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Matéria: literatura Assunto: modernismo - josé lins do rego Prof. IBIRÁ

Literatura JOSÉ LINS DO REGO (1901-1957) Obras: Menino do Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O moleque Ricardo (1935), Usina (1936), Pureza (1937), Pedra bonita (1938), Riacho doce (1942) e Fogo morto (1943) José Lins do Rego Cavalcanti nasceu no Engenho Corredor, no município de Pilar, no interior da Paraíba. Tanto seu pai como sua mãe pertenciam a tradicionais famílias oligárquicas do Nordeste açucareiro. Órfão de mãe e com o pai ausente, passou sua infância no engenho do avô. Fez seus primeiros estudos em Itabaiana e na cidade da Paraíba, hoje João Pessoa, e depois cursou a faculdade de Direito do Recife. Formou-se em 1923, mesmo ano em que apareceram os seus primeiros trabalhos literários. Em 1925 foi nomeado promotor público no interior de Minas Gerais. Contudo, um ano depois, abandonou a carreira no Judiciário e transferiu-se para Maceió, onde exerceu a função de fiscal de bancos. Em 1932, ainda morando em Maceió, José Lins do Rego publicou seu primeiro romance, Menino de Engenho. Estimulado pela boa acolhida da obra, lançou no ano seguinte Doidinho e, em 1934, Bangüê. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1935, passando a atuar no jornalismo. Além de grande participação na vida literária, revelou-se um fanático futebolista, tanto é que exerceu vários e importantes cargos no Clube de Regatas Flamengo e na Confederação Brasileira de Desportos. Em pouco tempo, tornou-se uma notável personalidade da vida carioca. Em 1936, após a publicação de Usina, decretou o fim do ciclo da cana-de-açúcar. Lançou então romances desvinculados da realidade açucareira como Pureza, Pedra Bonita e Riacho doce. No entanto, em 1943, voltou ao mundo decadente dos engenhos com Fogo morto, realizando aquela que seria a sua obra-prima ficcional. Em 1952 veio à luz seu derradeiro relato, Os cangaceiros. Faleceu em 1957, na cidade do Rio de Janeiro. A obra de José Lins do Rego pode ser dividida da seguinte maneira: a) ciclo da cana-de-açúcar b) ciclo do cangaço, misticismo e seca c) obras independentes O ciclo da cana-de-açúcar O próprio romancista define o ciclo da cana-de-açúcar, no qual se incluem os romances Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque Ricardo, Usina. A história desses livros é bem simples: comecei querendo escrever umas memórias que fossem de todos os meninos criados nas casas grandes dos engenhos nordestinos. Seria apenas um pedaço da vida o que eu queria contar. Sucede, porém, que um romancista é muitas vezes o instrumento apenas de forças que se acham escondidas em seu interior. Depois de Menino de engenho, veio Doidinho, em seguida Bangüê. Carlos Melo (o menino do engenho) havia crescido, sofrido e fracassado. Mas, o mundo de Santa Rosa (o engenho) não era só Carlos Melo. Ao lado dos meninos de engenho havia os que nem os nomes de menino podiam usar, os chamados moleques de bagaceira, os Ricardos. Ricardo foi viver por fora da Santa Rosa, a sua história que é de tão triste quanto a de seu companheiro Carlos. Foi ele de Recife e Fernando de Noronha. Muita gente achou-o parecido com Carlos Melo. Pode ser que pareçam. Viveram tão juntos um do outro, foram íntimos na infância, foram tão apegados (Muitos Carlos beberam do leite materno dos Ricardos) que não seria de espantar que Ricardo e Carlinhos se assemelhassem. Pelo contrário. Depois do moleque Ricardo, veio a História de Santa Rosa, arrasado de suas bases, espatifado 2

