6 e indexa a base de dados dos projetos de pesquisa da Embrapa, alimentada pelo Ideare. O Ideare é o sistema de gestão da carteira de projetos da Embrapa, disponibilizado via Web, e tem seu acesso restrito aos Empregados da Empresa e aos parceiros de outras instituições que participam de projetos. No sistema são armazenados os projetos de pesquisa apresentados ao SEG, incluindo tanto os projetos aprovados quanto aqueles que foram reprovados, preservando, dessa forma, conforme o entendimento de Campos, Tomé Júnior e Ferreira (2013), uma base de dados com o histórico da pesquisa na Empresa. Dado que o SEG foi implementado no ano de 2002, o recorte temporal utilizado neste trabalho compreende o período entre a implementação do modelo, no ano citado, e o mês de dezembro de 2014. A estrutura dos projetos de pesquisa da Embrapa estabelece campos predefinidos que objetivam tornar a elaboração, a avaliação, a execução e o acompanhamento das pesquisas realizadas mais claros, direcionados e eficazes. São exemplos desses campos: título, resumo, palavras-chave, caracterização do problema, estado da arte, objetivo geral, objetivos específicos, estratégias de ação e justificativa, entre outros. Em relação à execução dos projetos de pesquisa, o tempo médio de duração é de 36 meses (três anos). Esse período foi se estabelecendo de acordo com a consolidação do SEG, mas é flexível e pode ser adequado à demanda que o projeto apresentar. O que se destaca no âmbito temporal é a necessidade de o líder do projeto concretizá-lo no prazo estabelecido, 6 O modelo Booleano de recuperação da informação, baseado na álgebra Booleana e na teoria de conjuntos, considera basicamente se os termos de indexação ou expressões estão presentes ou ausentes no documento analisado, prevendo se o documento é relevante ou não relevante (Baeza-Yates & Ribeiro-Neto, 2013: 29-31), obtendo como resposta um resultado verdadeiro ou falso, representando respectivamente a existência ou não existência do termo em relação à busca efetivada (Silva, 2013, p. 58). Como não é o foco deste trabalho, não serão abordadas discussões sobre os outros modelos de recuperação de informação, bem como análises mais pontuais sobre o modelo Booleano. 3289

já que, como mencionado, a carteira de projetos consolida o modelo de gestão e está relacionada com os recursos orçamentários da Empresa. Da pesquisa realizada com a ferramenta de BI, foram recuperadas as expressões citadas nos seguintes campos do Ideare: título, resumo, objetivo geral, objetivos específicos, meta, descrição do plano de ação e descrição da atividade. Cada um desses campos é utilizado para a descrição do projeto, sendo alguns deles menos extensos e outros com maior liberdade de redação. De igual forma, alguns apresentam a ideia principal e outros a detalham em ações específicas. Esses campos foram escolhidos para efeitos da análise deste estudo, considerando-se que apresentam indicativos de relevância do uso das expressões nos projetos de pesquisa recuperados. Em linhas gerais, esses campos são descritos de acordo com o Quadro 1: Quadro 1 - Descrição dos campos onde as expressões foram recuperadas Fonte: https://sistemas.sede.embrapa.br/ideare/pages/home/principal/principalframes.jsf. Recuperado em 12 janeiro, 2015. Com relação aos status dos projetos, foram considerados os que estão em execução e os concluídos, observando-se os anos de início e término, respectivamente. Acredita-se que, ao se observar os projetos nas situações descritas, é possível identificar o que a Empresa tem adotado no âmbito de ações relacionadas à GC. Ressalta-se que os status mencionados são excludentes, isto é, ao se alterar no Ideare a caracterização de um projeto de em execução para concluído, este será visualizado somente na segunda opção, já que a primeira deixará de estar registrada. A partir das estratégias apresentadas, recuperou-se um universo com o total de 45 projetos de pesquisa, expresso no percurso metodológico deste trabalho (Figura 4): Figura 4 - Percurso metodológico do estudo Fonte: Desenvolvido pelos autores. 3290

Apresentamos, a seguir, a análise e a discussão dos dados recuperados sob os critérios de ocorrência das expressões em relação aos status dos projetos, aos campos em que foram recuperadas e ao recorte temporal. 6 Resultados - Análise e discussão dos dados Dos 45 projetos recuperados, 27 estão em execução e 18 já foram concluídos, sendo que, ao observá-los sob a ótica das expressões de busca, tem-se a estrutura apresentada na Tabela 1: Expressões de busca Gestão da informação e do conhecimento Gestão de conhecimento + gestão do conhecimento Tabela 1 - Quantidade de projetos de pesquisa recuperados Status 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Totais Concluído 1 2 1 4 Em execução 1 1 2 Subtotal 6 Concluído 1 2 1 4 5 1 14 Em execução 2 1 1 9 12 25 Subtotal 39 Fonte: Desenvolvido pelos autores. Total geral 45 Ao se considerar a expressão gestão do conhecimento, tem-se um total de 38 projetos, mas se a ela se acrescer a expressão gestão de conhecimento (pertencente ao mesmo campo semântico), excluindo a duplicação de projetos em que ambas as expressões ocorrem, esse total aumenta para 39 projetos. Já a expressão gestão da informação e do conhecimento totaliza 6 projetos. Os resultados obtidos estão distribuídos entre os anos de 2009 e 2014, pois antes de 2009 não foram recuperados projetos contendo quaisquer das expressões de busca, o que nos leva a inferir a influência formal do V PDE na formulação de projetos de pesquisa que tratam do tema GC e, também que iniciativas anteriores foram desenvolvidas, mas sem necessariamente mencionar a expressão. 6.1 Análise da expressão Gestão da informação e do conhecimento (GIC) A expressão GIC foi a que apresentou menor ocorrência, considerando-se os totais em relação à equivalência das expressões gestão do conhecimento e gestão de conhecimento. Essa equivalência não pôde ser aplicada para GIC, já que, por mais que a literatura e a prática apresentem essas expressões com forte convergência, complementaridade e relação conceitual, a GIC e a GC caracterizam-se como processos distintos. Dessa forma, foram recuperados 6 projetos com essa expressão, sendo que, ao se observarem os anos, status e campos em que a expressão foi recuperada, tem-se o mapeamento exposto na Tabela 2. 3291

Tabela 2 - Mapeamento da expressão Gestão da informação e do conhecimento Projeto Status Campos de ocorrência Total de Ano de Ano de ocorrências início término 1 Em execução Objetivo geral Resumo 2 2012 2 Em execução Resumo (2x) Descrição do plano de ação 4 2011 Meta 3 Concluído Objetivo geral 1 2014 4 Concluído Objetivo geral 1 2013 5 Concluído Descrição de atividade 1 2013 6 Concluído Resumo do Projeto 1 2010 Fonte: Desenvolvido pelos autores. Em relação ao status, dos 6 projetos recuperados 2 estão em execução e 4 já foram concluídos. Desses últimos, cabe observar que foram finalizados após a publicação do V PDE, de onde se pode inferir que as ações de GIC desenvolvidas nestes projetos foram, em parte, motivadas por este Plano Diretor. Do total, 2 projetos foram finalizados no ano de 2013, 1 em 2014 e outro em 2010. No caso deste último, finalizado em 2010, podem-se relacionar elementos presentes no IV PDE. O IV PDE contém uma diretriz estratégica relacionada à gestão do conhecimento sobre PD&I, organizar o processo de gestão do conhecimento, observando novos cenários e focos estratégicos (Embrapa, 2004b: 28) e outras sentenças relacionadas à criação e geração do conhecimento (processos fundamentais à GC). Em relação ao projeto concluído no ano de 2010, verificou-se que este entrou em execução no ano de 2007, claramente relacionado ao plano diretor vigente à época. No IV PDE não há menção formal à gestão da informação, seja de maneira isolada ou associada à gestão do conhecimento (obviamente, diversas diretrizes descritas no documento apresentam relação com a gestão da informação, entretanto em âmbito terminológico a expressão não consta no texto do documento). Além do status, que é relevante por expressar o que realmente foi e tem sido desenvolvido na organização, devem-se observar os campos dos projetos em que a expressão foi recuperada, já que representam, como descrito na metodologia, indicativo da relevância conferida à GIC no projeto (Gráfico 1). 3292