Literatura Prof. Ibirá Costa com máquinas, com ferramentas enormes, com moendas gigantes devorando a cana madura que as suas terras fizeram acalmar pelas várzeas. Carlos de Melo, Ricardo e o Santa Rosa se acabam, têm o mesmo destino, estão intimamente ligados, a vida de um tem muito da vida de outro ( prefácio de Usina) Basicamente, suas obras do ciclo da cana-de-açúcar podem ser delimitadas assim: a) Predomínio do memoralismo sobre a pura ficção; b) Decadência dos engenhos como modo de produção; c) Decadência psicológica como decorrência da decadência financeira; d) Principais personagens: Carlos de Melo, Zé Paulino, moleque Ricardo, Juca de Melo e, acima de tudo, o engenho Santa Rosa; e) Linguagem espontânea, de rica oralidade. FOGO MORTO Depois de ter declarado, no prefácio de Usina, em 1936, que havia encerrado o ciclo da cana-de-açúcar, José Lins do Rego retornou a seu motivo central em 1943. Premido pelas circunstâncias históricas: o Estado Novo, as ditaduras fascistas e totalitárias do mundo inteiro e a II Guerra Mundial, escreveu uma indiscutível obra-prima, Fogo morto. A perspectiva memorialista, que predominara nos primeiros romances, é dissolvida em detrimento de uma concepção totalizante da sociedade açucareira. Os conflitos individuais se expandem, tornando-se mais variados e profundos em relação às obras anteriores. Narrado em terceira pessoa, Fogo morto divide-se em três partes, cada qual correspondendo a um personagem. A unidade da obra é garantida não apenas pelo cenário comum, mas também pelo fato de que o protagonista de cada parte representa um grupo social específico daquela região nordestina. Além disso, todos eles se relacionam entre si, o que determina a composição de um painel expressivo das relações intercalasse dentro de um sistema socioeconômico que já duravam vários séculos. As três partes tem como personagens principais, respectivamente: I - Mestre José Amaro, seleiro (artesão que lida com couro), mora nas terras do engenho Santa Fé, pertencente ao coronel Lula de Holanda Chacon. O fantasma da decadência econômica mais sugerida do que descrita ronda o seu trabalho. José Amaro é um homem amargurado e sofrido que se rebela contra a prepotência dos senhores de engenho através de uma altivez que beira a arrogância. O desprezo que sente pelos coronéis leva-o a engajar-se como informante do bando de cangaceiros chefiado por Antônio Silvino. Assim, ele manifesta sua rejeição aos poderosos e à ordem constituída. Contudo, José Amaro tem o coração moldado pelos valores patriarcais dominantes. Por isso, maltrata sua esposa, Sinhá, e sobretudo sua filha, Marta que, com trinta anos, continua solteira e começa a ter agudas convulsões nervosas. Em um dos momentos mais dramáticos de todo o romance, José Amaro espanca longa e violentamente a filha em meio a uma dessas convulsões. A partir de então, Marta vive em estado de torpor, falando coisas sem nexo. Cada vez mais infeliz, o mestre seleiro caminha à noite pelas estradas próximas, ruminando as suas frustrações. O povo da região passa ver nele a encarnação de um lobisomem e o evita cada vez mais. O destino de José Amaro se decide apenas na III Parte da obra. Sinhá e Marta o abandonam e o artesão percebe sua incapacidade de opor-se às classes dirigentes. Dirige então o seu www.enemquiz.com.br 3