Gráfico 1 - Campos dos projetos em que a expressão GIC foi recuperada Fonte: Desenvolvido pelos autores. Os campos do objetivo geral e do resumo merecem destaque, já que foram recuperadas 3 e 4 ocorrências da expressão, respectivamente. Em relação à repetição, em um mesmo projeto a GIC aparece 2 vezes no resumo, de forma que, considerada a ocorrência da expressão nos projetos, foram 3 que a apresentaram no campo resumo e o mesmo número no objetivo geral. Considera-se que esses campos são fundamentais em um projeto de pesquisa, por representarem o que se pretende alcançar relacionado aos resultados (objetivo) e à síntese da estrutura do projeto (resumo). Em 2011, assiste-se à maior ocorrência da expressão GIC, quatro vezes, duas delas no campo resumo, uma no campo de metas e outra no campo de descrição do plano de ação, todas elas presentes em um mesmo projeto que está em execução na Empresa. Ao se observar o título desse projeto, 7 percebe-se que retrata uma temática específica relacionada à pesquisa agropecuária e que a GIC, por seu caráter transversal, vincula-se fortemente ao que é proposto. Destaca-se que, ao se observar o resumo do projeto citado (campo em que a expressão aparece 2 vezes), percebe-se que a GIC possui posição de destaque, já que contempla um dos três planos de ação. Trata-se de um projeto complexo, que envolve várias instituições e subtemas, formato em rede e que compreende um universo científico diversificado em relação à produção agropecuária nos seis biomas representativos do Brasil. Em 2012, foi iniciado um projeto com a expressão GIC em dois campos: resumo e objetivo geral. Esse projeto representa uma preocupação especial com o ambiente de gestão da informação e de gestão do conhecimento na Empresa, já que, além de a expressão GIC constar em campos estratégicos ao entendimento e à divulgação do projeto, também ocorre em seu título 8 a expressão gestão do conhecimento como um dos processos para a 7 Este parágrafo refere-se ao Projeto Pecus, que avalia a dinâmica de gases de efeito estufa (GEE) e o balanço de Carbono (C) em sistemas de produção agropecuários de seis Biomas do Brasil (Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal, Pampa, Amazônico e Cerrado). Recuperado em 13 janeiro, 2015, de https://www.embrapa.br/busca-de-projetos/-/projeto/38213/projeto-da-rede-pecus. 8 O projeto citado é Agropedia brasilis: interatividade, interoperabilidade e gestão do conhecimento para PD&I da Embrapa. Recuperado em 13 janeiro, 2015, de https://www.embrapa.br/busca-deprojetos?p_auth=lchgeu7p&p_p_id=buscaprojeto_war_pcebusca6_1portlet&p_p_lifecycle=1&p_p_sta 3293

promoção de pesquisa, desenvolvimento e inovação no âmbito da Embrapa, isto é, de soluções para a pesquisa agropecuária, em resposta à missão expressa no V PDE. Ao se observar o resumo público desse projeto, tem-se: A Embrapa pratica modelos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) motivados e valorizados por arranjos em redes de conhecimento, que são reconhecidos por promover: a interação e integração de pesquisadores e técnicos de um amplo espectro de especialidades e o desenvolvimento de abordagens multi, inter e transdisciplinares, com complementação de competências e alinhamento dos processos de PD&I, transferência de tecnologia e comunicação empresarial, potencializando os resultados da pesquisa. Ao desenvolver e aplicar conhecimento e propor soluções para a agropecuária tropical, a Embrapa envolve-se com desafios temáticos de alto grau de complexidade geoambiental e político-social. De suas ações de PD&I emergem projetos que, de forma organizada no tempo e no espaço, operacionalizam e coordenam a execução de atividades, os resultados decorrentes e o consequente conhecimento originado desse tipo de prática de trabalho colaborativo. Dessa lógica, decorrem necessidades inerentes a esse tipo de trabalho, como: interação e comunicação interpessoais com suporte de tecnologias da informação e comunicação (TIC); criação e compartilhamento de conhecimento; construção de bases de dados e sistemas de informação interoperáveis, com acesso intra e extra grupos, a seus repositórios; construção de websites para disseminação de informações. Também decorem vários desafios, entre eles: dificuldades para compartilhamento de informações e apropriação de conhecimentos, devido a questões relacionadas à proteção do conhecimento, à dispersão geográfica dos membros das redes e aos variados formatos midiáticos em que a informação foi produzida. A Agropedia brasilis propõe o exercício na Embrapa desse conceito mais abrangente, reunindo abordagens básicas para melhoria e empoderamento dos processos de gestão da informação e do conhecimento dos grupos de PD&I. Focando o sistema [pessoas<=>informação] desenvolve, valida e busca implantar: ambientes tecnológicos para o trabalho colaborativo; comunicação interpessoal intermediada por TIC e alinhamento institucional desses processos de interatividade; modelos conceituais e computacionais de organização e representação do conhecimento; modelo e suporte tecnológicos e metodológicos para a gestão terminológica na Empresa e organização e disseminação de informação sobre proteção do conhecimento. 9 O resumo apresenta conceitos convergentes à GIC e à GC, como o entendimento da complexidade, o trabalho colaborativo, a interação e a comunicação, as TICs, bem como o entendimento de redes e a natureza multidisciplinar (aliada à complexidade). Analisando-se o texto do V PDE, publicado no ano de 2008, observa-se que neste há claramente o uso da expressão gestão da informação e do conhecimento. Dessa forma, podemos inferir que alguns projetos que entraram em execução após o ano de 2008 foram motivados por esse instrumento de planejamento e, que ainda que buscassem resolver uma necessidade local de determinada unidade da Embrapa, estavam em consonância com a agenda maior de planejamento da instituição. Percebe-se que o uso desta expressão foi se expandindo e ganhando relevância na carteira de projetos do SEG, já que foi localizada, em um mesmo projeto, em campos de destaque, como resumo (2 vezes), descrição do plano de ação e da meta (1 vez em cada). Detalhe: este não é o projeto que possui a expressão gestão do conhecimento no título, mas como a complexidade do projeto é notória, percebe-se que a demanda de GIC e GC em uma organização vai se concretizando à medida que as atividades são pensadas de forma te=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=column- 1&p_p_col_count=1&_buscaprojeto_WAR_pcebusca6_1portlet_javax.portlet.action=buscarProjetos. 9 Resumo público do projeto. Recuperado em 09 janeiro, 2015, de https://www.embrapa.br/busca-deprojetos/-/projeto/203752/agropedia-brasilis-interatividade-interoperabilidade-e-gestao-do-conhecimentopara-pdi-da-embrapa. 3294

holística, tal como se vê no projeto citado. Tais fatos indicam que a GIC pode não ter sido o objeto principal dos projetos observados, mesmo porque a atividade fim da empresa não é a GIC ou a GC, mas representou e representa parcela das ações desenvolvidas nesses projetos. Ainda que, ao propor a expressão gestão da informação e do conhecimento, corrobore-se a imprecisão conceitual e a dificuldade em se estabelecerem limites entre esses processos, a Empresa sinaliza, por meio dos projetos de pesquisa em que a expressão aparece, preocupação de suas unidades e, ao mesmo tempo, demanda em nível estratégico da Instituição para que se trabalhe com o tema. Ainda assim, trata-se de uma resposta que pode ser ampliada, tendo-se como parâmetro o proposto no V PDE e, sobretudo, a missão da Empresa, pois sabe-se que processos de gestão da informação e do conhecimento são processos transversais a várias ações e estão inseridos em basicamente tudo o que é realizado em uma instituição de pesquisa. 6.2 Análise da expressão Gestão do conhecimento (GC) A expressão GC foi recuperada em 39 projetos, considerando-se a soma das variações gestão de conhecimento e gestão do conhecimento e excluindo-se projetos duplicados, conforme se pode observar na Tabela 1. Considerados os anos de início (para aqueles em execução) e os anos de término (para os concluídos) dos projetos em que a expressão foi recuperada, destacam-se os anos de 2012 e 2013 como os mais significativos, já que neles a expressão foi recuperada em 9 e 12 ocorrências, respectivamente (Gráfico 2). Gráfico 2 - Quantidade de ocorrências da expressão GC x status dos projetos, por ano 9 12 5 4 2009 2010 2011 2012 2013 2014 10 21 1 10 Ano Concluído Em execução