temperamento violento contra si próprio e suicida-se com o mesmo instrumento que representava sua sobrevivência: a faca de cortar sola. II Coronel Lula de Holanda Chacon, senhor do engenho Santa Fé, que obtivera através do casamento com Amélia, filha do poderoso capitão Tomás Cabral de Melo. Prepotente e mesquinho, seu Lula trata tão mal os escravos que estes, após a Abolição, abandonam em massa a propriedade rural. Desinteressado das questões práticas, administra pessimamente o engenho, levando-o a rápido declínio. Face a incapacidade de seu proprietário, o Santa Fé, em dado momento, não produz mais açúcar. A sobrevivência familiar fica restrita à criação de galinhas e à produção de ovos, das quais se encarrega Amélia, a esposa do decrépito coronel. No entanto, Lula de Holanda Chacon mantém a pose de grande senhor, pose traduzida no cabriolé (pequena carruagem de luxo) com que percorre as estradas, sem cumprimentar ninguém. Autoritário, impede que sua filha Nenén namore um rapaz de origem humilde. Esta, condenada a permanecer solteira, fecha-se sobre si própria e torna-se alvo de riso e deboche da vizinhança. Enquanto isso, alienado dos problemas econômicos que causam a derrocada de seu mundo, Lula entrega-se às práticas místicas, sob influência de Floripes, um negro que era seu afilhado. Como em outros momentos de Fogo morto, o desequilíbrio psíquico decorre do processo de decadência social. Cabe a mulher do senhor de engenho, a compreensão lúcida e triste do fim de tudo: Os galos começaram a cantar, o chocalho de um boi no curral batia como toque de sino. O negro saiu e D. Amélia ficou a olhar a noite... Agora ouvia uma cantoria fanhosa, um gemer que abafava o canto dos galos. Da casa de Macário saíam vozes, chorando uma morta. D. Amélia fechou a porta da cozinha. Dentro de sua casa uma coisa pior que a morte. Não havia vozes que amansassem as dores que andavam no coração de seu povo. Viu a réstia que vinha do quarto dos santos, da luz mortiça da lâmpada de azeite. Caiu nos pés de Deus, com o corpo mais doído que o de Lula, com a alma mais pesada que a de Nenén. Acabara-se o Santa Fé. III Capitão Vitorino Carneiro da Cunha, personagem cujas origens o vinculam às famílias tradicionais da região açucareira, as quais já pertenceu socialmente, embora hoje seja apenas um pequeno proprietário que vive de maneira modesta. Nas duas primeiras partes da obra, o capitão Vitorino é uma figura ridícula, quase grotesca, a ponto de ser denominado de Papa-Rabo pelos moleques. Na terceira parte, contudo, ele se eleva, assumindo a condição de um homem idealista e quixotesco. De Dom Quixote, Vitorino possui o sentido nobre dos gestos e uma percepção limitada da realidade, que o leva investir contra tudo aquilo que lhe parece injustiça, sem medir a força do inimigo, nem pesar as consequências de suas ações. Contesta o poder absoluto dos senhores de engenho, da polícia militar e até dos cangaceiros, defendendo ideais éticos que parecem inviáveis na vida cotidiana da região. Acredita que, pelo poder do voto, possa instaurar uma ordem institucional num meio em que a única lei é o arbítrio dos latifundiários. Trata-se de um liberal humanista, mais preocupado com o uso e abuso da força do que propriamente com os desníveis sociais existentes na sociedade da cana-de-açúcar. Estas faces contraditórias da visão de mundo de Vitorino não lhe retiram a grandeza humana e literária. Ao contrário, fazem parte de sua personalidade multifacetada. Outras obras: Os temas do ciclo do cangaço (Cangaceiros) e do misticismo e seca (Pedra Bonita) não chegam a constituir romances significativos. Embora ainda filiadas ao regionalismo, não atingem o mesmo ritmo, a mesma harmonia e a mesma profundidade dos romances da cana-de-açúcar. A 4 www.enemquiz.com.br

Literatura Prof. Ibirá Costa inflexão documental esmaga a dramaticidade do enredo. Por sua parte, Pureza, Riacho doce e Eurídice, romances desvinculados da temática rural nordestina são os mais frágeis do escritor. No dizer de Manuel Bandeira, José Lins do Rego era como um motor que só funcionava bem queimando bagaço de cana. Otto Maria Carpeaux fez uma súmula de sua obra: A obra de José Lins do Rego é profundamente triste. É uma epopéia da tristeza, da tristeza da sua terra e da sua gente, da tristeza do Brasil (...) Há na sua obra a consciência de que tudo está condenado a adoecer, a morrer, a apodrecer. Há a certeza da decadência dos seus engenhos e dos seus avós, de toda essa gente que produziu, como último produto, o homem engraçado e triste que lhe erigiu o monumento. É grande literatura. www.enemquiz.com.br 5

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