Fonte: Desenvolvido pelos autores. Considerando-se que o prazo médio de duração de um projeto de pesquisa na Embrapa é de 36 meses (3 anos) e, de acordo com os dados da Tabela 1 e do Gráfico 2, verifica-se que antes da publicação do V PDE, no ano de 2008, não foram recuperados projetos com a expressão em questão em quaisquer de seus campos, o que, conforme já comentado no início da análise desses resultados e também verificado com a análise da expressão GIC, reforça o entendimento de que o V PDE funcionou como estímulo para maior dedicação ao tema na Empresa, em especial se relacionarmos o fato de a diretriz ligada à gestão do 3295

conhecimento ser apresentada no V PDE como pertencente ao planejamento a longo prazo (2011-2023). Acredita-se que essa relação com o que foi definido como estratégia de longo prazo possa explicar a ocorrência da expressão nos anos de 2012 e 2013, que é notoriamente mais elevada. Vale lembrar que este período coincide com a consolidação do modelo de gestão do conhecimento da Empresa, que foi elaborado por meio de projeto de pesquisa submetido ao SEG no ano de 2007 e concluído em 2010. Ainda assim, deve-se considerar que nos anos de 2009 e 2010 foram concluídos três projetos que continham a expressão, todos eles com início no ano de 2007, o que pode ser visualizado como um indicativo de que, desde meados dos anos 2000, já existiam atividades relacionadas à GC e, também, da perspectiva de estas atividades serem inseridas na agenda de projetos da instituição (mesmo antes da publicação do V PDE). Outro elemento relevante refere-se à repetição da expressão em um mesmo projeto, pois, neste trabalho, esse aspecto é percebido como um elemento que concede à GC caráter de maior importância no desenho e na proposta que o projeto apresenta. O Gráfico 3, a seguir, descreve a repetição da expressão nos projetos: Gráfico 3 - Ocorrência da expressão GC em um mesmo projeto de pesquisa Número de ocorrências da expressão 5 3 2 1 1 5 8 24 0 5 10 15 20 25 30 Quantidade de projetos Fonte: Desenvolvido pelos autores. Conforme se observa no gráfico 3, 24 projetos apresentam a expressão GC apenas uma vez, 8 duas vezes, 5 três vezes e 1 cinco vezes. Cabe ressaltar que o projeto em que a expressão mais ocorreu é aquele que deu origem ao modelo de GC da Embrapa, isto é, por ser um projeto com foco específico na GC, a expressão compôs parcela importante de sua estrutura localizada em campos como: título, resumo, objetivo geral, meta e descrição de plano de ação. O título do projeto é o campo em que é descrita a temática principal a que o projeto se relaciona, ao enfoque que é proposto (Quadro 1), além disso, a presença da referida expressão na meta e no objetivo geral demonstra que a temática possui relevância fundamental. O Gráfico 4 auxilia no 3296

entendimento desse fato, mostrando que 2 projetos possuem a expressão GC no título, 5 no campo meta e 2 no de objetivo geral. Gráfico 4 - Campos dos projetos de ocorrências da expressão GC Título 2 Objetivo específico 1 Campo dos projetos Objetivo geral Resumo Meta Descrição do plano de ação 2 5 6 7 Descrição da atividade 7 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Quantidade de ocorrências Fonte: Desenvolvido pelos autores. Ressalta-se que os campos em que a expressão foi localizada mais vezes são os de Descrição do plano de ação e Descrição da atividade e que, se observadas as definições a eles atribuídas no Quadro 1, remetem ao entendimento de instrumentos de operacionalização do projeto. Esse fato indica que o tema é preferencialmente compreendido nos projetos como uma forma de se chegar a algo, espécie de instrumento para se fazer. Esses dados possibilitam inferir que, se o título habitualmente apresenta a temática principal de um projeto de pesquisa, a expressão gestão de/do conhecimento, apesar de ter grande ocorrência no ano de 2013 na carteira de projetos da Embrapa, é retratada de maneira mais operacional, já que sua maior ocorrência se dá na descrição dos planos de ação e das atividades dos projetos recuperados. Aliado a este indício, há o fato de que a Embrapa, por ser uma empresa de pesquisa cujas unidades possuem temáticas variadas (Figura 1), possui o conhecimento como elemento que perpassa o que se realiza nas várias vertentes de sua estrutura. No entanto, essa configuração, quando relacionada aos projetos existentes e à temática de GC, na perspectiva de que uma organização do conhecimento realiza processos e possui estruturas voltadas para a GC, ainda precisa ser trabalhada de forma mais estruturada na Embrapa, pois o ideal seria que em cada Unidade da Empresa houvesse no mínimo uma instância formal que abordasse a GC, pois o fato de o processo estar presente em projetos com temáticas específicas demonstra que ele não é tratado de forma semelhante no universo complexo de pesquisa em que a Embrapa se estrutura. Apresentadas estas análises, surgem duas questões relacionadas aos resultados obtidos: o que acarretou o aumento de projetos apresentados ao SEG a partir do ano de 2011? Por que a expressão GC é aquela que possui mais ocorrências no resultado apresentado? 3297

Mais uma vez, levando-se em consideração que o V PDE foi publicado no ano de 2008 e que em seu texto consta explicitamente uma estratégia de longo prazo relacionada à gestão do conhecimento, é evidente que o documento serviu como objeto de demanda para a apreciação da GC pelas unidades de Pesquisa e de Serviço da Embrapa. Além disso, observa-se que a influência do V PDE é expressiva, pois a GC é incorporada com maior ocorrência no SEG a partir daquilo que o documento considerou como estratégia de longo prazo, isto é, a partir do ano de 2011. A esse elemento pode-se associar o contexto capacitante, apresentado por Choo (2006), presente no modelo de gestão do conhecimento da Embrapa (Figura 2), que compreende as condições favoráveis que devem ser criadas pelas organizações para favorecer o compartilhamento, a aprendizagem, as ideias e inovações, a tolerância a erros honestos e a solução colaborativa de problemas, entre outros (Alvarenga Neto, 2008: 6). Esse fato confirma que, pelas ocorrências da expressão GC, os processos organizacionais, considerados no V PDE, contribuem para a existência das condições necessárias à criação de um ambiente organizacional que proporcione o desenvolvimento do contexto capacitante na Embrapa, para a efetivação e consolidação da GC na Empresa. O crescimento da ocorrência da expressão GC nos últimos anos, além de ratificar o que o V PDE propõe como ação estratégica atender o que é demandado pelo nível estratégico da Empresa, caracteriza-se como um olhar da Embrapa para o paradigma contemporâneo de criação e uso do conhecimento e para as tendências que se observam sobre essa temática tanto na Empresa quanto em instituições de pesquisa internacionais. 10 7 Recomendações Ao se considerar que as expressões gestão do conhecimento, gestão de conhecimento e gestão da informação e do conhecimento representam processos intrínsecos e fundamentalmente necessários para as organizações de pesquisa, elegem-se, a partir da análise realizada, as seguintes recomendações: - Dada a relevância dos projetos de pesquisa na compreensão e mesmo no acompanhamento e avaliação do que a Embrapa realiza e de como cumpre a missão a que se propõe, sugere-se que as ações relacionadas ao processo de GC sejam descritas nos projetos de maneira formal, como campos obrigatórios, por exemplo. Por se tratar de processo transversal a várias ações e atividades na Empresa, a não formalização pode acarretar duplicação de esforços e recursos, em função, e. g, da dificuldade de recuperação da informação estruturada relacionada à GC; - Pelo fato de a Empresa já ter financiado um projeto cuja temática central foi a GC, bem como por este ter resultado em uma versão preliminar da política de GC da Embrapa, sugere-se a apreciação do modelo de GC instituído para que, 10 Por exemplo, em busca simples realizada na base de dados internacional de acesso pago, Web of Science (https://webofknowledge.com), da expressão Knowledge Management, realizada em janeiro de 2015, recuperaram-se quase cem mil registros, dos quais a maioria é de autores dos Estados Unidos e da Inglaterra e, tal como se verificou no crescimento do uso da expressão GC em projetos da Embrapa, os anos com maior número de publicações recuperadas com a expressão na Web of Science foram os de 2012 e 2013. 3298